quarta-feira, 19 de novembro de 2008

História do Cristianismo

A PREPARAÇÃO PARA O CRISTIANISMO

Importância Teológica

Uma das coisas que tornam o estudo da história do cristianismo uma inspiração é que esse estudo nos convence que Deus está, realmente, operando a salvação do gênero humano no mundo em que vivemos.
Em parte alguma verificamos esta operação divina mais claramente do que na maneira extraordinária e maravilhosa como foi no mundo antigo preparado para a vinda de Jesus Cristo. Ele veio na plenitude dos tempos, quando todas as coisas tinham sido dispostas de tal modo, pela mão do Pai, que a vinda do filho obteve pleno êxito. Podemos compreender melhor esta preparação do mundo para o advento do Cristianismo, considerando, primeiramente, a contribuição de três grandes povos. Cada um, no seu tempo, pela Providência divina, criou as condições da sociedade em que o Cristianismo apareceu realizando as suas primeiras conquistas.


A Contribuição dos povos.


Os Romanos

Quando o Cristianismo surgiu e durante os primeiros séculos de existência, os romanos eram os senhores do mundo. Assim os consideramos, não obstante haver muitíssimas regiões fora do domínio, porque à parte que governaram foi aquela em que a civilização do mundo estava então realizando os seus notáveis progressos. Os habitantes desse império o consideravam como abrangendo o mundo, pois ignoravam o que existia além das suas fronteiras. Além disso, o mundo romano incluía todas as terras que seriam alcançadas pelo Cristianismo durante os três primeiros séculos da era cristã. Pelas alturas de 50 a.D. o império romano abrangia a Europa ao sul do Reno e do Danúbio, a maior parte da Inglaterra, o Egito e toda a costa ao norte da África, como também grande parte da Ásia desde o Mediterrâneo á Mesopotâmia. Não era somente pela força que os romanos dominavam todas essas regiões; eles as governavam efetiva e inteligentemente, pois onde quer que estendessem seu domínio levavam uma civilização incomparavelmente superior á anteriormente existente naquelas terras. O poder desse império foi mais acentuado e sua administração mais eficiente nas terras adjacentes ao Mediterrâneo, exatamente o Cristianismo foi primeiramente implantado.

Os povos unificados

Com o seu império, os romanos se tornaram os mais úteis instrumentos de Deus no preparo do mundo para o advento do Cristianismo. Esse império, que incluía grande parte do gênero humano, Foi uma lição objetiva que provava ser a humanidade uma só. Pôr muitas eras, governos separados formaram grupamentos humanos que se sentiam diferentes e isolados de todos os outros grupos; mas com o império romano, os povos se unificaram, no sentido em que todos os governos tinham sido derrubados e um poder único dominava em toda à parte. O Cristianismo é uma religião de caráter universal, não conhecendo distinção de raça, apelando para os homens simplesmente como homens, tornando todos um em Cristo. Para tal religião a preparação mais valiosa foi à unificação de todos os povos sob o poder político de Roma.

A Paz Universal

Além disso, o poder de Roma trouxe uma paz universal, a “Pax Romana”. As guerras entre as nações tornaram-se quase impossíveis sob a égide desse poderoso império. Esta paz entre os povos favoreceu extraordinariamente a disseminação, entre as nações, da religião que pretendia um domínio espiritual universal.

O Intercâmbio entre os vários povos

Finalmente, a administração romana, sábia, forte e vigilante, tornou fáceis e seguras as viagens e comunicação entre as diferentes partes do mundo. Os piratas que estorvavam a navegação foram varridos dos mares. Pôr terra, as esplêndidas estradas romanas davam acesso a todas as partes do império. Essas estradas notáveis realizaram naquela civilização o mesmo papel das nossas estradas na atualidade. E tão policiadas eram essas vias de comunicação que os ladrões desistiram dos seus assaltos. De modo que as viagens e o intercâmbio comercial tiveram extraordinário incremento. È provável que durante os primeiros tempos do Cristianismo o povo se locomovia de uma cidade para outra ou de um país para outro, muito mais do que em qualquer outra época. Teria sido impossível o apóstolo Paulo realizar sua carreira missionária sem essa liberdade e facilidade trânsito possibilitadas pelo império romano. Contribuíram muitíssimo para o progresso do Cristianismo nos seus primeiros anos, as portas abertas que encontrou através de todo o mundo civilizado, as quais facilitaram o livre intercâmbio entre os paises onde as novas idéias deveriam ser pregadas e encorajaram os movimentos dos primeiros missionários.

Os Gregos

Ao surgir o Cristianismo, os povos que habitavam as regiões do mediterrâneo tinham sido profundamente influenciados pelo espírito do povo grego. Colônias gregas, algumas das quais centenas de anos foram amplamente disseminadas ao longo das costa do Mediterrâneo. Com o seu comércio os gregos foram a todas as partes. A sua influência espalhou-se e foi mais acentuada nas cidades e países que constituíam os mais importantes centros do mundo de então Tão poderosa foi a influência dos gregos que denominamos greco-romano este mundo antigo, porque Roma governava politicamente, mas a mentalidade dos povos desse império tinha sido moldada fundamentalmente pelos gregos.

Os Filósofos e as atividades intelectuais

Pôr muitos séculos antes da era cristã os gregos eram detentores da vida intelectual mais vigorosa e mais desenvolvida no mundo. Problemas sobre os quais os homens sempre cogitavam; a origem e significado do mundo, a existência de Deus e do homem, o bem e o mal, enfim, tudo quanto se relacionava com as pesquisas filosóficas foi objeto de meditação dos gregos como nenhum outro povo. É verdade que os hebreus tinham recebido uma revelação de Deus e da sua vontade, que os gregos jamais possuíram, mas os judeus não eram dados ás pesquisas. Ás indagações, nem se interessavam pela discussão dessas questões, como fizeram os gregos. Do sexto ao terceiro século antes de Cristo, um grande movimento intelectual sobre assuntos filosóficos e teológicos ocorreu entre os gregos, movimento no qual pontificaram os mais profundos e influentes pensadores do mundo, ensinando muita coisa de valor que ainda hoje perdura. Como conseqüência disto, verificou-se um desenvolvimento maravilhoso da mentalidade de povo grego que aprendeu a pensar muito e profundamente nas questões debatidas pelos seus filósofos. O raciocínio e a curiosidade dessa gente desenvolveram-se ao máximo. Como exemplo dessa influência temos Sócrates aparecendo nas praças públicas de Atenas, a fazer perguntas e a debater assuntos e idéias que obrigavam os homens a meditar em problemas que jamais tinham entrado em suas cogitações. Isso resultou em que o grego típico tornou-se um homem vivaz, inquiridor, polemista, ansioso pôr falar em assuntos profundos e coisas que se relacionavam com o céu e a terra. È fácil compreender o resultado do contato do grego com os outros povos. A sua influência estendeu-se pôr toda à parte aprofundando o pensamento nessas idéias e pesquisas que se relacionavam com os grandes problemas da vida. Esse tipo de curiosidade intelectual e esta prontidão de raciocínio prevaleciam nos centros principais do mundo greco-romano, lugares estes que depois foram alcançados pelos primeiros missionários com a pregação do Cristianismo. Assim os povos desses lugares estavam mais dispostos a receber a nova religião do que estariam se não fosse a influência dos gregos.

Os Gregos espalharam uma língua universal

Os gregos fizeram outra contribuição importante ao preparo do mundo para o advento do Cristianismo, disseminando a língua em que este seria pregado ao gênero humano pela primeira vez. Uma prova da extensão e da influência do grego vê-se no fato de que a língua mais falada nos países situados ás margens do Mediterrâneo era o dialeto grego conhecido pôr KOINE, ou dialeto “comum”. Era esta a língua universal do mundo greco-romano, usado para todos os fins de intercâmbio popular. Quem quer que o falasse seria entendido em toda à parte, especialmente nos grandes centros onde o Cristianismo foi primeiramente implantado. Os primeiros missionários, como pôr exemplo Paulo, fizeram quase todas as suas pregações nesta língua e nela foram escritos os livros que vieram a constituir o nosso Novo Testamento. De modo que a religião universal encontrou para sua propaganda e conhecimento, entre todos os homens uma língua universal; e esse auxílio inestimável foi, pôr Deus, providenciado pôr intermédio do povo grego.


Os Judeus

Os hebreus ou judeus constituíram o povo divinamente indicado para mordomos da verdadeira religião. A missão deles foi receberem de Deus uma revelação especial a respeito do próprio Deus e da sua vontade, assenhorearem-se desse ensino divino, á proporção que iam recebendo numa revelação progressiva, preservarem tais ensinos na sua pureza de integridade, de modo que, na “plenitude dos tempos”. Eles, os judeus, se constituíssem uma bênção para todos os povos. Não podemos entender a grandeza da vida nacional desse povo, sem que reconheçamos a sua história como uma preparação divina, do mundo, o aparecimento da religião pela qual Deus se propusera salvar o gênero humano.
Os judeus como se tem dito com muito acerto, prepararam “O Berço do Cristianismo”. Fizeram os preparativos para o seu nascimento e o alimentaram na sua primeira infância. Prepararam antecipadamente a vida religiosa em que foram instruídos o Senhor Jesus mesmo e todos os cristãos primitivos, inclusive os apóstolos e primeiros missionários. Em parte alguma do mundo, ao surgir o Cristianismo, havia uma vida religiosa tão pura e tão forte como a existente entre os melhores representantes da religião judaica, cujos característicos essenciais eram dois: a mais alta concepção de Deus conhecida entre os homens, como resultado do ensino do Antigo Testamento; e o mais alto ideal de vida moral que se conhecia resultante dessa sublime concepção de Deus. Humanamente falando não podemos ver como a vida e os ensinos de Jesus pudessem Ter procedido na vida religiosa de qualquer outro povo, a não ser o judeu, não podia se dispor a receber, no seu inicio, a religião que Cristo trouxe, e estendê-la a toda à parte. Preparados naquela religião mais antiga (o Judaísmo), religião que era tão intimamente aparentada com o Cristianismo, os judeus foram necessário para entenderem e pregarem a nova religião. Para que os que bem conhecem a vida dos gregos e dos romanos é fácil sentir a impossibilidade de arrebanhar entre eles, os homens que fossem para o Cristianismo o que vieram a ser os primeiros discípulos, um Paulo e os apóstolos.


Os Judeus Aguardavam a Vinda de um Salvador

Em segundo lugar os judeus prepararam o caminho para o Cristianismo porque se constituíram numa raça que aguardava o que o Cristianismo oferecia: Um Salvador Divino. A esperança de um Messias era acariciada pôr todos os judeus como a mais preciosa das suas possessões. È verdade que muitos alimentavam tal esperança como uma concepção grosseira, materialista. Mas em todas as concepções havia. Um elemento essencial: a ardente expectação de um enviado de Deus para redimir o seu povo. Jamais houve entre os dois povos uma esperança ou perspectiva do futuro comparável á esperança messiânica dos judeus. O que havia, realmente, no mundo grego e no mundo romano era uma forte dose de desespero, de cansaço, de desilusão. O Cristianismo encontrou todos os seus primeiros seguidores entre os judeus, e o elemento que os habilitou a receberem a nova religião foi a esperança de um Salvador divino.


Os judeus deram ao Cristianismo o Antigo Testamento

Em terceiro lugar, os livros sagrados dos judeus foram um auxilio inestimável. O nosso Antigo Testamento foi pôr eles entesourado como um relato da manifestação do próprio Deus na sua vida nacional. Assim, a nova religião foi suprida, no nascimento, pôr uma literatura religiosa que ultrapassou, infinitamente, qualquer outra desse gênero então existente, e que confirmou os ensinos cristãos, prenunciando Cristo pelas profecias. O Cristianismo antes de produzir seus próprios livros, encontrou, pronto para o seu uso, os antigos manuscritos que lhes foram o maior auxilio. Jesus fez uso do Antigo Testamento para nutrir a Sua própria vida e basear os seus ensinos e, consoante seu exemplo, as escrituras judaicas eram lidas regularmente nas reuniões de culto dos primitivos cristãos judeus ou não, retiraram delas instrução e inspiração incalculáveis. Nota-se também que o antigo testamento era conhecido de numerosos gentios que tinham sido atraídos para a religião judaica, como a mais pura que podiam encontrar, e, assim, esta religião se tornou um meio pelo qual muitos desses homens vieram a Jesus.

A influência dos Judeus da Dispersão

Julgamos ser necessário dizer algo sobre a importante contribuição que os elementos judaicos da dispersão fizeram á preparação para o Cristianismo. Trata-se dos judeus que foram espalhados em virtude dos cativeiros que sofreram. Esses judeus podiam ser encontrados em quase todas as cidades do Antigo Mundo Greco-Romano. Em qualquer parte onde estivessem conservavam a sua religião e mantinham as suas sinagogas. Em muitos lugares realizavam trabalho missionário ativo. Assim ganharam entre os gentios, numerosos prosélitos e tornaram conhecidos os ensinamentos da sua religião a muitos outros que, embora só em parte, os aceitaram. Esta missão judaica foi uma precursora muito útil das missões cristãs, porque espalhou, extensivamente, entre os gentios, certos elementos religiosos básicos que são essenciais tanto ao cristianismo como ao judaísmo. Um desses elementos como o cristianismo ensinava ser parte integral da religião. Nisto ambas se diferençavam das religiões pagãs que nada ensinavam sobre a conduta humana. Um terceiro elemento foi à esperança de um Salvador. Muitos gentios pelo contato com os judeus, tinham sido inspirados pôr esta expectação, preparando-se desse modo para a aceitação de Cristo como aquele que havia de vir.



HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

II - O Mundo ao Surgir do Cristianismo
a)- As Condições Religiosas

A velha religião dos deuses e das deusas da Grécia e de Roma, que a história da mitologia clássica relata, tinha perdido quase toda a sua vitalidade e influência ao tempo do advento do Cristianismo. Não obstante as formas do seu culto serem, então, de certo modo, ainda conservadas, os homens cultos geralmente não mostravam crença nessa religião; nem mesmo entre o povo comum exercia ela muita influência. O imperador Augusto que reinava ao tempo quando Cristo nasceu, muito se preocupou com esse declínio da velha e tradicional religião e envidou esforços extraordinários para revivê-la, sendo quase tudo em vão.
Todavia, não se pode afirmar que esta época se caracterizava pela irreligiosidade. Augusto também estabeleceu a religião Estado. Conforme o seu desenvolvimento posterior veio ela a se constituir em veneração de imagens e estátuas dos imperadores que então reinavam e dos que os antecederam, como símbolos do poder de Roma. O Estado foi endeusado como nos modernos regimes totalitários. Tomaram vitalidade considerável certos cultos primitivos e a adoração de divindades associadas a certas localidades, ocupações ou profissões, aspectos da vida etc.
Os antigos mistérios helênicos exerciam grande atração nas massas. Esses mistérios eram cerimônias secretas e dramáticas que realçavam certas idéias concernentes á perpetuação da vida. O orfismo, antigo movimento grego de religião mística que ensinava doutrinas de salvação e vida depois da morte, era representado pôr muitas irmandades. Mais poderosas e mais influentes, porém, eram as religiões orientais que se espalharam nas margens do Mediterrâneo, tendo conseguido muitos adeptos. Da Frigia, veio o culto da Mãe dos deuses e o culto a Attis. Do Egito, veio o culto de Isis com Serápis ou Osíris. Essas religiões exerciam influência no começo da era cristã. Mais tarde, a mais popular das religiões orientais, a da deusa Mitras, veio do leste da Ásia Menor e era a deusa mascote do exército romano pôr onde ele ia. Essas religiões misteriosas tinham uma semelhança superficial com o Cristianismo, pôr organizarem sociedades agrupando indivíduos independentemente de raça ou posição social, os quais faziam refeições em comum, pôr praticarem certas abluções que eram consideradas como purificação espiritual e, em muitos casos, pelo culto a divindade que supostamente tinham sofrido a morte e ressuscitado, comunicando, assim, vida imortal aos seus seguidores. Em aspectos mais profundos essas religiões muito se distanciavam do Cristianismo.

Curiosidade e anseio religioso.

Foi uma era de religiosidade aquela em que o cristianismo alcançou as suas primeiras conquistas. Nesse tempo havia muito interesse no conhecimento das várias formas de religião e muita ansiedade pôr idéias e crenças que trouxessem mais satisfação á alma. O mundo estava cheio de curiosidade e anseios espirituais. È curioso que em relação ao Cristianismo houve três coisas proeminentes: a) uma crença progressiva num Deus universal; b) um sentimento de culpa, de pecado, muito generalizado e, em conseqüência, um anseio, um desejo intenso de purificação; c) um grande interesse nos problemas do além túmulo.

Antes do aparecimento do Cristianismo a melhor religião existente era o judaísmo. Mas este não podia satisfazer plenamente as necessidades do mundo. Mesmo enquanto Jesus vivia, o judaísmo deu provas de que não era capaz de se constituir uma religião universal. Isto se verifica no caráter dos seus lideres que eram os sacerdotes, os saduceus e os mestres, os fariseus. Subestimamos o valor dos fariseus em virtude da oposição deles a Jesus. Mas apesar do seu vigor moral, entre os fariseus da Palestina desenvolvia-se um estreito preconceito racial com o objetivo de limitar a religião judaica exclusivamente ao povo judeu e, pôr isso, se opunha á obra missionária entre os gentios, obra que tinha sido iniciada durante o cativeiro.

b) Condições Intelectuais

O grande movimento filosófico grego chegou a seu fim no que se relaciona com a pesquisa da verdade, muito tempo mesmo antes da era cristã. Quando surgiu o Cristianismo, o pensamento grego não fazia mais progresso. Duas filosofias gregas, o Epicurismo e o Estoicismo tinham alcançado considerável crédito, ou melhor, estavam muito em voga no império romano, durante os primeiros anos do Cristianismo. Mas nenhuma delas satisfazia a mente dos homens no que respeitava ás questões fundamentais e urgentes, como as do pecado e da vida futura que, pôr assim dizer, os preocupavam. Ambas essas filosofias eram falhas como método de vida. O Epicurismo era muito superficial, interesseiro, egoísta. O Estoicismo, não obstante seus nobres ensinos de moral exerceram larga influência, era muito falho no que respeitava á simpatia humana.
Entre os homens de raciocínio profundo havia um forte sentimento de insatisfação e um desejo ardente de encontrar solução para os problemas cruciais da vida.

c) Condições Morais

Tem-se pintado, habitualmente, os estado moral do mundo civilizado durante os primeiros tempos do cristianismo com as mais negras cores, como se não existisse qualquer coisa boa digna de menção. Os fatos que a história relata não justificam, de todo, esse julgamento. Talvez essa idéia seja o resultado da leitura generalizada dos escritos satíricos daquela época que relatavam os vícios da “sociedade” e dos escândalos referidos pelos biógrafos da aristocracia. As classes mais altas, sem dúvida, estavam tremendamente corrompidas. Entre a classe média e baixa, todavia, muitos homens e mulheres levavam uma vida virtuosa, com alguns gestos de nobreza e de bondade. Quando, porém, reunimos os elementos favoráveis e desfavoráveis, o resultado é, realmente, negro. A época era decadente. Os homens tinham seus espíritos perturbados e insatisfeitos. As religiões e filosofias então existentes exerciam pouca influência sobre a vida. Como resultado disso, o nível moral era baixo. Nada existia que pudesse melhorar a situação até que o Cristianismo começou a exercer influência. A tendência da sociedade era para um constante declínio moral. Em conseqüência de tudo isso havia um sentimento de cansaço e de vácuo entre muitos homens e especialmente entre os melhores e mais inteligentes deles. Foi a um mundo entenebrecido, sem esperança e muito corrompido que os primeiros missionários cristãos trouxeram suas boas novas de Salvação.


HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

III- O PRIMEIRO SÉCULO- JESUS E A SUA IGREJA

A ) Jesus e Seus Discípulos

Jesus teve “compaixão das multidões” e lutou por alcançar, com seu ministério, o maior número possível de pessoas. Mas evidentemente sentiu que poderia fazer muito mais a favor do mundo, tendo ao seu lado alguns homens escolhidos, cheios do seu espírito para continuarem a sua obra. Logo no inicio do ministério, Jesus convidou alguns para serem seus companheiros e participantes da sua missão. Depois, dentre os que creram nele, fez a escolha de doze, para serem seus companheiros mais íntimos. Outra ocasião também escolheu setenta, aos quais preparou para o ministério especial da pregação. A relação de Jesus com os seus discípulos, especialmente para com os doze, constitui uma das partes características mais importantes da sua obra. A estes, ministrou ensinos que não deu aos demais de modo geral, e os preparou, de sorte que, após a sua volta aos céus, esses apóstolos puderam revelar um conhecimento perfeito do Mestre, do seu ensino, da Revelação de Deus, e da Salvação que, pelo Filho, mandou ao mundo; e também a conduta de vida para a qual Cristo chamou todos os homens. Próximo ao fim do seu ministério terreno, Jesus dedicou-se mais a esta natureza de trabalho com seus discípulos. Após a ressurreição apareceu somente aos discípulos, Suas últimas palavras foram definidas para que levassem o anúncio do Evangelho a “todas as nações” e uma promessa de assisti-los com poder, através de todos os tempos enquanto estivessem realizando a sua missão pôr todo o mundo.

b) Jesus funda a Sua Igreja

Evidentemente Jesus deixou clara a necessidade de haver uma sociedade constituída dos seus seguidores a fim de oferecer ao mundo o evangelho e ministrar, em seu espírito, os ensinos que lhes dera. O objetivo era propagar o reino de Deus. Ele não modelou qualquer organização ou plano de governo para esta sociedade. Não indicou oficiais para exercerem autoridade sobre os membros de tal organização. Credo algum prescreveu para ela. Nenhum código de regras lhe fora imposto. Não prescreveu ordens ou formas de culto. Apenas deu aos seguidores, ordenanças, que puderam ser consideradas simples pôr seus seguidores no ponto de vista religioso, a saber: o batismo, com água, para significar a purificação espiritual e consagração ao seu discipulado; e a Ceia do Senhor, na qual usou um pouco dos elementos mais comuns da alimentação, como uma comemoração ou lembrança dele próprio, especialmente da sua morte para a redenção dos homens. Conseqüentemente, em nada do que Jesus fez podemos descobrir a organização da Igreja. Fez mais do que dar organização: deu vida á Igreja. Ele fundou a Igreja, ou melhor, Ele mesmo a criou.
Jesus formou uma sociedade dos seus seguidores, agrupando-os ao redor de si mesmo. Comunicou a esse grupo, até onde era possível, Sua própria vida, seu espírito e propósito. Prometeu dar, através dos séculos, vitalidade a esta sociedade, sua igreja. E sua grande dádiva a ela foi o Dom Dele próprio. Nele, a igreja teria de encontrar os seus princípios, os seus objetivos, o seu poder. Deixou a igreja livre para escolher as formas de organização e de culto, afirmações de crença, métodos de trabalho, etc. O propósito de Cristo era que a vida da sua igreja, isto é, a vida do Salvador latente em seus seguidores, se expressasse pelos modos que lhes parecessem mais apropriados para consecução do grande objetivo em vista.

IV- A Igreja Apostólica- (Até o ano 100)

O Começo.

Num certo sentido, a Igreja Cristã teve seu nascimento quando Jesus chamou seus primeiros discípulos.
Comumente, porém, se diz que a história da Igreja teve inicio no dia de Pentecostes que se seguiu á ressurreição, pois foi quando teve começo a vida ativa da Igreja. Após a ascensão de Jesus aos céus, os discípulos, não obstante terem recebido ordens de anunciar o Evangelho ao mundo, permaneceram, todavia, quietos, tranqüilos em Jerusalém. Estavam aguardando, segundo a ordem do Mestre, o poder prometido que viria do alto. Dez dias depois, no Pentecostes, o Espírito Santo prometido pôr Jesus veio sobre eles, revestido-os de poder. Tornaram-se, após, testemunhas destemidas do Mestre, plenos de nobre atividade. Verifica-se tal mudança no próprio discurso de Pedro no Pentecostes. O que sucedeu a Pedro naquele dia expressa o espírito de todos os primeiros cristãos, daquele dia em diante. E desde então, a Igreja cristã, como uma comunidade destemida a dar testemunho de Cristo, vem proclamando o Evangelho, edificando o Reino de Deus na terra.



A Extensão da Igreja

A primeira pregação do Evangelho, no Pentecostes, foi dirigida unicamente aos judeus. Pôr algum tempo, talvez dois ou três anos, as missões cristãs eram limitadas aos judeus, começando em Jerusalém e daí estendendo-se a toda a Palestina. Os primitivos cristãos não perceberam logo a extensão do propósito divino na salvação do mundo. Como hebreus, reconheciam que Jesus era o Messias esperado pelo seu povo. Portanto o consideravam como Salvador somente ou principalmente dos judeus, apesar de Jesus, pôr palavras se atos, Ter-lhes ensinado coisa diferente. A perseguição foi o meio pelo qual a Igreja nascente chegou a uma compreensão mais segura do Evangelho que Jesus lhe dera a pregar, e pôr ela alcançou uma visão mais ampla da obra que Jesus lhe propusera.
As autoridades religiosas judaicas que tinham tentado embaraçar a pregação evangélica levantaram-se pôr causa do audaz desafio que foi o discurso de Estevão, e empreenderam uma campanha selvagem, violenta e sistemática contra o Cristianismo. Com esse ataque, a comunidade cristã de Jerusalém que já contava com alguns milhares, foi dissolvida. Seus elementos procuraram segurança, espalhando-se pôr toda a Palestina. Não obstante fugirem para salvarem a vida e pôr causa da sua fé levaram o Evangelho aonde quer que fossem. Alguns deles foram até á grande cidade de Antioquia na Síria. Ali, os seguidores de Cristo foram pela primeira vez, chamados “cristãos”, nome que, parece, lhes foi dado pôr zombaria. Nesta cidade, vivendo no meio de uma população grega, esses exilados tornaram Jesus conhecido tanto de gregos como judeus.
Desse modo certos crentes obscuros e desconhecidos deram o grande passo para tornarem o Cristianismo uma religião universal. Um pouco mais tarde, essa Igreja de Antioquia enviou Barnabé e Paulo, os primeiros expressamente designados para pregarem Cristo aos gentios. Foi Paulo quem concluiu, sob a direção divina, a obra de liberar o Cristianismo. Paulo realizou o que sempre estivera no propósito divino: fazer do Cristianismo pregado a todos os homens no mesmo pé de igualdade.
Começando, assim sua grande carreira missionária, o Cristianismo espalhou-se, de sorte que pelo ano 100 havia igrejas em inúmeras cidades da Ásia Menor e em muitos lugares da Palestina, Síria, Macedônia e Grécia, em Roma, Alexandria, e provavelmente, na Espanha. Paulo foi naturalmente o missionário que mais contribuiu para esse resultado. O Novo Testamento refere os nomes de alguns outros como Priscila e Áquila. O que a tradição relata sobre a pregação dos apóstolos leva nos a pensar que todos deram testemunho destemido, levando ás terras longínquas as Boas Novas, não obstante conhecermos com mais segurança, o trabalho de Pedro e João, conforme relato escrituristico. Todavia, muito da tarefa heróica de tão grande esforço evangelístico foi realizado pôr discípulos e missionários cujos nomes desconhecemos. Cada crente era um missionário ansioso pôr oferecer a alegria de que gozava em Cristo, ás pessoas que encontrava no trabalho, nas comunidades e em outros meios. Em virtude do zelo que tinham em anunciar a Cristo e, muito mais ainda, pelo testemunho das suas vidas fiéis que anunciavam o poder de Cristo, esses cristãos desconhecidos foram os mais eficazes missionários da sua religião.

A Vida Da Igreja

Naquele tempo uma igreja cristã era comumente um pequeno grupo de crentes vivendo numa grande comunidade pagã. Quase todos eram pessoas pobres, alguns escravos, embora houvesse cristãos nas classes mais altas, especialmente na igreja de Roma. Em toda a parte havia muita coisa que distinguia um cristão dos vizinhos pagãos. Eles se tratavam mutuamente pôr irmãos em Cristo e realmente agiam como irmãos. Cuidavam desveladamente dos órfãos dos doentes, das viúvas, dos desamparados. As coletas e a administração de fundos de caridade constituíam uma das partes mais importantes da vida dessas igrejas primitivas. Dentro da Igreja todas as distinções foram abolidas. Escravos e senhores foram nivelados. As mulheres alcançaram posição de honra e influência que jamais conseguiriam na sociedade profana. Distinguiam-se também os cristãos pôr um fervor e pureza moral jamais conhecidos em qualquer parte. As Epistolas de Paulo aos Coríntios nos falam de um povo que estava longe de ser perfeito como era de esperar daqueles recentemente convertidos do paganismo e que viviam no meio das suas tentações. Não obstante, as vidas dos cristãos gentios demonstravam o poder que tem o Evangelho de conceder aos homens uma nova justiça. Além disso, a atitude dominante dos cristãos era de contentamento e confiança admiráveis. Regozijavam-se no amor de Deus, o Pai, na comunhão com Cristo redivivo, no perdão dos pecados, na certeza da imortalidade. Assim desconheciam a tristeza e o desespero que oprimiam a vida de muitos que os cercavam. Esses característicos dos cristãos primitivos constituíam uma poderosa recomendação para o Cristianismo, promovendo o seu desenvolvimento.

H. Cristianismo

A vida da Igreja

Todos esses característicos derivavam parte do seu vigor da constante expectação em que viviam esses discípulos quando a iminente vinda do senhor, em glória visível, para restabelecer Seu Reino triunfante sobre a terra. A predominância desta esperança na Igreja apostólica nunca deve ser esquecida quando consideramos este período histórico da Igreja. È verdade que esses cristãos primitivos cometeram certos erros sobre este assunto da volta do Senhor, mas a esperança de que se achavam possuídos muito contribuiu para fortalecer e purificar suas vidas.
Os cristãos necessitavam de um auxilio especial, pois estavam constantemente expostos a sofrimentos pôr causa da sua fé. Muitas vezes foram assolados pelos judeus inimigos do Cristianismo. Os cristãos eram também odiados pôr muitos, por suas vidas constituírem permanente condenação dos costumes e conduta moral dos pagãos. A partir de Nero (54 a 68 A. D), o governo romano começou a hostilizar o Cristianismo, tentando eliminá-lo cruel e vigorosamente. Essa perseguição variava de intensidade á medida que variavam os governos. Muitos cristãos, tantos famosos lideres como Paulo, como outros heróis desconhecidos, receberam a coroa de martírio.

O Culto na Igreja

A pobreza e a perseguição impossibilitaram a igreja primitiva de construir seus templos durante o primeiro século, razão por que os cristãos se reuniram para o culto em casas particulares. Deduzimos das Epistolas de Paulo, especialmente as enviadas aos Coríntios, que havia dois tipos de reuniões de culto. Um era do tipo do culto de oração. O culto era dirigido conforme o Espírito os movia no momento. Faziam orações, davam testemunhos, ministravam certos ensinos, cantavam Salmos. Ai apareceram também os primeiros hinos cristãos do primeiro século. Eram lidas e explicadas as Escrituras do Antigo Testamento. Havia também leituras ou citações, de memória, doa atos e ensinos de Jesus. Quando os apóstolos enviavam cartas ás igrejas, como as que encontramos no Novo Testamento, essas cartas eram lidas para todos. Nessas reuniões o entusiasmo do Cristianismo primitivo encontrou livre expressão. E esse entusiasmo ás vezes era tão ardoroso que resultava em certa desordem. Eram admitidos os estranhos a essas reuniões e nelas alguns deles se levantavam confessando os pecados e a declarar que aceitavam a Jesus.
A outra era conhecida como a festa do amor ou fraternidade. Era uma refeição comum, muito alegre e sagrada, símbolo de amor fraternal cristão. Dela somente os cristãos podiam participar. Cada um trazia a sua parte da refeição e estes elementos eram repartidos entre todos igualmente. Paulo repreende o egoísmo dos que comiam o que eles mesmos traziam e se recusavam a dividir o que tinham com os que não podiam trazer coisas tão boas. Durante as refeições o dirigente dava graças. Ao fim de tudo celebrava-se a Ceia do Senhor em que se usava uma parte do pão que tinha sido servido na Festa para comemorar a ressurreição de Cristo. Não obstante haver bastante incerteza sobre este assunto é provável que, a principio, a Festa do Amor fosse realizada á noite. Já no fim do primeiro século, a Ceia do Senhor foi separada da Festa do amor e celebrada numa reunião matinal. Historiadores relatam que no segundo século a Ceia do Senhor era celebrada pela manhã do dia do Domingo, chamado Dia do Senhor.

A Crença da Igreja

Na Igreja do primeiro século não se compuseram credos ou declarações formais de fé. O credo dos Apóstolos só apareceu no segundo século. Para conhecermos a crença dos cristãos primitivos devemos recorrer ao Novo Testamento. Criam eles em Deus, o Pai; em Jesus Cristo, como o Filho de Deus e Salvador, criam no Espírito Santo, de cuja presença estavam cônscios. Criam no perdão dos pecados. A base do seu ideal moral era o ensino de Jesus sobre o amor a todos os homens. Aguardavam a volta de Jesus para exercer o julgamento final e dar vida eterna a todos os que criam Nele. Suas idéias doutrinárias, se assim podemos chamar, eram muito simples. Todos os seus pensamentos sobre a vida religiosa tinham como centro a Pessoa de Cristo.
Duas influências levaram os crentes do primeiro século a cair em alguns erros doutrinários os quais, de certo modo, ameaçaram a pureza do Evangelho. Os “judaizantes” ensinavam que os cristãos deviam cumprir todas as cerimônias exigidas pela lei Judaica. Paulo condenou-os porque viu que se o ensino deles prevalecesse, o Cristianismo não podia ser a religião de todas as raças. Encontramos no Novo Testamento advertência solene contra os erros do chamado Gnosticismo. Esta seita surgiu no primeiro século e veio depois a se tornar poderosa. Consistia de uma estranha mistura de idéias cristãs, judaicas e pagãs. Era muito parecida com o Cristianismo de modo a confundir alguns crentes.

O Governo da Igreja.

As igrejas primitivas eram independentes, com governo próprio decidindo todos os seus negócios e problemas. Os cristãos insistentemente afirmavam que pertenciam á única Igreja Universal, pois todos eram um em Cristo, mas nenhuma organização de caráter geral exercia controle sobre as inúmeras igrejas espalhadas pôr toda à parte. Os primeiros apóstolos eram reverenciados, em virtude do contato que tiveram com Cristo e exerciam certa autoridade, como se verifica na decisão tomada quando aos cristãos gentios e á lei judaica e como se vê no capitulo 15 de atos. Paulo exercia autoridade em virtude da sua posição de apóstolo e do seu trabalho extraordinário. Mas autoridade desses homens não derivava do seu oficio, nem se expressava numa organização formal.
O Novo Testamento fala de oficiais que se ocupavam do ministério da pregação e do ensino. São conhecidos como apóstolos, profetas e mestres. O nome “apóstolo” não era restrito aos companheiros de Jesus, mas pertencia também a outros pioneiros do Evangelho que levavam as Boas Novas a novos campos. Os profetas e mestres ou doutores esclareciam o significado dos Evangelhos ás Igrejas. Todos esses exerciam seus ofícios não pela indicação de qualquer autoridade, mas revelavam estar habilitados para tais ofícios pelos dons do Espírito Santo. O ministério desses oficiais se estendia a toda a Igreja. Vemos muitos dos apóstolos e profetas viajando por toda à parte a serviço da causa. No primeiro século, a pregação e o ensino do Evangelho era feito principalmente pôr esses homens. O Novo Testamento fala de outra natureza de ministério que dizia a respeito aos negócios das congregações. Sobre isto não existem muitas informações. Parece não haver nenhum modelo de organização para todas as igrejas, mas estas agiam livre e independentemente e seus métodos diferiam. Em algumas igrejas fundadas pôr Paulo havia dois grupos de oficiais: os anciãos ou presbíteros, também chamados bispos, que eram superintendentes; o outro grupo era de diáconos. Os anciãos ou bispos tinham o encargo do pastorado, da disciplina e dos negócios econômicos. Os diáconos prestavam um serviço especial, o da beneficência. Os presbíteros presidiam a Mesa do Senhor e pregavam quando não estava presente algum apóstolo ou profetas. Esses oficiais eram escolhidos pelo povo porque revelavam os dons e a vocação do Espírito Santo para esse trabalho. Tal forma de distribuição de encargos não admitia qualquer oficial como os pastores atuais. Parece que havia outras igrejas com diferentes formas de organização; em alguns casos a liderança estava com um individuo; noutros, o governo era congregacional.


HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

IMPERADORES E OS CRISTÃOS

Trajano- 98-117, induzido por Tácito e por Plínio sustentou a religião do Estado como medida política, opondo-se, todavia. Às sublevações violentas contra os cristãos.

Adriano-117-138, não acreditava na religião popular, tendo revelado grande interesse pelas religiões estrangeiras, embora, como medida política, tivesse sustentado a religião do Estado.

Antonio Pio 138- 161, foi um dos mais sábios e justos imperadores; no entanto, durante o seu governo os cristãos, a quem o povo fanático atribuía todos os males, como fome, os terremotos, incêndio de Roma, Antioquia e Cartago, sofreram constantes e cruéis perseguições. A despeito disto, o Cristianismo crescia com admirável resistência, vencendo heroicamente as vicissitudes. Nem mesmo o desaparecimento de centenas de cristãos, atirados ora a feras ã vista do populacho, ora mandados para os degredos perpétuos.

Marco Aurélio- 161- 180- cultor apaixonado da filosofia, viveu simples e moderadamente, tendo procurado governar com justiça. Ainda assim o Cristianismo durante o seu governo sofreu perseguições atrozes. Imperador filosofo como lhe chamavam alguns historiadores, excitou e promoveu algumas perseguições aos cristãos, cujo fervor e entusiasmo, considerava como mero fanatismo; e ainda que não esposasse inteiramente a religião do Estado, sustentou-a como necessidade política. Essas perseguições, todavia, foram sobremodo favoráveis á propagação do Cristianismo, pois levaram o povo a investigar a razão porque homens indefesos eram tão ferozmente perseguidos, calando otimamente no espírito popular o modo resignado e calmo com que eles sofriam pela causa que com tanto heroísmo defendiam. A consolidação da igreja com seu episcopado monárquico, sua insistência na autoridade e sucessão do cânon do Novo Testamento tomaram grande desenvolvimento durante esse governo em que surgiu também a importante controvérsia a respeito da celebração da páscoa.

Cômodo- 160- 193- era dissoluto, tímido, cruel e vingativo; no entanto, sua atitude para com o Cristianismo, graças à influência de Márcia, sua concubina favorita, que simpatizava bastante com os cristãos, foi, mais favorável que a de seus predecessores.

Sétimo Severo- 193- 211- não decretou novas leis contra os cristãos, porém impôs o fiel cumprimento das que existiam, de forma que em nada foi o seu governo mais benevolente para com os crentes que os dos seus antecessores. Clemente de Alexandria escrevendo sobre os acontecimentos dessa época diz: “muitos mártires estão sendo queimados, crucificados e degolados perante os nossos olhos”. Em 202 ou 203, Clemente foi obrigados a abandonar o seu trabalho e retirar-se da cidade, e o pai de Orígenes foi supliciado.

Carácala e Heliogábalo- 211- 222- foram dois dos mais vis imperadores que, no entanto, toleravam o Cristianismo. Quando Heliogábalo subiu ao trono era sacerdote do culto siríaco, que consistia na adoração do sol. Convergiu todo o seu esforço para fundir o judaísmo, Samaritanismo, Cristianismo e a religião do Estado, num só sistema em que predominasse a adoração do sol. O cristianismo desenvolveu-se rapidamente, embora absorvesse do paganismo doutrinas que foram sobremodo prejudiciais á sua pureza.

Alexandre Severo- 222- 235- era bastante propicio ao Cristianismo. A mãe, que lhe inspirava todos os atos governamentais, aprendeu de Orígenes, o grande teólogo cristão, preciosas lições sobre verdadeiros princípios do Cristianismo. E assim puderam os cristãos gozar um período de paz em que edificaram os seus templos e progrediram materialmente. Por esse tempo florescia admiravelmente a escola cristã em Alexandria e a instrução religiosa em Roma tomava grande impulso. Todavia, o Cristianismo ainda não tinha sido declarado por decreto imperial religião legal, movendo-lhe o senado e a aristocracia romana aberta e tenaz oposição.

Décio Trajano - 249 251, soldado italiano, levado ao trono pelo exército, considerou o único meio de assegurar a unidade e estabilidade do império reabilitar e impulsionar a religião do Estado, seria a supressão do Cristianismo pelo extermínio de seus lideres. E para conseguir os seus propósitos, decretou que os cristãos se conformassem com a religião do Estado e participassem dos seus ritos e cerimônias. Nos períodos em que a perseguição fora menos intensa, multidões se uniram ás igrejas sem a menor noção dos deveres da vida cristã. E, a maior parte nada sabia de regeneração. O espírito mundano dominava por completo não só grande parte dos leigos, mas especialmente muitos clérigos que gastavam mais os seus esforços nas coisas seculares que no ministério das palavras. Esses em vindo à perseguição, imediata se retratavam; porém os fiéis preferiam a morte á ignomínia.

Valeriano – 235- 260-, no principio do seu reinado foi bastante benevolente para com os cristãos, porém as calamidades que periodicamente tanto perturbavam o império, levaram-no a publicar um édito sanguinário, Cipriano, bispo da igreja de Cartago, Sixto, bispo de Roma, e muitos outros cristãos dos mais influentes, foram supliciados, enquanto que muitas igrejas viram destruídas as suas casas de oração.

Galiano - 260-268-, sucessor de Valentino, favoreceu aos cristãos, fez voltar os desterrados, restaurou as propriedades da igreja e proibiu as perseguições. Deste período de governo ao de Diocleciano, os cristãos aproveitaram-se da época de relativa paz que lhes concederam, os perseguidores, para recomporem as suas forças, cresceram em número e riqueza e aperfeiçoarem a organização da igreja. Infelizmente ao aldo do progresso, infiltrou-se na igreja o mundanismo com o seu cotejo de calamidades e ruínas. Não menos prejudicial foi à entrada dos pagãos com as suas doutrinas e hábitos de vida que causaram tanta divergência e fraqueza no seio das igrejas, a ponto de não se sentirem eles em condições de enfrentar uma perseguição implacável.

Diocleciano- 284- 305-, talvez de origem escrava foi elevado ao trono pelas suas proezas militares. Seguindo o proceder de alguns dos seus antecessores, este imperador sustentou para fins políticos a religião do Estado insuflando cruel perseguição aos cristãos não obstante terem sido cristãs, ao que parece, Orisca e Valéria, sua esposa e filha. A perseguição começou por um decreto imperial que obrigava todos os soldados sacrificarem aos ídolos, devendo ser excluídos os que recusassem a obedecer e executados os que manifestassem zelo pelo Cristianismo. Eusébio relata: neste período foram publicados éditos reais que mandavam derrubar templos, queimar as Escrituras e desprestigiar aqueles que ocupavam posições honrosas e provar de liberdade os que persistiam fiéis ao Cristianismo. Multidões se apressaram em abjurar a fé e a entregar as cópias das escrituras, enquanto fiéis suportavam as mais terríveis torturas e recusaram até o suspiro entregar as que possuíam, ou de qualquer modo submeter-se. Alguns empregavam meios ilícitos para escapar ao cumprimento da lei.

Constantino - até 323.........


HISTÓRIA DO CRISTIANISMO I

CONDIÇÕES NO FIM DO PERÍODO: (ano 100-323)

I - Extensão do Cristianismo
Nessa época, por toda à parte, dentro dos confins romanos, o nome de Cristo é conhecido e honrado. E diante do Cristianismo forte, organizado, triunfante mesmo, o paganismo aparece débil, fraco, esfacelado, sem organização, sem conceito, e sem esperança.
Ao fim do período considerado (323), quase uma décima parte da população do Império Romano era cristã. Na Ásia Menor metade dos habitantes era cristãos. Pouco a história relata a respeito do movimento missionários da época são desconhecidos. È bem provável que a maior parte da evangelização, como na era apostólica fosse feita pelos leigos.
Os argumentos usados na conquista dos não cristãos variavam:
Para com os judeus e prosélitos judaicos, apelavam aos cumprimentos das profecias do Antigo Testamento em Jesus; para com os pagãos, contrastavam as fraquezas do corrente politeísmo com a superioridade e antiguidade do monoteísmo cristão; Para ambos, os cristãos davam ênfase á encarnação, e a ressurreição de Cristo e chamavam a atenção á relativa pureza de vida dos cristãos em contraste com a dos pagãos. Entretanto, o cristianismo não triunfou sem oposição que contribuiu para o seu triunfo.
A perseguição, conforme destacado em aulas anteriores, era bastante severa para desanimar os frívolos a aliarem-se com os perseguidos, dando, assim, solidariedade e tom moral ao Cristianismo. Por outro lado, as perseguições não foram suficientes para aniquilar as igrejas.
As razões para a extensão maravilhosa do Cristianismo, nos três primeiros séculos foram muitas. A principal, porém, foi o impulso original que veio do Fundador. A transformação operada por Cristo naqueles que o aceitaram como Salvador e Senhor e a inabalável crença na sua morte e ressurreição e a certeza da sua volta, e que levaram os cristãos primitivos a iniciarem e continuarem a conquista do mundo em seu nome. Era o impulso intimo e dinâmico, implantado neles pelo Espírito Santo, que conduzia os cristãos á vitória.

II - Posição Social
O progresso do Cristianismo e o bom nome adquirido depois de lutas tão sanguinárias e ásperas, deram-lhe uma alta posição no império. Muitos cristãos chegaram a ocupar elevados cargos públicos.
No entanto, a grande maioria dos cristãos ainda vinha da classe mais humilde como acontecera no período apostólico. Cerca do ano 200, Abgar, rei de Edessa, abraçou o Cristianismo, sendo o primeiro soberano a curvar-se ante ao Mestre. Em 311, Constantino colocou-se ao lado dos cristãos e fez com que cessasse a perseguição oficial. As condições agora tão favoráveis á vida cristã, tornaram possível melhor distribuição pecuniária. Muitos cristãos tornaram-se possuidores de avultados bens materiais. As igrejas, igualmente, prosperavam, e, em muitos casos, fizeram aquisição de grande fortuna.

III - Alterações na doutrina e prática
Ao lado destas condições externas, notam-se alterações sensíveis na doutrina e prática das igrejas que gradualmente se iam transformando na igreja Católica Romana dos tempos posteriores. O Cristianismo veio ganhar popularidade entre o povo e o apoio do governo imperial á custa de mudanças na sua vida e organização. Enfim podemos dizer que há um largo e profundo abismo entre o Cristianismo do ano 100 e as igrejas de 323.
Efetivamente é mais fácil salpicar um pouco de água benta na testa do que purgar o coração da malicia; comer um pedacinho de pão e pretender haver engolido a divindade do que sujeitar-se á vontade de deus; ofertar meia dúzia de velas ao invés de dedicar o coração; raspar a cabeça do que expelir os pensamentos impuros.

Ponto de partida

Pode se destacar como ponto de partida na história do desvio da norma apostólica, a crença procedente do paganismo. Como natural desdobramento desta idéia foram surgindo no seio da cristandade o ascetismo, a perversão da caridade cristã numa caridade de esmolas derivadas da suposição de que as esmolas asseguram a remissão dos pecados, a perversão das ordenanças em magias pelos quais os benefícios espirituais eram obtidos, o sacerdotalismo e o ritualismo.

Ordenanças convertidas em sacramentos

O primeiro passo para a degeneração foi atribuída a um poder mágico no batismo. Considerou-se o batismo não talvez como absolutamente necessário para a salvação, porém como um ato tão necessário que se não pudesse efetuar precisamente de acordo com o mandamento de Cristo e o precedente apostólico, devia ser substituído por algum simulacro dele.
Do meado do segundo século em diante, os escritores da época começaram a identificar o símbolo do batismo com a coisa simbolizada. Justino Mártir (150) usa a expressão “o banho da regeneração”, e entre os últimos escritos ante-nicenos, o emprego do vocabulário “regenerar” significado “batizar”, é tão comum que se tornou regra.
Outra conseqüência da idéia da regeneração batismal foi o batismo de crianças. Deduzia-se que se aqueles que não são batizados não se salvam, todos os que morrem na infância estão perdidos. Logo, devem ser batizadas as crianças o mais breve possível depois de nascidas. Não se sabe quando começou a prática do batismo infantil. Certo é, que pelo tempo de Tertuliano (150-250) a prática era conhecida se bem que ainda não generalizada. No fim do período, a ceia podia ser celebrada somente pelo bispo. Consistia de pão e vinho (misturado com água). Somente as pessoas batizadas podiam participar da ceia. Desde o principio a ceia fizera parte importante do culto e este sentimento cresceu rapidamente durante o período. No fim, porém, começou o costume de despedir os descrentes antes da ceia, resultando na designação da palavra latina “missa”. Alguns dos escritores do primeiro período começaram, a falar, ainda que ambiguamente, da presença de Cristo nos elementos, mas foi somente depois do ano 200 que começaram a referi-los como sacrifício, e ainda muito mais tarde é que foi desenvolvida a doutrina católica.

Catecumenato

Até o meado do segundo século, o batismo era administrado sob profissão de fé. Sentindo-se a necessidade de dar instrução aos interessados, começou o costume de ensinar doutrinas fundamentais da igreja. A idéia foi boa, mas infelizmente o resultado foi funesto, pois tendia a substituir a regeneração pela educação e a introduzir nas igrejas muitas pessoas que nunca experimentaram a graça de Deus, e assim, contribuíram para a corrupção da igreja.

Mudanças no ministério

Junto com as mudanças da vida cristã, notam-se também mudanças no ministério e organização das igrejas. Ao tempo de Irineu (130) não havia distinção entre os títulos “presbíteros” e “bispos”, sendo estes termos empregados como sinônimos. Entre os cem anos de Irineu a Cipriano, foram eles usados para designar duas funções distintas. Esta alteração deu-se pelo seguinte: As igrejas haviam crescido de modo que o seu governo tornou-se sobremaneira difícil. Acresceu a isto, que a tarefa de recolher e distribuir esmolas tomou proporções consideráveis. E, recaindo sobre os bispos esta obrigação, eles, gradualmente tornaram-se presidentes dos corpos de presbíteros, aos quais era confiada a direção das igrejas locais, ficando, porém, reservada aos bispos a administração da disciplina. Esta organização não evitou que surgissem desavenças entre os presbíteros, as quais evidenciam a necessidade de uma autoridade em dada comunidade cristã, a fim de prevenir e preservar a unidade. E assim, o episcopado triunfava, conseguindo estabelecer, por algum tempo, tranqüilidade e ordem, mas criando embaraços ao livre desenvolvimento espiritual e eclesiástico, fatalmente produziu o sacerdotalismo dos tempos posteriores. Os motivos que estabeleceram este novo regime parecem ter sido puros, mas quando ele foi empregado pelos sucessores menos dignos, redundou em grandes e lamentáveis abusos.

Sacerdotalismo

Mudanças no ministério crescia, como conseqüência da idéia dos méritos das obras exteriores e do sacramentalismo, o sacerdotalismo. As ordenanças- batismo e ceia- possuindo grande eficácia deviam ser ministradas por pessoas especialmente designadas para este fim. Em virtude de sua consagração cerimonial, o pastor tornava-se mediador entre Deus e os homens e o meio único pelo qual o leigo podia receber benefícios espirituais. Facilmente o sacerdotalismo, comum a todas as religiões pagãs, encontrou acolhimento nas igrejas cristãs, daí se concluir que o culto também passaria por mudanças.

Culto

Devido ao pouco preparo do clero em geral e a idéia de que as palavras usadas no culto eram em si sagradas, o culto tendia a tornar-se cada vez mais litúrgico e cheio de pompa. Consistia em cânticos, leitura das escrituras, orações e pregação. Uma vez que as instruções eram dadas em classes, não se dava tanta importância á pregação como nos tempos posteriores.
No principio do período, começaram a edificar casas consagradas exclusivamente aos cultos, as quais deram o nome de “igrejas”, “casa de Deus”, “casa de oração”. Nos primeiros dias do Cristianismo, o Domingo considerado como o “dia do Senhor” era o único dia observado religiosamente. Mas, com o correr dos tempos surgiram outros dias de guarda, como a páscoa, celebrada um Domingo depois da Sexta-feira da paixão, a festa do pentecostes - derramamento do Espírito, a festa da epifania, cuja origem remonta ao segundo século e foi considerada como a comemoração do batismo de Cristo, manifestado ao mundo na qualidade de filho de Deus, e por fim a natividade que junto com o batismo foram comemoradas no mesmo dia, tendo ambas alcançado grande popularidade.

IV - CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Até depois de meados do segundo século não existia ainda o cânon definido do Novo Testamento, servindo dos livros do Antigo como fonte de autoridade. No conflito com a heresia, os cristãos acentuavam sempre a importância do ensino apostólico. E sob o ponto do cânon do Novo Testamento, inspirada e dirigida pelo Espírito Santo, foi uma obra de séculos. O Cânon atual, definido pelo concilio de Hipona no ano de 393, foi chamado de Novo Pacto (Testamento) e colocado ao lado da Bíblia judaica e mais tarde reunidos sob o nome de Bíblia (o livro).

V - VIDA CRISTÃ

Mundanismo

Historicamente os relatos dão conta que o mundanismo campeava no meio do clero; muitos faziam parte das igrejas, mas continuavam no paganismo; que o pecado predominante do período parece Ter sido a imoralidade; que o celibato do clero não era obrigatório, sendo, porém empregados os maiores esforços a fim de impedir que aqueles que entrassem solteiros para o clero quebrassem este modo de viver; que os pagãos de influência e riqueza entravam nas igrejas, tornado-as semelhantes aos templos pagãos, enchendo-as de imagens e exigindo, ou pelo menos, ensinando que elas fossem adoradas em substituição do paganismo politeísta. Não devemos, porém supor que toda a cristandade estivesse assim corrompida. Muitos cristãos abandonavam esta frouxidão de moralidade, lutando sinceramente por uma reforma, tanto de costumes como de práticas (conforme mencionado no estudo dos primeiros reformadores). Mesmo dentro da igreja oficial houve muitos crentes sinceros e fiéis.
Os cristãos tratavam de restringir o divórcio, elevar o caráter da relação matrimonial e da vida do lar e aliviar as condições desumanas dos escravos. Em tudo isso exerceram uma influência benéfica.

Analfabetismo

A maior parte dos cristãos continuou no analfabetismo, pois se fundaram poucas escolas e estas somente para o ensino do catecismo preparatório para o batismo, e bem poucos membros das igrejas freqüentavam as escolas pagãs. Se tivesse havido escolas cristãs adequadas desde a era cristã primitiva é provável que a história que estamos registrando fosse bem diferente.

Ascetismo

Algumas almas fervorosas, desesperançadas por não poderem salvar a sociedade e, descontentes como o eclesiastismo opressivo e sempre crescente, entregaram-se á vida ascética. No principio, renunciaram apenas ao matrimônio, comer carne, e beber vinho, mas continuaram a viver na sociedade. Mais tarde, porém, começaram a abandonar o mundo e retiram-se para os desertos e bosques.

VI - A CRENÇA

Neste período a igreja começou a desenvolver e aprofundar seu pensamento sobre os elementos fundamentais da sua fé, pesquisas estas que deram origem aos credos dos 1V e V séculos. O primeiro impulso para isto procedeu do Gnosticismo. No 11 século, este movimento espalhou-se no oriente, especialmente na Ásia Menor. O Gnosticismo era uma teoria com aparente aproximação do Cristianismo, por isto muito perigosa. Ao mesmo tempo, se distanciava da doutrina cristã, pois negava que Deus fosse o criador do mundo e dos homens, como também negava que Cristo tivesse tido vida física real. Para que os catecúmenos ou candidatos ao batismo fossem devidamente instruídos como também para defender o Cristianismo dos erros gnósticos, foram estabelecidas certas declarações breves sobre o que constituía objeto de fé para os cristãos. Certos credos, muito semelhantes ao credo dos Apóstolos, apareceram em vários lugares durante o segundo século. È natural que muitos deles viessem a se constituir, substancialmente, regra de fé da igreja e, como tal, fosse geralmente aceitos. Cristo era o supremo objeto do pensamento cristão, pois era o alicerce e a força do Cristianismo. As idéias a seu respeito surgiram, foram simplificadas nestes dois aspectos: sustentar a crença em um único Deus e dar a Cristo o lugar que lhe era devido.
Lembramos, ainda, que o mencionado credo não foi escrito pelos apóstolos nem tão pouco foi obra de um concilio, como acontecera com os outros credos. Entendemos que o mesmo surgiu em meio às atividades cristãs como breve exposição de fé, que devia ser aceita pelos candidatos a batismo. Aparecem vestígios deste credo antes do ano 200. Notamos que é mais uma confissão de fé do que um credo propriamente dito. Por causa do valor histórico transcrevemo-lo:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, em Jesus Cristo seu único Filho, nosso senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu aos céus e está assentado á destra de Deus Pai, Todo-poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e mortos; creio no Espírito Santo na santa igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo, e na vida eterna. Amém.
Houve quem negasse a divindade de Cristo neste período, mas a maioria dos cristãos aceitou a Jesus como o Messias do Antigo Testamento, Filho de Deus, filho de homem, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por cujos ensinos, sofrimento, morte, ressurreição e intercessão provêm à redenção.


III

O PAPADO

As instruções que te dei... devem
ser seguidas com afinco. Zela para
que os bispos não se metam em
assuntos seculares, a não ser quando
seja necessário para defender os pobres.

Gregório, o Grande.

Foi durante a “era das trevas” que o papado começou a surgir com a pujança que o caracterizou em séculos posteriores. Porém antes de narrar estes acontecimentos convém que nos detenhamos para discutir a origem do papado.

A origem do papado

O termo “papa”, que atualmente é empregado no Ocidente exclusivamente para o bispo de Roma, nem sempre teve este sentido. A palavra em si significa simplesmente “papai”, sendo, portanto, um termo de carinho e respeito. Na época antiga ele era usado para qualquer bispo distinto, sem importar se ele era ou não o bispo de Roma. Assim há, por exemplo, documentos antigos que se referem ao “papa Cipriano”, de Cartago, ou ao “papa Atanásio”, de Alexandria. Além disto, enquanto no Ocidente o termo acabou ficando exclusivamente para o bispo de Roma, em várias partes da igreja oriental ele continuou sendo usado com mais liberdade.
Em todo caso a questão mais importante não é a origem do termo “papa” mas de que maneira o bispo de Roma.
62/ A Era das trevas

Chegou a gozar da autoridade que teve durante a Idade Média, e que ainda tem na igreja católica romana.
As origens do bispado romano se perderam na penumbra da história. A maior parte dos historiadores, tanto católicos como protestantes, concorda com que Pedro esteve em Roma, e que provavelmente morreu nesta cidade durante a perseguição de Nero. Porém não existe nenhum documento antigo que diga que Pedro transferiu sua autoridade apostólica aos seus sucessores.
Além disto, as listas antigas que enumeram os primeiros bispos de Roma não coincidem. Enquanto algumas dizem que Clemente sucedeu diretamente a Pedro, outras dizem que ele foi o terceiro bispo depois da morte do apóstolo. Isto é tanto mais digno de nota por termos listas relativamente fidedignas de outras igrejas. Isto, por sua vez, levou alguns historiadores a conjectura que talvez o bispado de Roma, em seu principio, não tenha sido “monárquico” (isto é, com um só bispo), porém um bispado colegiado onde vários bispos ou presbíteros dirigiam a vida da igreja em conjunto. Seja qual for o caso, fato é que de todo o período que vai desde a perseguição de Nero em 64 até a Primeira Epistolo de Clemente, em 96, o que sabemos do bispado romano é pouco ou nada. Se o papado tivesse sido tão importante desde as origens da igreja, como dizem alguns, teria deixado mais vestígios durante toda esta segunda metade do primeiro século.
Durante os primeiros séculos da história da igreja o centro numérico do cristianismo esteve no Oriente, e por isso bispos de cidades como Antioquia e Alexandria tinham muito mais importância que o bispo de Roma. E também no Ocidente de fala latina, a direção teológica e espiritual não esteve em Roma, mas na África latina, que contribuiu com Tertuliano, Cipriano e Santo Agostinho. Esta situação começou a mudar quando o Império aceitou a fé cristã. Como Roma era, pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja e o bispo desta cidade logo se viram em posição de destaque. Em todo o Império a igreja começou a se organizar de acordo com os padrões estabelecidos pelo estado, e as cidades que tinham jurisdição política sobre uma região logo tinham também jurisdição eclesiástica.

O papado / 63

Depois de algum tempo a igreja estava dividida em cinco patriarcados, que tinham suas sedes em Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla, e Roma. A própria existência do patriarcado de Constantinopla, uma cidade que nem sequer existia como tal em tempos apostólicos, mostra que esta estrutura correspondia mais a realidades políticas que a origens apostólicas. E o caráter quase somente simbólico do patriarcado de Jerusalém, que poderia reclamar para si ainda mais autoridade apostólica que a própria Roma, mostra a mesma coisa.
Quando os bárbaros invadiram o império, a igreja do Ocidente começou a seguir um rumo bem diferente da, do Oriente. No Oriente o Império continuou existindo, e os patriarcas continuaram subordinados a ele. O caso de João Crisóstomo, que vimos no volume anterior, se repetiu com freqüência na igreja oriental. No ocidente, entretanto, o império desapareceu, e a igreja veio a ser a guardiã do que restava da velha civilização. Por isto o patriarca de Roma, o papa, chegou a ter grande prestigio e autoridade.


Leão, o Grande.

Isto podemos ver no caso de Leão I, “o Grande”, de quem já se disse que foi o primeiro “papa”, no sentido corrente do termo. No próximo capitulo veremos sua intervenção nas controvérsias cristológica que dividiram o Oriente durante seu tempo. Ao estudarmos estas controvérsias, e a participação de Leão, duas coisas ficam claras. A primeira é que sua autoridade não era aceita pelas partes em conflito, somente pelo fato de ele ser o bispo de Roma. Enquanto os ventos políticos sopraram na direção contrária, Leão pouco pôde fazer para impor sua doutrina ao resto da igreja (particularmente no oriente). E quando, por fim, sua doutrina foi aceita, isto não aconteceu porque ela provinha do papa, mas porque coincidiu com a do partido que no fim conseguiu sair vitorioso. A Segunda coisa que se nota é que, apesar de Leão não poder fazer valer sua autoridade de maneira automática, esta autoridade aumentou por Ter sido usada em prol da ortodoxia e da moderação.
Portanto, as controvérsias cristológica, ao mesmo tempo em que nos mostram que o papa não tinha jurisdição universal,

64/ a Era das trevas

Nos mostram também como sua autoridade foi aumentado. Porém, enquanto que no Oriente duvidava-se de sua autoridade, em Roma e vizinhanças esta autoridade se estendia até além dos assuntos tradicionalmente religiosos. Em 452. Os humanos, sob o comando da Átila, invadiram a Itália e tomaram e saquearam a cidade de Aquilea. Depois desta vitória o caminho para Roma estava aberto, pois em toda a Itália não existia nenhum exército capaz de barrar-lhes o caminho até a velha capital. O imperador do Ocidente era um personagem débil e sem recursos, e o Oriente tinha dado a entender que não prestaria nenhum socorro. Nestas circunstâncias Leão partiu de Roma e foi até o acampamento de Átila, para falar com o chefe bárbaro que todos temiam como “o chicote de Deus”. Não sabemos o que Leão disse a Átila. Conta a lenda que quando o papa se aproximou, junto dele apareceram São Pedro e São Paulo, ameaçando Átila com uma espada.
Em todo caso, fato é que Átila, depois deste encontro com Leão, abandonou sua intenção de atacar Roma, e rumou com seus exércitos para o norte, onde morreu pouco depois.
Leão ainda ocupava o trono episcopal de Roma quando os vândalos tomaram a cidade, em 455. Nesta ocasião o papa não conseguiu salvar a cidade das mãos dos seus inimigos. Porém pelo menos foi ele quem negociou com Genserico, o chefe vândalo, e conseguiu que ele proibisse incêndios e assassinatos. Apesar de a destruição causada pelos vândalos ter sido grande, ela poderia ter sido muito maior se Leão não tivesse intervindo. Tudo isto nos mostra que em uma época em que a Itália e boa parte da Europa Ocidental estavam atoladas no caos, o papado preencheu o vazio, proporcionando certa estabilidade. Esta foi a principal razão por que os papas da Idade Média alcançaram um poder que os patriarcas de Constantinopla, Antioquia ou Alexandria nunca tiveram.
O papado / 65

Prometido edificar a sua igreja, e por isso quem quisesse construir sobre outro fundamento estaria edificando sobre a areia. Foi a Pedro que o Senhor disse diversas vezes: “Apascenta as minhas ovelhas”. E tudo isto que as Escrituras dizem sobre o líder dos apóstolos também vale para seus sucessores, os bispos de Roma. Por isto a autoridade do papa não advém simplesmente do fato de Roma ser a antiga capital do Império, nem que na época não havia em todo o Ocidente quem pudesse dirigir os destinos da sociedade, mas era parte do plano de Deus, e existiria para sempre, pois as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. Como vemos, em Leão encontramos os principais argumentos que através dos séculos dos séculos seriam reunidos a favor da autoridade papal.

Os sucessores de Leão

Leão deve parte do seu prestigio á sua própria pessoa, e parte ás circunstâncias do momento. Sem dúvida ele era um personagem excepcional, e disse com razão que em sua época não existia quem pudesse se comparar a ele em firmeza de caráter, profundeza de percepção teológica e habilidade política. Porém tudo isto pôde se manifestar graças á situação política em que lhe coube viver. Com efeito, Leão foi papa durante um período de relativa anarquia na Itália, e boa parte da grandeza residiu em saber preencher o vazio criado por esta anarquia. Quando Leão morreu sucedeu-lhe Hilário, que tinha sido um dos seus principais colaboradores. Este fez tudo que pôde para continuar a política de Leão, se bem que com menor êxito.
Durante o pontificado de Simplício, que sucedeu a Hilário, as condições políticas começaram a mudar. Em 476 Odoacro depôs o último imperador do Ocidente. Na teoria isto queria dizer que agora todo o império estava de novo reunido debaixo do imperador que residia em Constantinopla. Na verdade quem governava era Odoacro e os demais chefes bárbaros, como monarcas independentes, apesar de dizerem que governavam em nome do imperador. Portanto, sempre que estes monarcas eram fortes, faziam sombra ao papa, esforçando-se por manejá-lo de acordo com suas próprias intenções.


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Em outras ocasiões, porém, não havia poder político algum capaz de se sobrepor ao caos, e então os papas se viam na obrigação e na oportunidade de preencher este vazio. Na época de Simplício e dos seus sucessores Félix III, Gelásio e Anastácio II as relações entre os papas e os imperadores de Constantinopla foram bastante tensas, pois os imperadores tratavam de conquistar a simpatia dos monofisistas da Síria e do Egito, e os papas e todo o Ocidente cristão se opunham a esta política. Como veremos no próximo capitulo, o monofisismo era uma das doutrinas resultantes das controvérsias cristológica que abalaram o cristianismo de fala grega durante o século V. se bem que esta doutrina foi condenada oficialmente pelo concilio de Calcedônia em 451, ela ainda contava com numerosos adeptos no Egito e na Síria. Como estas províncias faziam parte das mais ricas regiões do império, os governantes de Constantinopla fizeram tudo que podiam para granjear para si a boa vontade dos monofisistas, o que, por sua vez, criou tensões entre os papas e os imperadores. Por outro lado, na época de Félix os godos invadiram a Itália, sob o comando de Teodorico. Em 493 Teodorico era dono de quase toda a península. Como os godos eram arianos, sempre temiam que seus súditos italianos conspirassem a favor de Constantinopla, e por isso Teodorico e seus sucessores viram com bons olhos as desavenças entre os papas e os imperadores, e tratavam de fomentá-las. Lembrem-nos também que foi Teodorico quem mandou prender e matar Boécio, suspeitando que seu ministro conspirava para trazer de volta o poder imperial. Antes da vitória definitiva de Teodorico, o papa Félix III tinha rompido relações com o patriarca de Constantinopla, Acácio. Isto é o que os historiadores ocidentais conhecem pelo “cisma de Acácio” (enquanto os orientais culpam o papa pelo cisma). Agora, com os interesses de Teodorico e dos seus sucessores, o cisma se perpetuou. Em 498, quando morreu o papa Atanásio II, a tensão entre godos e bizantinos resultou na existência de dois papas rivais. Enquanto os godos e boa parte da população romana apoiava Simaco (que os católicos até hoje consideram com verdadeiro papa),
O papado / 67

O governo de Constantinopla sustentava Lourenço. Nas ruas de Roma houve conflitos armados em que morreram várias pessoas. Uma série de concílios se reuniu para resolver a questão, até que por fim Simaco saiu vencedor. Sob o sucessor de Simaco, Hormisdas, a situação começou a mudar. O novo imperador, Justino, começou a se interessar cada vez mais pelo Mediterrâneo ocidental, e neste intento se aproximou do papa. O sucessor de Justino, seu sobrinho Justiniano, seguiu esta política muito mais ativamente, e sob seu governo o antigo império romano gozou de uma breve recensão. Depois de uma série de negociações, e ainda enquanto Hormisdas era papa, o cisma entre Roma e Constantinopla foi eliminado. No começo o rei godo Teodorico se opôs a esta aproximação entre seus súditos e as autoridades imperiais. Porém mais perto do fim de seus dias ele começou a suspeitar que os católicos conspiravam para derrubar o governo dos godos e devolver a Itália ao império, foi então que ele mandou prender e matar a Boécio. Pouco depois Teodorico enviou o papa João como embaixador para Constantinopla e, quando este voltou sem conseguir tudo o que o rei queria, o rei o condenou á prisão, onde morreu. Conta-se que Teodorico estava empenhado a entregar todas as igrejas de Ravena aos arianos quando a morte o surpreendeu. A morte de Teodorico iniciou o ocaso do reino godo na Itália. Teodorico morreu em 526, e em 535 o general constantinopolitano Belisário já tinha conquistado a maior parte da península. A despeito de se esperar que a nova situação política resultaria proveitosa para o papado, isto não ocorreu. Somente em seus últimos anos de vida o ariano Teodorico permitiu aos seus súditos ortodoxos que seguissem a sua própria consciência em questões de fé. Agora o imperador ortodoxo Justiniano, supostamente aliado do papa, impôs ao Ocidente o costume oriental de colocar os rendimentos da igreja nas mãos do estado. O resultado foi toda uma seqüência de papas que não passaram de títeres do imperador e da sua esposa Teodora. Os poucos que ousaram tentar interromper esta seqüência sofreram todo o peso do desagrado imperial. Em meio ás controvérsias teológicas da época alguns destes papas escreveram páginas tristes da história do papado, como veremos no próximo capitulo.

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O domínio bizantino sobre a Itália, entretanto, não durou muito. Como já dissemos antes, o último baluarte godo foi conquistado pelas tropas imperiais em 562, e já seis anos depois os lombardos invadiram o país. Seu poderio era tal que, se tivessem continuado unidos, não teriam demorado em conquistar toda a península. Eles, porém, se dividiram depois das suas primeiras vitórias, e a partir de então as suas conquistas foram esporádicas. Em todo caso a presença dos lombardos e as guerras constantes que esta presença acarretou obrigaram os papas a se ocuparem não só das questões religiosas, mas também da defesa de Roma e circunvizinhanças. Quando Justiniano morreu, o império Oriental começou de novo a decair, e em pouco tempo a sua autoridade na Itália era quase nula. O exarcado de Ravena, que teoricamente pertencia ao império, se viu obrigado a se defender contra os lombardos por conta própria. O mesmo podemos dizer de Roma, sob a direção do papa. Quando Benedito I faleceu em 579 as tropas lombardas assediaram a cidade. Seu sucessor Pelágio II salvou-a oferecendo aos lombardos altas somas em dinheiro. Além disto, já que Constantinopla não lhe enviava ajuda, Pelágio iniciou negociações com francos, para que estes atacassem os lombardos pelo norte. Estes contatos iniciais ainda não levaram a ações militares, mas serviram de sinal para o que sucederia várias gerações mais tarde, quando os francos se transformaram nos principais aliados do papado.

Gregório, o Grande O papado / 69.

As coisas estavam assim quando uma terrível epidemia irrompeu na Itália. Pelágio fez tudo que podia para enfrentar este novo desafio, mas acabou ele mesmo sucumbindo á peste. Era o ano de 590, e o eleito para sucedê-lo seria um dos maiores papas de todos os tempos. Gregório nasceu por volta do ano 540 em Roma, em uma família que, ao que parece, pertencia á velha aristocracia do lugar. Era a época em que Justiniano reinava em Constantinopla, e seus generais estavam empenhados em derrotar os godos na Itália. Depois das primeiras vitórias, Justiniano tirara seu general Belizário do campo de batalha, quando Tonila conseguiu reorganizar as tropas godas, e deter por algum tempo.


Gregório I, que foi papa de 590 a 604, foi sem dúvida.

Um dos maiores papas de todos os tempos.


Avanço dos exércitos imperiais. Em 545 Totila sitiou Roma, que se rendeu a ele em dezembro de 546. Quando os godos entraram na cidade, o arcediago Pelágio (o mesmo que depois seria papa) saiu ao encontro do rei vencedor e lhe suplicou que respeitasse a vida e a honra dos vencidos. Totila concordou, e por isso a queda de Roma não foi a catástrofe que poderia ter sido. É muito provável que Gregório tenha estado em Roma durante estes acontecimentos. Em todo caso não há dúvida de que a atuação de Pelágio foi um dos modelos que Gregório seguiu quando coube a ele ser papa.
Tudo isto nos mostra que a Roma em que Gregório cresceu estava muito longe daquela cidade nobre dos tempos de César Augusto. Pouco depois da vitória de Totila, Belisário e as tropas imperiais tomaram novamente a cidade, somente para perdê-la de novo. Com tantos sítios seguidos a população da antiga capital reduziu-se enormemente. Muitos dos velhos monumentos e edifícios foram destruídos, ou durante os combates, ou para utilizar suas pedras para reforçar as defesas da cidade. Os aquedutos foram interrompidos seguidamente pelos diferentes atacantes, e por fim ficaram abandonados. Descuidou-se dos sistemas de drenagem dos antigos pântanos, e as inundações freqüentes traziam consigo epidemias não menos freqüentes. Sabemos pouco da juventude de Gregório na cidade. Parece que ele foi prefeito, antes de decidir ser monge. Algum tempo depois o papa Benedito o diácono, isto é, membro do conselho consultivo e administrativo do papa. Quando Benedito morreu, Pelágio II lhe sucedeu, e este nomeou o monge Gregório seu embaixador na corte de Constantinopla. Na cidade do Bósforo, Gregório passou seis anos representando os interesses do papa e dos romanos diante do imperador. Durante este tempo esteve repetidamente envolvido nas controvérsias teológicas que sempre ferviam na corte bizantina, porém apesar disto nunca aprendeu grego. Ali também ele fez amizade com Leandro de Sevilha, a quem já nos referimos como principal instrumento da conversão do reino visigodo da Espanha á fé católica. Por fim, em 586, o papa Pelágio enviou outro embaixador, e Gregório pôde regressar á tranqüilidade do seu mosteiro em Roma. No mosteiro de Santo André, Gregório logo foi feito abade, ao mesmo tempo em que servia ao papa Pelágio como ajudante e secretário. Nestes tempos a situação em Roma era difícil, pois dois anos antes do regresso de Gregório os lombardos tinham acabado por se unir debaixo de um rei, com o propósito de completar a conquista da Itália. Apesar de o imperador enviar alguns recursos esporádicos para a defesa de Roma e de outras cidades ainda não conquistadas, e apesar de os francos invadirem freqüentemente os territórios lombardos, vindos do outro lado dos Alpes, a situação militar era precária. Para complicar as coisas irrompeu uma grande epidemia na cidade, dizimando a população. Pouco antes houvera uma inundação que destruira os principais armazéns da igreja, onde era guardado o trigo de que dependia boa parte dos habitantes. Como a peste produzia alucinações, começaram a circular rumor de todo tipo de coisa estranhas. Um grande dragão apareceu no rio Tibre. Do céu choviam flechas de fogo. A morte aparecia aos que iam morrer. O pânico se somou á fome e á peste. Para cúmulo dos males o papa Pelágio, que tinha se esforçado para manter a cidade relativamente limpa, com a ajuda de Gregório e de outros, para enterrar os mortos e alimentar os famintos, adoeceu da praga e morreu.
Em tais circunstâncias não eram muitos que ambicionavam o posto vago. O próprio Gregório não tinha outro desejo senão regressar á tranqüilidade do seu mosteiro. Porém o clero e o povo o elegeram com entusiasmo e, ao menos no momento, Gregório não podia fazer outra coisa senão continuar a obra interrompida de Pelágio. Uma das suas primeiras medidas, entretanto, foi escrever ao imperador pedindo que confirmasse sua nomeação (pois naquela época havia o costume de os imperadores de Constantinopla darem sua aprovação ao papa eleito, antes que ele pudesse ser consagrado). Porém, o prefeito da cidade, que sabia que não poderia cumprir com suas obrigações sem o auxilio de um papa como Gregório, interceptou a carta. Outra das medidas de Gregório foi convocar todo o povo para uma grande procissão de penitência, pedindo a Deus que perdoasse seus pecados e que fizesse cessar a praga.

72/ A Era das trevas
Depois de ouvir um sermão do novo papa, que ainda existe, todo o povo saiu em procissão angustiada, e conta-se que a praga cessou. Mesmo não desejando ser papa, assim que Gregório se viu instituído no cargo começou a cumprir com suas obrigações cabalmente. Na cidade de Roma organizou a distribuição de alimentos aos necessitados, de modo que havia quem levasse comida até os cantos mais afastados da cidade. Ao mesmo tempo o papa supervisionava as remessas de trigo que vinham da Sicília, para Ter certeza de que não faltariam provisões. Por outro lado era necessário garantir que a cidade fosse habitável e defensável, e Gregório se dedicou com afinco a estas tarefas, que normalmente cabiam ás autoridades civis. Na medida do possível os aquedutos foram reconstruídos, bem como as fortificações, e a moral da guarnição foi renovada, pois ela quase a tinha perdido por falta de pagamento. Para defender a cidade contra os lombardos, Gregório solicitou ajuda de Constantinopla. Porém como esta ajuda não chegava, em duas ocasiões ele se viu obrigado a negociar diretamente com o inimigo, como se ele fosse o representante do poder civil. Por fim conseguiu com a rainha Teodolinda que ela deixasse educar seu filho na fé católica, e não na ariana dos lombardos. Em tudo isto, por causa da inexistência de uma política por parte do império, Gregório viu-se obrigado a atuar por conta própria, e por isso ele é considerado o fundador do poder temporal do papado. Este poder se estendia diretamente a uma série de territórios que de um outro modo tinham se tornado propriedade do papado, e que recebiam o nome comum de “patrimônio de São Pedro”. Além das igrejas e de vários palácios em Roma, ao redor da velha capital havia terras que faziam parte deste patrimônio, bem como em outras partes da Itália, em Sicília, Córsega, Sardenha, Gália, e até na África. Como proprietário de todas estas terras, o papado gozava de enormes riquezas. E Gregório pôs este recurso a serviço da grande tarefa de alimentar o povo romano. Apesar de não lhe pertencer o governo da cidade de Roma, Gregório viu-se obrigado a exercê-lo. Este precedente, junto com a decadência do poder imperial na Itália, fez com que, com o passar do tempo, os sucessores de Gregório ficassem sendo donos e governantes da cidade de Roma e arredores. Algum tempo depois, perto do fim do século VIII, alguém falsificou um documento, a chamada Doação de Constantino, que pretendia que o grande imperador tivesse doado estes territórios aos sucessos de Pedro. Em Roma, além de se ocupar com as necessidades físicas do povo, Gregório dedicou também seu tempo á vida da igreja. Ele dava muita importância á pregação, razão pela qual dedicou boa parte dos seus esforços pregando nas diversas igrejas da cidade, e assegurando-se que todo o clero desse atenção especial á pregação. Os luxos a que alguns tinham se acostumado foram proibidos, assim como pagamentos excessivos que alguns clérigos recebiam por seus serviços. Além disto Gregório adotou medidas em favor do celibato eclesiástico, que paulatinamente tinha se generalizado na Itália, mas que muitos não cumpriam.
Como bispo de Roma, Gregório se considerava também patriarca do Ocidente. Sem reclamar para o papado a autoridade universal que Leão tinha definido antes, Gregório fez muitos mais que seu antecessor para aplicar esta autoridade em diversas regiões. Na Espanha ele deu apoio ás medidas que seu amigo Leandro de Sevilha e o rei Recaredo tomavam em favor da conversão do país do arianismo para o catolicismo. Na verdade foi ele quem interpretou assim a rebelião de Hermenegildo, a quem nos referimos antes, que logo foi considerado mártir da fé ortodoxa, sendo que mais tarde apareceu o culto a “São Hermenegildo”. Na África o principal problema não era os arianos, mas os donatistas, cujo cisma ainda perdurava. Na época de Gregório, e graças ás conquistas de Justiniano e de seu general Belizário, todo o norte da África fazia parte do império Romano. O Egito estava sob a jurisdição do patriarca de Alexandria. Gregório, entretanto, com patriarca do Ocidente, achava que tinha certa jurisdição sobre o antigo reino dos vândalos, que sempre fizera parte do império do ocidente. Por isso tratou de intervir nesta região para destruir o donatismo que ainda existia. Os bispos africanos, todavia, não tinham interesse em levar avante a política intransigente que Gregório queria lhes impor, e se contentaram em conviver com os donatistas, como tinham aprendido a fazê-lo durante os dias difíceis do regime vândalo. Gregório, por seu lado, fez pressão para que as autoridades imperiais aplicassem as leis de Constantino e dos seus sucessores imediatos contra os donatistas, que supostamente ainda estavam em vigor, mas que ninguém aplicava. Os representantes de Constantinopla, entretanto, também se mostraram mais tolerantes que o papa, de modo que a política deste no norte da África foi, em termos gerais, um fracasso. Á Inglaterra, Gregório enviou Agostinho e seus companheiros de missão, e depois outros contingentes que continuassem e ampliassem a obra. Nos territórios francos Gregório aumentou o prestigio da sede romana através de uma série de manobras hábeis. Os diversos reis francos estavam em constantes lutas entre si, cada um tentando aumentar seus domínios ás expensas dos seus vizinhos, e obter a hegemonia da região. Em tais circunstâncias as boas relações com o prestigioso bispo de Roma poderiam contribuir para o triunfo de um ou outro reino. Gregório aproveitou, então, os desejos de vários destes governantes para estabelecer relações com eles, sobretudo ao outorgar honras especiais a este ou aquele bispo deste ou daquele reino. Ao mesmo tempo começou a usar estes contatos para pedir aos governantes que reformassem os costumes eclesiásticos em seus domínios, onde era hábito comprar e vender cargos na igreja, e onde era freqüente o caso de algum leigo ambicioso ser nomeado bispo de um dia para outro. Em outras tentativas de reforma Gregório fracassou redondamente, pois os chefes francos queriam reter seu poder sobre a igreja, e o que o papa pedia acabaria com sete poder. Porém, ao mesmo tempo em que não conseguiu as reformas desejadas Gregório conseguiu aumentar o prestigio e a autoridade do papado nos territórios francos, pois a partir de então ficaram numerosos precedentes que pareciam indicar que o papa tinha jurisdição sobre os assuntos eclesiásticos na França. Em resumo, mediante a simples política de intervir em diversas situações, quase sempre com tato e habilidade diplomática, Gregório estendeu a esfera de influência do papado. Para esta tarefa ele contou com a ajuda do monasticismo beneditino, que começava a se disseminar pela Europa ocidental. Já que o monasticismo e o papado foram as duas características principais do cristianismo medieval, podemos dizer que no tempo de Gregório foram colocadas as bases que em longo prazo permitiram á igreja ocidental sair da “era das trevas”. Porém, como veremos adiante, a obra de Gregório levou séculos até chegar á sua expansão máxima, e os períodos de corrupção e obscurantismo foram mais freqüentes que os momentos breves de luz e reforma. Não faríamos justiça a todas as razões por que Gregório recebeu o titulo de “o Grande” se nos esquecêssemos de sua obra literária e teológica. Desde antes de ser papa ele tinha se dedicado ao estudo das escrituras e dos antigos autores cristãos. Sendo papa, mesmo dedicando menos tempo a este estudo, produziu numerosos sermões e cartas, muitos dos quais ainda existem. Através destes escritos ele fez sentir seu impacto sobre todo o pensamento medieval. Gregório não era um pensador de altas esferas, nem um comentarista original das escrituras. Pelo contrário, ele achava que devia evitar por todos os meios possíveis o que parecia ser “original” ou “novo”, pois não é tarefa do mestre cristão dizer algo novo, mas repetir o que a igreja tem ensinado desde seu nascimento, e por isso somente os hereges são autores ou pensadores originais. Quanto a si, Gregório se conformava em ser o porta-voz da antiguidade cristã, seu intérprete para tempos presentes. Bastava-lhe ser discípulo de Agostinho, e mestre dos ensinos deste, porém os séculos não passam em vão. Um abismo enorme se abria entre o bispo de Hipona e seu intérprete de fins do sexto século. Apesar de toda sua sabedoria Gregório viveu em uma época de ignorância, e em certa medida tinha de participar desta ignorância. Além disto, somente por considerar Agostinho seu mestre infalível Gregório já está torcendo o espírito do seu venerado mestre, cujo gênio residia, pelo menos em parte, em sua mente inquieta e suas conjeturas arriscadas. O que para Agostinho não passava de suposição para Gregório passa a ser certeza. Assim, por exemplo, Agostinho se aventurava a dizer que talvez haja um lugar onde os que morrem em pecado tenham de passar por um processo de purificação, antes de entrar na glória. Baseando-se nesta conjetura de seu mestre, Gregório declara que indubitavelmente existe este lugar, e começa a desenvolver a doutrina do purgatório. Principalmente no que se refere á doutrina da salvação foi que Gregório deformou e até transformou os ensinos de Agostinho. As doutrinas agostinianas da graça irresistível e da predestinação passaram despercebidas nas obras de Gregório, que dedicou sua atenção á questão de como podemos oferecer a Deus uma satisfação pelos pecados que cometemos. Esta satisfação oferecemos através da penitência, que consiste em arrependimento, confissão e pena ou castigo. A estas três fases se junta a absolvição sacerdotal, que confirma o perdão que Deus já conferiu ao penitente. Os que morrem na fé e em comunhão com a igreja, mas não fizeram suficiente penitência por seus pecados, vão para o purgatório, onde passam algum tempo antes de ir para o céu. Uma das maneiras de os vivos ajudarem os mortos a saírem do purgatório é oferecer missas em seu nome. Para Gregório a missa é um sacrifício em Cristo é imolado de novo (e diz a lenda que em certa ocasião em que esse papa celebrava a missa o crucificado lhe apareceu). Esta idéia da missa como sacrifício, que talvez poderia ser deduzida de alguns textos de Agostinho, mesmo que os forçando, é parte fundamental da devoção e da teologia de Gregório. Conta-se que quando Gregório ainda era abade de Santo André ficou sabendo que um dos seus monges, que estava á beira da morte, tinha escondido algumas moedas de ouro. A sentença do abade foi dura: o monge pecador morreria sem escutar uma palavra de perdão ou consolo, e seria enterrado em um monte de esterco, junto com seu ouro. Depois de cumprida esta sentença, e para salvação da alma de Justo (este era o nome do monge), Gregório ordenou que durante os próximos trinta dias a missa do mosteiro fosse lida em memória a ele. Findado este período o abade declarou que, de acordo com uma visão que o monge Copioso, irmão carnal do falecido, tivera, a alma de Justo tinha saído do purgatório e estava agora na glória. Tudo isto não foi invenção de Gregório. Era mais parte do ambiente e das crenças da época. Porém enquanto os antigos mestres da igreja haviam se esforçado para evitar que a doutrina cristã fosse contaminada com superstições populares, Gregório simplesmente aceitou todas as crenças, superstições e lendas da sua época como se fossem verdades evangélicas. Suas obras estão cheias de narrações de milagres, aparições de defuntos, anjos e demônios, etc. Quando, com o correr do tempo, a produção literária de Gregório passou a Ter a mesma autoridade infalível que tinha tido a de Santo Agostinho, boa parte das crenças populares do século sexto foi realmente incorporada á doutrina cristã.

Os sucessos de Gregório

Os papas que seguiram a Gregório mostraram-se incapazes de continuar a sua obra. Seu sucessor imediato, Sabiano, achou ser prudente vender a bom preço o trigo que Gregório tinha distribuído gratuitamente. Quando os pobres se queixaram, dizendo que somente os ricos podiam comer, enquanto eles morriam de fome, Sabiano começou uma campanha de difamação contra Gregório, dizendo que ele tinha utilizado o patrimônio da igreja para se fazer popular.A reação foi que começou uma campanha pública contra o papa reinante. Pedro, o Diácono, admirador fiel de Gregório, declarou que, ainda em vida deste, tinha visto o Espírito Santo, em forma de pomba, sussurando-lhe ao ouvido. (A partir de então, boa parte da iconografia cristã tem apresentado Gregório com uma pomba sobre seu ombro). Quando Sabiano morreu, antes de completar dois anos de pontificado, dizia-se que Gregório lhe tinha aparecido três vezes, sem que o papa lhe desse atenção, e que na quarta aparição o espírito de Gregório se enfureceu tanto que matou Sabiano com um golpe na cabeça. O próximo papa, Bonifácio III, conseguiu que o imperador Focas lhe concedesse o titulo de “bispo universal”, que Gregório tinha recusado. Mais tarde outros papas citaram este precedente para dizer que a igreja bizantina também chegou a reconhecer a supremacia de Roma. Porém, o fato é que o imperador focas, que deu este título a Bonifácio, era um usurpador, e que a única razão de ele honrar assim o papa era que ele estava aborrecido com o patriarca de Constantinopla, que por algum tempo tinha se chamado de “bispo universal”. Em todo caso o papado de Bonifácio III não durou um ano, e quando o imperador focas morreu o patriarca de Constantinopla voltou a usar o cobiçado titulo.

Com base no testemunho de Pedro, o Diácono, a iconografia cristã representa Gregório com o espírito santo falando ao seu ouvido.

De 607 a 625 houve uma sucessão de três papas que conseguiram restaurar parte da glória que o papado tinha perdido: Bonifácio IV, Deodato e Bonifácio V. Estes pontífices voltaram á vida austera que Gregório tinha levado, e em meio ás vicissitudes da época puderam fazer algumas reformas na disciplina eclesiástica e organizar a igreja inglesa de acordo com os padrões romanos. Durante o próximo papado, entretanto, começaram a aparecer as conseqüências funestas da relação estreita que existia entre Roma e Constantinopla. Como vimos no volume anterior, desde o tempo de João Crisóstomo os imperadores de Constantinopla tinham se acostumado a Ter a última palavra em questões eclesiásticas. No ocidente a situação era bem diferente, pois freqüentemente não houvera um poder civil efetivo. No século VII, já que não havia imperador no Ocidente, e a Itália estava na esfera de influência de Constantinopla, os imperadores orientais quiseram impor sua vontade sobre os papas assim como o tinham feito com os patriarcas de Constantinopla. O papa Honório, sucessor de Bonifácio V, teve de enfrentar a questão do monotelismo, doutrina que discutiremos no próximo capitulo, e que o imperador Heráclio apoiava. Pressionado pelo imperador, o papa se declarou monoteísta. Quando depois de muitas controvérsias a questão foi resolvida no concilio de Constantinopla, em 680, o papa Honório, que tinha morrido quarenta anos antes, foi declarado herege. Enquanto isto os sucessores de Honório tinham se mostrado mais firmes diante da doutrina monoteísta e das pretensões imperiais. Só que tiveram de pagar um preço alto por esta firmeza. Durante o papado de Severino, em 640, o exarca de Ravena, que era o principal representante imperial na Itália, tomou Roma e se apossou dos tesouros da igreja. Uma parte da presa foi enviada para Constantinopla, e os clérigos que protestaram foram exilados. Pouco depois o papa Martim sofreu conseqüências semelhantes. Na época em Constantinopla reinava Constante II, que quis encerrar o assunto e simplesmente proibiu qualquer debate sobre ele. Ao papa isto pareceu ser uma usurpação de poder por parte do imperador, e ele convocou um concilio que se reuniu em Latrão e condenou o monotelismo, em franca desobediência ao mandato imperial. O resultado foi que as tropas do exarcado de Ravena seqüestraram o papa, que foi levado para Constantinopla, e dali para o exílio, onde morreu. O monge Máximo, que tinha apoiado o papa decididamente, foi enviado ao exílio, depois de serem cortadas a língua e a mão direita dele, para que não pudesse difundir as suas supostas heresias. Depois desta mostra do poder imperial os sucessores de Martim obedeceram as ordens de Constante, e guardaram silêncio em relação ao monotelismo. Quando afinal o concilio de Constantinopla se reuniu em 680, isto foi possível porque as circunstâncias políticas tinham mudado, e o novo imperador queria chegar a um acordo mais aceitável para a igreja ocidental. A isto seguiu um período de paz entre Roma e Constantinopla, durante o qual a primeira se submeteu á Segunda, ao que parece sem nenhum protesto. O conflito entre o império e a igreja do Ocidente surgiu de novo quando do concilio que o imperador Justiniano II convocou em fins do século VII, que é conhecido como concilio “em Trulho”, por Ter se reunido num dos salões do palácio imperial que recebia neste nome. Entre outras coisas tratou-se ali do casamento dos clérigos. Na época tinha se estabelecido o costume, tanto no oriente como no ocidente, de os clérigos serem proibidos de casar depois de sua ordenação. Porém enquanto no oriente os homens casados tinham permissão de continuar a vida matrimonial depois da ordenação, no ocidente em tais casos eles eram proibidos de qualquer ato sexual. O concilio em Trulho rejeitou o costume ocidental, declarando que não há base na escritura para proibir aos clérigos casados que continuem tendo relação sexual com suas esposas. O papa Sérgio se negou a aceitar as decisões do concilio, e insistiu em que todos os clérigos deveriam ser celibatários. Justiniano tentou tratá-lo assim como seu antecessor tinha tratado Martim; porém o povo romano se rebelou, e os oficiais imperiais teriam ficado em maus lençóis se o papa não tivesse intervindo junto ao povo, pedindo-lhe moderação. Justiniano se preparava para se vingar deste insulto quando foi deposto. Quando afinal conseguiu voltar ao trono, ele começou uma vingança sistemática contra todos que se tinham oposto a ele no período anterior. Como o papa Sérgio tinha morrido, e o imperador não podia se vingar dele, este insistiu em que o novo papa, Constantino, aceitasse os decretos do concilio em Trulho. Com este propósito em mente ele chamou o papa a Constantinopla. Dando provas de uma coragem fora do comum Constantino aceitou o convite do imperador. Não sabemos no que consistiram as conversações entre o imperador e o papa. O fato é que este último, apesar de ter que se humilhar diante do primeiro voltou a Roma com o favor imperial, e não se viu obrigado a aceitar os decretos do discutido concilio. Pouco depois o imperador foi deposto e decapitado. Quando sua cabeça foi enviada a Roma, o povo a arrastou pelas ruas. O sucessor do papa Constantino, Gregório II, também entrou em choque com a corte de Constantinopla. A causa das novas desavenças foi à questão das imagens, de que trataremos no próximo capitulo, que foi principalmente uma controvérsia dentro da igreja oriental. Uma vez mais o papa recebia ordens do imperador, que lhe ditava o curso que deveria seguir em assuntos ao que parece puramente religioso. Neste caso o imperador ordenou que nas igrejas as imagens dos santos não fossem mais veneradas. As razões pelas quais a corte bizantina se opunha ás imagens serão discutidas mais adiante. Em todo caso o que importa aqui é que houve de novo uma ruptura entre Roma e Constantinopla, pois o papa e seus seguidores se negaram a obedecer ao mandato imperial. Tanto Gregório II quanto seu sucessor, Gregório III, convocaram concílios que se reuniram em Roma e que os “iconoclastas” (como eram chamados os que se opunham ás imagens). O imperador, enfurecido, enviou uma grande esquadra contra Roma. Porém esta foi envolvida por uma grande tempestade, e boa parte da frota imperial naufragou. Pouco antes, os muçulmanos (de cujas conquistas falaremos em outro capitulo) tinham tomado várias das províncias mais ricas do império, e se apossado também de toda a costa sul do Mediterrâneo. Todos estes desastres marcaram o fim da influência de Constantinopla sobre o Mediterrâneo ocidental. Quando ao que se refere ao papado, esta mudança de circunstâncias pode ver no fato de que, até Gregório III, a eleição de um novo papa não era considerada válida enquanto não ratificada pelo imperador ou por seu representante em Ravena. Depois de Gregório ninguém mais buscou esta ratificação. Esta nova situação fez necessária uma mudança radical na política internacional dos papas. Depois da destruição da frota bizantina, ao mesmo tempo em que o papa se sentiu aliviado, pois a ameaça desaparecera, viu-se também assediado pelo crescente poder dos lombardos, que durante várias gerações vinham tentando transformar-se em donos absolutos da Itália. As tropas imperiais tinham sido o principal obstáculo ás ambições dos lombardos. Agora que estas tropas tinham ido embora, o que o papa podia fazer para impedir que seus antigos inimigos se apossassem de Roma? A resposta era clara. Além dos Alpes os francos tinham se transformado em uma grande potência. Pouco antes, seu chefe, Carlos Martel, tinha detido o avanço dos muçulmanos ao derrotá-los na batalha de Tours ou Poitiers. Então, por que não pedir a quem tinha salvado a Europa do islã que salvasse agora Roma dos lombardos? Este foi o pedido que Carlos Martel recebeu do papa, junto com a promessa de ser nomeado “cônsul dos romanos”. Mesmo sendo impossível saber se Gregório se apercebeu da magnitude do passo que estava dando, fato é que naquela carta do papa ao mordomo do palácio dos francos, vários precedentes estavam sendo criados. O papa estava se dirigindo a Carlos Martel e lhe oferecendo honras que tradicionalmente só o imperador ou o senado romano podiam outorgar, e o fazia sem consultar Constantinopla. Gregório estava agindo mais como estadista autônomo do que como súdito do império ou como líder espiritual. Por outro lado, com estas gestões entre Gregório e Carlos Martel estavam sendo dados os primeiros passos para o surgimento de uma Europa ocidental unida (pelo menos em teoria) sob um papa e um imperador. Nisto estavam as coisas quando morreram Gregório e Carlos Martel. Luitprando, o rei dos lombardos, tinha desistido de atacar os territórios romanos, talvez porque sabia das negociações empreendidas com os francos, e não queria provocar a inimizade de vizinhos tão poderosos. Porém quando Carlos Martel morreu, seu poder foi dividido entre seus dois filhos, e Luiprando começou novamente a avançar contra Roma e Ravena. O novo papa, Zacarias, não tinha outro recurso que o prestigio do seu cargo. Assim como Leão se pôs diante do avanço de Átila, Zacarias dispôs-se a enfrentar Luitprando face a face. A entrevista teve lugar na igreja de São Valentim, em Terni, e Luitprando devolveu ao papa todos os territórios recentemente conquistados, além de várias cidades que os lombardos já dominavam havia três décadas. Zacarias regressou a Roma em meio ás aclamações do povo, que fez uma procissão de ação de graças até a basílica de São Pedro. Quando Luitprando atacou Ravena, Zacarias foi novamente falar com ele, e outra vez conseguiu uma paz vantajosa. Depois da morte de Luitprando, entretanto, seus sucessores estavam menos dispostos a se dobrarem diante da autoridade ou das súplicas do papa, e foi então que Zacarias concordou com a deposição do rei franco Childerico III, “o estúpido”, e com a coroação de Pepino, o filho de Carlos Martel (veja pg. 23). Deste modo continuava a política estabelecida por Gregório III, de se aliar com os francos diante da ameaça dos lombardos. Zacarias morreu no mesmo ano da coroação de Pepino (752), porém seu sucessor, Estevão II, logo teve oportunidade para cobrar a divida de gratidão que o novo rei franco tinha contraído com Roma. Ameaçado pelos lombardos, Estevão viajou até a França, onde ungiu de novo o rei e seus filhos, ao mesmo tempo em que lhes suplicou ajuda contra os lombardos. Duas vezes Pepino invadiu a Itália para defender o papa, e na Segunda vez lhe doou não só Roma e arredores, mas também Ravena e outras cidades que os lombardos tinham conquistado, e que tradicionalmente tinham sido governadas por Constantinopla. Apesar dos protestos do imperador, o papa e o rei dos francos não lhe deram ouvidos. O império Bizantino já não era uma potência digna de ser levada em conta no Mediterrâneo ocidental. E o papa agora era soberano temporal de boa parte da Itália. Isto era possível, pelo menos na teoria, porque o imperador que reinava em Constantinopla se tinha declarado contrário ás imagens, e por isso não era necessário obedecer-lhe. Quando Estevão morreu, seu irmão, Paulo, foi seu sucessor, e ocupou a sede pontifícia por dez anos, sempre sob a proteção de Pepino. Porém quando este papa morreu, um duque vizinho poderoso se apoderou á força da cidade e nomeou seu irmão Constantino papa. Este é um dos primeiros exemplos de uma situação que se repetirá através de toda a idade Média. Já que agora o papado era uma possessão territorial, e além disto gozava de grande prestigio e autoridade em outras regiões da Europa, muitos o cobiçavam não por razões religiosas, mas puramente políticas. Como não havia um sistema de eleição rigorosamente estabelecido, não faltaram nobres das proximidades, ou famílias poderosas de Roma mesmo, que se apossaram do papado e o utilizaram para seus próprios fins. Neste caso, todavia, Constantino não pôde manter-se no poder, pois alguns romanos apelaram aos lombardos, que intervieram a uma nova eleição. O papa eleito foi Estevão III, que empreendeu uma vingança terrível contra os que tinham apoiado a usurpação, vazando-lhes os olhos, mutilando-os e encarcerando-os. Pouco depois morreu Pepino, o rei dos francos, e seus filhos Carlos (Carlos Magno) e Carlomão lhe sucederam, dividindo o reino. Quando Carlomão morreu em 771, Carlos Magno se apossou dos territórios do seu irmão, deserdando a seus sobrinhos. Isto não era totalmente irregular, pois entre os francos a coroa não era estritamente hereditária, mas eletiva. Apesar de o costume de herdar os territórios Ter surgido através das gerações, quando da morte de Carlomão os nobres do seu reino deveriam pelo menos Ter a chance de eleger seu sucessor ou sucessores. Carlos Magno fez isto, sabendo que os nobres do reino do seu falecido irmão preferiam a ele por rei aos fracos e inexperientes filhos de Carlomão. Estes se refugiaram na corte de Desidério, rei dos lombardos, que se fez defensor de causa. O resultado de tudo isto foi uma aliança ainda mais estreita entre o papa, na época Adriano, e Carlos Magno. Desidério decidiu aproveitar uma oportunidade em que Carlos Magno estava envolvido em outras guerras fronteiriças para atacar alguns dos estados pontifícios. Porém Carlos Magno atravessou inesperadamente os Alpes e infligiu tais derrotas aos lombardos que a força destes ficou seriamente abalada. Em um ato solene Carlos Magno confirmou a doação de territórios que seu pai Pepino tinha feito ao papa. Isto ocorreu no ano 774. A partir de então, Carlos Magno visitou por diversas vezes a cidade papal. Uma destas visitas teve lugar em fins de 800. O sucessor de Adriano, Leão III, tinha sido atacado fisicamente por uma das famílias poderosas de Roma, que desejava o papado para um dos seus membros. Leão atravessou os Alpes e pediu socorro a Carlos Magno, que voltou novamente a Roma, escutou os argumentos de ambas as partes, e se decidiu a favor do papa. No dia de Natal, Leão presidiu o culto solene, estando presentes Carlos Magno, toda sua corte e seus principais oficiais, bem como uma enorme multidão do povo romano. No fim do culto o papa tomou uma coroa, andou até onde estava o rei, coroou-o, e proclamou: “Deus dê vida e vitória ao grande e pacifico imperador!”. Ao ouvir estas palavras todos os presentes irromperam em vivas e aclamações, enquanto o papa ungia o novo imperador. Era um ato sem precedentes. Até poucas gerações antes a eleição de cada novo papa não era válida enquanto não fosse confirmada pelo imperador de Constantinopla. Agora um papa se atrevia a coroar um rei com o titulo de imperador. E o fazia sem consulta prévia ao império oriental. É impossível saber com certeza quais eram os propósitos específicos de Leão ao outorgar a Carlos Magno a dignidade imperial. Uma coisa, porém, estava clara. Desde o tempo de Rômulo Augústulo não houvera imperador no ocidente. Em teoria o imperador de Constantinopla o era de todo o império Romano. Porém na verdade o governo imperial fora efetivo no ocidente somente em algumas regiões da África, e da Itália. E também nesta sua autoridade foi ignorada freqüentemente. Em tempos mais recentes os muçulmanos tinham conquistado os territórios imperiais da África, e por diversas razões a autoridade do imperador na Itália tinha sido limitada ao extremo sul da península. Agora, em virtude da ação de Leão, havia um imperador no ocidente, e o papado se colocava definitivamente fora da jurisdição do império do oriente. Tinha nascido a cristandade ocidental.

A JUSTIFICAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

... Porque em coisa tão santa e necessária, como é o dito empreendimento contra os infiéis, não queríamos que faltasse alguma coisa das que mais pudesse justificar... Queríamos que procurasse ganhar do nosso mui Santo Padre uma bula em que de forma geral declarasse a dita guerra contra os infiéis, e desse a nós... Tudo o que com a ajuda de Deus nosso Senhor conquistássemos das terras dos infiéis.
Fernando, o Calólico.

As bulas papais

Como sucede sempre em tais casos, os cristãos europeus tratavam de enfrentar a nova situação surgida com o descobrimento da América com base em diversos antecedentes que lhe pareciam aplicáveis. Um deles era a história das cruzadas. Nelas, os papas tinham declarado guerra aos infiéis, e haviam confiado a certos soberanos cristãos o comando dos exércitos. Sobre essa base, em muitos dos documentos referentes á conquista aparecem antigas frases e fórmulas que se empregam nas cruzadas. Para os conquistadores, seu empreendimento era semelhante ao daqueles que séculos antes na Terra Santa, tinham se arremessado contra os sarracenos. Nessa guerra contra os mouros se estabeleceram certos precedentes que depois se aplicariam na América. Conforme o avanço da guerra de Granada, os reis católicos se ocuparam em estabelecer a igreja nos territórios conquistados. Porém, aproveitando circunstâncias favoráveis, com vistas a evitar motivos de discórdia com a Santa Sede em questões tais como a nomeação de bispos e a fundação de novas dioceses, em 1486 os reis católicos obtiveram duas bulas papais que lhes concediam o direito de patronato sobre a igreja em Granada e Canárias. Segundo outra bula do mesmo ano, era outorgado aos soberanos, entre outras coisas, o “direito de apresentação”. Tal direito consistia em poder “apresentar” em Roma os nomes das pessoas escolhidas pela coroa para ocupar os altos cargos eclesiásticos, particularmente os episcopados. Desse modo esperavam os reis católicos poder fazer nomear pessoas de seu agrado, e evitar as desavenças que repetidamente se produziam em outras partes do mundo quando ficava vaga uma sede importante. Nas quatro décadas seguintes, sempre com a esperança de chegar explorando as costas da Guiné e do Congo, até que finalmente chegaram ao cabo da Boa Esperança. Os primeiros esforços em converter os africanos, e de estabelecer colônias nestas costas, foram dando uma forma concreta ao que naquelas bulas tinha sido geral. Desse modo os antecedentes portugueses serviram para dar maior precisão ás bulas que os espanhóis solicitaram mais tarde. Enquanto isso, Castela tinha-se dedicado a um empreendimento que nunca pareceu ocupar toda sua atenção, porém mais tarde tornou-se uma espécie de ensaio para a conquista da América. E, segundo temos dito, foi sobre estas ilhas, e sobre o reino de Granada, que primeiro os reis católicos obtiveram o direito de patronato sobre a igreja. Foi com base em tudo isso que tanto os cristãos ibéricos como os papas levantaram as questões relativas ao Novo Mundo. A conquista, colonização da América lhes parecia ser uma extensão do empreendimento nas Canárias e Granada, e as bulas e demais documentos expedidos nessas ocasiões anteriores foram os modelos que se empregaram nas novas circunstâncias. O descobrimento da América apresentava vários problemas. Na mentalidade da época, tudo isso estava estreitamente ligado á tarefa evangelizadora. Logo, uma das principais preocupações dos reis católicos ao mesmo tempo em que o sonho colombino começou a tornar-se realidade foi obter as bulas necessárias para continuar o empreendimento. Isto não era tarefa demasiadamente difícil, pois na ocasião reinava em Roma o papa, de triste memória, Alexandre VI, de origem aragonesa, que se mostrava sempre disposto a satisfazer os desejos de Fernando, particularmente em questões tão distantes como a das terras recém descobertas. Portanto, numa série de bulas expedidas em 1493, Alexandre VI concedeu aos reis de Portugal. Em 1508, Fernando o católico obteve de Júlio II a concessão de patronato real sobre a igreja em todos os territórios descobertos ou conquistados ou por descobrir e conquistar na América. Ainda que naquela bula não se achava a maneira pela qual seriam manejadas as finanças da nascente igreja, dois anos mais tarde o rei obteve outra bula, na qual se outorgavam, com algumas exceções, todos os dízimos das igrejas nas índias. Desse modo a igreja americana ficou completa e diretamente vinculada em suas finanças e em seu episcopado á coroa espanhola, que recebia quase todos seus ingressos e se ocupava com seus gastos, e que, além disso, tinha o “direito de apresentação” que quase equivalia ao direito de nomear bispos e demais prelados para os cargos que se tornariam vagos no além-mar. Pouco a pouco foram se somando a este patronato real outros direitos, até o ponto em que a igreja americana chegou a perder quase todo contato direto com a Santa Sé, e se tornou uma igreja nacional espanhola, que, sem romper de modo algum com Roma, e ao mesmo tempo em que lhe jurava absoluta obediência, servia na realidade aos interesses da coroa espanhola. Em todo caso, esta série de bulas papais teve duas funções. A primeira foi legitimar a conquista. Com base nas teorias do poder temporal dos papas que tinham se desenvolvido durante a idade Média, havia os que sustentavam que o sumo pontífice tinha autoridade temporal sobre o globo, e que, portanto podia conceder as terras dos pagãos aos reis cristãos.

O protesto: Frei Bartolomeu de Las Casas


Nascido em Sevilha em 1474, após licenciar-se em leis, Bartolomeu partiu de sua cidade natal em 1502, com a frota que os reis católicos enviaram a América sob o comando de Nicolas de Ovando, quando Colombo estava em desgraça. Durante dez anos o licenciado sevilhano viveu na Espanha, onde recebeu um grupo de índios de encomenda, e onde, de modo igual aos demais encomendadores, dedicou-se a desfrutar do produto do trabalho dos índios, sem ocupar-se com seu bem estar nem com sua evangelização. Oito anos passou Las Casas em Santo Domingo quando chegaram os dominicanos. No ano seguinte, no quarto Domingo do advento de 1511, isto é, imediatamente antes do Natal, o sacerdote dominicano Antonio Montesinos pregou um sermão contra os abusos de que os índios eram vitimas. Foi um sermão fulminante, que causou grande revolta em toda a colônia. As autoridades e demais interessados trataram de fazer calar os dominicanos, que apoiaram a montesinos. A disputa chegou rapidamente á corte espanhola, onde ambas as partes argumentavam em defesa de suas posições. Pela primeira vez que se começou a questionar seriamente o modo pelo qual se desenvolvia o empreendimento americano. Depois de doze anos em São Domingos, Las casas partiu para o Peru, porém o mau tempo obrigou-o a desembarcar na Nicarágua. Os colonizadores dessa região reagiram de tal modo as suas idéias sobre os índios, que teve de fugir para a Guatemala. Na Espanha, Las casas publicou sua obra Brevíssimo relatório da destruição das índias, que imediatamente suscitou grande controvérsia. Trata-se de uma narração do acontecido nas índias logo depois da chegada dos espanhóis. Las Casas gozava de grande prestigio entre os elementos mais progressistas da corte espanhola, e lhe foi oferecido o importantíssimo episcopado de Cuzco, a velha capital do império inca. Porém ele se negou a aceita-lo, e finalmente foi nomeado bispo de Chiapas, no sul do que hoje é o México. Las Casas baseava sua defesa aos índios nos princípios gerais de direito gozavam de aceitação na Europa. Com base nesses princípios, Las Casas argumentava que os caciques índios eram os verdadeiros senhores de suas terras e de seus vassalos, e que o único direito que os espanhóis tinham no Novo Mundo era o de proclamar o evangelho.


Inquisição Nunca Mais - História do Cristianismo II

Este trabalho é um esboço, um ensaio, um estudo, em que condensamos diversos fatos relacionados com a INQUISIÇÃO. O assunto, de tão vasto, não se esgota nestas páginas. As dificuldades enfrentadas pela igreja de Cristo através dos séculos devem ser conhecidas por todos os cristãos. Os católicos precisam conhecer a história negra de sua igreja. Os evangélicos não devem esquecer os heróis da fé, os homens que, com ousadia, romperam com as tradições, com o poder eclesiástico de sua época, e ajudaram na implantação de uma igreja reformada, livre do poder papal, submissa a Jesus, e tendo a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática. Conhecer um pouco dos horrores dos tribunais eclesiástico é descobrir o quão difícil foi a caminhada até os dias atuais. Os alicerces de nossa fé ficam mais fortalecidos quando nos miramos no exemplo de nossos irmãos do passado, “atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados, perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”, pois “BEM-AVENTURADOS SOIS VÓS, QUANDO VOS INJURIAREM E PERSEGUIREM E, MENTINDO, DISSEREM TODO O MAL CONTRA VÓS POR MINHA CAUSA” (Mateus 5:11). A lista dos mártires e perseguidos parece não Ter fim. A igreja católica estava disposta a vigiar e manter sob seu domínio todo o universo do pensamento humano. Qualquer um que ousasse defender suas idéias-cientificas, religiosas, ou em qualquer área-, em desacordo com a interpretação do Vaticano, era considerado um herético, e, por isso, por esse crime, julgado e condenado. Era quase impossível aos hereges se livrarem da tortura e da fogueira. Pelo modo cruel como os protestantes foram massacrados; pela forma cruel com que subjugaram alguns, sob tortura; em razão dos milhões que perderam a vida nas cruzadas, nas fogueiras ou de outras maneiras, e por muitas outras práticas assassinas e injustas usadas no decorrer de vários séculos de INQUISIÇÂO, não vacilamos em afirmar que esse monstruoso Santo Oficio foi UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE... todavia, um crime que não mais se repetirá, NUNCA MAIS. Louvado seja nosso Senhor e Salvados Jesus Cristo.

INQUISIÇÃO: SIGNIFICADO E OBJETIVO
Também chamada de Santo Oficio, INQUISIÇÂO era a designação dada a um tribunal eclesiástico, vigente na Idade Média e começos dos tempos modernos. Esse Tribunal, instituído pela igreja católica Romana, tinha por meta prioritária julgar e condenar os hereges. A palavra “herege” significa aquele que escolhe, que professa doutrina contrária ao que foi definido pela igreja como sendo matéria de fé. Então, todos os que se rebelaram contra a autoridade papal ou faziam qualquer espécie de critica á igreja de Roma eram considerados hereges. INQUISIÇÂO é o ato de INQUIRIR: indagar, investigar, pesquisar, perguntar, interrogar judicialmente. Os hereges seriam os “irmãos separados”, os “protestantes”, os “crentes”, os “evangélicos” de hoje. Em suma, a INQUISIÇÂO foi um tribunal eclesiástico criado com finalidade de investigar e punir os crimes contra a fé católica. Da Enciclopédia BARSA, vol 7, págs. 286-287 extraímos o seguinte: “Heresia, no sentido geral é uma atitude, crença ou doutrina, nascida de uma escolha pessoal, em oposição a um sistema comumente aceito e acatado. È uma opinião firmemente defendida contra uma doutrina estabelecida. A igreja católica, no seu Direito Canônico, estabelece uma distinção entre heresia, apostasia e cisma. Assim diz este documento”: Depois de recebido o batismo, se alguém, conservando o nome de cristão, nega algumas das verdades que se devem crer com fé divina e católica ou dela duvida, é HEREGE. Se afastar-se totalmente da fé cristã, é APÓSTATA. Se recusar submeter-se ao Sumo Pontífice (o papa) ou tratar com os membros da igreja aos quais está sujeito, é CISMÀTICO (Direito Canônico 1. 325), párag. 2). Então, por esse raciocínio e decreto de Roma, os milhões de crentes no mundo são hereges e cismáticos porque negam muitas das “verdades” da fé católica, não se submetem ao sumo Pontífice, e só reconhecem Jesus Cristo como autoridade máxima da igreja. De acordo com o foi noticiado em janeiro/98 pelos jornais, a Igreja católica Romana resolveu abrir os arquivos do Santo Oficio ou Inquisição, colocando-os á disposição dos pesquisadores. Nesses arquivos constam 4.500 obras sob fatos e julgamentos de quatro séculos da igreja católica, conforme noticiado. A abertura desses processos é de muita valia para os pesquisadores, historiadores e interessados em conhecer um pouco mais do passado negro da igreja de Roma. Nem por isso a humanidade deixou de conhecer as crueldades, as chacinas, o extermínio, as torturas que tiraram a vida de milhões de hereges. Os arquivos do Vaticano vão mostrar, certamente, com mais detalhes, como foram conduzidos os processos sumários e quais os métodos usados para obter confissões e retratações. Todavia, a guarda a sete chaves dessas informações não impediu que o mundo tomasse conhecimento dos crimes cometidos pelos tribunais inquisitórios. A História não pode ser apagada.

O INÍCÍO DAS PERSEGUIÇÕES
Embora a Inquisição tenha alcançado seu apogeu no século XIII, suas origens remontam ao século IV:

O herege espanhol Prisciliano foi condenado á morte pelos bispos espanhóis no ano de 1385; no século X muitos casos de execuções de hereges, na fogueira ou por estrangulamento; em 1198 o papa Inocêncio III liderou uma cruzada contra os “ALBIGENSES” (hereges do sul da França), com execuções em massa; em 1229, no concílio de Tolouse, foi oficialmente criado a Inquisição ou Tribunal do santo Oficio, sob a liderança do papa Gregório IX; em 1252, o papa Inocêncio IV publicou o documento intitulado “AD EXSTIRPANDA”, em que vociferou: “os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas”. Este documento foi fundamental na execução do diabólico plano de exterminar os hereges. As autoridades civis, sob a ameaça de excomunhão no caso de recusa, eram ordenadas a queimar os hereges. O “AD EXSTIRPANDA” foi renovado ou reforçado por vários papas, nos anos seguintes: Alexandre IV (1254- 1261); Clemente IV (1265- 1268), Nicolau IV (1288- 1292); Bonifácio VIII (1294- 1303) e outros. Inocêncio IV autorizou o uso da tortura.

OS MÉTODOS DE TORTURA

No seu “livro das Sentenças da Inquisição” ( Liber Sententiarum Inquisitionis) o padre dominicano Bernardo Guy ( Bernardus Guidonis, 1261- 1331), “ Um dos mais completos teóricos da Inquisição”, descreveu vários métodos para obter confissões dos acusados, inclusive o enfraquecimento das forças físicas do prisioneiro. Usava-se, dentre outros, os seguintes processos de tortura: a manjedoura, para deslocar as juntas do corpo; arrancar unhas; ferro em brasa sob várias partes do corpo; rolar o corpo sobre lâminas afiadas; uso das “Botas Espanholas” para esmagar as pernas e os pés; a Virgem de Ferro: um pequeno compartimento em forma humana, aparelhado com facas, que, ao ser fechado, dilacerava o corpo da vitima; suspensão violenta do corpo, amarrado pelos pés, provocando deslocamento das juntas; chumbo derretido no ouvido e na boca; arrancar os olhos; açoites com crueldade; forçar os hereges a pular de abismos, para cima de paus pontiagudos; engolir pedaços do próprio corpo, excrementos e urina; a “roda do despedaçamento funcionou na Inglaterra, Holanda e Alemanha”, e destinava-se a triturar os corpos dos hereges; o “balcão de estiramento” era usado para desmembrar o corpo das vitimas; o “esmaga cabeça” era a máquina usada para esmagar lentamente a cabeça do condenado, e outras formas de tortura. Com a promessa de irem diretamente para o céu, sem passagem pelo purgatório, muitos homens eram exortados pelos inquisidores para guerrearem contra os hereges. No ano de 1209, em Beziers (França), 60 mil foram martirizados; dois anos depois, em Lauvau (França), o governados foi enforcado, sua mulher apedrejada e 400 pessoas queimadas vivas. A carnificina se espalhou por outras cidades e milhares foram mortos. Conta-se que num só dia 100.000 hereges foram vitimados. Depois de acusados, os hereges tinham pouca chance de sobrevivência. Geralmente as vitimas não conheciam seus acusadores, que podiam ser homens, mulheres e até crianças. O processo era sumário. Ou seja: rápido, sem formalidades, sem direito de defesa. Ao réu a única alternativa era confessar e retratar-se, renunciar sua fé e aceitar o domínio e a autoridade da igreja católica Romana. Os direitos de liberdade e de livre escolha não eram respeitados. A igreja de Roma, sob o pretexto de que detinha as chaves dos céus e do inferno e poderes para livrar as almas do purgatório e perdoar pecados, pretendia ser UNIVERSAL, dominar as nações mediante pressão sob seus governantes e estabelecer seus domínios por todo o Planeta.

CRUELDADE E MATANÇA

A seguir, um relato sucinto do extermínio de hereges.
A matança dos valdenses - Um dos primeiros grupos organizados a serem atormentados foram os valdenses. Valdenses eram chamados “os membros da seita, também chamada Pobres de Lião, fundada pelo mercador Pedro Valdo por volta de 1170, na França. Inspirada na pobreza evangélica repudiava a riqueza da Igreja Católica”. O grupo organizado por Pedro Valdo, um rico comerciante, cria que todos os homens tinham o direito de possuir a Bíblia traduzida na sua própria língua. Acreditava também, que a Bíblia era a autoridade final para a fé e para a vida. Os valdenses se vestiam com simplicidade, contrapondo-se á luxúria dos sacerdotes católicos-, ministravam a ceia do Senhor e o Batismo, e ordenavam leigos para a pregação e ministração dos sacramentos. “O grupo tinha seu próprio clero, com bispos, sacerdotes e diáconos”. Tal liberdade não era admitida pela igreja católica porque não havia submissão ao papa e aos seus ensinos. Os valdenses possuíam a Bíblia traduzida na sua língua materna, o que facilitou a pregação da palavra. Outros grupos sucumbiram diante das ameaças e castigos impostos pelos romanistas. Os valdenses, todavia, resistiram. Na escuridão das cavernas, cada versículo era copiado, lido e ensinado. Na bíblia encontraram a luz - uma luz forte que inunda corpo, alma e espírito... Uma luz chamada Jesus. Os valdenses foram, certamente, os primeiros a se organizarem como igreja, formar seu próprio clero e enviar missionários para outras regiões na França e Itália. Tudo com muito sacrifício e sob implacável perseguição. Essa liberdade de ação motivou os lideres romano a adotarem medidas duras contra eles a “seita”. Uma bula papal classificou os valdenses como hereges e, como tais, condenados á morte. A única acusação contra eles era a de que “tinham uma aparência de piedade e santidade que seduzia as ovelhas do verdadeiro aprisco”. Uma cruzada foi organizada contra esse povo santo. Como incentivo, a igreja prometia perdão de todos os pecados aos que matassem um herege, “anulava todos os contratos feitos em favor deles (dos valdenses), proibia a toda a pessoa dar-lhes qualquer auxilio, e era permitido se apossar de suas propriedades por meio de volência”. Não se sabe quantos valdenses morreram nas cruzadas. Sabemos, portanto, que esses obstinados cristãos fincaram os alicerces da Reforma que viria séculos depois.

O MASSAGRE DE SÃO BARTOLOMEU - Os católicos franceses apelidaram de “huguenotes” os protestantes. Uma designação depreciativa. Já fomos tratados de huguenotes, hereges, heréticos, protestantes, cristãos novos, irmãos separados, crentes, evangélicos, etc., mas o Pai nos chama de Filhos. O massacre de São Bartolomeu ou a Noite de São Bartolomeu ficou conhecido como “a mais horrível entre as ações diabólicas de todos os séculos”. Com a concordância do Papa Gregório XIII, o rei da França, Carlos IX, eliminou em poucos dias milhares de huguenotes. A matança iniciou-se na noite de 24.08.1572, em Paris, e se estendeu a todas as cidades onde se encontravam protestantes. Segundo Ellen G. Write, em seu livro “O GRANDE CONFLITO”, foram martirizados cerca de setenta mil nesse massacre. Quando a noticia do massacre chegou a Roma, a alegria do clero não teve limites. O cardeal de Lorena recompensou o mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em alegre salva; os sinos dobraram em todos os campanários; e o Papa Gregório XIII, acompanhado dos cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foram, em longa procissão, á igreja de S. Luiz, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum. Um sacerdote falou “daquele de tão cheio de felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a noticia e foi aparato solene dar graças a deus e a S. Luiz”. Para comemorar e perpetuar na memória dos povos esse horrendo massacre, por ordem do papa Gregório XIII foi cunhada uma moeda, onde se via a figura de um anjo com a espada numa mão e, na outra, uma cruz, diante de um grupo de horrorizados huguenotes. Nessa moeda comemorativa lia-se a seguinte inscrição: “UGONOTTORUM STANGES, 1572” (“A MATANÇA DOS HUGUENOTES, 1572”). Em seu livro “OS PIORES ASSASSINOS E HEREGES DA HISTÓRIA”, o historiador e pesquisador cearense Jeovah Mendes, á pág. 238, assim registra a fatídica noite de S. Bartolomeu: “Papa Gregório XIII” (Ugo Buoncompagni) (1502- 1585). Em irrepreensível ritmo acelerado recrudescia o ódio contra os protestantes em rumo de um trágico desfecho. O cardeal de Lorena, com a aprovação e bênção pontifícia de Gregório XIII, engendrou o mais horrível banho de sangue por motivos religiosos em toda a história da França ou de qualquer nação do mundo. Consumou-se o projeto assassino aos 24 de agosto de 1572, a inqualificável NOITE DE S> BARTOLOMEU, sendo nesse macabro festival de sangue, morto o intrépido Coligny, mártir do Evangelho e honra de sua Pátria. Como troféu da bárbara carnificina, a cabeça de Coligny fora remetida ao “sumo pontífice”, Gregório XIII (Mauricio Lachatre, História dos Papas, vol. IV pg.68).

O MASSACRE DOS ALBIGENSES- Albigenses- eram os nascidos na cidade de Albi, sul da França. Em 1198, por iniciativa do Papa Inocêncio III, foram instituídos “Os Inquisidores da fé contra os Albigenses”. Esses franceses foram considerados “hereges” porque seus ensinos doutrinários não se alinhavam com os da igreja de Roma. O extermínio começou no ano de 1209 e se estendeu por 20 anos, quando milhares de albigenses pereceram. Fala-se em mais de 20.000 mortos, entre homens, mulheres e crianças.

O MASSACRE DA ESPANHA - Tomás de Torquemada (1420- 1498), espanhol, padre dominicano, nomeado para cargo de grande inquisidor pelo Papa Sisto IV, dirigiu as operações do tribunal do santo oficio durante 14 anos. “Celebrizou-se por seu fanatismo religioso e crueldade”. De mãos dadas com os reis católicos, promoveu a expulsão dos judeus da Espanha por édito real de 31.03.1492, tendo estes o prazo reduzido de quatro meses para se retirarem do país sem levar dinheiro, ouro ou prata. É acusado de haver condenado á fogueira 10.220 pessoas, e cerca de 100.000 foram encarceradas, banidas ou perderam haveres e fazendas. Tudo em nome da fé católica e da honra de Jesus Cristo.

O MASSACRE DOS ANABATISTAS - Grupo religioso iniciado na Inglaterra no século XVI, que defendia o batismo somente de pessoa adulta. Por autorização do Papa Pio V(1566-1572), cem mil foram exterminados.

O MASSACRE EM PORTUGAL - Diante dos insistentes pedidos de D. João III, o Papa Paulo III introduziu, por bula de 1536, o tribunal do santo oficio em Portugal. As perseguições foram de tal ordem que o comércio e a indústria na Espanha e em Portugal ficaram praticamente paralisados. As execuções públicas eram conhecidas como autos-de-fé. No começo, funcionaram tribunais da inquisição nas diversas dioceses de Portugal, mas no século XVI ficaram apenas os Lisboa, Coimbra e Évora. Depois somente o da capital do reino, presidido pelo inquisidor-geral. Até 1732, em Portugal, o número de sentenciados atingiu 23.068, dos quais 1.554 condenados á morte. Na torre do Tombo, em Lisboa, estão registrados mais de 36.000 processos. Daí porque os 4.500 processos constantes dos arquivos de terror do Vaticano - Os Arquivos do Santo Oficio - recentemente liberados aos pesquisadores, não contam toda a história da desumana inquisição.

REFERÊNCIAS GERAIS SOBRE A INQUISIÇÃO
A INQUISIÇÃO EM CUBA - Não havia parte nenhuma no mundo onde os protestantes ou hereges estivessem livres para o exercício de sua fé. Partindo da Europa, muitos procuraram refúgio nas Américas do Sul e Central, o “NOVO MUNDO”. Mas para cá também vieram os inquisidores. A inquisição em Cuba iniciou-se em 1516 sob o comando de Dom Juan de Quevedo, bispo de Cuba, que, com requintes de maldade, eliminou setenta e cinco “hereges”.

A INQUISIÇÃO NO BRASIL - O padre Antônio Vieira (1608-1697), pregador missionário e diplomata, defensor dos indígenas, considerado a maior figura intelectual luso - brasileira do séc. 17 foi condenado por heresia pelo Santo Oficio, e mantido em prisão por cerca de dois anos. O brasileiro Antônio José da Silva, poeta e comediógrafo foi um dos supliciados em autos-de-fé.
A inquisição se instalou no Brasil em três ocasiões: Em 09.06.1591, na Bahia, por três anos: em Pernambuco, de 1593 a 1595; e novamente na Bahia, em 1618, Há noticia de que no século XVIII Inquisição atuou no Brasil. Segundo o jornal “Mensageiro da Paz”, número 1334, de maio/1998, “cento e trinta e nove”, pessoas foram queimadas vivas, no Brasil, entre os anos de 1721 e 1777. Todos os que confessavam não crer nos dogmas católicos eram sentenciados. De acordo com os dados históricos, quase todos os cristãos-novos presos no Brasil pela inquisição, durante o século 18 eram brasileiros natos e pertenciam a todas as camadas sociais. Praticamente a metade dos prisioneiros brasileiros cristãos-novos no século 18, eram mulheres. Na Paraíba, Guiomar Nunes foi condenada á morte na fogueira em um processo julgado em Lisboa. A inquisição interferiu profundamente na vida colonial brasileira durante mais de dois séculos. Um dos exemplos dessa interferência era a perseguição aos descendentes de judeus. Os que estavam nessa condição podiam ser punidos com a morte, confisco dos bens e na melhor das hipóteses ficavam impedidos de assumir cargos públicos. A matéria do Mensageiro da Paz foi assinada por Regina Coeli. Do livro “BABILÔNIA: A RELIGIÃO DOS MISTÉRIOS”. DE Ralph Woodrow - As autoridades civis eram ordenadas pelos papas, sob pena de excomunhão, a executarem as sentenças legais que condenavam os hereges impenitentes ao poste. Deve-se notar que a excomunhão em si mesma não era uma coisa simples, pois, se a pessoa excomungada não se livrasse da excomunhão dentro de um ano, passava a ser considerada herética, e incorria em todas as penalidades que afetavam a heresia “(pág. 110)”. A intolerância religiosa que incitou a inquisição causou guerras que envolveram cidades inteiras. Em 1209 a cidade de Beziers foi tomada por homens que tinham recebido a promessa do papa de que entrando na cruzada contra os hereges, eles (os assassinos), ao morrerem, passariam direto para o céu, desviando-se do purgatório. Reporta-se que sessenta mil, nesta cidade, pereceram pela espada. Em Lavaur, em 1211, o governador foi enforcado e a esposa lançada num poço e esmagada com pedras. Quatrocentas pessoas foram queimadas vivas em Lavaur. Os cruzados assistiram á missa solene pela manhã, em seguida passaram a tomar outras cidades da área. Neste cerco estima-se que cem mil albigenses (protestantes) caíram em um só dia. Seus corpos foram amontoados e queimados. No massacre de Merindol, quinhentas mulheres foram trancadas em um celeiro ao qual atearam fogo. Se qualquer uma pulasse das janelas seria recebida na ponta de lanças. Mulheres foram ostensiva e dolorosamente violentadas. Crianças assassinadas diante de seus pais. Algumas pessoas eram lançadas de abismos ou arrancavam suas roupas e arrastavam-nas pelas ruas. Métodos semelhantes foram usados no massacre de Orange em 1562. O exército italiano, enviado pelo Papa Pio IV, recebeu ordem e matar homens, mulheres e crianças. A ordem foi seguida com terrível crueldade, sendo o povo exposto a vergonha e tortura indescritíveis. Dez mil huguenotes (protestantes) foram mortos no sangrento massacre em paris no “Dia de São Bartolomeu”, em 1572. (págs. 113-114). Enciclopédia Barsa, vol. 8, edição 1997-Em 1229, no Concílio de Toulouse, criou-se oficialmente a inquisição ou tribunal do Santo oficio. A partir deste momento, e, sobretudo com o trabalho dos frades dominicanos, foi-se precisando a legislação e jurisprudência da inquisição. O processo era sumário. O acusado podia ignorar o nome do acusador. Mulheres, crianças e escravos podiam ser testemunhas na acusação, mas não na defesa. Num destes processos consta o nome de uma testemunha de dez anos de idade. O padre dominicano Bernardo Guy (Bernardus Guidonis, 1261-1331), um dos mais completos teóricos da Inquisição, enumerou, no seu Liber Sententiarum Inquisitionis (“Livro das Sentenças da Inquisição”), vários processos para a boa obtenção de confissões, pelo enfraquecimento das forças físicas do prisioneiro.

Do livro OS PIORES ASSASSINOS E HEREGES DA HISTÓRIA, DE CAIM A SADDAM HUSSEIN, do cearense Jeovah Mendes, edição 1997, págs. 249-250.

Em toda a sua calamitosa história, a Igreja católica nada mais tem feito que perseguir o homem, sob o sofisma de agir em nome de Deus. Vejamos os morticínios que ela levou a efeito: As cruzadas á Terra santa custaram á humanidade o sacrifício de dois milhões de vitimas; de Leão X a Clemente IX (papas) os sanguinários agentes do catolicismo, que dominavam a França, a Holanda, a Alemanha, a Flandes e a Inglaterra, realizaram a tenebrosa São Bartolomeu, de que já falamos, degolando, massacrando, queimando mais de dois milhões de infiéis, enquanto a companhia de Jesus, obra do abominável Inácio de Loyola, cometia as maiores atrocidades, chegando mesmo a envenenar o Papa Clemente XIV. O seu agente S. Francisco Xavier, em missão no Japão, imolava cerca de quatrocentos mil nipônicos; as cruzadas levadas a efeito entre os indígenas da América, segundo Las Casas, bispo espanhol e testemunha ocular de perseguição e autos-de-fé, sacrificaram doze milhões de seres em holocausto ao seu Deus; a guerra religiosa que se seguiu ao suplicio do Padre João Huss e Jerônimo de Praga, contou mais de cento e cinqüenta mil vidas imoladas á Igreja Romana; no século XIV, o grande Cisma do Ocidente cobriu a Europa de cadáveres, dado que nada menos de cinqüenta mil vidas foram o preço cobrado pela ira papal; as cruzadas levadas a efeito a partir de Gregório VII (papa), roubaram á Europa cerca de trezentos mil homens, assassinados com requintes de selvageria; nas terras do Báltico, os frades cavaleiros, além de uma devastação e pilhagem completa, ainda sacrificaram mais de cem mil vidas; a imperatriz Teodora, dando cumprimento a uma penitência imposta pelo seu confessor, fez massacrar cento e vinte mil maniqueus, no ano de 845; as disputas religiosas entre inconóclatas devastaram muitas províncias, resultando ainda no sacrifício de mais de sessenta mil cristãos degolados e queimados. A Santa Inquisição, na sua longa e tenebrosa jornada, levou aos mais horrorosos suplícios, inclusive ás fogueiras, algumas centenas de milhares de pobres desgraçados; segundo o Barão d´Holbach, a Igreja Católica Romana, pelos seus papas, bispos e padres, é a responsável pelo sacrifício de cerca de dez milhões de vidas. Que mais é preciso dizer?

AS TENTATIVAS DE ALGEMAR A PALAVRA DE DEUS
A história dos massacres e perseguições perde-se no tempo. Quase impossível para os historiadores é levantar o número exato ou aproximado de vitimas da inquisição. O banho de sangue começou na Europa, mais precisamente em França, e se estendeu por paises vizinhos. Havia, por parte da igreja de Roma, uma preocupação constante com a propagação do Evangelho, com o conhecimento da palavra, com a tradução da Bíblia em outras línguas. Preocupação no sentido de proibir. Só pelo fato de um católico passar a ler as Escrituras estava sujeito a ser considerado um herege e, como tal, ser excomungado e levado á fogueira. A Bíblia era, assim, considerada um obstáculo ás pretensões da igreja de Roma, de colocar todos os povos sob seus domínios. Muitos meios foram usados para que a Bíblia ficasse restrita ao pequeno circulo dos sacerdotes, dos padres, dos bispos e dos papas. Dentre as medidas para conter o avanço da Palavra de Deus, estão as seguintes:

Em 1229, o concilio de Tolouse (França), o mesmo que criou a diabólica inquisição, determinou: “Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento...” Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será severamente punido. ( Concil. Tolosanum Papa Gregório IX, Anno Chr. 1229 Cânon 14:2). Foi este mesmo Concilio que decretou a cruzada contra os albigenses. Em Acts of Inquisition, Fhilip Van Limborch, History of the inquisition, cap. 08, temos a seguinte declaração conciliar: Essa peste (a Bíblia) assumiu tal extensão, que algumas pessoas indicaram sacerdotes por si próprias, e mesmo alguns evangélicos que distorcem e destruíram a verdade do evangelho e fizeram um evangelho para seus próprios propósitos... (elas sabem que) a pregação e explanação da Bíblia são absolutamente proibidas aos membros leigos. (grifo nosso).

No concílio e Constança, em 1415, o santo Wycliffe, protestante, foi postumamente condenado como “o pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução das Escrituras em sua língua materna”.

O Papa Pio IX, em sua encíclica “Quanta cura”, em 8 de dezembro de 1866, imitiu uma lista de oito erros sob dez diferentes títulos. Sob o titulo IV ele diz: “Socialismo, sociedades clandestinas, sociedades bíblicas... pestes estas devem ser destruídas através de todos os meios possíveis”.

Em 1546 Roma decretou: “a Tradição tem autoridade igual á da Bíblia”. Esse dogma está em voga até hoje, até porque existe o dogma da “inefabilidade papal”. Ora, se os dogmas, bulas, decretos papais e resoluções outras possuem autoridade igual á das Sagradas Escrituras, os católicos não precisam buscar verdades na Palavra e Deus.

O Papa Júlio III, preocupado com os rumos que sua igreja estava tomando, ou seja, perdendo prestigio e poder diante do número cada vez maior de “irmãos separados”, ou “cristãos novos”, ou “protestantes”, (apesar dos massacres), convocou três bispos, dos mais sábios, e lhes confiou a missão de estudarem com cuidado o problema e apresentarem as sugestões cabíveis. Ao final dos estudos, aqueles bispos apresentaram ao papa um documento intitulado “DIREÇÕES CONCERNENTES AOS MÉTODOS ADEQUADOS A FORTIFICAR A IGREJA DE ROMA”. Tal documento está arquivado na Biblioteca Imperial de Paris, fólio B, número 1088, vol. 2, págs 641 a 650. O trecho final desse oficio é o seguinte: Finalmente (de todos os conselhos que bem nos pareceu dar a Vossa Santidade, deixamos para o fim o mais necessário), nisto Vossa Santidade deve pôr toda a atenção e cuidado de permitir o menos que seja possível a leitura do Evangelho, especialmente na língua vulgar, em todos os paises sob vossa jurisdição. O pouco dele que se costuma ler na Missa, deve ser o suficiente; mais do que isso não devia ser permitido a ninguém. Enquanto os homens estiverem satisfeitos com esse pouco, os interesses de Vossa Santidade prosperarão, mas quando eles desejarem mais, interesses declinarão. Em suma, aquele livro (a Bíblia) mais do que qualquer outro tem levantado contra nós esses torvelinhos e tempestades, dos quais meramente escapamos de ser totalmente destruídos. De fato, se alguém o examinar cuidadosamente, logo descobrirá o desacordo, e verá que a nossa doutrina é muitas vezes diferente da doutrina dele, e em outras até contrária a ele; o que se o povo souber, não deixará de clamar contra nós, e seremos objetos de escárnio e ódio geral. Portanto, é necessário tirar esse livro das vistas do povo, mas com grande cuidado, para não provocar tumultos - Assinam Bolonie, 20 Octobis 1553- Vicentius De Durtantibus, Egidus Falceta, Gerardus Busdragus.

(Seis) Além de tentar tapar a boca de Deus algemando a Sua Palavra, a Igreja de Roma modifica ou suprime trechos sagrados da Bíblia para justificar sua tradição. Daremos dois exemplos: 1) acatou o livro apócrifo de Macabeus dentre outros, admitindo-o como divinamente inspirado, para justificar a oração pelos mortos. 2) supriu o SEGUNDO MANDAMENTO em seu Catecismo. No catecismo da Primeira Eucaristia, 12a. edição, Paulinas, São Paulo, 1975, á págs. 70, lê-se: Mandamentos da lei de Deus: 1) amar a Deus sobre todas as coisas; 2) não tomar seu santo nome em vão; 3) guardar os domingos e festas; 4) honrar pai e mãe; 5) não matar; 6) não pecar contra a castidade; 7) não furtar; 8) não levantar falso testemunho; 9) não desejar a mulher do próximo; 10) não cobiçar as coisas alheias.


7) Os mandamentos de Deus estão no livro de Êxodo. No capitulo 20, versos 4 e 5 assim está escrito: NÃO FARÁ PARA TI IMAGENS DE ESCULTURA, NEM SEMELHANÇA ALGUMA DO QUE HÁ EM CIMA DOS CÉUS, NEM EM BAIXO NA TERRA, NEM NAS ÁGUAS DEBAIXO DA TERRA. NÃO TE ENCURVARÁS A ELAS NEM AS SERVIRAS. Então, como se vê, a Igreja Romana supriu do seu catecismo o Segundo Mandamento. Isto é grave para quem é temente a Deus. Muito grave. Por que supriu? Para que não houvesse o confronto de suas práticas idólatras com a Palavra de deus?

Todos esses maléficos expedientes usados para eliminar, alterar ou suprimir as Sagradas Escrituras não conseguiram êxito. A Bíblia é o livro mais vendido e mais lido em todo o mundo e está traduzido para quase 2.000 línguas e dialetos. Só no Brasil são vendidos por ano mais de quatro milhões de bíblias, afora uns 150 milhões de livros com pequenos trechos (bíblias incompletas), Os reflexos desses expedientes, ou seja, as tentativas de algemar a Palavra de Deus, ainda hoje são sentidos. No Brasil são poucos os católicos que se dedicam á leitura da bíblia, embora os carismáticos estejam mais desenvolvidos no particular. Regra geral se contentam “com o pouco que lhes são oferecido na missa’, e enquanto se contentam com esse pouco (como sugeriram aqueles bispos ao papa, item 5 retro). Continuam errando” ERRAIS, NÃO CONHECENDO AS ESCRITURAS, NEM O PODER DE DEUS “. (Mateus 22. 29)”.

O SANGUE DOS MÁRTIRES
Não se pode separar a inquisição da reforma, uma vez que as perseguições, e com elas os inquisidores, surgiram em decorrência do protesto (advindo daí a alcunha de protestantes) de homens inconformados com as doutrinas e práticas da igreja de Roma, cada vez mais se distanciando do Evangelho de Jesus Cristo. Wycliffe, John Huss, Jerônimo e Lutero não se calaram diante da luxúria, da venda de indulgências, do jogo de interesses e do baixo nível moral do clero romano. Esses “reformadores” desejavam, em suma, criar condições favoráveis a que a igreja católica Romana corrigisse seus erros. Apresentavam a Bíblia como única regra de fé e prática; Jesus como único Sumo Sacerdote; defendiam a liberdade de a Bíblia ser traduzida na língua de cada povo, de ser lida e interpretada por qualquer cristão; combatiam a submissão dos governantes aos papas e a espoliação do povo através de cobrança de impostos para os cofres de Roma. “Pelo pagamento de dinheiro á igreja, o povo poderia livrar-se do pecado e igualmente libertar as almas de amigos falecidos que estivessem confinadas ás chamas atormentadoras. Por esses meios Roma encheu os cofres e sustentou a magnificência, luxo e vícios dos pretensos representantes d’Aquele que não tinha onde reclinar a cabeça”. Em vez de considerar os protestos e analisá-los á luz da Palavra de Deus, e proceder às mudanças internas cabíveis, Roma preferiu partir para o ataque. Criou a Inquisição para exterminar os protestantes; proibiu a leitura da Bíblia e sua tradução em outras línguas; classificou de heresia qualquer ensino ou crença contrários á fé católica; sentenciou, torturou, degolou, exterminou, excomungou, massacrou um número incalculável de santos. “ENTÃO, VOS HÃO DE ENTREGAR PARA SERDES ATORMENTADOS E MATAR-VOS-ÃO. E SEREIS ODIADOS DE TODAS AS GENTES POR CAUSA DO MEU NOME” (Mateus 24.9).
Muitos pagaram com a vida pelo desejo de reformar. Alcançaram a vitória porque resolveram enfrentar a poderosa Igreja de Roma, os inquisidores, a fogueira, a excomunhão e toda a espécie de vexames; enfrentaram acusações e ameaças, mas não dobraram seus joelhos diante dos papas. Vejamos alguns exemplos.

JOHN WYCLIFFE (1320-1384)
Wycliffe, teólogo inglês, precursor da Reforma, pregava uma igreja sem a direção papal, era adversário das indulgências e combatia o excesso de bens materiais dos clérigos. Foi doutor de Teologia, advogado eclesiástico a serviço da coroa, e tornou-se reitor de Lutterwoth em 1374. Sua maior obra, contudo, foi a tradução das escrituras para o inglês. A partir daí a palavra de Deus se fez conhecida na Inglaterra.
Ousado e destemido, Wycliffe atacou de forma brilhante o clero romano, acusando-o de explorar o povo e os governantes com a venda de indulgências; de criar clima de tensão e horror ao ameaçar os fiéis com excomunhão; de tentar conter a propagação da palavra ao proibir a leitura da bíblia e a sua tradução para línguas conhecidas do povo. Chamado a retratar-se por ocasião de uma enfermidade que muito o enfraqueceu, disse: “Não hei de morrer, mas viver e denunciar novamente as más ações dos frades”.
Tendo sido levado pela terceira vez ao tribunal eclesiástico, e acusado de heresia, Wycliffe declarou: Com que julgais estar a contender? Com um ancião ás bordas da sepultura? Não! Estais a contender com a Verdade, Verdade que é mais forte do que vós e vos vencerá. Deus livrou Wycliffe da fogueira: faleceu repentinamente após um ataque de paralisia. Sua voz silenciou, mas sua fé em Jesus Cristo fez discípulos em todo o mundo.

JOHN HUSS (1369-1415)
Divulgador das idéias do santo Wycliffe, natural da Boêmia, depois de completar o curso superior ordenou-se sacerdote, havendo exercido o cargo de professor e mais tarde de reitor da universidade de Praga. Huss, embora não estivesse de acordo com todos os ensinos de Wycliffe, ficou bastante influenciado pelas idéias desse inglês, e resolveu aprofundar-se mais no estudo da Bíblia. O segundo passo foi denunciar o verdadeiro caráter do papado, o orgulho, a ambição e a corrupção da hierarquia. Defendia a bíblia como sendo a única regra de fé e prática do cristão, e ensinava que a palavra de Deus podia ser pregada por qualquer pessoa. Esse tipo de liberdade de pensamento não era admitido pela todo-poderosa igreja de Roma. A reação veio rápida. O santo Huss foi convocado a comparecer perante o papa, em Roma. Apoiado pelos governantes e por uma parcela da população, ele não atendeu ao chamado. Diante de tão grande afronta ao Sumo Pontífice, Huss foi excomungado e a cidade de Praga interditada. Com a interdição, o povo ficaria privado das bênçãos divinas, bênçãos que somente o papa, como representante de Deus, tinha autoridade para ministrar. Era isso que ensinava a igreja era assim que pensavam muitos. O período da inquisição- uns 600 anos- foi um período negro na história da igreja de Roma. Muitos povos, muitos grupos, muitas nações se enchem de orgulho e júbilo quando falam do seu passado. A igreja católica romana não tem do que se alegrar. A lista dos ANTIPAPAS compreende 39 sumos pontífices, no período de 217 a 1449, abrangendo, portanto, um interregno de 1.200 anos, conforme a Enciclopédia BARSA. O clímax da imoralidade papal deu-se no período de 1378 1417, durante o qual houve diversos papas ao mesmo tempo: a França e seus aliados obedeciam ao Papa de Avignon, enquanto a Alemanha, a Itália e a Inglaterra ao de Roma. No caso do santo Huss, acusado de heresia, não se sabia a quem recorrer porque a igreja estava dividida. Daí porque a pedido do imperador Sigismundo, o Papa João XXIII - um dos três papas rivais - convocou um concilio geral na cidade de Constança, ao qual compareceram, como réus, o excomungado John Huss e o papa João XXIII, este acusado por vários crimes cometidos durante seu ministério no período de 1410 a 1415: fortificação, adultério, incesto, sodomia, roubo, simonia, assassinato. “Foi provado, por uma legião de testemunhas, que ele havia seduzido e violado trezentas freiras, e que havia montado um harém em Boulogne onde não menos de duzentas meninas tinham sido vitimas de sua lubricidade’. Condenaram-no por cinqüenta e quatro crimes. Deus colocou num mesmo tribunal um” herege “e um papa. O único” crime “do santo Huss fora o não se submeter á vontade de Roma. Por isso, foi condenado á fogueira. Antes da fogueira, Huss foi preso e lançado numa masmorra. Da prisão escreveu a um amigo: Escrevo esta carta na prisão e com as mãos algemadas, esperando a sentença de morte para manhã... Quando, com o auxilio de Jesus Cristo, de novo nos encontrarmos na deliciosa paz da vida futura, sabereis quão misericordioso Deus se mostrou para comigo, quão eficazmente me sustentou em meio de tentações e provas. Em outra carta disse: Que a glória de Deus e a salvação das almas ocupem a tua mente, e não a posse de benefícios e bens. Acautela-te de adornar tua casa mais do que a tua alma; e, acima de tudo, dá teu cuidado ao edifício espiritual. Sê piedoso e humilde para com os pobres, e não consumas haveres em festas. Antes de ser levado ao local da execução, deu-se à cerimônia da degradação: as vestes sacerdotais do santo Huss foram arrancadas e sobre sua cabeça colocaram uma carapuça de papel com a inscrição “Arqui-herege”. Com muito prazer, disse Huss, levarei sobre a cabeça esta coroa de ignomínia por Teu amor ó Jesus, que por mim levaste uma coroa de espinhos; invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei foi dito com o fim de livrar almas do pecado e perdição; e, portanto, muito alegremente confirmarei com meu sangue a verdade que escrevi e preguei. As chamas começaram a tomar conta do seu corpo. Huss orou várias vezes até perder a voz: “JESUS, FILHO DE DAVI, TEM MISERICÓRDIA DE MIM”. O martírio do santo Huss se deu em 6 de julho de 1415, no mesmo dia de sua condenação. Naquele mesmo dia o santo John Huss se encontrou com Jesus, no Paraíso.


JERÔNIMO DE PRAGA (1360-1416)
São Jerônimo, embora consciente do risco que corria, apresentou-se ao Concilio de Constança (sudoeste da Alemanha), ano de 1414, para defender os ensinos do seu amigo John Huss, e dar testemunho de sua fé. Logo após haver confirmado suas idéias “heréticas”, foi encarcerado numa masmorra, alimentado a pão e água. Doente, debilitado e abandonado por amigos, cedeu á pressão dos inquisidores e declarou que retornaria á fé católica. Ainda assim, retornou á prisão e lá permaneceu por trezentos e quarenta dias. Durante esse tempo, refletiu sobre a sua fraqueza de fé e se sentiu envergonhado de haver cedido. Verificou que não valia a pena negar as verdades bíblicas para salvar a pele. Novamente perante o concílio, Jerônimo falou: Estou pronto para morrer. Não recuarei diante dos tormentos que me estão preparados por meus inimigos e falsas testemunhas, que um dia terão que prestar contas de suas imposturas diante do grande Deus, a quem nada pode enganar. De todos os pecados que cometi desde minha juventude, nenhum pesa tão gravemente em meu espírito e me acusa tão pungente remorso, como aqueles que cometi neste lugar fatídico, quando aprovei a iníqua sentença dada contra Wycliffe e com o santo mártir John Huss, meu mestre e amigo. E prosseguiu Jerônimo: Confesso-o de todo o coração e declaro com horror, que desgraçadamente fraquejei quando, por medo da morte, condenei suas doutrinas. Portanto, suplico a Deus Todo-poderoso se digne perdoar meus pecados, e em particular este, O MAIS HEDIONDO DE TODOS. Provai-me pelas escrituras que estou em erro, e o abjurarei. São as tradições dos homens mais dignas de fé do que o evangelho do nosso Salvador?
São Jerônimo foi logo levado á fogueira. Quando as chamas começaram a queimar seu corpo, orou ao Pai: “Senhor, Pai Todo-poderoso, tem piedade de mim e perdoa os meus pecados; pois sabes que sempre amei Tua verdade”.

JOANA D’ARC (1412-1431)
Uma das milhares de vitimas dos autos-de-fé do Santo oficio. Dizendo-se enviada por Deus, ela desejou e conseguiu, embora parcialmente, livrar sua Pátria, a França, da dominação inglesa. A “heroína da França” não se livrou das mãos dos inquisidores. Por causa de suas ousadas atitudes, foi acusada de feiticeira, sortilega, bruxa, pseudoprofeta, invocadora de espíritos malignos, idólatra maldita e amaldiçoada, escandalosa, sediosa, perturbadora da paz do país, incitadora de guerras, cruelmente sequiosa de sangue humano, mentirosa, perniciosa, abusadora do povo, mágica, supersticiosa, cruel, dissoluta, invocadora de diabos, apóstata, cismática e herege. Joana d’arc vitima de uma traição, é feita prisioneira e entregue ao tribunal da inquisição para julgamento espiritual. O inquérito é comandado pelo Bispo Messire Pierre Cauchon, bispo de Beauvais, a quem coube intermediar o resgate da donzela por dez mil escudos franceses, a fim de ser entregue ao Vigário Geral da inquisição da fé no Reino de França. A alegação era a de que, por ela, “Deus tinha sido ofendido sem medida, a fé excessivamente afrontada, e a igreja desonrada”. O tribunal da inquisição funcionava assim: se o réu reconhece a culpa, há esperança de ser reconduzido ao rebanho de Deus, e será condenado á prisão perpétua; se não se retrata, será torturada uma vez. Como a tortura não podia ser renovada, era apenas “interrompida” no caso de desmaio. A nova sessão de tortura seria uma continuação, e não uma nova tortura. Lembremos que o emprego da tortura foi permitido pelo Papa Inocêncio III.
Condenada a ser queimada viva como relapsa, herética e feiticeira, Joana d’Arc foi supliciada publicamente na praça do Mercado Velho, em Rouen (França), em 30 de maio 1431. Por ato do Papa Bento V, em 1920, a “maldita” donzela foi canonizada. Aos olhos da Igreja Católica ela, agora, é uma santa. Aos olhos de Deus, ela sempre foi uma santa, a Santa Joana d’Arc.

MARTINHO LUTERO (1483-1546)
Considerado o fundador da doutrina protestante, o santo Lutero, de naturalidade alemã, doutourou-se em Teologia pela Universidade de Wittenberg, e, por esse tempo, leu pela primeira vez a Bíblia. Tendo sido tomado de um imenso desejo de Ter uma comunhão mais estreita com Deus, resolveu ser monge e entrou na Ordem dos Agostinianos, no ano de 1505. Lutero levava uma vida de simplicidade, de jejum e orações. A leitura da Bíblia lhe havia despertado a consciência. Foi tocado pela luz do Evangelho e estava decidido em caminhar no caminho chamado Jesus. Em 1510, esteve sete meses em Roma, a fim de tratar assuntos relacionados com a Ordem, e voltou de lá impressionado com o que vira: luxo, pompa, casas suntuosas para os monges que não raro de banqueteavam fartamente. E não apenas isso. Ele se encheu de espanto ao ver a iniqüidade entre o clero, “gracejos imorais dos prelados, profanidade durante a missa, desregramento e libertinagem”. Ninguém pode imaginar, escreveu ele, que pecados e ações infames se cometem em Roma... Se há inferno, Roma está construída sobre ele. Ainda em Roma, quando fazia penitência subindo de joelhos a “escada de Pilatos”, ouviu uma voz dizendo: O justo viverá pela fé (Rm. 1.17). Entendeu, então, que os homens não podem alcançar a salvação por suas obras. As penitências exigidas pelo clero romano não tinham valor algum. Seu afastamento de Roma se tornou cada vez maior. Lutero se indignou com a venda de indulgências. Pecados cometidos, ou os que porventura fossem praticados no futuro, eram perdoados pela igreja, bastando que o pecador pagasse certa quantia. Lutero pregava que somente o arrependimento e a fé em Jesus Cristo poderiam salvar o pecador. O destemido sacerdote resolveu tomar atitude extrema. Afixou na porta da igreja de Wittenberg noventa e cinco teses contra as indulgências. Com base na Bíblia, mostrava que o papa nem qualquer homem podem perdoar pecados. Mostrava que a graça de Deus é livremente concedida a todos os que buscam com arrependimento e fé. Rapidamente os ensinos de Lutero se espalharam pela Europa, e as verdades bíblicas começaram a se instalar nos corações. “ASSIM SERÁ A PALAVRA QUE SAIR DA MINHA BOCA: ELA NÃO VOLTARÁ PARA MIM VAZIA, MAS FARÁ O QUE ME APRAZ, E PROSPERARÁ NAQUILO PARA QUE A ENVIE” (Isaias 55-11).
“Aquele que deseja proclamar a verdade de Cristo ao mundo, deve esperar a morte a cada momento”. Com esse pensamento Lutero se dirigiu a Augsburgo, cidade alemã, onde se defrontaria com os representantes do Papa Leão X. Convidado a retratar-se, Lutero não se dobrou diante de ameaças e confirmou todas as verdades que dissera em seus escritos. Não poderia renunciar á verdade. O prelado inquisidor, cheio de ódio, disse-lhe: “Retrate-se ou mandá-lo-ei a Roma”. Roma seria o fim do caminho, o caminho da morte, a morte na fogueira, tal qual acontecera com seu amigo John Huss. Na madrugada do dia seguinte, estando a cidade às escuras, Lutero conseguiu se evadir de Augsburgo contando, para isso, com a ajuda de amigos. Escapou milagrosamente das mãos do representante papal que intentara prendê-lo. Embora diante de tantas dificuldades, já classificado de herege, excomungado e condenado, Lutero não diminuiu suas severas criticas ao papado e às doutrinas romanas. Disse. “Estou lendo os decretos do pontífice e... não sei de o papa é o próprio anticristo, ou seu apóstolo...”. Enquanto isso os papas intensificavam o negócio das indulgências. O Papa Alexandre VI, predecessor de Júlio II, foi quem instituiu a venda de indulgências, pois precisava de dinheiro para adornar com diamantes e pérolas a filha Lucrécia Bórgia. Esse papa não só foi amante de sua própria filha, a célebre Lucrécia Bórgia, como foi amante, também, da irmã de um cardeal que se tornou o papa seguinte, Pio III, em 1503. Os papas Júlio II e Leão X, por sua vez, apelaram para o rendoso comércio do perdão, aquele tendo em mira a construção da Basílica de São Pedro e este para satisfazer seus gastos supérfluos. Assim que o dinheiro tilinta na caixa, a alma salta fora do purgatório. Ninguém mais se importava em pecar e a moralidade estava em baixa. Se algum padre desejasse impor alguma penitência, os fiéis apresentavam o documento comprovando a compra do perdão divino. Enquanto a igreja de Roma subtraia elevados recursos financeiros ao povo, com heresias, superstições e ameaças, Lutero se aprofundava no estudo da Bíblia. Declarava abertamente que não havia distinção entre pecado mortal e pecado venial-como dizia o catolicismo, pois, afirmava, pecado é pecado, sem gradação, e qualquer pecado leva ao inferno, pois afasta o pecador de Deus. Boa parte de seus sermões era destinada a protestar contra o comércio das indulgências, dizendo que estas eram inúteis. E perguntava: Se o papa pode libertar as almas do purgatório quando lhe dão dinheiro, por que não esvazia de uma vez o purgatório? Abrimos aqui um parêntese para perguntar: se as missas de sétimo dia podem livrar as almas do purgatório, por que não se faz uma única missa (um missão) em favor de todas as almas e as livra de uma só vez do fogo purificador? Martinho Lutero continuou derrubando uma a uma, com a palavra, as doutrinas romanas. A um enviado do Papa Leão X, que lhe propôs uma reconciliação e alegou, como argumento, a autoridade do papa, Lutero respondeu com firmeza: Só na Bíblia e não no papa reside a autoridade. E continuou: O próprio Cristo é o chefe da igreja e não o papa. Não lhe é permitido estabelecer um artigo de fé, sem base bíblica. O papa é soberano legitimo, não com direito divino, mas humano. No dia 15 de junho de 1520, com a bula Exurge, o Papa Leão X. condenou quarenta e uma proposições de Lutero, ameaçando-o de excomunhão, se não se retratasse dentro de sessenta dias. Essa bula condenava, em suma, a liberdade de consciência. O Historiador Schaff assim definiu o documento em que estado de servidão intelectual estaria o mundo atualmente, se o poder de Roma houvesse conseguido esmagar a reforma. Difícil será avaliar quanto devemos a Martinho Lutero, no terreno da liberdade e do progresso... Num gesto memorável de audácia, destemor e ousadia, Lutero queimou a bula papal em praça pública a 10 de dezembro de 1520. Por mais uma vez Lutero compareceu: diante dos emissários de Roma. Aconselhado a não se apresentar em razão do risco que corria, Lutero respondeu: Ainda que acendessem por todo o caminho de Worms a Wittenberg uma fogueira... Em nome do Senhor eu caminharia pelo meio dela; compareceria perante eles... e confessaria o Senhor Jesus Cristo. Na presença do imperador Carlos V, da Alemanha, de príncipes e delegados de Roma, que esperavam uma retratação do excomungado herege, Lutero falou: visto que vossa sereníssima majestade e vossas nobres altezas exigem de mim resposta clara, simples e precisa, dar-vo-la-ei, e é esta: não posso submeter minha fé, quer ao papa, quer aos concílios, porque é claro como o dia que eles têm freqüentemente errado e se contradito um ao outro. A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras... Não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; queira Deus ajudar-me. Amém. As tentativas de reconciliação do sacerdote Martinho Lutero com o papado, ou seja, os planos de fazê-lo voltar ao aprisco de Roma fracassaram todos: Consinto em que o imperador, os príncipes e mesmo o mais obscuro cristão examinem e julguem os meus livros; mas sob uma condição: que tomem a palavra de Deus como norma. Os homens nada têm a fazer senão obedecer-lhe. No tocante á palavra de Deus e á fé, todo cristão é juiz tão bom como pode ser o próprio papa, embora apoiado por um milhão de concílios.

O concílio em Worms não se deteve em examinar, pelas Escrituras, as verdades contidas nos pronunciamentos e escritos de Lutero. Deus não quer-dizia ele - que o homem se submeta ao homem, pois tal submissão em assuntos espirituais é verdadeiro culto, e este deve ser prestado unicamente ao criador. Alertado de que estava proibido de subir ao púlpito, recusou-se a obedecer: Nunca me comprometi a acorrentar a palavra de Deus, nem o farei.

LUTERO LIVRA-SE DA FOGUEIRA
Tão logo expirasse o prazo de um salvo-conduto que o imperador lhe concedera, Lutero, conforme resolução do concílio, deveria ser preso, todos os seus escritos destruídos; a ninguém era permitido dar-lhe comida ou bebida, e os seus discípulos sofreriam igual condenação. Isto, em outras palavras, significava FOGUEIRA. O plano de Deus era outro. Para livrá-lo da fogueira um grupo de amigos “seqüestrou” a Lutero e o transportou, através da floresta, para o castelo de Wartburgo, construído nas montanhas, e de difícil acesso. Lutero alguns anos depois saiu daquele castelo e continuou fazendo discípulos e pregando o Evangelho da salvação. A reforma estava implantada. A Luz alcançava muitos paises. Iluminou a Europa, as Américas, a América do Sul, o Brasil... Porque ninguém pode algemar a Palavra de Deus.

GALILEU GALILEI (1564-1642)
Físico italiano fez numerosas descobertas nos campos da física e da Astronomia. Com seu telescópio (luneta) descobriu as montanhas da lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares de Vênus, os anéis de Saturno. Suas descobertas e ensinos foram considerados uma heresia pelos censores romanos. Acabrunhado, doente, preso em Roma, assinou sua retratação. Antes, os inquisidores lhe mostraram a sala de tortura e os respectivos instrumentos. Combalido e ajoelhado diante dos representantes do papa Urbano VIII, leu e assinou sua retratação: Eu Galileu Galilei, tendo sido trazido pessoalmente ao julgamento e ajoelhando-me diante de vós, Eminentíssimo e Reverendíssimo Cardeais, inquisidores gerais da comunidade cristã universal contra a depravação herética... Juro que sempre acreditei em cada artigo que a sagrada igreja católica, apostólica de Roma, sustenta, ensina e prega. Mas porque este sagrado ofício ordenou-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina... com sinceridade abjuro, maldigo e detesto os ditos erros de heresia... A diabólica inquisição não só condenou os ensinos de Galileu, mas também os de Copérnico. O tribunal inquisitório assim se pronunciou: A tese de que o sol é o centro do sistema e não se move ao redor da terra, é néscia, absurda, teologicamente falsa e herética, sendo frontalmente contrária ás escrituras. Galileu livrou-se da fogueira, mas passou vários meses sob prisão. Muito doente e cego veio a falecer no dia 8 de janeiro de 1642. E a igreja de Roma acabava de escrever mais um capitulo de terror em sua história. Em janeiro de 1998, o Papa João Paulo II, formalizou o tardio pedido de perdão ao notável astrônomo Galileu. Podemos imaginar quão constrangedor para esse notável homem foi ajoelhar-se diante de uma corte devassa e negar anos e anos de estudo e observação. Dizem que Galileu, antes de morrer, balbuciou: “a terra por si se move”.

MÁRTIRES ANÔNIMOS
Wycliffe, Huss, Jerônimo e Lutero foram citados apenas com exemplo. O caminho da fogueira foi trilhado por milhares e milhares de mártires anônimos, gente simples, discípulos fervorosos, pessoas indefesas e pobres, homens, mulheres, jovens, velhos e crianças, vítimas da sanha assassina dos representantes da poderosa Igreja Católica Romana, que, aliada ao poder das armas, teve a pretensão de ser universal e de impor suas doutrinas aos seus súditos. Mártires anônimos foram os albigenses e os valdenses; mártir quase desconhecido foi Luiz de Berquin, que, apaixonado pelo Evangelho, foi estrangulado e queimado em 1529 sem tempo para dar uma última palavra; mártires anônimos foram muitos franceses queimados vivos com requintes de crueldade, sem direito a defesa. A todos esses homens de fé e de coragem, baluartes da defesa das Sagradas Escrituras como única fonte de autoridade, a eles nossa homenagem póstuma, nossa gratidão, nossa admiração pelo que fizeram em prol de um cristianismo livre de heresias, de idolatria, de práticas pagãs.

UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE
Recuso-me a chamar a INQUISIÇÂO de santo oficio ou de santa inquisição. Seria santa se inspirada por Deus ou a seu serviço. Não foi de inspiração divina porque Deus é amor. Deus não gera o ódio nos corações dos homens. Ele não é a fonte do mal. Não foi de inspiração divina a inquisição porque Deus não iria perseguir, torturar e executar homens e mulheres que defendiam as escrituras sagradas, ou seja, a Palavra de Deus; não foi de inspiração divina porque muitos dos papas que direta ou indiretamente comandaram os massacres - papas, frades, monges, padres, cardeais (o clero romano)-não possuíam a direção do Espírito Santo, pois foram chamados de “antipapas” em razão do baixo nível moral em que viviam (adultério, imoralidade sexual, estupros, luxúria, etc).Quem comandou a inquisição ou os tribunais Eclesiásticos foi o próprio Satanás. O maior inimigo de Deus e do homem, ele, o Diabo, foi quem arquitetou esse plano diabólico nos palácios de Roma, pois ele era e é o mais interessado em algemar a palavra de Deus; em não permitir a divulgação e propagação do Evangelho; em cristianizar o paganismo ou paganizar o cristianismo. A inquisição teve, portanto, origem diabólica. O paradoxo é que esse crime contra a humanidade foi urdido no seio de uma igreja que se declarou infalível e dona da verdade. Em nenhuma outra época se assistiu com tanta realidade o cumprimento da profecia de Jesus: Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos... e este evangelho do reino será pregado em todo



INTRODUÇÃO

O PANORAMA DA IDADE MÉDIA

O período medieval compreende os mil anos desde a queda de Roma até o romper da reforma protestante.
Foi na queda do Império pelas tribos teutônicas em 476, politicamente falando, iniciou-se a era medieval, enquanto a coroação de Carlos Magno e a fundação do Santo Império Romano, marcam seus princípios na história eclesiástica. O Cristianismo medieval limita-se quase exclusivamente ao Ocidente, mais precisamente na Itália, Espanha, Gália, Grã-Bretanha e Alemanha, onde os povos teutônicos-latinos desenvolveram as cidades e toda a civilização ocidental. Os dois séculos entre a queda de Roma e a formação do Império Romano constituíram uma catástrofe para a sociedade civilizada, muita desordem e destruição marcaram essa época da nossa história. No oriente a destruição era ainda mais completa, porque a força da igreja foi quebrada e “a cruz foi suplantada pelo Crescente”, no sétimo século uma grande onda de povos semíticos, os maometanos, começando na Arábia, e logo invadiram á Síria, Palestina, Egito e Pérsia, depois foi a vez de Constantinopla, norte da África, Espanha. O maometismo aniquilou a vida da igreja no Império do Oriente, foi permitida a continuação dos patriarcas em Alexandria, Antioquia, e Jerusalém, mas o progresso e a expansão da igreja foram completamente de interrompidos. A igreja Grega petrificou-se e tem continuado assim até nossos dias. As nações eslavas receberam o alfabeto, e os elementos de educação das igrejas, mas nações eslavas não tiveram a capacidade para revivicar o mundo grego. Foi uma época de transição e reconstrução, a igreja transmitiu ás tribos teutônicas a herança das civilizações greco-romana e o Cristianismo, e estes elementos junto com a vida e o vigor teutônicos como: respeito á mulher, senso de honra amor á liberdade tornaram-se os princípios proeminentes da nova civilização latina. A civilização medieval foi um produto de três influências que estabeleceram um elo entre si, são elas a velha civilização greco-romana, o Cristianismo, e a vida do povo teutônico. É comum dizer que essa época foi de estagnação histórica, mas os dez séculos que a acompanharam serviram como uma corrente dágua que mais explodiu enchendo de vigor as instituições sociais e políticas, modificando e adaptando-as á civilização moderna. Do ponto de vista religioso, percebemos por muitos fatores que o progresso foi apenas em devassidão e muito desvantajoso, mas a igreja consegue se manter, pois mesmo com as práticas e abusos da igreja hierárquica, ainda são encontrados cristãos legítimos e sinceros, que vivem uma vida pura como os apóstolos de Cristo. Assim chegamos a concluir que apesar de sucessivos desastres de um legado repletas de corrupções e fraquezas muitas chagas ainda hoje não cicatrizaram, fazendo do mundo moderno e um reflexo de uma época de injustiças.


A IGREJA DO ORIENTE DEPOIS DAS CONQUISTA ÁRABES



I - A EXPASÃO DO CRISTIANISMO BIZANTINO


Após o povo Germânico, outros povos se estabeleceram na Europa Central, o povo mais populoso foi Eslavo suas ramificações ocuparam o que hoje conhecemos com Polônia, os paises Bálticos, parte da Rússia, Checoslováquia, Iugoslávia e Grécia. A parte Eslava que havia cruzado o Danúbio estava possivelmente sob regime do governo de Constantinopla, e as demais estavam divididas em diversas tribos e reinos. Os búlgaros também haviam tomado parte das margens do Danúbio, e governavam uma população formada por Eslavos, e antigos súditos de Bizâncio, e por essa razão Constantinopla teria que cuidar das suas fronteiras não só contra os mulçumanos (a leste e ao sul), mas também á norte contra os búlgaros. Por essa razão a carta enviada á Constantinopla pelo Imperador da Moravia, foi recebida com grande euforia, pois o povo Moravio, era Eslavo, e habitavam o território ao norte dos Búlgaros, sendo assim uma aliança com os morávios seria como ficar livre de um ataque. Os morávois queriam unir-se á Constantinopla e integra-se ao império do oriente, pois durante anos foram alvos da conversão dos Germânicos do Oeste, mas essa conversão ao cristianismo Ocidental, não era vista com bons olhos, pois percebiam neste ato uma forma de escravizar-se á Roma. Em resposta á carta de Ratislau, o então Imperador de Constantinopla (Miguel Cerulário) enviou dois missionários, Cirilo e Metódio, eles haviam vivido nos Bálcãs, junto aos eslavos e conheciam bem seu idioma. Os missionários dedicaram-se ao ensino, a pregação e a organização da igreja, um dos feitos mais importante foi que colocaram o idioma eslavo em forma de escrita criando o alfabeto cirílico, depois traduziram a Bíblia e a liturgia da igreja. Percebendo que a Moraiva estava num processo de conversão em massa, pelo trabalho dos missionários, os Germanos começaram a lançar intrigas á eles como forma de desestruturar o trabalho e dominar político e religiosamente á Moraiva. Acusaram de hereges os missionários, mas os Papas Adriano II e João VII, tomaram partido contra dos Germanos e consagraram Metódio arcebispo de Sirmio sob jurisdição de toda área disputada, ficando assim sob proteção de Roma. Em 906, a igreja fundada por Cirilo e Metódio desapareceu com a invasão dos povos Magiares (húngaros), desfazendo o reino Morávio. O povo eslavo se dissipou, uns seguiram Bizâncio, outros se uniram á Cristandade Ocidental, sendo hoje percebido em diversos paises como; Polônia, Estônia, Letônia, e outros, enquanto a Rússia seguiu á tradição Oriental. Antes de falarmos do processo de conversão da Rússia, devemos analisar os fatos ocorridos entre os Búlgaros, em 865 o então rei dos Búlgaros, Boris decidiu abraçar a fé cristã (ouviu do cristianismo através dos missionários latinos que estavam em terras). Boris foi batizado, e na ânsia de que seu país pudesse Ter um arcebispo permanente, entrou em contato com Fócio que era patriarca em Constantinopla, mas Fócio que muitas explicações deixando o rei deverás irritado, Boris decidiu então pedir ajuda diretamente ao Papa Nicolau, e esse lhe atendeu prontamente enviando-lhe dois bispos um deles era Formoso de Oporto, que logo ganhou a apreço do rei, mas como formoso já era bispo em outra cidade, não poderia assumir o arcebispado na Bulgária. Mas foi o patriarca de Constantinopla que enviou um arcebispo e vários bispos para organizarem a igreja da Bulgária, o que pudemos perceber era que o imperador Boris estava impaciente em firmar a igreja em seu país, vários estudiosos dizem que sua conversão pelo que se tem em documentos foi muito verdadeira e sincera. Logo deixou a vida monástica passando a coroa a seu filho Vladimir, que logo encabeçou uma reação pagã, percebendo isso seu pai afasta-o do trono e proclama seu irmão mais novo (Simeão), rei da Bulgária. Com Simeão o cristianismo se desenvolveu, a Bíblia foi traduzida para á língua búlgara, e outros livros sobre religião, a igreja seguiu as tradições Orientais, mas firmou a independência de Constantinopla, em 917 o rei tomou o titulo de “czar”, ou imperador e seu arcebispo em 927 foi intitulado “Patriarca” mas só mais tarde esses títulos foram reconhecidos por Constantinopla. A Rússia foi outro país onde as missões bizantinas tiveram um êxito notável, a população na sua maioria Eslava, se encontrava submetida a um governo escandinavo que invadiu o país, vindo do norte. Os Escandinavos nesta época (por volta de 927), começaram uma série de ataques por toda a Europa, e suas conquistas Europa Oriental, tornando assim danos da Rússia. Por volta de 950, a então rainha Olga (da Rússia) se converteu ao cristianismo e com ela todos os seus súditos, logo depois seu neto Vladimir continuou a empreitada na conversão do seu país, levando muitos á fonte batismal (há muita controvérsia quanto essas conversões em massa, levando á crer em uma coação por parte do rei). O filho de Vladimir, Laroslau continuou a sua obra e estabeleceu laços cada vez mais íntimos com Constantinopla e se distanciou do cristianismo ocidental. Em 1240, os mongóis invadem o país e dominam por mais de dois séculos, e foi a segurança religiosa que propiciou que os Russos conseguissem viver o momento de dominação. O cristianismo bizantino (oriental) apesar de Ter sido constantemente ameaçado por mulçumanos, búlgaros, e sobrevive até hoje.


AS RELAÇÕES COM ROMA

Roma já não precisava de apoio de Constantinopla, pois com Carlos Magno e seus sucessores haviam se solidificado com nação. Para os ocidentais, o cristianismo oriental estava muito subordinado aos caprichos de seus imperadores, e se deixava levar pelas heresias, mas por sua vez o povo do oriente não aceitava o cristianismo ocidental, por pregarem a supremacia que os papas deram a si mesmos como sendo eles uma “autoridade universal”, e não mais como patriarcas. Todos esses percalços levaram e um cisma entre o oriente e o ocidente, nas pessoas de Fócio e o papa Nicolau I, os dois brigaram pelo domínio religioso da Bulgária.


ANTES DO ALVORECER, A NOITE ESCURA

II

A IGREJA DO OCIDENTE

Por algum tempo parecia que a Europa ocidental, por liderança de Carlos Magno, havia saído da era das trevas, e das invasões germânicas dos séculos IV e V, mas ainda haveria muito por lutar. Durante muitos anos o território que compreende a Suécia, Noruega, e Dinamarca, foi dominado pelos escandinavos, esses povos até o século VIII eram considerados sedentários, mas desenvolveram arte da navegação e começaram a dominar os mares mais próximos, suas embarcações eram grandes, (cerca de 20 metros), acomodava mais de 80 homens assim passaram a ser chamados de “normandos” ou seja, homens do norte. Esses homens eram ferozes, bárbaros, saqueavam igrejas, palácios, mosteiros, capturavam pessoas e as faziam de escravos, eles semeavam um grande temor em toda Europa. Eram místicos, sua religião assegurava para o soldado morto em combate que ele seria levado pelas formosas “Valquírias”, ao paraíso o “valhala”, as ilhas britânicas e o norte da França á principio foram os seus ataques sangrentos. Logo expandiram e aumentaram sua área dominada, a Inglaterra foi o único país que conseguiu resistir á invasão. Na França os “normandos”, saquearam cidades como Bordeux, Nantes, e Paris, (845), na Espanha saquearam lugares cristãos e mulçumanos como Sevilha Santiago de Compostela e outros. Mais tarde começaram atacar ás costas do mediterrâneo, sul da Itália e Sicília (onde expulsaram os mulçumanos e fundaram um reino normando), esta fase é descrita por um historiador como “um século escuro de ferro e chumbo”. Do ponto de vista político, o império conseguiu manter certo equilíbrio, mas do ponto de vista religioso foi um marco da decadência do papado, e anos mais tarde os normandos na sua maioria tornaram-se cristãos.

OS MAGIARES/ HÚNGAROS

Enquanto os normandos atropelavam a cristandade ocidental, vindos do norte, outro povo invadia o leste, eram os “magiares”, que foram chamados de húngaros (por terem um comportamento severo como os hunos do século anterior, outros paises foram invadidos como a Alemanha, e Bungúndia até o sul da Itália). Por onde passavam destruíam e causavam medo e pavor, mas em 936 o então imperador Henrique I os derrotou de maneira quase total, e após esse desfecho, nunca mais os ataques foram os mesmos. Os húngaros foram aos poucos assimilando a cultura dos alemães (seus vizinhos), e dos eslavos sobre quem dominavam. Missionários Alemães e do império Bizantino chegaram á Hungria, levando á palavra do Senhor, e no final do século X, o rei Gueisa recebeu o batismo, junto com sua corte e o seu herdeiro Vaik. Esse continuou o processo de conversão de sua corte, e pela força ordenou o batismo a todos os seus súditos.

O PAPADO DURANTE A ERA MEDIEVAL

III

(800-1268)

A coroação de Carlos Magno abriu na história politico-eclesiástica da Europa, um período novo, no qual dois poderes, o civil e o papal aparecem intimamente ligados em busca de um ideal comum de poder e domínio. Leão III (795-816), foi de suas mãos que Carlos Magno recebeu em Roma a coroação imperial em 800. Estevão IV (816-817), deve ser evidenciado o fato de Luiz, o Pio, Ter mostrado uma consideração elevadíssima pelo papa. Gregório IV(827-844), foram nestes dias que apareceram os documentos falsos da prerrogativa Papal, documentos permitiam a supremacia Papal. Nicolau I (858-867), procurou reafirmar a sua supremacia Papal aproveitando-se dos documentos falsos. Adrião II (867-872), não conseguiu dar ao papado uma autoridade como o seu antecessor, era um homem sem iniciativa. João VII (872-882), período difícil em que o papa teve que pedir a proteção do imperador Carlos Magno, e depois se sujeitar á humilhação dos sarracenos, e morreu com um golpe de machado no crânio depois de ser envenenado por seu próprio auxiliar. Papas de 882 á 903 caracteriza-se este período pela torpe degradação em que rastejaram os detentores do poder Papal. O papa Formoso subiu ao poder em 891, e dois anos depois foi morto envenenado. Estevão VI, seu sucessor, foi aprisionado e morto. Marino, o pontifício durou apenas três meses. João X, não demonstrou nenhuma autoridade junto ao clero. Leão V foi morto pelo seu próprio capelão apenas oito meses de pontificado.

Papas de (903-962),

Sérgio III, influência feminina sobre o poder papal.
João XII é visto como o pontificado mais leviano e imoral de todos.
Leão VIII, substituto de João XII.

Silvestre II (999), Henrique II, que instituiu medidas severas para salvar o clero da dissolução em que se encontrava.
Hildebrando (1073), foi aclamado como sendo o maior estadista eclesiástico da idade média.

I V
A DECADÊNCIA DO PAPADO

A decadência do papado não foi tão rápida como a queda do poder carolíngio, sua autoridade ainda prevaleceu por algum tempo, quando faltou a unidade imperial eles foram á única fonte de autoridade na Europa Ocidental. Neste período 858 á 867, Nicolau I, foi o papa mais notável, seu poder viu aumentado pelos documentos supostamente “os falsos decretos”, o fato era que Nicolau cria juntamente com toda Europa que os decretos eram genuínos. Grande parte de sua atuação foi em prol da paz, era defensor do povo e essa atitude deixava a corte irritada, a partir de então os papas se sucederam uns aos outros com muita rapidez, sua história fica tão complicada e cheia de intrigas que fica difícil mencionar todas elas, (na história da igreja houve época de haver três papas). A reforma da igreja iria começar, depois de muitos anos em trevas, com o papa Gregório VI, mas não tardou em encontrar muitos obstáculos, em meio á este caos, Henrique III, da Alemanha decidiu intervir, reuniu um sínodo em Sutri 1046, e segundo a orientação real, declarou deposto os três papas e nomeou Clemente II, além disso, promulgou uma séria de decretos contra a corrupção eclesiástica e contra ás indulgências da igreja. Com um propósito fiel, Bruno, foi escolhido pelo imperador a assumir o papado, primeiro quis chegar á Roma e esperar a aceitação ou não do pontificado. Bruno partiu para Roma, junto com Hildebrando e Humberto, depois de séculos de trevas, a cristandade ocidental clamava por uma nova luz.


V
DIVISÃO ENTRE AS IGREJAS ORIENTAL E OCIDENTAL

Antes do fim do último período, diferenças consideráveis em doutrinas e práticas se haviam desenvolvido em diversas partes, profundas rivalidades entre Roma e Constantinopla haviam provocado grandes contendas e ódios, as causas principais eram, raça, língua, e características mentais e morais. O oriente era de raça grega, falava grego, usava o grego no culto e sua teologia foi escrita em grego. O ocidente era latino, e usava a língua latina do mesmo modo, além desta diferenças de raça e língua, os meios de comunicação entre as duas partes do mundo eram deficientes e vagarosos. Estas diferenças aumentavam cada vez mais, e dificultavam a aproximação entre os dois povos, enquanto o oriente paralisava suas forças e circunscrevia o campo de suas atividades, o ocidente continuava a desenvolver-se na sua esfera secular e eclesiástica. Chegou-se a conclusão de que as diferenças eram de caráter religioso, rompendo-se definitivamente os laços fraternais em 867, dessa data em diante trava-se uma luta sem tréguas entre o oriente e o ocidente até 1054, o papa e o patriarca se excomungam, junto com os seguidores condenados á perdição, estava consumado o cisma cabendo ás glórias a Miguel Cerulário, bispo de Constantinopla, e a Leão IX, bispo de Roma. As diferenças eram mais de caráter práticos que doutrinários, a igreja oriental, por exemplo, permite o casamento do clero inferior, enquanto o ocidental não o permite, no ocidente o padre se barbeia, ao passo que no oriente não podem fazer, os do ocidente usam pães asmos na comunhão, e o oriente usa pão fermentado, os do ocidente cultuam imagens em seus templos, enquanto o oriente usam quadros representativos de diversos santos, (ícones), no oriente pratica-se a imersão trina, no ocidente batiza-se de qualquer modo, as datas da celebração da Páscoa e Natal são diferentes, o oriente diz que o Espírito Santo procede do Pai pelo Filho, e o ocidente que procede do pai e do filho. Nos concílios de Lião (1274), e Florença (1439), várias tentativas foram colocadas como opções para que as duas igrejas deixassem o cisma, mas foi em vão e a hostilidade é percebida até hoje.


VI

MOVIMENTOS DOS POVOS E SUA CRISTIANIZAÇÃO
NO OCIDENTE

No ocidente neste período não se notam grandes movimentos iguais os de épocas anteriores, as condições raciais e políticas eram mais ou menos estáveis. Os Mouros na Espanha impeliu gradativamente os mouros para a África de onde vieram, á partir daí se organizaram em pequenos reinos e em 1492, destruíram por completo o que ainda restava da força militar maometana, depois os cristãos reinaram sobre toda a península ibérica, depois unificaram os governos ficando apenas dois Espanha e Portugal.
Os normandos na França e Inglaterra, o duque de Normandia, conquistaram a Inglaterra em 1066, mas não abriu mão de seu domínio na França, por isso uma parte da França foi anexada á Inglaterra, por casamentos e conquistas esse território foi aumentado que quase a Inglaterra dominou toda á França ocasionando uma guerra de cem anos.

NA EUROPA CENTRAL

Invasão dos Magiares, parecem ter sido uma mistura de elementos fino-húngaros e turcos, na década do século, nono, eles começaram a saquear a Morávia e a Panônia em 995 migraram para um território conhecido como Hungria e permaneceram com colônias fixas, deste lugar os magiares invadiram várias vezes a Itália e a Europa Ocidental. O avanço dos Turcos, sobre as ruínas dos Seljuks, fundou-se outra nação turca, mais forte e poderosa, esse império foi fundado por Otmã no centro da Ásia em 1300, dentro de quarenta anos já haviam destruído todo o governo cristão na Ásia, no fim do período o império Otomano estendia-se do Danúbio ás Cataratas do Nilo e do Eufrates até o meio do mediterrâneo. A igreja Grega tornou-se uma instituição política cuja função principal era servir aos seus senhores, os turcos, permitiu-se o cristianismo abafado, igrejas foram transformadas em mesquitas, foram dias de muito sofrimento para o povo cristão.

NO ORIENTE

Os mongóis ou tártaros, exerceram grande poder sobre o cristianismo no principio do século treze, sob liderança de Gengiscã, conquistaram todo norte da china, até o mar Cáspio. As regiões sudestes e ocidentais foram invadidas em 1237, as cidades de Kiev e Moscou foram incendiadas e o país caiu sobre jugo mongólico. Da Rússia esta divisão dos mongóis dirigiu-se ao ocidente, atravessou a Polônia e entrou na Alemanha oriental, seguiram pelas margens do Danúbio, sendo o seu caminho caracterizado pelas ruínas fumegantes das cidades, igrejas e pelos cadáveres encontrados. As hordas mongólicas, continuando o seu avanço no ocidente, destruíram o império Turco, capturaram e saquearam as cidades principais da Ásia, e chegaram quase ao mediterrâneo. O governo confederado dos Mongóis no ocidente corrompeu-se e seu poder enfraqueceu, mas no ano de 140, este povo reconstituiu suas forças sob liderança de Tamerlão, e finalmente com sua morte cinco anos depois, em 1405, foi que os Mongóis perderam definitivamente o poder, mas mesmo livre dos Mongóis a Rússia continuou sofrendo grandes pressões.

GLOSSÁRIO

BALCÃS: Terrenos agrestes caracterizados pela vegetação espinhosa.

ESCANDINAVOS: Os Suecos, Noruegueses e Dinamarqueses.

ESLAVOS: Raça Indo-Européia, muito cedo se dividiu em várias nações como: Bulgária, Moraiva, Boêmia, Polônia e Rússia receberam o cristianismo através da igreja Grega, mas com o tempo várias nações aceitaram o cristianismo romano.

FILIOQUE: Termo latino que significa literalmente “e o filho”. Tornou-se expressão significativa por ter sido acrescentada a descrição do Espírito Santo no credo Nicenoconstantinopolitano (381 d.c).

MAGIARES: “Húngaros”, mistura de elementos fino-húngaros e turcos, era um povo conquistador, vindos do norte, eram temidos por todos.

MORÁVIOS: Grupo pertencente á região da Moraiva, na sua religião pregavam a rejeição ao purgatório, e a adoração dos santos, e absoluta fraternidade dos homens sem distinção de raças.

NICOLAISMO: Grupo de heréticos, condenados no livro de Apocalipse, por fazer sacrifícios humanos aos ídolos e adorar a fornicação.

NORMANDOS: “Vikings”, povos bárbaros que conquistaram á qualquer preço muitas terras, de descendência escandinava, eram sanguinários, rudes, e causavam medo por onde passavam.

SEMITAS: Refere-se aos filhos de Sem (filho de Noé), GN 5:32, compreendem vários povos que falavam o arameano, o sírio, o caldeu, o assírio, o árabe, possuem pele trigueira, e cabelo preto e estatura elevada.

SINOMIA: Tráfico criminoso de coisas santas, vendas de objetos sagrados por parte do clero.

SINODO: Assembléia religiosa convocada por ordem de um prelado ou outro superior.


Monasticismo o Beneditino.

O porque do movimento monástico.

Crises sociais que levaram algumas pessoas a renunciar a vida social e a se retirarem para a solidão a fim de operarem a sua própria salvação.

Suas origens
No séc IV na parte oriente do império romano quando alguns leigos em sua maioria começaram a se ausentar do mundo e no final do séc VI tinha profundas raízes no ocidente e oriente.
Tentou-se exportar para a parte ocidente do império sem muito sucesso por causa das diferenças de clima e na maneira de encarar a vida cristã e a função do monasticismo nela.
Ex. de diferenças:

No oriente
Jejuns até o desfalecimento do corpo ou a falta de dormir para poder castiga-lo.
Conseguir somente a própria salvação.
Vida totalmente solitária.
Tensão constante com a igreja hierárquica.

No Ocidente
Fazer com que o corpo esteja pronto para enfrentar todo o tipo de provas.
Levar a obra de Deus adiante, lutando contra toda e qualquer injustiça social e os crimes de seu tempo (ex: Telernaco).
Vida em comunidade
Foi sempre o braço direito da Hierarquia eclesiástica (a não ser nos casos de corrupção extrema).

O Monasticismo ocidental encontrou seu fundador em Benedito de Nursia apesar de haver outros monges antes dele. Mas ele conseguiu dar ao monasticismo ocidental a sua própria personalidade.

Vida de São Benedito.
Benedito nasceu na aldeia de Nursia (Itália) por volta do ano de 480. Sua família pertencia à velha Aristocracia Romana. Retirou-se p/ viver sozinho em uma caverna onde se dedicou a uma vida totalmente ascética, levando uma vida de luta continua contra as tentações. Sua fama foi tal que numeroso grupo de monges se uniu a ele. Ele organizava em grupos de doze na tentativa de organizar a vida monástica que teve de ser interrompida quando algumas mulheres dissolutas invadiram a região. Retirou-se para montecasino derrubando um templo pagão, e ali organizando uma comunidade monástica para homens perto de uma outra onde a sua irmã gêmea Escolástica fundou p/ mulheres. Sua fama ali cresceu e vinham pessoas de todos os lugares para visitá-lo.
A regra de Benedito
Ela continha somente 73 breves capítulos. Mas o seu impacto proveio com a regra que ordena a vida monástica de forma concisa e clara, de acordo com o temperamento e as necessidades da igreja ocidental, que era um modelo de moderação em tudo que se refere a pratica ascética. Benedito diz a seus leitores que se trata de constituir uma escola p/ serviço do senhor, e não uma instituição áspera e severa. Mas em meio a tanta moderação, Benedito se mostrava firme em dois elementos, que são a permanência e a obediência. Outra característica era a regra na insistência no trabalho físico a qual todos tinham que participar, tantos os mais ricos como os mais pobres, todos ali eram iguais na divisão de trabalhos (a não ser nos casos de doença ou dotação excepcional).
O voto de pobreza era individual era para estabelecer com que o monge não poderia possuir nada, e o mosteiro lhe daria tudo o que fosse necessário, fazendo-o unir-se mais ainda a comunidade sem se gloriar dela.
Na administração dos mosteiros, a principal função dos monges era a oração e o decorar de salmos que deveriam ser citados em todo o momento pelos monges.

A expansão do monasticismo Beneditino. Os mosteiros beneditinos eram transformados em centros de estudo onde se copiava e se conservavam manuscritos, o restante da Europa se esquecia dos conhecimentos da antiguidade, e os mosteiros transformavam em centros onde se estudava e conversava estes conhecimentos. Muitas crianças eram entregue ao mosteiro e não tinham liberdade para abandonar quando chegava a idade adulta. Por causa disso se transformavam em escolas em que as crianças dedicadas à vida monástica aprendiam a ler e a escrever. E as escolas monásticas se tornaram as únicas que existiam na Europa ocidental, se tornando assim um grande impacto cultural. Seu impacto econômico não foi menor, porque eles devolveram a dignidade aos trabalhos braçais combinando a vida religiosa com os trabalhos braçais e a vida intelectual. Sua dedicação à agricultura semeou campos que estavam abandonados, dando estabilidade a um continente continuamente sacudido com guerras e rumores de guerras. O monasticismo Beneditino passou a ser o braço direito da obra missionária da igreja medieval com a conversão de pessoas muito importantes para a história do cristianismo.


SOB O REGIME DOS BÁRBAROS

O império Romano desde o seu inicio fora alvo de uma multidão de povos que queriam invadir os territórios romanizados. Esses povos cujos romanos os chamavam de bárbaros, por muito tempo habitavam as florestas e estepes da Europa Oriental durante séculos e por isso achavam Ter direito sobre as fronteiras pertencentes ao Império Romano, para se defenderem construíam fortes muralhas acampando o Reno e o Danúbio e também na Grã-Bretanha separando territórios que permaneciam em mãos desses bárbaros, para facilitar a defesa, persistiu até meados do século IV, vindo então a sucumbir com os invasores na parte ocidental do Império, perderam enfim suas forças.

CAUSAS E ETAPAS DO DESASTRE

Vários motivos foram discutidos em vista da queda do Império Romano entre eles os pagãos: que diziam que o império abandonou seus velhos deuses e esses os abandonaram. Os cristãos diziam ser o pecado o motivo da queda por haver pagão entre eles, e limitados quanto aos seus costumes e falta de fé. Os historiadores - Roma caiu por se converter ao cristianismo e também por causa dos vícios. Contudo a complexidade é muito maior que se imagina em virtude dessa queda, tornou-se impossível manter o equilíbrio que existia entre a vida dos seus súditos e as dos bárbaros. Entre o lado do Reno e do Danúbio, o lado melhor para se viver era o Reno em que os bárbaros eram atraídos pelas riquezas do Império e por outro lado se esqueciam de oferecer segurança, e com isso precisara recorrer aos ricos que fizeram uma troca, os ricos davam terras aos bárbaros e os bárbaros os defendiam como se fossem do mesmo exército Romano, mas algumas vezes se rebelavam com as autoridades locais seguindo os seus próprios interesses, a grande parte dos prejuízos causados nas margens do Mediterrâneo na verdade eram soldados do Império. Em meio aquela confusão toda os romanos foram atraídos de maneira curiosa pelos bárbaros, até mesmo as mulheres desejam casamento com os bárbaros, a princesa Monória enviou uma carta e um anel ao Huno Átila oferecendo-se a ele em casamento. Durante séculos os hunos tinham vivido nas estepes asiáticas, que são provavelmente os mesmos que aparecem nos anais chineses com o nome de Yuny-nu, onde no século III a C. foi construída a grande muralha da China cuja resistência era invencível contra eles, e com isso os hunos se expandiram para o ocidente.No principio da era cristã os hunos atravessaram os Urais penetrando na Europa, e começaram a fazer pressão sobre os povos germânicos que viviam na Europa Oriental, e em 370, os hunos caíram sobre os ostrogodos que dominavam a costa norte do Mar Negro, e destruíram seu império. Atanarico que comandava os Ostrogodos dirigiu-se para os montes causatos de onde começou a pressionar os Visigodos que sobre o comando de Fritigernes, se apresentou nas fronteiras do Danúbio pediu permissão para instalar-se em território romano, depois de muitas negociações os visigodos foram admitidos na qualidade de federados. Porém seguindo os seus próprios interesses se rebelaram e levantaram as armas contra o império. Na seqüência teve lugar a batalha de Adrianópolis (378). Derrotaram também a infantaria romana, passando até ás muralhas de Constantinopla. Enfim, em 382, o imperador Teodoro conseguiu um tratado de paz com eles. Tudo isso pela riqueza em que a paz não durou muito tempo. Roma não queria repartir suas riquezas e muito menos defendê-las, motivo pelo qual levaram os godos a continuar a guerra. Em (395) os godos novamente atacaram a Grécia, saqueando suas povoações obrigando-os a se refugiarem nas cidades muradas onde dominavam pânico e fome. Passaram também por toda costa leste do Mar Adriático, penetrando na Itália, e em 410 tomaram e saquearam a cidade de Roma. Alarico, o chefe das últimas campanhas, morreu naquele ano, assim mesmo os Visigodos continuaram no poderio destruindo a Itália, com a intenção de se estabelecer na África, porém uma forte tempestade interviu nos planos de seus intentos, e decidiu marchar até o norte, fixando-se na França. Foi na França onde os emissários do imperador Honório foram solicitar seus serviços para lutar contra os bárbaros que tinham se estabelecido na Espanha. Em fins do ano 406 e princípios de 407 as fronteiras do Reno se tinham desintegrado uma multidão de povos germânicos penetrou o império, assolando os campos do que hoje é a França. Dali os suevos e os vândalos migraram até a Espanha, onde pareciam Ter se estabelecido definitivamente. Com o imperados Honório no comando em defesa de Roma, Ataulfo e os seus mandaram para a Espanha o chefe Godo morto em Barcelona em 415, a conquista da península continuou. E assim os suevos ganharam e os vândalos tiveram que partir para as Ilhas Baleares (em 426) ou para o norte da África (429). Os visigodos, então ficaram donos de toda a Espanha e de boa parte das Gálias. A política de Honório não deu bons resultados, pois os vândalos invadiram o norte da África. Nove anos mais tarde tomaram a cidade de Cartago, tomaram e saquearam Roma em junho de 455. A Gália território da França foi a que mais sofreu com os ataques, quando as ondas de Vândalos, Suevos e Alanos que cruzaram o Reno em 406 desolaram a região antes de continuar sua marcha até a Espanha, atrás vieram os Visigodos, em 451 as horas de Átila semearam o terror e muitos esperavam seu retorno quando Átila morre em 453 e o império dos hunos se desfaz. No sudoeste da Gália os Burgoríndios tinham recebido terras como federados do império, mas a partir de 456 eles saem dos seus territórios e começam a guerrear contra seus vizinhos e conquistam suas terras e suas cidades. No norte da Gália os Francos que também tinham sido federados, se estendem para o Oeste, até as fronteiras dos territórios visigodos. Em resumo em fins do século V a parte ocidental do Império Romano estava dividida entre uma série de reinos Bárbaros. Os mais importantes eram o dos Vândalos do norte da África dos visigodos na Espanha, os sete reinos dos Anglos e dos Saxões na Grã-Bretanha, e dos Francos na Gália, e o dos Ostrogodos na Itália. Fatos importantes para o curso futuro da história da Igreja: diversos chefes ou reis bárbaros não se consideram independentes do império Romano, muitos cruzaram as fronteiras com permissão do império, para estabelecer-se como federados. Outros mesmo a princípio sendo invasores, tinham colocado suas armas a serviço do império contra algum outro povo bárbaro, e continuavam declarando que eram súditos do império Romano, o propósito não era destruir a civilização romana, mas participar de seus benefícios, por isso suas campanhas políticas destruíram parte desta civilização isso conduziu a longo prazo quase todos os povos acabaram por romanizar-se. Muitos desses invasores eram cristãos. No norte do Danúbio quando os godos se encontraram havia entre eles missionários provenientes da parte oriental do império Romano. Havia um godo, Ulfila, inventou uma maneira de escrever a língua gótica, e traduzindo as escrituras para ela. Em Constantinopla no tempo do imperador Constâncio, muitos soldados godos a seu serviço tornaram-se cristãos e regressaram ao seu povo levando a fé. Nessa época do apogeu Ariano os visigodos se converteram também a essa fé, através deles outros Ostrogodos, Vândalos e outros povos Bárbaros também se tornaram cristãos arianos. Não se conhecem detalhes sobre essa expansão do cristianismo por falta de documentos. O fato é que muitos dos bárbaros que no século V se estabeleceram na África, Espanha e Itália eram arianos por isso boa parte da história da igreja durante os séculos V e VI consistia no conflito entre o arianismo e a fé católica. O jogo era, primeiro, se os arianos obrigariam os católicos a se converterem, ou vice-versa; e, segundo se os bárbaros que ainda eram pagãos se tornariam católicos ou arianos.
O REINO Vândalo da África
Esse reino foi breve em termos de duração estabelecidos na África, porém de grande importância para a história da igreja. Sob o comando de Genserico, os Vândalos tomaram a cidade de Cartago em 439, e transformaram-na em capital do seu reino. , apossaram-se da Sardenha, Córsega e, por algum tempo, da Sicília. Saquearam e tomaram Roma em 455. A destruição foi maior do que quando Alarico e os godos tomaram a cidade. Nesses territórios conquistados havia muitos crentes católicos, a perseguição persistia e as igrejas foram confiscadas e entregues aos arianos e os bispos católicos eram expulsos do país. Genserico morreu, em 477, seu sucessor foi Unerico e em sua política religiosa proibiu seus súditos vândalos que se tornassem católicos e também a assistirem os cultos católicos, expulsos os bispos e boa parte do clero desta linha. Muitos foram torturados, alguns tiveram sua língua cortada. A política do rei foi deixar o catolicismo morrer por si, sem persegui-lo, porém continuou a proibição de os vândalos se tornarem católicos, promovendo debates entre eles e os arianos. Com isso o bispo Fulgêncio de Ruspe reluziu como um dos grandes defensores da ortodoxia. Por fim, sob o governo de Ilderico, os católicos tiveram mais liberdade. Fulgêncio de Ruspe passou a ser o cabeça de um movimento renovador. Junto como bispo Bonifácio de Cartago em 525. O reino dos vândalos nesse período estava por desaparecer devido a maior parte do Império Romano Oriental que gozava de um novo despertar sob o reinado de Justiniano na capital em Constantinopla. Seu sonho era acabar com os vândalos, e conseguiu se apoderar de Cartago em 533 restaurando a unidade do império e assim o arianismo foi desaparecendo do norte da África. Tudo isso foi prejudicial para a igreja na região principalmente na igreja do norte da África que havia se dividido por causa do cisma donatista tornando-se quase tão estrangeira como os próprios Vândalos. A região ficou tão dividida e o cristianismo foi enfraquecido, um século e meio depois com a fácil conquista Árabe a fé cristã desapareceu por completo.

O REINO VISIGODO DA ESPANHA

Em princípios do século VI, entretanto, o reino dos francos, sob a direção de Clovis, começou a expandir-se para o ocidente, ás custas dos visigodos. Em 507, na Batalha de Vonillé, Clovis os derrotou, matando o rei Alarico II. Ai então o reino dos visigodos foi retraindo, chegando a ser somente espanhol. A Espanha então não estava toda nas mãos dos visigodos, pois os suevos ainda conservavam a sua independência no extremo noroeste da península. Os suevos eram pagãos, os antigos habitantes da região, eram católicos, os visigodos vizinhos eram arianos, alguns suevos tornaram-se católicos, outros arianos. A conversão definitiva do reino ao catolicismo aconteceu por volta de 550, com Martim de Braga autoridade máxima de toda a igreja no país. Na sua morte, em 580, o arianismo tinha quase desaparecido. O reino dos visigodos se firmou no restante da península Ibérica expulsando os Vândalos e submetendo os alanos (outro povo bárbaro). Sob o governo de Teovigildo este subjugou o reino dos suevos e logo após a morte de Martim de Braga este implantou novamente o Arianismo nos antigos territórios dos suevos. Na Espanha o tempo era curto para prática do arianismo e com isso a tendência ao catolicismo crescia, contudo em uma série de circunstâncias políticas Hermenegildo filho de Teovigildo por se converter à fé católica teve que fugir da corte e enfrentar o pai em favor da doutrina trinitária, contra o arianismo. Em sua campanha não foi muito feliz, foi derrotado e morto pelas tropas leais ao rei. Seu irmão Recaredo seguiu a política religiosa de seu irmão falecido e se tornou católico, e levou muitos ainda consigo a mesma fé, após uma Assembléia em Toledo, em 89 após declarar-se católico. Com ordem e estabilidade devido à paz entre católicos e arianos a igreja organizou, o arcebispo de Toledo logo passou a ser a Segunda pessoa mais importante do reino e os concílios de bispos que se reuniam periodicamente na capital tinham funções legislativas, não somente para a igreja, mas também para toda a ordem social. Isidoro foi o personagem mais distinto da igreja Espanhola devido aos seus conhecimentos de latim, grego e hebraico o que o permitiu a transmiti-los ás gerações seguintes. Isidoro de Sevilha fundou uma escola o que em parte se tornou um intelectual, antes, porém, foi através de seus escritos. Isidoro não era um escritor ao estilo de Orígenes ou Agostinho, mas suas obras de grandes valores. Seu escrito mais notável foi Etimologias, uma enciclopédia do saber da época, incluindo assuntos teológicos, conhecimentos e opiniões nos campos da medicina, arquitetura, agricultura, e muitos outros. Seus estudos não lhe davam tempo para a igreja, e quando seu irmão morreu, foi sucessor como bispo de Sevilha, e para tanto presidiu diversos concílios determinantes sobre o curso da igreja e do reino visigodo. O mais importante deles foi o ocorrido em Toledo em 633, que nos dá a idéia de glória e miséria da igreja.
Algumas conclusões sobre este concilio:
No campo político: A ação mais importante foi Susenando (que governou em 631-636) Ter se apresentado humildemente, prostrando-se em terra e pedindo as bênçãos dos que estavam reunidos. Foi ungido por Isidoro. No campo teológico: Confirmou a doutrina trinitária, contra os arianos, e decretou que o batismo deveria ser feito somente com uma imersão, porque os arianos entendiam que no batismo a trindade se dividia. Em relação á vida moral dos bispos e demais clérigos—quanto ao casamento, que antes de efetivados precisavam da autorização do bispo. Essa prática quanto aos judeus em termos religiosos: eles não seriam mais obrigados a se converterem, porém aqueles que foram obrigados a se converterem á força no tempo do religioso príncipe, não teriam mais liberdade em retornarem a sua antiga fé, pois isso seria blasfêmia contra o Senhor, por isso seriam proibidos de terem qualquer contato com os não convertidos, mesmo que fossem parentes próximos, e se porventura continuassem com as antigas práticas ou convicções seus filhos lhes seriam tirados, para que os pais não contaminassem. Se o judeu não convertido se casasse com uma mulher cristã, teria que escolher, ou a conversão ou a separação, caso a separação os filhos ficariam com a mãe, caso contrário, sendo mãe judia, os filhos ficariam com os pais. Isidoro de Sevilha morreu em 636, depois do concilio Ter concluído os decretos. Após as mortes continuaram as intermináveis listas de usurpações e crimes políticos. Exemplos:
Chindasvinto se apossou do trono e garantiu seu filho Recesvinto matando setecentos homens, cujas mulheres e filhos repartiu entre seus amigos. Morre Recesvinto e entra Wmba lutou contra rebeliões em diversas regiões, e por fim foi destronado. Esta longa história de traição e conspiração e crimes continuaram até 711, quando o rei Rodrigo ocupava o trono, e as hostes mulçumanas puseram fim ao reino visigodo. Em meio a todas estas idas e vindas políticas a igreja deu, muito mais que governo político, certa estabilidade á vida.

O REINO FRANCO NA GÁLIA

Na maior parte do século V, os Burgúndios repartiam com os Francos o domínio da Gália. Enquanto os francos eram pagãos, os Burgúndios eram arianos. Porém seus reis não perseguiam os católicos, muito pelo contrário procuravam manter boas relações com o povo conquistado. Quando Gondebaldo reinava teve como conselheiro o bispo católico de Viene, e nem por isso ele se converteu, seu filho Sigismundo deu este passo e seus territórios conquistados em 516 e os Borgúndios pelos Francos em 534, mantiveram a mesma fé católica. Os Francos com o passar do tempo conquistariam toda a Gália, dando-lhe o nome de França, era pagãos, eram menos organizados do que os Visigodos e Burgúndios quando entraram pela primeira vez nos territórios do Império, os contatos eram escassos, eram desunidos em liderança, divididos em diversas linhagens ou tribos, cada qual com seu chefe. Contudo depois de suas fixação no norte da Gália, se uniram de maneira inteligente e poderosa. Clovis em 486 foi o mais bem sucedido em conquistas que em pouco tempo fizeram dele o dono do norte da Gália. Ele e seus Francos conheceram muito mais sobre a fé cristã através dos povos romanizados que habitavam naquela região e também porque se casou com a princesa Burgindia Clotilde que era cristã. Conta-se que ele prometeu a Jesus Cristo, o Deus de Clotilde, que se converteria se ele lhe desse a vitória. Ao vencer os Alarmanes, Clovis declarou que devia sua vitória a Jesus Cristo, e ordenou a seus seguidores que também seguissem ao Deus dos cristãos, sendo batizado no dia de Natal em 486, junto com vários de seus nobres. Após a morte de Clovis vem Carlos Magno que junto dos Francos o seu poderio cresce. Em 534 anexaram o reino Burgundio e dois anos depois algumas das províncias que pertenciam aos Estrogodos crescendo até o leste, passando o Reno, território que formam parte da Alemanha, nunca dantes conquistados pelo império romano. Assim mesmo os Francos não conseguiram formar uma grande potência, porque costumavam dividir seus reinos entre os filhos. No exemplo de Clovis quando este morreu seus territórios foram divididos entre seus quatro filhos e muitos de seus descendentes eram incapazes de governar, seu antigo reino estava dividido em várias partes, quando no século VII, a família dos Carolíngios começou a ascender, provém de vários deles tinham o nome de Carlos. O primeiro Carolíngio foi Pepino, o velho, possuía muitas terras e usava suas receitas com propósitos políticos. Seu nome Pepino de Heristal, cargo mordomo no palácio de um dos reis Francos. Neste cargo era um verdadeiro rei, com uma política hábil e várias campanhas militares, Pepino conseguiu reunir sob seu poder todos os territórios dos Francos. Carlos Martel (Martelo) seu neto aumentou o prestigio da família ao derrotar os muçulmanos na batalha de Tours, em 732. Pepino, o Breve-filho de Carlos Martel, se desfez de um reino, Childerico III, o “Estúpido”, com a aprovação do papa Zacarias, que o obrigou a deixar o trono, cortar os cabelos e viver sua vida monástica. Pepino então se tornou o rei deixando-se ungir pelo bispo Bonifácio, sob as ordens do papa. Essa unção foi muito importante, porque é a tradição da velha monarquia Eletiva ou hereditária para monarquia por direito divino, isso levou o reino Franco ao auge de seu poder.

AS ILHAS BRITÂNICAS

Mesmo no tempo de maior glória do império romano este não conseguiu conquistar todas as ilhas Britânicas, limitando á parte sul da Grã-Bretanha. (o que hoje é a Inglaterra). Ao norte, os territórios dos Pictos e Escotos (hoje é a Escócia), separados do mundo romano pela muralha construída sob as ordens do imperador Adriano. A Irlanda nunca foi invadida. O sul da Ilha foi a mais prejudicada pelos invasores Bárbaros. Nesta área, a população cristã romana era numerosa, e se defendiam dos ataques dos bárbaros fugindo para outras regiões que vinham do continente, mais tarde se fixaram em nestes reinos principais, todos os governantes eram pagãos, mas entre os seus súditos havia um bom número de cristãos. As Ilhas Britânicas é motivo de muita importância para a história do cristianismo. Trata-se de Patrício quando este foi á Irlanda, um jovem cristão que vivia na Grã-Bretanha e seu pai era oficial no exército romano. Patrício foi seqüestrado ainda jovem logo após um bando de Irlandeses assaltou a Ilha, vários anos foi escravo, pastoreou gado, sem saber onde estava, porém aprofundou-se na sua fé. Através de um acordo com o capitão de um barco conseguiu fugir, porém foi deixado em um continente ao invés de sua terra, onde passou por muitas dificuldades antes de regressar á Grã-Bretanha. Quando de volta em repouso merecido, foi chamado em sonhos para ir como missionário á Irlanda, onde fora escravo, no entanto, mesmo com grande perigo se, pois a pregar. Conta-se que o êxito de sua obra foi tamanho que algumas vezes batizou multidões de Irlandeses, instruindo-os a sacerdotes e ordenando-os para que servissem de pastores para os recém convertidos. Assim surgiu na Irlanda uma forte igreja, que logo começou a enviar os seus próprios missionários a outras regiões, e suas características o distinguiam do cristianismo no restante da Europa, cuja autoridade eram os abades dos conventos, o Domingo da Ressurreição era celebrado em outra data. A atuação de Patrício na Irlanda criou um grande centro missionário apesar dos bárbaros já ter invadido a Grã-Bretanha onde os Pectos e os Escotos desta Ilha nunca tinham sido cristãos. Columba um missionário instruído fundou um mosteiro para a conversão dos Pectos, e até mesmo o rei Bridio e a maioria de seus súditos se converteram. Os missionários Irlandeses se espalharam por toda a Europa, pregando nos campos e onde quer que tivessem oportunidade. O cristianismo se estendeu até os reinos dos Anglos e dos Saxões com a morte de Columba, Osvaldo se refugiou por razões políticas. Quando em 635 haveria uma batalha decisiva em defesa de seu reino contra os Bretões, Osvaldo teve um sono vendo Columba que o instruiu a levantar uma cruz rude, e este pede a vitória aos seus de Columba, lançando-os sobre os Bretões, que fugiram apavorados. O resultado foi que todo reino de Nortumbria se tornou cristão. E assim Osvaldo solicitou mais missionários aos monges de Lona para o seu reino. Um deles, Aidão, fundou um mosteiro na Ilha de Luidisfarne onde expandiram por todos os lados, missionários devotos e estudiosos que preservaram conhecimentos importantes sobre as invasões dos Bárbaros. Conta a lenda que Gregório, o grande, um dos papas mais notáveis, deixou de ser papa para ser missionário porque sentiu algo diferentes nos jovens ruivos de Anglo, atraído por esse país nove anos depois de deixar seu titulo enviou uma equipe de monges encabeçada por Agostinho que depois de alguma hesitação chegaram ao reino de Kent, na Grã-Bretanha, cujo rei era Etelberto, casado com uma princesa cristã favorecendo assim a pregação do Evangelho. No inicio foi difícil a conversão das pessoas, porém algum tempo depois o próprio rei Etelberto se converteu, seguiu então uma conversão em massa. Agostinho então se torna arcebispo, quando este morre havia convertidos em todas as regiões vizinhas. Ainda assim o cristianismo após a morte do rei Etelberto sofria perseguições com um breve ataque pagão mesmo após o novo rei se converter pouco tempo depois. Em 630 reinava Sigeberto, que se convertera e batizara durante exílio na França, quando sete mandou vir de Kent o bispo Félix, chegando com eles missionários e professores. Em pouco tempo o seu reino se tornou cristão, então abdicou o seu cargo em favor de outro parente e se retirou para um mosteiro dedicando a sua vida contemplativa. O rei pagão de Mércia, Peuda, atacou Anglia Oriental. Os habitantes do país sem direção acudiram ao rei Sigelberto, que segundo os seus votos não poderia usar a espada, por se recusar usar a espada, o rei monge Sigelberto saiu ao campo de batalha armado de um porrete, os cristãos foram derrotados e o rei morreu em batalha, contudo sua memória foi venerada por muitos anos e não só Anglia Oriental se tornou cristã, mas Mércia também. Agostinho teve muita importância na história do cristianismo porque em toda a história da igreja era dado fidedigno de que um papa ou bispo de Roma tinha enviado missionários a terras estranhas. Segundo em sua missão ao cristianismo estreitaram-se os laços entre as Ilhas Britânicas e o restante da Europa Ocidental, porque alguns detalhes sobre a prática religiosa de um país para outro existia diferenças como exemplo: no reino Nortumbria, o rei seguia o cristianismo de origem Irlandesa e a rainha o de origem romana. As datas que comemoravam o Domingo da Ressurreição eram diferentes, o rei comemorava com festas e grande regozijo e a rainha se retirava com jejum e penitências no Domingo de Ramos. Criaram então um sínodo em Whibey, em 663, onde decidiram que o cristianismo das Ilhas Britânicas tenderia a seguir os costumes do restante do cristianismo ocidental, isto é, prevaleceu a prática da rainha, a tradição Européia. Por outro lado, do contrário, o povo teria ficado ilhado do restante da Europa, e o concilio pôde ser um dos mais fortes meios para o contato destas Ilhas com o continente.

GLOSSÁRIO

ARIANISMO

Ário viveu em cerca de 265-356 d.C. Ele e seus seguidores negavam a divindade própria de Cristo, que desenvolveu sua doutrina com base em especulações teológicas gregas, que florescem no gnosticismo.


SUAS DOUTRINAS
= Deus é impar e não gerado, fora de Deus, tudo o mais foi criado (do nada), através da vontade de Deus.
= O Logos (Cristo) é um intermediário entre Deus e os homens.
= O Logos encarnado (Jesus) é inferior a Deus, embora seja também objeto próprio de adoração.

FORMAS DO ARIANISMO
Intransigente, que mantinha que o filho era diferente do Pai.
O segundo grupo proclama também que o filho é semelhante em substância ao pai.
O terceiro grupo repelia os termos da mesma substância, como também seria em substância, essência, declarando que o filho era como o pai.

BÁRBAROS

Quer dizer estranho, portanto, rude, sem polidez. Podemos achar estranho fomentar sobre esse povo, contudo Paulo já o citou em Rom. 1:14- sou devedor tanto a gregos como a bárbaros. Em I Cor. 14:11 a palavra é usada para indicar uma língua desconhecida pelo ouvinte. Em. SL 114:1- é usada também para indicar povo de língua estranha. Os gregos consideravam sua cultura superior ás outras, gradualmente o vocábulo bárbaro, tem significado de cru, incivil, ou mesmo imoral. Paulo se referia a eles como o evangelho se destinava a eles.

ANGLOS E SAXÕES APÓS OS VÂNDALOS

Os Saxões, como os Anglos, eram povos também de raça germânica. Em região vizinha (ao norte do país ocupado pelos Saxões) achavam-se os Anglos, povos que parece, só se distinguiam dos Saxões pelo nome, tendo os mesmos costumes e a mesma religião, e falando a mesma língua. Carlos Magno os combateu mais de 30 anos, até que reduziu a obediência e a religião cristã. Fundaram em 455 o reino de Kent, foi chamado pelos Bretões em batalhas contra os Pictos e os Escotos.

O PRIMEIRO REINO BÁRBARO (BURGUNDIOS OU BURGUNHÕES)

Criado a leste da Gália, na bacia do Saona e em parte das Bacias do Loira, do Sena e do Rhodan, e tendo Lujão como capital. Este reino durou de 413-534, quando foi conquistado pelos Francos, depois de Carlos Magno, este país sofreu grande instabilidade, ora partilhado entre vários senhores, ora reunido em um só governo, para depois ser desmembrado. Reduziu-se a uma simples antiga província de França, depois dividida em muitos departamentos.

O SEGUNDO REINO BÁRBARO- VISIGODOS- ESPANHA

Começou este com Ataulfo em 414, e acabou com Roderico em 711, invadido pelos Árabes. Um pequeno grupo de Visigodos fundaram um pequeno reino no Sul da Gália, conquistando o norte da Ibéria, em 415, foram ampliados em (420-451), quando dominaram os Hunos, aliados aos Francos e aos Romanos, na batalha dos campos catalânicos. Em 453-465, aumentaram ainda mais suas conquistas, apoderando-se de grande parte da Gália e Espanha. Eurico o verdadeiro fundador da monarquia Visigótica. Na sua morte seu filho Alarico II o sucede elaborando leis romanas. Em 587, cai o reino em grande desordem.

OSTRAGODOS - OS GODOS DO LESTE

Theodorico, chefe destes venceu os herulos e tomou conta da Itália, mais para si (490). Foi o mais notável dos reis bárbaros que mereceu ficar na história com que lhe deram o cognome de “Grande”. O resultado foi que os Ostrogodos restauraram logo o seu domínio em toda a Itália.

VÂNDALOS

O reino Vândalos na África durou pouco mais de um século (de 429-534), tendo começado com Genserico e acabado com Gelimer. De 595 em diante ficou sendo a África uma província do império do Oriente até a invasão dos Árabes.

OS FRANCOS

Foram estes os bárbaros que se fixaram afinal na Gália constituindo a mais poderosa das novas monarquias que saíram das ruínas do mundo romano. Os Francos viveram muito tempo no território entre o Reno e o Weser quando iniciaram uma série de colisões no império a partir do século III. Defendiam suas fronteiras contra outros Bárbaros dividiam-se em duas famílias Ripuarios e Salianos ou Salios. Merobveu no poder se alia aos Romanos contra os Hunos, e seu nome serviu para designar a primeira Dinastia Franca.

HUNOS

Eram aliados aos Francos e aos Romanos. Atila era o rei deste povo, que eram como povo grosseiro e feroz, atacaram o império pelo ocidente, invadindo a Gália, proclamando-se único senhor do mundo e flagelo de Deus.


REIS VISIGODOS DA ESPANHA

Ataulfo-------- 414-15 Liuva II------- 601-3

Sigerico------- 415 Witerico-------- 603-10

Walia--------- 415-18 Gondemar----- 610-12

Teodoredo----- 418-51 Sisebuto------- 612-21

Torismundo----- 451-53 Recaredo II---- 621

Teodorico----- 453-66 Svintila----- 621-31

Eurico------- 466-84 Sisenando---- 631-36

Alarico II---- 484-507 Chintila----- 636-39

Jesalico----- 507-11 Tulga------ 639-42

Amalarico--- 511- 31 Chindasvinto—641-49

Teudis------- 531-48 Recesvinto---- 649-72

Teudiselo--- Wamba-------- 672-80
== 584-54
Agila---------- Ervigio------- 680-87

Atanagildo---- 554-67 Egica-------- 687-702

Liuva I------- 568-73 Witiza------- 702-710

Leovigildo---- 573-86 Áquila------- 710

Recaredo----- 586-601 Rodrigo---- 710-711


SOB O REGIME DOS CAROLINGIOS

“Dirimo-vos esta carta para vos ordenar, da parte do imperador, e vos pedir insistentemente, que façais todos os esforços para bem desempenhar todas as obrigações do vosso cargo em tudo que toca tanto ao culto de Deus como ao serviço do nosso amo. Fazei inteira, correta justiças as igrejas, as viúvas, aos órfãos e a todos os outros, sem fraude, sem corrupção, sem atrasos abusivos e velai por que os vossos subordinados assim o façam se quereis ser recompensados por Deus e pelo nosso amo”.

(O texto acima se relaciona às leis mandadas elaborar por Carlos Magno, durante seu reinado).

Carlos Magno foi coroado imperador quase toda a cristandade ocidental fazia parte do seu império, exceto as ilhas britânicas e as regiões remotas da Espanha. Quando Carlos Magno queria também conquistar os sazões e os frísios que habitavam além das fronteiras do seu império e os muçulmanos seus vizinhos. Houve muita dificuldade porque esses povos que nunca tinham sido romanizados periodicamente invadiam as fronteiras dos francos, saqueavam aldeias, igrejas e mosteiros e regressavam com sua presa aos seus bosques, onde era muito difícil persegui-los. Em 772 Carlos Magno invadiu seus territórios até Irminsul onde destruiu um grande tronco que era o ídolo principal dos saxões tentando destruir sua religião, logo em seguida enviou missionários para lhes ensinar a fé cristã. Poucos anos depois em sua campanha contra os lombardos, os mesmos se sublevaram, e mataram todos os seus missionários. Então Carlos Magno invadiu de novo a região, sufocou a rebelião e organizou o país com diversas dioceses e abadias. Um dos lideres muçulmanos na Espanha pede ajuda a Carlos Magno em sua rebelião contra Abderraman I, que governava o país com sede em Córdoba, fazendo com que Carlos Magno abandonasse a Saxônia dividindo seu exercito em duas metades. Depois de tomar Barcelona, Hesca e Gerona os dois exércitos se encontraram em Saragoça, cidade que se supunha ser o centro da rebelião contra Abderraman. Saragoça, porém se negou a abrir-lhes suas portas e os francos começaram a temer que a suposta rebelião era uma farsa e que tinham sido traídos. Chegaram noticias que os saxões tinham se rebelado, sob o comando do chefe Videquindo, Carlos Magno regressa as pressas à França, e se apresenta inesperadamente na Saxônia e sufoca a rebelião. Quando em 782, a rebelião irrompeu de novo, Carlos Magno decidiu que os saxões deveriam sofrer um castigo exemplar e mais de 4.000 deles foram mortos. Esta matança provocou a ultima rebelião e os frísios até então aliados dos saxões se renderam aos francos em 784 aceitando o batismo e se distanciaram da luta. Um ano depois Videquindo e seus principais chefes se renderam definitivamente aceitando o cristianismo, se batizando e levando ao fim as revoltas dos saxões. Por outro lado Carlos Magno seguiu uma política de pacificação e conseguiu em pouco tempo assimilar a Saxônia ao reino dos francos. Pouco depois seriam os saxões que aplicariam em seus vizinhos os mesmos métodos que Carlos Magno tinha empregado com eles.

O IMPÉRIO DE CARLOS MAGNO

Carlos Magno não abandonou totalmente seu interesse na Espanha e sob o comando do seu filho Ludovico, o pio, conquistaram uma larga faixa de terreno que se estendia até o Ebro. Dentro dos seus territórios, Carlos Magno também se dedicou a organizar a vida da igreja, nomeando os bispos e os condes e assim desapareceu o antigo costume de os bispos serem eleitos pelo clero ou pelo povo, passando a função dos arcebispos a serem mais de honra do que de autoridade. Além disso, também legislou acerca da vida da igreja incluindo o descanso dominical obrigatório, a imposição do dizimo como se fosse um imposto e a ordem de pregar de maneira simples e na língua do povo. Carlos Magno incumbiu Benedito de Aniano (que não deve ser confundido com Benedito de Nursia, o autor da Regra) a tarefa de reformar e supervisionar a vida monástica, que tinha perdido sua inspiração inicial. Carlos Magno também se preocupou com a educação dos seus súditos e com o cultivo das letras, reformulou a escola palatina, freqüentando esta escola os filhos dos nobres da corte e também o próprio rei, desejoso de aumentar os seus conhecimentos. Da Espanha veio Teodulfo, que o rei nomeou bispo de Orleans. Ali o bispo ordenou que em todas as igrejas da sua diocese houvesse uma escola e proibiu que seus sacerdotes se negassem a ensinar os pobres, ou que exigissem pagamento pelo ensino.

OS SUCESSORES DE CARLOS MAGNO

Foi nomeado sucessor seu único filho Ludovico, Pio, que adotou uma série de medidas sendo a mais notável foi que enviou por todo o império enviados imperiais que deveriam investigar qualquer caso de opressão de usurpação de poder que tivesse ocorrido, também ordenou que todos os mosteiros se submetessem a Benedito de Aniano e que a eleição dos bispos recaísse novamente sobre o clero e o povo proibindo a todos os clérigos qualquer ostentação de luxo. As propriedades eclesiásticas ficariam fora da jurisdição dos nobres. O dizimo ainda obrigatório seria dividido em três partes das quais uma pertenceria ao clero e as outras duas aos pobres. Quando Ludovico morreu seus domínios foram divididos entre três de seus filhos. Lotário o mais velho recebeu o titulo de imperador, a Itália e uma faixa de terra entre a Alemanha e a França, Luiz o outro filho recebeu a Alemanha e Carlos, “calvo” a França. A partir de então o velho império carolíngio sofreu uma decadência. Geralmente o titulo imperial recaia sobre quem governava a Itália, porem nesta época os que reinavam em outras regiões não lhe pareciam prestar a menor obediência. Sob Carlos, os gordo, a maior parte dos territórios do império ficou novamente debaixo de um só soberano. Em 887 quando Carlos morreu, podemos dizer que se extinguiu o ultimo brilho da glória carolíngia.

O SISTEMA FEUDAL

Na época de Carlos Magno tinha cessado o grande comercio exterior e também dentro dos sus próprios domínios. Em conseqüência disto o dinheiro deixou de circular, desaparecendo as moedas de ouro. A partir daí, a terra veio a ser a principal fonte de riqueza. Assim surgiu o sistema Feudal. As terras que o vassalo recebia de seu senhor eram os “Feudos”, de onde vem o nome “Sistema Feudal”. A relação entre o vassalo e seu senhor a princípio não era hereditária. Não demoraram para os feudos se tornarem hereditários. Isto afetou a igreja, pois os bispados e suas terras anexas eram também feudos, cujos possuidores deviam obediência a algum senhor. Como nesta época os bispos não podiam ser casados seus Feudos não passavam para seus filhos, como no caso dos outros. Em conseqüência o assunto de sucessão a estes cargos eclesiásticos se tornou um assunto de grande importância política.

A ATIVIDADE TEOLÓGICA

Em meados do século IX João Escoto Erigena se estabeleceu na corte de Carlos o Calvo onde gozou de grande prestigio, por causa de sua erudição. Ele traduziu do Grego as obras do falso “Dionísio, o Aeropagita” que se passou no século V por Dionísio, o discípulo de Paulo no Areópago. A partir de então o falso Dionísio gozou de grande prestigio, pois em considerado sucessor imediato de Paulo. Através dele o misticismo neoplatônico teve um grande impacto na igreja de fala latina, que chegou a confundi-lo com os ensinos de Paulo. Dentre as controvérsias teológicas que tiveram lugar no período carolíngio a mais importante, devida suas conseqüências que perduram até hoje, foi a que se referia ao Filioque (e do filho), e algumas igrejas ocidentais a tinham interpolado no credo Niceno, de modo que onde a igreja oriental dizia “E no Espírito Santo, que procede do Pai”, algumas igrejas ocidentais começaram a dizer “No Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho”. Isso causou escândalo na igreja oriental, questionando com que autoridade havia mudado o antigo credo e levando-as a uma forte rivalidade. Os Francos afirmaram que a negação do Filho o que era heresia, e os bizantinos, por seu lado, responderam que hereges eram os que ousavam mudar o credo. Até o dia de hoje esta continua sendo uma das questões que separam as igrejas orientais e ocidentais. O Papa começou a usar o velho símbolo romano, que tinha caído em desuso e passou a chamá-lo “Credo dos Apóstolos”, sendo o mais usado atualmente nas igrejas ocidentais. Outra controvérsia desse período girou em torno dos “Moçarabes” (cristãos que viviam na Espanha sob o regime Muçulmano) que conservavam as suas antigas tradições de tempos pre-islâmicos. O conflito começou quando o Arcebispo Elipando de Toledo disse que, quando a sua divindade, Cristo era filho eterno do Pai, porém quanto a sua humanidade ele era filho “somente por adoção”. O bispo Felix de Urgel dizia que os incrédulos não podiam ver naquele que crucificam outra coisa que o homem. E como homem o crucificaram. Crucificaram o filho de Deus. Os ensinos dos dois foram condenados pelos teólogos Francos e pelos Papas. Outras controvérsias apareceram, mas a que mais nos interessam são as que se referem à predestinação e a presença de cristo na comunhão. Quanto à predestinação, depois de muitos debates o monge Gotescalco foi declarado herege e encerado em um mosteiro, onde se diz que ele perdeu a razão pouco antes de morrer. Estava claro que a igreja não estava disposta a aceitar as doutrinas de Santo Agostinho sobre a graça e a predestinação. Quanto à presença de Cristo na eucaristia o monge Radberto que dizia que quando o pão e o vinho eram consagrados, eles se transformavam no corpo e no sangue do Senhor. O monge Ratremno de Corbie, disse que apesar de o corpo de cristo estar verdadeiramente presente na comunhão, esta presença não é a mesma de qualquer outro corpo e que em todo caso o corpo eucarístico não é o corpo histórico de Jesus, que se encontra nos Céus, à direita do Pai. Neste período começa a tomar forma a doutrina da transubstanciação que foi promulgada no século XIII. Estas são somente algumas das muitas controvérsias que aparecem no período carolíngio.


== Pio: Piedoso, Devoto.
== Romanizados: Tornar romano, adaptar a língua, hábitos e costumes romanos.
== Dioceses: Territórios administrados por Bispo
== Abadias: Igreja sob a Jurisdição do Abade, mosteiro governado por Abade (superior religioso).
== Península: Ibérica: Nome que os antigos davam a Espanha e a Portugal
== Dinastia: Serie de soberanos pertencentes a uma só família
== Jurisdição: Competência Jurídica exerce o Juiz e a sua autoridade.

A REFORMA MONÁSTICA:

Durante toda a “era das trevas” a faísca dos ideais evangélicos sempre esteve acesa. Os nobres que guerreavam entre si, os membros dos diversos partidos que disputavam o papado, e os servos que no fim das contas proviam o sustento da Europa, todos eram cristãos. Chamá-los de cristãos nominais não seria correto, pois sua fé apesar de talvez errada ou infrutífera, e sem dúvida por demais ignorante dos desígnios de Deus para a história humana, era sincera. Tratava-se antes de pessoas para as quais a fé era a maneira de ganhar o céu, que lhes parecia tão real como a terra em que viviam. Para elas a salvação da alma era o propósito ultimo da vida humana, e por isto as maiores atrocidades eram desculpadas com base na justificação eterna. A época, porém, era obscura e turbulenta. Em meio aos roubos dos nobres, aos sofrimentos dos oprimidos, á ambição dos prelados, ás invasões dos húngaros, normandos e sarracenos, as almas pareciam estar perigando. O pecado abundou, e a igreja viu-se obrigada a oferecer meios de graça para sua expiação. Assim se desenvolveu o sistema penitencial que mais tarde deu origem ao conflito entre protestantes e católicos, no século XVI. Havia outro caminho para o cristão daquela época. Já que a vida do povo comum estava cheia de desassossego, violência e tentação de todo o tipo, a alternativa encontrada foi buscar refugio no Monasticismo, que durante toda a era das trevas exerceu uma fascinação constante sobre os espíritos mais elevados; Porém, muitos mosteiros foram saqueados e destruídos pelos invasores normandos e húngaros. Os que estavam em lugares mais protegidos se tornou joguete das ambições de abades e prelados. Os nobres ou bispos que eram seus supostos protetores os utilizavam para os seus próprios fins. Os monges de vocação sincera se viam violentados pelas circunstancias da época. A regra de São Benedito apenas era cumprida. E quando algum monge devoto fundava um novo mosteiro, mais tarde este também se transformava em presa dos ricos e poderosos.

A REFORMA CLUNIACENSE:

Em meio a tudo isto o duque Guilherme III da Aquitânia fundou um pequeno mosteiro, em 909. O fato em si não era novo, pois durante toda a era das trevas os senhores feudais tinham fundado casas monásticas. Guilherme trouxe para suas terras, para dirigir sua fundação, Bernom, que tinha se distinguido por sua firmeza na aplicação da regra, e por seus próprios esforços em prol de uma reforma em outros mosteiros. Bernom pediu a Guilherme que lhe concedesse, para sediar a fundação, um lugar chamado Cluny, que era a região de caça preferida do duque. Este atendeu o pedido, e concedeu ao novo mosteiro as terras da aldeia necessária para o seu sustento. O caráter desta cessão foi suma importância, pois Guilherme, em vez de reter o título e os direitos de patrono do mosteiro, doou as terras aos “santos Pedro e Paulo”, e colocou a nova comunidade sob a proteção direta da Santa Se, que visava proteger este mosteiro da ingerência dos senhores feudais ou bispos das proximidades. Além disto, para evitar que o papado, corrupto como estava, utiliza-se Cluny para os seus próprios fins. No principio o propósito dos cluniacenses era somente Ter um lugar onde pudessem praticar cabalmente a regra Beneditina. Este ideal não tardou a ampliar seus horizontes, e os abades de Cluny, seguindo o exemplo de Bernom, começaram a reformar outros mosteiros. Assim surgiu toda uma rede de “segundos Cluny”, que dependiam diretamente do abade do mosteiro principal, que tinha como tarefa supervisionar os mosteiros associados, e indicar um prior de sua confiança para cada mosteiro. A reforma cluniacenses se estendeu também a vários conventos de monges. A principal destes monges, como estipulava a regra, era o oficio divino, chegaram a se dedicar quase que exclusivamente ao culto, deixando de lado o trabalho manual que era tão importante na tradição beneditina. Depois de regulamentar a vida de centenas de casas monásticas, os cluniacenses começaram a sonhar em reformar a igreja. Por isto a reforma eclesiástica da Segunda metade do século XI foi concebida em termos monásticos, mesmo pelos que não eram monges. Quando Bruno de Tula estava peregrinando para Roma, onde receberia a tiara de Leão X, tanto ele como os seus acompanhantes estavam imbuídos do ideal de reformar a igreja de acordo com o padrão monástico de Cluny.


PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DA REFORMA CLUNIACENSE:

Independência de qualquer poder civil ou eclesiástico, o sonho dos reformadores era Ter uma igreja em que os bispos estivessem livres de qualquer divida para com o poder civil. A simonia (compra e venda de cargos eclesiásticos) era, por isto, um dos principais males que tinha de ser erradicado.
O outro grande inimigo da reforma eclesiástica concebida em termos monásticos era o matrimonio dos clérigos. Durante séculos o celibato tinha tentado se impor; mas nunca tinha sido regra universal. Agora inspirados pelo ideal monástico, os reformadores fizeram do celibato um dos elementos principais do seu programa.
A obediência, outro dos pilares do monasticismo, o seria também da reforma do século XI. Assim como os monges deveriam estar subordinados aos seus superiores, toda a igreja deveria estar subordinada ao papa, que encabeçaria uma grande renovação, como os abades de Cluny a tinham feito dentro do âmbito monástico.
Por ultimo, em relação á pobreza, tanto o monasticismo beneditino como a reforma que foi inspirada nele sustentava uma posição ambivalente. O bom monge não devia possuir coisa alguma, e sua vida devia ser extremamente simples. O mosteiro por sua vez podia Ter terra e possessões sem limite. Em longo prazo tornava-se cada vez difícil para o monge, mesmo sendo pessoalmente pobre, levar uma vida simples que a regra ditava. Os cluniacenses chegaram a se negar a cultivar a terra, sob o pretexto da sua dedicação exclusiva ao culto divino, mas na verdade baseados nas muitas riquezas que sua comunidade tinha. De igual modo, os reformadores insistiam no direito da igreja Ter grandes posses, supostamente não para o uso dos prelados, mas para a glória de Deus e o bem estar dos pobres.

PRINCIPAL CAUSA DA DECADENCIA DO MOVIMENTO CLINIACENSE:

Uma das principais causas do declínio do movimento cluniacenses foi á riqueza que não tardou a acumular. Inspirados pela santidade dos monges, muitos nobres lhes fizeram donativos, causando desta forma o enriquecimento exagerado, a ponto dos monges perderem a simplicidade de vida que era o ideal monástico adotado pela ordem. Desta forma, outros movimentos mais pobres e mais recentes surgiam e acabaram tomando o lugar do movimento cluniacense.


A REFORMA CISTERCIENSE:

O movimento de Cluny ainda estava em seu apogeu quando, em parte devido a sua inspiração, outros se lançaram a empreendimentos semelhantes. Em diversos lugares a vida solitária foi renovada, ou por outros meios tentou-se destacar o rigor da regra. Assim surgiu o movimento cisterciense, que foi o mais importante movimento após a decadência de Cluny. Roberto de Molesme, após decidir-se abandonar o mosteiro deste nome e fundar um novo em Citeaux. Pouco depois, por ordem papal, Roberto teve que regressar a Molesme. Porem em Cteoux ficou um pequeno grupo de monges, decididos a continuar a obra começada. Porem a grande expansão da nova ordem teve lugar depois da entrada de Bernardo Clavaral. Este tinha vinte e três anos quando se apresentou em Citeaux, e solicitou na comunidade com vários de seus parentes e amigos. O fato de que ele pôde se apresentar em Citeaux com um bom grupo de recrutas era uma das primeiras provas do seu poder de persuasão. Poucos anos depois o número de monges em Citeaux era tão grande que Bernardo recebeu instruções de fundar uma nova comunidade em Claraval. Bernardo chegou a ser o mais famoso pregador da Europa. Como monge, Bernardo insistia na vida simples que tinha sido o ideal do monasticismo primitivo. Nesta vida o trabalho físico, particularmente na agricultura, era importante.

DIFERENÇA DO MOVIMENTO CISTERCIENSE PARA O CLUNIACENSE:

Enquanto os monges de Cluny se subtraiam ao trabalho agrícola, sob a alegação de não sujar as vestimentas com que adoravam a Deus, os cistercienses pensavam que qualquer cuidado especial com suas vestimentas era um luxo supérfluo, e por esta razão eles ficaram conhecidos como os “monges brancos”.
Em sua organização o movimento cisterciense devia ser simples. Mas era necessário evitar a excessiva centralização de cluny, onde tudo dependia do abade. Por isto os mosteiros cistercienses eram relativamente independentes, e mantinham-se unidos através de conferencias anuais em que todos os abades se encontravam.

Umas das principais contribuições dos mosteiros para a vida medieval, foi o desenvolvimento da medicina e da farmácia, como podemos ver ainda hoje no mosteiro de São Domingos de Silos.

A REFORMA PAPAL:

Um pequeno grupo de peregrinos marchava para Roma. Liderava-os o bispo Bruno de Tula, a quem o imperador tinha oferecido o papado. Bruno tinha se negado a aceita-lo das mãos do imperador, e tinha insistido em ir a Roma como peregrino. Se lá o povo e o clero o elegessem bispo, então ele aceitaria a tiara papal. Esta atitude de Bruno refletia uma das principais preocupações dos que queriam reformar a igreja. Para estas pessoas, um dos piores males de que a igreja padecia era a simonia, ou seja, a compra e venda de cargos eclesiásticos. Um papado reformador deveria surgir puro já da raiz. Como monge Hildebrando tinha dito a Bruno, aceitar o papado das mãos do imperador seria ir para Roma, não como apostolo, mas como apostata. Talvez o membro mais notável da comitiva de Bruno era o jovem Hildebrando, que conhecia bem a cidade de Roma, seus ideais elevados e suas intrigas baixas.

LEÃO IX:

Por enquanto, o próximo papa seria Bruno de Tula, que se dirigia a Roma, não como novo pontífice nomeado pelo imperador, mas como um peregrino descalço que visitava a cidade papal em um ato de humilde devoção. Depois de entrar em Roma descalço, e de ser aclamado pelo povo e pelo clero, Bruno aceitou a tiara papal, e tomou o nome de Leão IX.Assim que se viu na posse legitima da catedral de São Pedro, Leão começou a sua obra reformadora. Para isto ele se cercou de vários homens que tinham dado mostras da sua dedicação a esta causa. Com a ajuda de Hildebrando, Humberto, Damiano e outros, Leão IX empreenderam a reforma da igreja. Para todos estes homens a reforma deveria consistir, em particular, em abolir a simonia e generalizar o celibato eclesiástico. Estes foram os pontos principais da reforma, entretanto, traziam consigo uma série de conseqüências importantes. Em meio á sociedade feudal, a igreja era uma das poucas instituições em que ainda existia certa mobilidade social. Tanto Hildebrando como Pedro Damiano eram de origem humilde, e mais tarde o primeiro seria papa e o segundo santo e doutor da igreja. Esta mobilidade social estava ameaçada pela prática da simonia, que punha os eclesiásticos mais altos não ao alcance dos mais aptos ou mais devotos, mas dos mais ricos. Se isto se unia ao matrimonio eclesiástico, corria-se o risco que os grandes prelados providenciassem uma herança para os seus filhos. Logo, a oposição dos reformadores ao matrimonio eclesiástico, além dos motivos explícitos de destacar o valor da vida solteira, tinha outros motivos mais profundos. Depois de tomar uma serie de medidas reformadoras na Itália, Leão IX se dispôs a estender a reforma a lugares mais distantes, estendendo-se para Alemanha, e França.

GREGÓRIO VII:

Após a morte de Leão IX, passaram alguns papas pelo pontificado, porem o mais importante deste período foi o papa Alexandre II, que ficou um período relativamente longo no poder (1061-1073). Os grandes fatos marcantes que se sucedeu neste período foram:
O decreto do segundo concílio de Latrão, que estabeleceu o método de eleição do papado, que prevalece até os nossos dias, com algumas modificações (aconteceu no mandato do pontífice Nicolau II).
Reforçou a medidas tomadas contra a simonia.
Popularizaram o celibato eclesiástico.
Quando da morte de Alexandre ressurgiu o problema da sucessão. O decreto de Latrão estabelecia um processo para eleição de um novo papa. Mas as antigas famílias romanas tinham dado provas de que este decreto não lhes agradava. Por esta razão, em meio do funeral de Alexandre II o povo começou a gritar: Hildebrando bispo! Em seguida os cardeais se reuniram e elegeram papa a quem por tantos anos dera mostras de zelo reformador e de habilidade política administrativa. Quando ascendeu ao papado Hildebrando tomou o nome de Gregório VII, e imediatamente tomou as primeiras medidas visando á realização dos seus ideais. Seu ideal era a realização da cidade de Deus na terra, de tal modo que toda a sociedade humana estivesse unida como um só rebanho sob um só pastor (o papa). Ao proibir o povo de receber os sacramentos administrados por simoniacos, Gregório esperava que ele se aliasse á causa da reforma, de modo que os altos prelados e os sacerdotes que se humilhassem diante das ordens papais fossem humilhados pelo menos pela ausência do povo. Porem ficou difícil o povo cumprir esta ordem do papa, pois havia regiões em que não tinha sacerdote que não fosse simoniaco para ministrar o sacramento. Em meio a tudo isto, Gregório passou a ser acusado de herético, e vários paises passaram a rechaçar sua ordem, instaurando desta forma uma situação bastante complicada, onde os imperadores começaram a se mobilizar contra o pontificado. Este acontecimento acabou convencendo Gregório a continuar o processo de centralização eclesiástica que seus antecessores haviam começado. Pois até então os bispos metropolitanos tinham uma certa autonomia. Tendo em vista a oposição geral aos decretos da reforma, Gregório chegou a conclusão que era necessário aumentar a autoridade papal, a fim de que suas ordens fossem obedecidas. Se bem que Gregório nunca chegou a promulgar todas as suas opiniões com respeito ao papado, estas estão registradas em documento de 1075. Nele Gregório afirma que só a igreja romana foi fundada pelo senhor, e que seu bispo é o único que pode receber o titulo de universal, mas que também o papa tem autoridade para julgar e depor os bispos; que o império lhe pertence, de tal modo que é ele quem tem o direito de outorgar as insígnias imperiais, assim como depor o imperador; que a igreja de Roma nunca errou e não pode errar; que o papa pode declarar nulos os juramentos de fidelidade feitos por seus senhores; e que qualquer papa legitimo, somente pelo fato de ocupar a cátedra de São Pedro, e em virtude dos méritos deste apóstolo, é santo. Por esta razão Gregório, em 1075, e depois em 1078 e 1080 proibiu a todos os clérigos e monges receber bispados (adivinho da simonia), igrejas ou abadias de mãos leigas, sob pena de excomunhão. Em 1080 foi acrescido também que seriam excomungados os senhores leigos que investissem alguém nestes cargos. Com estes decretos ficou montada a cena para os grandes conflitos entre o pontificado e o império.

O CONFLITO ENTRE O PONTIFICADO E O IMPÉRIO:

Os decretos de Gregório VII quanto a investura leiga eram conseqüência natural dos seus intentos reformadores e da sua concepção de papado. Mas havia fortes razões para ao reis e imperadores verem nestes decretos uma serie ameaça ao poder. Á parte de qualquer conflito com o papado, os soberanos da época viam também seus direitos de investidura religiosa como um dos mais valiosos instrumentos contra o excessivo poder dos nobres. A nobreza hereditária tinha a tendência de afirmar sua independência frente os reis. As terras que estavam em mãos destes nobres não estavam á disposição do rei, para que ele as outorgasse aos que lhes fossem fieis. As terras e as riquezas eclesiásticas, por sua vez, precisamente por não serem hereditárias, freqüentemente estavam á disposição do soberano, que então podia Ter certeza que, oposta aos grandes senhores leigos, freqüentemente rebeldes, se erguia uma igreja rica, poderosa, e fiel ao rei. Alem disto, se o poder da investidura caísse nas mãos do papado, os reis tinham medo que isto poderia ser usado contra eles, por motivos puramente políticos. Tudo isto estava em jogo quando Gregório proibiu as investiduras leigas. Mesmo se o papa, ao que parece, deu este passo simplesmente para garantir que todo o clero tivesse um espírito reformador, o fato é que este passo poderia Ter enormes conseqüências políticas. Isto criou conflitos entre o poder leigo e o eclesiástico, em todos os níveis.

GREGÓRIO VII E HENRIQUE IV:

Apesar dos sus decretos contra a investidura leiga o papa não parecia disposto a aplica-los universalmente. Enquanto os diversos senhores leigos nomeassem pessoas dignas, e sua investidura ocorresse sem nenhuma suspeita de simonia, Gregório não insistiria em seus decretos. O caso de Henrique IV da Alemanha, entretanto era mais difícil, pois várias nomeações feitas por ele, sem prestar atenção nenhuma aos editos papais, eram questionáveis. Apesar disto o papa se limitou em comunicar-lhe o seu descontentamento. A faísca que provocou o incêndio foi á questão do episcopado de Milão. A sede desta cidade estivera em disputa a algum tempo, dificuldade que parecia por fim estar resolvida quando ocorreram tumultos na cidade. O bispo que conseguira ser reconhecido como legitimo estava tentando impor o celibato eclesiástico. Talvez com sua permissão os patares se lançaram novamente as ruas, insultaram os clérigos casados e suas esposas, e destruíram suas propriedades. Alguns deles fugiram para Alemanha, onde pediram socorro a Henrique. Este sem consultar o papa, declarou deposto o bispo de Milão, e nomeou outro em seu lugar. A resposta de Gregório não se fez esperar. Apelando á autoridade que dizia Ter para julgar reis e imperadores, ele ordenou a Henrique que se apresentasse a Roma, onde seus graves delitos seriam julgados. Se não viesse até o dia 22 de fevereiro (1076) ele seria deposto, e sua alma condenada. Como o imperador Henrique não podia ir a Roma para ser julgado como criminoso qualquer, sua saída era tentar convencer os demais que o papa que o declarasse deposto e excomungado não era legitimo, e que por isto suas sentenças não teriam valor. Com este propósito ele reuniu um sínodo em Worms, no dia 24 de janeiro. Ali o cardeal Hugo, “o branco”, que em outros tempos tinha exaltado a provas, os bispos se submeteram à vontade imperial, e declararam Gregório deposto. Um mês depois, no dia 21 de fevereiro, Hildebrando já não era mais papa, e que o imperador Henrique ordenava a todos ali reunidos que fossem á sua presença no dia de pentecostes, quando um novo papa seria nomeado. A esperança de Henrique era que alguns dos membros daquele concilio se atemorizassem, tirando assim um pouco do apoio de Hildebrando. Mas sucedeu o contrário, alguns dos presentes se puseram a bater no sacerdote mensageiro, a ponto de Gregório Ter que intervir para que o povo parasse de surra-lo. Como havia marcado, no dia 22 de fevereiro Gregório VII condenou e declarou depostos e excomungados os bispos alemães, que tinham participado da tramóia promovida pelo imperador Henrique. Quanto a este ultimo, o papa declarou que estava proibido de ser obedecido como rei. Quando recebeu a sentença papal Henrique resolveu responder da mesma maneira, e reuniu um grupo de bispos que declarou Gregório excomungado. Em diversos lugares os seguidores mais fiéis do imperador seguiram seu exemplo, e o cisma parecia inevitável. Mas o poder de Henrique não era tão firme como parecia. Muitos dos seus seguidores sabiam que as acusações contra Gregório eram falsas, e temiam pela salvação de suas almas. Logo houve bispos que escreveram ao papa pedindo perdão por terem colaborado com o imperador. Nestas circunstâncias não restava outro recurso a Henrique senão apelar á misericórdia do papa. Para isto ele tinha de se entrevistar com Gregório, pedir sua absolvição, antes que a dieta se reunisse em Augsburgo. Logo o imperador estava ao comando de um exército imponente, composto de pessoas que criam que ele tinha vindo para a Itália depor o papa. Gregório, por sua vez, não sabia quais eram as verdadeiras intenções de Henrique. Temendo um ataque militar, decidiu deter sua marcha até a Alemanha, onde quisera presidir a dieta do império, e fixou resistência em Canossa, cujas fortificações o protegeriam se o imperador viesse com intenções hostis. Mas Henrique não estava disposto a arriscar o trono da Alemanha, continuando sua política de oposição ao papa. Seu propósito era submeter-se ao pontífice. Após varias tentativas de visitar o papa, por fim Gregório resolveu receber o imperador em Canossa, porem exigiu que as portas do castelo permanecessem fechadas. Ao que parece Gregório temia que o arrependimento do seu inimigo não fosse sincero, razão pela qual preferira prosseguir seus planos de depô-lo e nomear seu sucessor. Ao sair de Canossa, Henrique era um homem derrotado. Os italianos que tinham se unido á sua causa, ao ver que ele tinha se humilhado diante de Gregório, deram amplas mostras de desprezo. Mas Henrique tinha conseguido uma grande vantagem. A sentença de excomunhão tinha sido revogada. Enquanto ele não desse motivo ao papa, este não poderia excomunga-lo novamente, nem insistir em sua deposição. Henrique já não estava mais excomungado, já não era mais pecado lhe obedecer. Apesar da sua humilhação e quebrantamento, ele ainda era o soberano legitimo da Alemanha. Gregório deixou que os acontecimentos corressem seu curso. Os rebeldes se reuniram e elegeram seu próprio imperador, de nome Rodolfo. Como os legados papais que estavam presentes na eleição não se opuseram a decisão dos rebeldes, instaurou-se á guerra civil, Henrique reuniu seu exército, enquanto numerosas cidades se negavam a abrir suas portas a Rodolfo. As tropas do imperador Henrique ganhavam uma batalha após outra. A prudência deveria Ter ditado outros conselhos a Gregório. Mas ele estava tão convicto da justiça da sua causa, e do poder da excomunhão, que decidiu intervir mais uma vez e excomungou Henrique, e até se atreveu a profetizar que em breve o imperador seria deposto ou morto. Só que desta vez os resultados não foram os mesmos, a sentença de excomunhão foi recebida com desprezo pelos seguidores do imperador. A guerra continuou, enquanto os prelados da Alemanha, e depois os de Lombárdia, se reuniram para declarar deposto Gregório e eleger seu sucessor, que tomou o nome de Clemente III. Com toda pressa Gregório fez as pazes com os Normandos. Mas estes, em vez de defender Roma, atacaram as possessões italianas do império Bizantino. Somente a cidade de Roma restava ao papa que pouco antes tinha visto o imperador se humilhar diante dele. Os romanos defenderam sua cidade e seu papa com valor incrível. Três vezes Henrique sitiou a cidade, e outras tantas se viu obrigado a levantar o sitio sem a Ter tomado. Todos esperavam que o imperador tomasse aquele ultimo reduto da autoridade de Gregório VII, quando chegou a noticia de que um forte exército Normando marchava contra a cidade. Vendo que os normandos eram em maior numero que seus soldados, Henrique abandonou Roma, depois de destruir vários trechos das muralhas. Os Normandos entraram triunfantes na cidade papal, e imediatamente se puseram a cometer vários desmandos, o que causou grande revolta nos moradores romanos. Em meio a tudo isto Gregório permanecia mudo, pois os Normandos eram seus aliados, e foi ele quem os fez vir até Roma. Antes de sua morte, e da ascensão de Clemente III ao papado, Gregório VII, perdoou todos os seus inimigos, exceto o imperador Henrique e o antipapa Clemente III. Após a morte de Gregório, vários pontífices passaram pelo papado, entre eles se destacaram: Urbano II, Henrique IV, Pascoal II e os dois Henriques.

O ACORDO DE WORMS:

Logo depois da morte de Pascoal II, os cardeais se apressaram para eleger seu sucessor, para evitar a intervenção do imperador. O novo papa Gelásio II, teve um pontificado breve e cheio de incidentes. A decisão de Gelásio de se refugiar na França era sinal de que o papado se via empurrada para uma política diferente. O império parecia ser seu inimigo mortal e a aliança com os normandos não tinha dado resultados esperados; portanto, os papas começaram a encarar a França como um aliado capaz de sustentar sua posição diante das pretensões dos imperadores alemães. O próximo papa, Calixto II, era de origem francesa, descendente dos antigos reis da Búrgundia, e parente do imperador. Este estava cansado da contenda interminável, principalmente porque ainda não podia confiar no apoio dos nobres. Quando vários dos seus prelados mais importantes se declararam favoráveis a Calixto e contra o antipapa Gregório III, que o imperador Henrique fizera nomear, o soberano decidiu que tinha chegado a hora de fazer as pazes definitivamente com o papado reformador. As negociações se estenderam por muito tempo, e não faltavam novas campanhas militares, receios e ameaças. Mas no fim as duas partes chegaram ao acordo de Worms.

PRICIPAIS FATOS QUE MARCARAM O ACORDO DE WORMS:

Os prelados seriam nomeados através de uma eleição livre, sem a ingerência dos imperadores.
A investidura, com a entrega do anel e do cajado pastoral ficaria entregue às autoridades eclesiásticas, mas seria o poder civil que concederia aos bispos e abades, com o cetro, todos os seus direitos, privilégios e possessões feudais.
O imperador se comprometia também a devolver a igreja todas ás propriedades eclesiásticas que estavam em poder, e fazer todo o possível para que os diversos senhores feudais fizessem o mesmo.
Além destas, com o passar dos anos o celibato eclesiástico passou a ser universal em toda a igreja ocidental, e por algum tempo a simonia foi quase totalmente erradicada, o poder do papado aumentava cada vez mais até chegar ao seu ápice no século XIII.

Assim terminava este longo período de lutas entre o pontificado e o império. Porem, posteriormente houve outros choques entre a igreja e o império, mas este do qual tratamos chega ao seu final.

A IGREJA ORIENTAL

Todos nós somos descendentes da igreja ocidental, nossas origens, tanto católicas como protestantes, mas agora falaremos um pouco da igreja Oriental. Na parte oriental muitas cidades se destacam como o caso da Palestina, onde o cristianismo teve sua origem, Antioquia onde os seguidores do “caminho” foram chamados de cristãos pela primeira vez, a cidade de Constantinopla foi fundada para ser uma Roma cristã. A igreja Oriental sempre foi mais assediada através de questões teológicas do que a igreja Ocidental, mas estas discussões sempre eram tidas como de suma importância para ambas as regiões, pois eles lutavam para um mesmo bem em comum, sendo que nesta época eles realmente lutavam a favor de uma única igreja, cristã. Eis um pequeno esboço dos concílios e suas respectivas datas que iremos abordar.

1) NICÉIA 325

2)CONSTANTINOPLA 381

3) ÉFESO 431

4) CALCEDONIA 451

5) II CONSTANTINOPLA 553

6) III CONSTANTINOPLA 680-681

7) II NICÉIA 787

Nestes concílios até o sexto, os debates consistem em termos cristológicos, diferente das discussões arianas, que discutiam as questões trinitarianas.


APOLINÁRIO E O CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA

Antioquia sempre foram grande centro de atividades teológicas, e apesar de suas diferenças doutrinárias e de encarar a fé cristã, os dois seguimentos são aceitos como válidos. Em Alexandria, os teólogos cristãos encaravam sua fé a tradição platônica. Eles davam uma ênfase especial a divindade de Cristo, pois a humanidade foi apenas uma forma de Deus se comunicar com os homens.
Em Antioquia devido ao fato da cidade e de suas circunvizinhanças ter muitos judeus, sempre fazia lembrar o sentido literal e histórico das escrituras, onde as terras próximas mostravam o lugar onde Cristo tinha vivido e caminhado, onde isto tornava a humanidade de Cristo mais destacável do que a divina, ao contrário dos alexandrinos. Quando esta controvérsia começava, haviam certos limites traçados de antemão. Todos concordavam que cristo era tanto divino como humano. Quem negasse um destes elementos era simplesmente declarado como herege, e não provocaria nenhum debate. As controvérsias não tratavam da questão se Jesus era ou não divino, nem com o assunto de se ele era humano ou não, mas com a questão de como ou em que sentido Jesus era tanto humano como divino. As controvérsias cristológicas começaram quando ainda se debatia a questão ariana, que diziam que se o Verbo era verdadeiramente deus eterno e imutável não teria modo de se explicar como podia se unir á humanidade em Jesus Cristo. Apolinário dizia que alem do corpo humano, Jesus Cristo o Verbo tinha tomado o lugar da alma racional, ou seja, suas decisões, seu pensar, contudo, sua mente era puramente divina. Esta parecia ser uma boa explicação, mas também muito perigosa, pois se Cristo não era totalmente humano, como pode nos salvar um Jesus em quem Deus assumiu somente o corpo humano, e não a alma racional, sendo que é na alma que se concentra os piores pecados humanos? A controvérsia durou alguns anos, porem os argumentos dos antiocanos eram tão fortes que no fim Apolinário e seus seguidores seriam condenados.


NESTOR E O CONCÍLIO DE ÉFESO

Nestor em 428 se tornou patriarca de Constantinopla, mais o patriarcado se transformou em motivo de discórdias em os patriarcas de Alexandria e Antioquia. Devido ao fato de Constantinopla estar mais perto dos antiocanos em seus pontos de vista teológicos, era de se esperar a oposição dos alexandrinos contra o patriarcado de Constantinopla. O termo theotokos, que quer dizer “genitora de Deus”, ou “Mãe de Deus”, foi o motivo imediato da controvérsia. Esta era uma controvérsia de caráter cristológico, não estava em jogo que era Maria, mas sim aquele que tinha nascido dela. Os antiocanos temiam que somente a parte divina de Cristo fosse destacada, de modo que ficaria perdido o verdadeiro sentido da total humanidade do Salvador. Foi por isso que Atanásio junto com Nestor atacou o uso do termo, sendo que em seu ponto de vista o termo ideal a ser usado seria Christokos, ou seja, genitora de Cristo. Muitos reagiram negativamente diante desta doutrina, pois suas ultimas conclusões pareciam estar negando os próprios fundamentos da fé cristã. Foi convocado um concílio para tratar do caso das duas pessoas de Cristo defendidas por Nestor, onde sem demora e sem oportunidade de se defender, o condenou como herege e o declarou deposto, não só a ele como a todos que estavam do seu lado. Mais tarde Teodósio II, encarcerou tanto a Cirilo como a João. Nestor passou até seus últimos dias de vida em um oásis no deserto da Líbia. Os reformadores protestantes do séc. XVI aceitaram o 3o. concílio, pois perceberam que o que estava sendo discutido não era a devoção a Maria, mas a relação entre a humanidade e a divindade de Jesus Cristo.


EUTICO E O CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA

Eutico era um monge de fortes convicções alexandrinas que morava em Constantinopla. Eutico foi acusado de heresia por se negar a aceitar, e até mesmo a combater abertamente, certas formulas de união de 433. O que Eutico negava era que Jesus existia “em duas naturezas depois da encarnação”. Ao lado de Eutico estava Diócoro, que foi nomeado presidente do concílio, foi lhe dado também toda a autoridade para se calar a qualquer um que viesse contra a fé cristã. Dióscoro apoiando a posição de Eutico contra as duas naturezas condenou como hereges e deportou todos os que defendiam esta doutrina. Pouco tempo depois o imperador sofreu um acidente de cavalo e acabou morrendo, com isso sua irmã Pulquéria, passou a governar trazendo consigo os bispos que haviam sido depostos, pois ela era contrária as posições tomadas por Teodósio, Crisápio e Dióscoro. Pulquéria convocaram um novo concilio que deveria se reunir em Nicéia em 451, mas devido a circunstancias acabaram se reunindo em Caledônia (4/ Concilio Ecumênico), onde neste concilio Eutico e Dióscoro foram condenados.


OS TRÊS CAPITULOS E O SEGUNDO CONCILIO DE CONSTANTINOPLA

Muitas pessoas não concordaram com as decisões tomadas no concilio de Caledônia, como o caso dos monofisistas e as pessoas da Síria e do Egito, devido à insatisfação destes o imperador queria a todo custo atrair novamente a passividade entre eles nos termos teológicos. O que o imperador não sabia era que a insatisfação não era apenas de caráter teológico, mais sim por causas sociais, políticas e econômicas, trazendo consigo ao invés da unidade a separação ainda maior entre eles até o ano 519. Com a morte de Justino em 527, seu sobrinho Justiniano assumiu o trono com o sonho de estabelecer a unidade e grandeza perdida do Império Romano. Justiniano com o fim de trazer de volta o poderio ao império, reconstituiu a catedral de Santa Sofia e declarou. “Salomão, superei-te”. Porem Justiniano não podia realizar todos os seus sonhos sem primeiro reunificar uma igreja dividida por questões teológicas. Apesar da diferença que havia entre os monofisistas e os calcedônios, ele trouxe do exílio todos aqueles que haviam sido deportados convidando-os a uma cortês amistosa visita ao imperador e a imperatriz. Na esperança de conseguir uma reconciliação entre ambos os lados, esta reunião trouxe uma nova questão que traria novamente o rompimento da igreja, que viria a ser chamada de “Os Três Capítulos”, que significava três teólogos condenados do passado, onde seus ideais seriam apresentados no concilio da Calcedônia e novamente condenados pelo imperador como forma de apaziguar a situação dos monofisistas, com isso muitos que eram a favor ficaram contra Justiniano, como é o caso do próprio papa. Devido a grande inquietação que surgiu, o imperador convocou um novo concílio que viria a se chamar 5o. Concílio Ecumênico, no ano de 553, resultando contra a vontade de Virgilio a condenação dos autores “Dos Três Capítulos”.


O MONOTEISMO E O TERCEIRO CONCILIAM DE CONSTANTINOPLA

O patriarca Sérgio de Constantinopla, a fim de aproximar os monofisistas propôs uma doutrina que viria a se chamar “Monotelismo”, que traduzido quer dizer Uma Vontade, onde incrementa a doutrina estabelecida no concilio de Calcedônia, dizendo que mesmo que em Cristo houvesse duas naturezas distintas, entre elas haveria uma mesma vontade. A posição de Sérgio e seus seguidores variavam tanto que seu Monotelismo ficou conhecido como “heresia camaleão”. Conseqüentemente o Sexto Concilio Ecumênico que se reuniu em 680 e 681 condenou o monotelismo e reafirmou a definição de fé de Calcedônia.


A QUESTÃO DAS IMAGENS E O 2o. CONCÍLIO DE NICÉIA

Neste ultimo concilio que estudaremos, trataremos das imagens usadas dentro da igreja. A igreja primitiva parecia não ter posição quanto a decoração das igrejas, porém a medida que muitos pagãos foram se convertendo, maior ficava a preocupação dos pastores de levá-los a idolatria. Ao mesmo tempo, entretanto, insistia-se no valor dessas imagens “livro dos incultos”, pois na época era grande o numero de pessoas que não sabiam ler, e menos ainda aqueles que possuíam livros, portanto as imagens serviriam para comunicar aos fieis alguns episódios bíblicos mais importantes. A controvérsia surgiu quando o imperador Leão III (que não era papa), mandou destruir uma estatua de Cristo que era muito venerada em Constantinopla. Convocando um concilio para discutir a respeito do uso das imagens no culto, todos os que apoiaram a pratica, foram condenados, trazendo consigo o surgimento de dois partidos os “Iconaclatas” (destruidores de imagem) e os “Iconodulos” (adoradores de imagens). A controvérsia durou muitos anos, com isso a imperatriz Irene, o patriarca Tarasio e o papa Adriano convocaram um concilio que se reuniu em Nicéia em 787 recebendo o nome de 7/ Concilio Ecumênico. Este concílio restaurou o uso de imagens nas igrejas, ao mesmo tempo estabeleceu que elas não eram dignas de adoração, devida só a deus (em grego, latria), mas somente de uma adoração ou veneração inferior (em grego, dulia). 842 as imagens foram restauradas.


EDVALDO MOREIRA ALVES JUNIOR
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO II
PR. CAVARETTO


OS ARABES

Os Árabes são do grupo dos semitas, o mesmo grupo dos judeus. Sua forma de vida era rude, seminômades, de oásis em oásis levando os rebanhos a pastar nos melhores recantos. Os Árabes viviam lutando e assaltando suas próprias caravanas que atravessavam o deserto. Até o século VII, tanto os Árabes sedentários do sul como os nômades da Arábia setentrional e central sempre estiveram à margem das grandes correntes da história. Esses habitantes da Arábia pré-islâmica estavam organizados entre tribos submetidas a uma família principal a um Xeque. Essas tribos formavam dois grupos rivais: Os Árabes do sul (iemitas) e os do Norte (maaditas ou nizaritas). Essa rivalidade explica a hostilidade entre os habitantes de Meca (nizaritas) e os de Yathrib (iemitas).

O POLITEISMO ÁRABE

Em virtude da presença da Caaba, Meca atraia multidões que para lá seguiam em peregrinação. Havia um intervalo entre as lutas e assaltos durante esta época. Os habitantes de Meca já conheciam um Deus chamado Alá mais sem caráter universal que Maomé iria atribuir-lhe. Caaba era tempo onde estavam guardados os trezentos ídolos e a sua volta uma rica feira era montada. Foi nesta cidade prospera que um belo dia apareceu um cameleiro (Maomé), que vinha orar diante da grande pedra negra colocada na Caaba.

O PROFETA MAOMÉ

O cameleiro Maomé era um homem sofrido e inteligente, órfão desde pequeno membro de uma família respeitada na cidade de Meca na Arábia. Maomé nasceu por volta do ano 570 na tribo dos Coraixitas, pertencia ao clã de Hãchim, o mais respeitado, mas não o mais rico desta tribo. Maomé participou do comercio das caravanas fazendo muito sucesso e casando com Cadya uma rica viúva dona dos camelos e a partir daí começa a dedicar-se mais tempo a meditação. Aos quarenta anos começa sua carreira religiosa como profeta. Segundo a lenda em 610 recebeu a visita do arcanjo Gabriel que lhe revelou sua missão profética, três anos depois começa a pregar as palavras que (Deus) lhe inspira-la. Sua pregação era essencialmente da fé em um único deus, na ressurreição dos mortos e na felicidade eterna. Ninguém lhe dava ouvidos no que dizia, os Árabes riam de Maomé quando este dizia que os ídolos de barro nada representavam. Porém, os Coraixitas começaram a perseguir Maomé, pois se os ídolos fossem destruídos não mais receberiam a taxa de conservação da Caaba.

A MIGRAÇÃO DO PROFETA

Depois de 10 anos de pregação Maomé chegou a conclusão que não estavam conseguindo um numero muito grande de adeptos. Tinha apenas cinco seguidores, seus familiares. Devido a perseguição dos Coraixitas e a tentativa de assassina-los, Maomé resolve mudar-se para a cidade de Yathrib, que a partir daí passou a ser conhecida como Medina. Este acontecimento se dá em 622, ano que marca o inicio do calendário islamita (Hégira era muçulmana). Aí pela primeira vez foi estabelecida uma comunidade muçulmana onde o culto, a vida civil e política seguiam as normas traçadas pelo profeta. Como o povo de Medina aderiu a pregação de Maomé, em 630 o profeta liderou um exercito de medinenses, atacou Meca, entrou na cidade e destruiu todos os ídolos da Caaba, deixando apenas a pedra negra e instaurando o culto monoteísta, porem Maomé proibiu qualquer vingança contra os seus antigos inimigos. A partir daí Maomé gozou de cada vez mais prestigio e poder entre os Árabes e quando morreu em 632, boa parte da Arábia tinha se tornado muçulmana.

O ISLAMISMO

Maomé fundou uma religião que possui milhões de adeptos em todo o mundo, sendo considerada hoje a Segunda religião maior do mundo, tendo mais de 600 milhões de seguidores, sendo superada somente pelo cristianismo.

Obs.: Em 1994 o islamismo na Arábia 97%, Cristianismo 2,7% e outros 0,3% (Almanaque 2.000)

Os princípios são os mesmos de algumas religiões, pregando a fé, a solidariedade humana e proibindo as ações contra o próximo e a natureza. O Islamismo é descendente do judaísmo e do cristianismo. Possui um livro básico conhecido como “Corão”, onde os discípulos de Maomé escreveram suas idéias. Numa tentativa de unificar e disciplinar todos os Árabes, o profeta incluiu também idéias políticas, sociais e religiosas no corão. Maomé afirmava que além dele os profetas eram Moises, Abraão e Jesus. Entre as características do Islão estão:

Monoteísmo.
Oração voltada para Meca.
Asseios diários antes das orações.
Proibição de comer carne de porco.
Proibição de bebidas alcoólicas.
Jejuar durante o mês do Ramada.
Proibição dos jogos de azar (vícios).
Permitia o divorcio.
Poligamia.
Guerra santa contra os infiéis.
Tolerância para os Judeus e os cristãos.

AS CONQISTAS DOS CALIFAS

Quando iniciou o século VII parecia que a Europa começara a sair do caos, pois todos os invasores arianos tinham se tornado católico, os resultados da missão de Agostinho começava a aparecer e o império bizantino desfrutava dos resultados das conquistas de Justiniano. Então sucedeu o inesperado. De um obscuro canto do mundo, ao qual tanto o império romano como os reis persas tinham prestado pouquíssima atenção, surgiu uma avalanche que impulsionada pela pregação do corão, parecia destinada a conquistar o mundo. Após a morte de Maomé que não deixou filhos homens e não estabeleceu regras de sucessão, os quatro primeiros Califas (sucessor) saíram de suas famílias sendo o primeiro sogro de Maomé. Sob o primeiro Califa, Abu Béquer, o Islã consolidou seu domínio na Arábia Ocidental e teve seus primeiros conflitos com os exércitos bizantinos que foram derrotados em 634. Abu Béquer morreu e seu sucessor Omar, continuou suas conquistas. Em 635 invadiram a região da Síria e tomaram Damasco. Em 638 Califa em pessoa tomou posse de Jerusalém e dois anos depois com rendição de Cezaréia e Gaza, toda a região caiu em poder dos Árabes. No inicio não perseguiram cristãos nem judeus, pois consideravam “Povos do livro” (Corão), monoteístas como eles. Quando entraram em Jerusalém o Califa decretou que os cristãos tivessem garantido os seus bens, suas igrejas e suas cruzes, pagando o mesmo tributo que os habitantes de outra cidade, sendo proibido o politeísmo, a idolatria e respeito ao profeta e ao corão. Depois foi proibida a conversão dos muçulmanos ao cristianismo ou judaísmo, também limitação nas expressões publica de culto e a obrigação de pagar um tributo mediante o qual o estado se sustentava. Porem os que se convertiam ao Islã não precisavam pagar este imposto. Muitos cristãos de condições mais flexíveis acabaram por aceitar a fé do profeta. Em 639 invadiu o Egito conquistando a maior parte do país. Em 642 quando Alexandria se rendeu, todo o país estava em seu poder. Em 647 capitulou a cidade de Trípoli. Em 657 ao mesmo tempo que enfrentavam os bizantinos na Síria, invadiram a grande potência vizinha, o império persa (atual Irã) e tomaram sua capital, CTESIFOM, fazendo com que os persas se retirassem para as montanhas. Sob o próximo Califa Otoman, as conquistas marcharam mais lentamente. No norte da África os Berberes se opunham aos seus avanços e o império bizantino conseguiu deter o avanço do Islã nesta direção. Além disso, ouve lutas internas entre muçulmanos até que Otoman foi atacado e morto por um dos filhos de Abu Béquer, mesmo assim conquistaram a ilha de Chipre que até então tinha sido parte do império romano. A morte de Otoman não pôs fim a guerra civil entre os muçulmanos. Quando ali o sucessor de Otoman morreu sucederam-lhe os califas Omidas que estabeleceram sua capital em Roma. Apesar de toda resistência dos bizantinos e dos Berberes no fim do século muitos dos Berberes tinham aceitado o Islã. Em 711, um exercito muçulmano composto de Mouros, Berberes e Árabes cruzaram o estreito de Gilbratar e derrotaram o ultimo rei Goldo, Rodrigo, e em pouco tempo toda a Espanha com exceção da Áustria e da Gasconha ao norte, estava sob o domínio muçulmano. Em 732 estavam perto de Poitiers quando foram derrotados pelos Francos sob o comando de Carlos Martel. Anteriormente outro exercito islâmico tinha atacado Constantinopla, o imperador Leão III defendeu a cidade e os muçulmanos perderam quase toda sua esquadra e boa parte de seu exercito. Também contra a Sicília haviam fracassado. A primeira maré de avanço islâmico tinha começado a abaixar.

CONSEQUENCIAS DAS CONQUISTAS

Cem anos haviam passado entre a morte de Maomé e a batalha de Poitiers, cem que mudaram a face do mediterrâneo que antes tinham o domínio comercial entre o Egito e a Síria de um lado e Constantinopla e a Itália por outro. Agora os muçulmanos tinham se apossado de toda a costa do mediterrâneo desde Antioquia até o sul da França. Antes das conquistas dos Árabes, havia um grande comércio que levava ao Ocidente produtos procedentes do Egito. De Alexandria era importado o papiro e do Oriente provinham através do Mar Vermelho seda e especiarias. Após as conquistas dos Árabes esse comércio cessou e os manuscritos tiveram que ser copiados em pergaminho. A Europa Ocidental ficou relativamente isolada das mais antigas civilizações do Egito, Síria e extremo Oriente, obrigando-os a depender dos próprios recursos e a desenvolver sua própria civilização. Só restaram duas cidades que poderiam disputar a hegemonia sobre o mundo cristão: Roma e Constantinopla. Talvez o papa Leão III, tivesse algumas dessas circunstâncias naquele dia de natal de 800 quando cingiu a testa de Carlos Magno com a coroa imperial.

Islã: Do vocábulo Árabe: resignação, submissão a Deus, tornar-se sincero em sua religião.


A RECONQUISTA ESPANHOLA

OS PRIMEROS SÉCULOS

Os conflitos armados entre cristãos e muçulmanos raras vezes parecem Ter tido razões religiosas. Houve com freqüência alianças entre governantes mouros e cristãos, e em muitos casos estas alianças eram seladas com casamentos. Só ocasionalmente estes casamentos requeriam a conversão de uma das partes. Além disto houve nas terras dos mouros bom número de cristão que eram chamados de “moçárebes”. Os primeiros anos de domínio Árabe na Espanha foram turbulentos. A maior parte das tropas que tinham invadido o país compunha-se de soldados marroquinos. Por esta razão na Espanha termo “mouro” veio a ser sinônimo de “mulçumano”. Enquanto isto os cristãos tinham consolidado seu poder em uma faixa de território ao norte da península. O extremo ocidental desta faixa constituía o reino das Astúrias, fundado em 718 pelo nobre visigodo Pelágio. Durante o reinado de Afonso I, neto de Pelágio, teve lugar um acontecimento de grande importância para a história da Espanha; o “descobrimento” do sepulcro de São Tiago. Isto teve importância enorme para aquele pequeno reino das Astúrias, pois a suposta presença nele dos restos dos apóstolos Tiago lhe dava certa independência eclesiástica em relação a Toledo, que na época estava em poder dos muçulmanos. Em parte devido ao suposto sepulcro de São Tiago, as Astúrias chegaram a Ter seu próprio arcebispo. A expansão do reino das Astúrias foi tal que Garcia I, filho e sucessor de Afonso III, se transferiu para Leão. Mesmo não havendo duvidas de que Fernando Gonzáles foi um grande personagem, e o fundador da posterior grandeza de Castela, suas principais lutas não foram contra os mouros, mas contra os soberanos de Leão e Navarra. No ano 1.000 subiu ao trono Navarro Sancho III, o maior que conseguiu reunir sob seu governo também Castela, Aragão e vários outros territórios que antes tinham pertencido aos Francos. Quando ele morreu Navarra, Castela e Aragão foram divididos entre seus três filhos, recebendo cada um o titulo de rei. Foi assim que os condados de Aragão e Castela passaram a ser reinos.

A RECONQUISTA DEPOIS DA MORTE DE ALMANÇOR

Depois da morte de Almançor, em 1002, a situação mudou radicalmente. O califado se desintegrou. Os mouros, cansados da dominação árabe, dividiram seus territórios em um grande número de estados independentes, os chamados “reino de taifas”. Ao mesmo tempo, primeiro sob Sancho III de Navarra depois sob seu filho Fernando I de Leão e Castela, os cristãos puderam apresentar uma frente relativamente unida. O resultado foi uma nova etapa na reconquista. Fernando I, por exemplo, conquistou algumas pequenas áreas dos mouros. Mas seu interesse principal era obrigar os reis de taifas a pagar tributo, como fez com os de Toledo, Saragoça e Sevilha. Fernando dividiu seus territórios entre seus três filhos, Sancho, Afonso e Garcia. Logo surgiram as lutas fratícias, pois Sancho destronou seus irmãos, que se refugiaram entre os mouros. Enquanto Sancho sitiava a cidade de Samora, que era fiel a Afonso foi assassinado, e seu irmão passou a ocupar o trono de Castela e o titulo de Afonso VI.


ALMORÁVIDAS E ALMOADAS

O rei mouro de Sevilha apelou ao chefe destes almorávidas, Iusuf, para que viesse á Espanha para conter o avanço das tropas de Afonso VI. Em 1086 e derrotou os cristãos na batalha de Salaca. Em 1090 ele tomou Granada, e no ano seguinte Córdoba se entregou depois seguiram Sevilha, Badajos, Valência (onde El Cid tinha morrido três anos antes). Saragoça e outras cidades menores. O espírito de uma “reconquista” consciente se apossou da Espanha cristã, e por seu lado o conflito também assumiu o caráter de guerra santa que tinha para os almorávias. O regime almorávida não durou muito. Em 1118 o rei de Aragão, Afonso I, o batalhador, conquistou Saragoça. Pouco depois Afonso VII de Castela começou novamente a empurrar as fronteiras para o sul. Tudo isto era possível porque dentro do mundo muçulmano, na África, um novo grupo tinha se levantado, que tentava tirar o poder dos almorávidas. Tratava-se dos almoadas, tão fanáticos como os anteriores. Já em 1145 os almoadas fizeram sentir sua presença na Espanha e em 1170 expulsaram definitivamente os almorávidas. A partir de 1248 o único estado islâmico que restava na Espanha era o reino de Granada. Este talvez poderia Ter sido conquistado então; mas os reis de Castela se limitaram a lhe exigir tributo.

O IMPACTO DA ESPANHA NA TEOLOGIA CRISTÃ

AVERRÓIS nasceu em Córdoba em 1126. Apesar de Ter estudado medicina, jurisprudência e teologia, foi no campo da filosofia que ele mais se destacou. Também no que se refere á vida depois da morte, Averróis diferia da ortodoxia maometana. Para ele, também com base em Aristóteles, todas as almas humanas (que ele chama de “intelecto ativo”) não passam de manifestações de uma única alma universal. Por isto, quando o individuo morre, sua alma se reintegra neste oceano que é a alma universal. Maimônides era contemporâneo de Averróis. Na sua opinião não há um verdadeiro conflito entre fé e a razão. O que acontece é que há certos temas que a razão não consegue investigar adequadamente. Assim, por exemplo, no que se refere á eternidade do mundo ou da matéria, a razão não pode chegar a uma conclusão segura. Mas com base na fé sabemos que o mundo foi feito do nada.


AS ORDENS MENDICANTES

O PRECURSOR: PEDRO VALDO

De fato, Pedro Valdo aparece como precursor de São Francisco, com a grande diferença que em sua época a igreja ainda não estava pronta para aceitar os novos ideais, como estaria uma geração mais tarde, quando surgiu o santo de Assis. Comovido com a história, Valdo decidiu se dedicar à pobreza e à pregação. O arcebispo de Lyon não lho permitiu e então ele apelou a Roma. Regressando a Lyon, Valdo e seus discípulos se negaram a aceitar a decisão do seu bispo, e continuaram pregando. Em 1184 um concílio reunido em Verona os condenou. Mas apesar disto os valdenses persistiram em sua pobreza e pregação. Durante algum tempo se espalharam por diversas cidades. Mas mais tarde a perseguição foi total que se viram obrigados a procurar refúgio nos vales mais retirados dos Alpes. Quando no século XVI houve a reforma protestante alguns pregadores reformados estabeleceram contato com os Valdenses, que aceitaram sua doutrina e assim se tornaram protestantes.

SÃO FRANCISCO E A ORDEM DOS IRMÃOS MENORES

Seu verdadeiro nome era João. Mais tarde ele ficou conhecido em Assis pelo apelido de “Francisco”, ou seja, o pequeno francês. Por este apelido seus seguidores o conheceram, e depois o mundo todo. Acontece que, depois de uma longa luta, o jovem Francisco tinha decidido seguir a caminho que antes tinham tomado Pedro Valdo. Em fins de fevereiro de 1209 a leitura do Evangelho daquele dia sacudiu todo seu ser:

“À medida que seguirdes pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça daí. Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento” (Mateus 10:7-10).

Aquelas palavras lhe deram um novo sentido de missão. Até então a preocupação principal do monasticismo tinha sido a própria salvação, e os monges fugiam de qualquer contato com pessoas que pudessem afasta-los da contemplação religiosa. O movimento que Francisco fundou foi exatamente o contrário. Por fim, acompanhado com dezenas de seguidores, decidiu ir a Roma para solicitar que o papa, na época Inocêncio III, o autorizasse a fundar uma nova ordem. De regresso para Assis com a sanção do papa Francisco continuou sua pregação. Mas o movimento não ficaria nisto. Não tardou para muitas pessoas pedirem ingresso na ordem. Por todas as partes da Itália e da França, e depois em toda a Europa, os “irmãos menores” – assim se chamavam os frades de Francisco. Preocupado com as tentações que o êxito trazia para sua ordem, Francisco fez um testamento em que proibia a seus seguidores possuir coisa alguma, e também lhes proibia qualquer alivio de Regra, ainda que fosse do papa. No capitulo geral da ordem de 1220 ele deu uma prova final de humildade, renunciando á direção da ordem. E submetendo-se em obediência ao seu sucessor. Por fim, em 3 de outubro de 1226, ele morreu em sua amada igreja Porciúncula. Diz-se que suas últimas palavras foram: “Cumpri meu dever. Agora, Cristo vos dê a conhecer o vosso. Bem vinda irmã morte!”.

SÃO DOMINGOS E A ORDEM DOS PREGADORES

Foi na pequena aldeia de Caleruega, perto de Burgos, no centro de Castela, onde Domingos nasceu. Depois de uns dez anos de estudo em Palência ele se uniu ao capitulo da catedral de Osma, como um dos cônegos. Quatro anos depois, quando Domingos tinha idade de vinte e nove anos, o capitulo adotou a regra monástica dos cônegos de santo Agostinho. Em 1203, Domingos e seu bispo Diego de Osma, passaram pelo sul da França, onde nosso cônego se comoveu ao ver o auge a que chegara a heresia dos cátaros ou albigenses e como se tentava converte-los á força. Convicto de que não era o melhor meio de combater a heresia, Domingos dedicou-se a pregar a ortodoxia, uniu sua pregação a uma vida de disciplina rigorosa, e fez uso dos melhores recursos intelectuais que estavam ao seu alcance. Pouco tempo depois Domingos foi a Roma para solicitar a Inocêncio III a aprovação da regra. Mas lhe deu a licença para continuar o trabalho começado, desde que enquadrados em uma regra monástica já aprovada. Talvez levados pelo impacto do franciscanismo nascente, os dominicanos também adotaram o principio da pobreza total, para se sustentar somente através de esmolas. Por esta razão estas duas ordens são conhecidas como “ordens mendicantes”.

O CURSO POSTERIOR DAS ORDENS MENDICANTES

Tanto a ordem dos pregadores como a dos irmãos menores cresceram rapidamente em quase toda a Europa. Mas a fundada por São Domingos teve uma história muito menos acidentada que a de São Francisco. Como os dominicanos, os franciscanos se distinguiram tanto por sua atividade missionária como por sua presença nas universidades. As missões sempre tinham sido uma das paixões de São Francisco, que várias vezes tentou partir para a terra dos infiéis, e que por fim conseguiu pregar ao sultão do Egito. Seguindo seu exemplo, os franciscanos empreenderam um trabalho missionário de alcance incrível. De fato, foram eles que, depois de séculos de esquecimento, voltaram a tomar a sério o mandado de Jesus de serem testemunhas “até os confins da terra”. Em 1278 outros cinco missionários franciscanos foram enviados para a China, mas seu destino nos é desconhecido. Por fim franciscano João de Montecorvino chegou a Cambaluc com uma carta do papa, e começou o trabalho missionário nesta capital. Seu êxito foi tal que depois de poucos anos havia milhares de convertidos. Com o crescimento da ordem, o espírito simples do seu fundador foi se perdendo, ao mesmo tempo em que se fazia necessário organizar o movimento. Isto por sua vez, requeria propriedades, e não faltaram os que doaram aos franciscanos. A regra 1223 proibia que os franciscanos tivessem qualquer propriedade, e esta pobreza não deveria ser somente individual, mas também coletiva. Em 1230 o papa Gregório IX declarou que o testamento de São Francisco não tinha valor de lei para os franciscanos, que por isto podiam pedir a Roma que modificasse a lei da pobreza. Em 1245 Inocêncio IV acudiu ao subterfúgio de declarar que todas as propriedades em questão pertenciam a Santa Sé, enquanto os franciscanos desfrutavam delas. Mas tarde também esta ficção foi abandonada, e a ordem do pobrezinho de Assis começou a Ter vastas propriedades. Com o nome de “espirituais”, aqueles franciscanos começaram a pregar as doutrinas de Joaquim de Fiore. Isto implicava em que o papa, o restante da igreja, e inclusive os demais franciscanos eram a “Igreja do Espírito Santo”.


AS CRUZADAS

Eu digo aos presentes. E ordeno que seja dito aos ausentes. Cristo está mandando. Todos os que forem lá e perderem a vida, seja no caminho por terra ou no mar, ou na luta contra os pagãos, terão perdão imediato dos seus pecados. Isto eu concedo a todos os que marcharem, em virtude do grande Dom que Deus me tem dado.

Urbano II

De todos os ideais que cativaram o espírito da época, nenhum foi tão avassalador, dramático e contraditório como o das cruzadas. Durante séculos a Europa Ocidental derramou sangue e empenhou o seu fervor numa série de expedições cujos resultados, se positivos foram de pouca duração e nos piores casos trágicos. O objetivo das cruzadas era derrotar os muçulmanos que ameaçavam Constantinopla, salvar o império do Ocidente, unir de novo a cristandade, reconquistar a Terra Santa, e em tudo isso ganhar o céu. De certa maneira todos os objetivos foram alcançados, sendo o último de competência somente de Deus opinar. Os turcos foram derrotados, depois se uniram e venceram os cruzados, caindo Constantinopla no poder dos turcos otomanos. As igrejas latina e Grega estiveram juntas por ocasião da Quarta cruzada e fruto dessa união forçada o ódio se assentou nos gregos pelos latinos. A terra Santa esteve em poder dos cristãos por mais ou menos um século, caindo novamente nas mãos dos muçulmanos.

PANO DE FUNDO DAS CRUZADAS: AS PEREGRINAÇÕES

No século IV o costume de visitar os túmulos dos mártires se tornou “moda”, e as peregrinações se tornaram populares, sendo as peregrinações para a Terra Santa as mais fascinantes, tanto pela aventura da viagem, como pelo significado do local a ser visitado. Apesar de contestada por lideres cristãos, que diziam que havia mais mérito em ficar em casa e fazer o bem do que peregrinar. As peregrinações se tornaram cada vez mais populares e no séc. VII foi incluída entre as penitências para certos pecados. Quando os Árabes tomaram os lugares sagrados, algumas pessoas temeram pelas peregrinações, porém eles foram muito benevolentes com os peregrinos era através de Constantinopla, devido à pirataria, depois através da Anatólia e Síria chegava-se a Jerusalém. Com a reforma do Séc. XI a pirataria foi quase erradicada ficando o caminho mais fácil, nessa época, porém os turcos seljúcidas invadiram o califado tomando os lugares santo, depois a dinastia árabe dos fatimidas tendo como sede o seu poder no Egito começou a reconquistar as terras dos turcos. Nesse ambiente a viagem dos peregrinos se tornava confusa e perigosa. Os que regressavam diziam da necessidade de se armar devido aos bandos de ladrões. Essa situação fez com que muitos não retornassem para a Europa, e então começaram a pensar na peregrinação a Terra Santa como a última peregrinação. Para os mais exaltados a morte em peregrinação era suprema eleição divina, como a morte dos mártires. Voltar vivo muitas vezes era motivo de decepção. Outro fato que essa situação gerou foi à existência de peregrinos armados para se defenderem de bandidos ou soldados que os quisessem aprisionar, parecendo muitas vezes até um pequeno exército.


PANO DE FUNDO DAS CRUZADAS: A GUERRA SANTA

A igreja antiga tinha dúvidas se uma pessoa poderia ser cristão e soldado, no tempo de Constantino essa dúvida foi desfeita, devido à maneira como o cristianismo era encarado, e muitos soldados nas legiões romanas eram cristãos, como se fossem ordenados por Deus. Na “era das trevas” muitos bispos apoiaram os exércitos nos campos de batalha. Carlos Magno nas suas conquistas recebeu a sanção papal. O papa Leão IX marchou á frente das tropas contra os normandos. Essa tradição de guerra santa associada ás peregrinações deu inicio ao ideal das cruzadas.

A PRIMEIRA CRUZADA

No tempo de Urbano II, o imperador de Bizâncio, Aleixo Comeno pediu ajuda a Roma contra a invasão turca. Nessa época as autoridades religiosas estavam tentando frear o espírito guerreiro dos nobres, pondo fim as intermináveis escaramuças entre eles. Por outro lado nos últimos anos do séc. XI houve vários anos de colheitas fracas na Europa Ocidental gerando muita fome, e também se juntaram grandes epidemias causando muitas mortes na população. Em meio a toda essa dificuldade o papa Urbano no concilio de Clermont, na França fez a sua famosa convocação á primeira cruzada. No seu discurso enfatizou o sofrimento dos cristãos orientais e os horrores que os peregrinos sofriam e por fim ofereceu indulgência plena a todos que morressem nesse empreendimento. A multidão se entusiasmou e no final do discurso gritavam “Deus quer! Deus quer! Deus quer!”. O resultado dessa convocação ultrapassou o esperado além da preparação para uma grande expedição bélica organizada pelos nobres, surgiu uma febre de entusiasmo, e surgiram pregadores de grandes empreendimentos. Muitas visões de Jerusalém celestial, bando de peixes, borboletas ou aves voando em direção ao leste indicando o caminho a seguir. Alguns diziam Ter recebido as marcas da cruz no ombro declarando-o eleito para a peregrinação militar. Dentre esse lideres que surgiram no meio do povo, um dos mais famosos foi Pedro, o ermitão. Este conseguiu arrastar atrás de si uma grande multidão. Enquanto os nobres preparavam suas armas para a guerra, gente humilde ferrava os seus animais e junto com sua família e suas escassa posse partiam para a luta. Atravessaram a França e depois, Alemanha seguindo para o território dos húngaros. Como não levavam provisões não tardou a luta contra os próprios cristãos que defendiam suas posses, primeiro com os húngaros e depois com os búlgaros. Nessa peripécia Pedro perdeu a autoridade e seu exército começou a desfazer. Chegaram afinal às fronteiras do império Bizantino e Aleixo Comeno fez o possível para apressar a passagem através dele para impedir os incidentes, com a ajuda do exército atravessaram Bósforo e entraram na Anatólia. Tiveram o seu primeiro encontro desastroso com os turcos, sendo aconselhados pelo imperador a esperar os nobres. Enquanto isso outros grupos se formavam em várias regiões da Europa, com uma organização pior do que a de Pedro, sendo muitos desses bandos aniquilados pelos paises por onde passavam. Além disso, boa parte dos “soldados de Cristo”, começaram a matar os judeus, pois estavam lutando contra os infiéis, porque não já começar a matá-los. Em Praga muitos judeus foram mortos. Henrique IV quando voltou de sua viagem á Itália proibiu o assassinato dos judeus. O papa nomeou o Bispo Ademar de Monteil, bispo de Puy, seu legado como chefe do empreendimento. Os cruzados partiram da Europa por diversos caminhos para Constantinopla. Da região do Reno, tanto alemães como franceses eram liderados por Godofredo de Bulhões, duque de Baixa Lorena, os franceses do sul por Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse, outros franceses seguiam Hugo de Vermandois, irmão de Felipe I, os normandos do sul da Itália seguiram Boemundo e Tancredo e grupos menores de outros paises se uniram a estes exércitos. Todos estes exércitos dirigiam-se para Constantinopla onde foram recebidos pelo imperador Aleixo, que exigiu que qualquer cidade bizantina conquistada voltaria a seu império. Ermitão e seu exército se uniram aos nobres que foram acompanhados pelo exército de Aleixo. A primeira ação militar foi em Nicéia a qual foi conquistada pelos cruzados, porém quem entrou primeiro foi Aleixo, o qual forneceu os suprimentos para os combatentes, ouro e pedras preciosas retiradas do tesouro do sultão seljúcida Kirlik Arslan. Partiram para Constantinopla, e no caminho foram surpreendidos pelas tropas turcas, que não foram derrotadas por uma estratégia de se dividir o exército em duas partes distanciado por um dia de caminhada. Nas terras da Anatólia sofreram perdas pela dureza do caminho, seguindo para Heracléia onde novamente derrotaram os turcos. A caminho de Antioquia houve desavenças e brigas entre os cruzados levando a Balduino a abandonar o empreendimento e se estabelecer em Edessa. Os cruzados receberam apoio de outros cristãos e no sitio á Antioquia tiveram dificuldades de se manter enquanto que os turcos sitiados se mantinham firmes. As deserções começaram a ocorrer, e em uma noite Pedro, o Ermitão abandonou o acampamento sendo capturado por Tancredo que o trouxe de volta. Aleixo vindo ajuda-los foi ludibriado pelos desertores e retornou para Constantinopla. Nesse tempo um armênio que morava na cidade, abriu os portões de Antioquia e os francos entraram aos gritos de “deus quer”. Grande parte dos turcos se refugiou numa cidadela fortificada no meio do povoado, sendo restante o restante morto pelos cruzados. Essa alegria durou quatro dias quando foram surpreendidos por um novo exército turco chefiado por Kerbogat, que cercaram a cidade. A situação era insuportável com muita fome e epidemias, quando um camponês de nome Pedro Bartolomeu teve uma visão em que Santo André e Jesus lhe apareceram e contaram que a lança que tinha ferido Jesus estava enterrada em Antioquia na igreja de São Pedro. A principio não lhe deram ouvidos, pois muitas visões havia naquele exército. Outras visões confirmaram o que Pedro Bartolomeu tinha dito e começaram a cavar a igreja encontrando uma lança que julgaram ser a da visão. Um frenesi se apoderou do exército e pós cinco dias de jejum atacaram os turcos destruindo-os, tendo a Santa lança como estandarte. Voltaram para o acampamento para saqueá-lo encontrando muitas mulheres, que segundo um cronista nos conta que o fervor era tanto que “não lhes fizemos nenhum mal, somente as matamos a lançadas”. A conquista de Antioquia trouxe um outro problema, os lideres a queriam para si e Ademar, seu líder religioso tinha morrido em conseqüência das epidemias. Depois de muita contenda a deixaram para Boemundo. Perderam muito tempo como intuito dos nobres de saquear as cidades vizinhas, antes de ir para Jerusalém. Em Trípoli foram bem recebidos pagando seu emir um grande tributo. Decidiram tomar Arca, e nesse impasse Pedro Bartolomeu teve outra visão, que deveriam atacar a cidade Santa, não lhe deram atenção e para provar a sua visão na Sexta-feira santa, diante de quarenta mil seguidores passou com a Santa Lança em punho, por entre duas fogueiras, vindo a falecer no outro dia, uns dizem que devido as queimaduras e entre os cruzados se dizia que após o feito todos queriam um pedaço de suas vestes e acabaram quebrando alguns ossos, vindo a falecer. Marcharam para Jerusalém em meio a discordância entre os lideres, quando lá chegara viram uma cidade bem fortificada, e sem as mínimas condições de se manter ao seu redor, pois os Árabes que a dominavam e não os turcos destruíram tudo a seu redor para dificultar os cruzados. Receberam ajuda de uma frota genovesa e depois de alguém Ter recebido uma visão em que o bispo Ademar de Puy apareceu dizendo que deviam jejuar e fazer penitência marchando descalço ao redor da cidade e depois atacá-la. Foi uma luta terrível com grandes perdas, sendo Jerusalém dominada, o massacre foi tão brutal, todos os habitantes foram mortos e segundo o relato de uma testemunha, no Pórtico de Salomão o sangue chegava até os joelhos dos cavalos.


HISTÓRIA POSTERIOR DAS CRUZADAS

Depois do banho de sangue os cruzados começaram a organizar as suas conquistas. Godofredo de Bulhões foi eleito rei de Jerusalém, mas por respeito ao rei dos reis não quis esse titulo sendo chamado de “protetor do Santo Sepulcro”, em 1100 seu irmão Balduino lhe sucedeu e tomou o titulo de rei, sendo seus principais vassalos o Príncipe de Antioquia (Boemundo), e os condes de Edessa (Balduino) e de Trípoli (Raimundo de Toulouse). Muitos dos que participaram das cruzadas, não tinham a intenção de ficar na Terra Santa e as duras penas Godofredo conseguiu um grupo de cavaleiros que derrotaram os sarracenos em Ascalom. Jerusalém ficou numa situação precária, sendo solicitado constantemente reforços á Europa. Continuamente partiam para a Terra Santa, contingentes motivados pela aventura e com espírito de penitência. A Segunda e outras cruzadas foram narradas por historiadores, sendo, no entanto pontos culminantes de um movimento ininterrupto que cativou a imaginação da cristandade ocidental. As massas de algum modo escutaram da predileção das escrituras pelos pobres, tema que não era pregado na época, entendendo que eles é que deveriam trazer o reino de Deus. Tema semelhante se via nas cruzadas de crianças, em que a inocência sendo um meio de merecer o favor divino, pensava-se que estava reservado ás crianças inocentes vencer os infiéis, através da influencia milagrosa dos céus. Cada vez que o fervor popular aumentava grupos de crianças marchavam a Terra Santa, sendo mortas pelo caminho ou se tornando escravas dos povos por onde passavam.

CONSIDERANDO AS CRUZADAS SOB A ÓTICA DOS HISTORIADORES PODEMOS DIZER QUE:

A Segunda cruzada ocorreu em resposta á queda de Edessa em 1144, tomada pelo sultão de Alepo. Dois personagens se destacaram na organização dessa cruzada, o frei Rodolfo que pregava que o anticristo estava preste a vir, que os pobres sem a ordem dos nobres deveriam partir e a caminho era necessário destruir o povo judeu, pois rejeitaram a Deus e Bernardo de Claraval, esse monge pregava que esse movimento deveria acontecer com o consentimento da igreja, não alterando a vida ordenada das massas, se dedicou a pregar mais aos poderosos. Luis VII da França e o imperador Conrado III da Alemanha se uniram ao empreendimento formando um exército de quase 200.000 homens, sendo que a Quarta parte não tinha condição de lutar. O exército alemão depois de passar por Constantinopla, foi derrotado em Doriléia, parte das tropas regressou com o imperador indo para Jerusalém e o restante liderado por Oto, irmão do imperador, foram derrotados em Laodicéia. Os franceses foram derrotados pelos turcos e Luis VII embarcou com suas tropas para Antioquia sendo o restante do povo deixado á mercê dos turcos. Raimundo de Aquitânia, príncipe de Antioquia era tio de Leonor, esposa de Luis VII, que por desconfiar da relação entre o tio e a sobrinha, partiu com sua tropa para Jerusalém. O rei Balduino III de Jerusalém persuadiu a Luis e Conrado a conquistarem Damasco, mas pelas dificuldades a enfrentar desistiram da empreitada e logo depois voltaram para a Europa. Por breve tempo Jerusalém ficou nas mãos dos cristãos, em 1187 o novo sultão do Egito, concentrou sob seu poder as forças muçulmanas e tomaram a cidade Santa. Deu inicio então a terceira cruzada sob a convocação do papa Gregório VIII. Sendo liderada pelo imperador da Alemanha, Frederico Babaroxa, pelo rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão e pelo rei da França, Felipe II Augusto. Para participar desse empreendimento cada guerreiro tinha que Ter condições de se sustentar por dois anos, regra essa que foi motivo de protesto dos pobres, pois, assim como os ricos todos pagavam o dizimo para a Terra Santa. Essa cruzada foi um grande fracasso. Frederico Barbaroxa se afogou e seu exército se desfez. Os pobres se uniram aos cristãos da Palestina e aos restos do exército alemão e sitiaram São João de Acre. Algum tempo depois Ricardo e Felipe se uniram a eles, chegando a meio milhão de sitiantes, depois de dois anos de assédio a cidade se rendeu. Felipe Augusto logo voltou para a sua terra, aproveitando a ausência de Ricardo pra se apossar das terras inglesas do continente. Ricardo Coração de Leão permaneceu por mais um tempo retornando para seus pais por outro caminho sendo aprisionado pelo rei da Áustria, o qual exigiu um resgate enorme pela sua liberdade. A Quarta cruzada foi convocada por Inocêncio III, ocasião em que o poder do papado chegou ao seu apogeu. A intenção dessa cruzada era atacar os muçulmanos no centro do seu poder, o Egito, achando assim que a conquista de Jerusalém seria mais fácil e duradoura. O papa se declarou o líder desse movimento, para evitar o desastre da terceira cruzada, como na primeira os soldados de Cristo marchariam sob as ordens diretas dos legados papais. O mais famoso pregador dessa cruzada foi Foulques de Neuilly, homem humilde que nos lembra Pedro, o Ermitão. Foulques foi mais radical e pregou a justiça social, dizendo que a riqueza mal obtida deveria ser repartida entre os pobres. Em outra época poderia ser morto, mas Inocêncio III o utilizou para os seus propósitos hierárquicos, assim com outros elementos anarquistas, no caso especifico de Foulques o papa lhe conferiu a responsabilidade de divulgar a cruzada. Os pobres por causa da eleição divina eram os únicos que poderiam derrotar os infiéis, para sustentá-los arrecadou o tesouro das cruzadas lhes dando oportunidade a todos de participarem da cruzada colaborando com o evento, mesmo que essa ajuda fosse tão pequena como o da viúva pobre. Para transporte foi contratada a frota da República de Veneza que como pagamento os cruzados deveriam reconquistar uma cidade que os húngaros tinham tomado. A principio o papa foi contra, pois os húngaros eram cristãos, mas temeroso que o exército se desfizesse autorizou os soldados de Cristo a lutarem contra os cristãos húngaros. A cidade foi tomada e devolvida aos venezianos. Nesse intervalo de tempo Constantinopla tinha o seu trono em disputa e Aleixo secretamente negociou com o papa o seu apoio, em troca daria a este a liderança da igreja grega. Solicitou que os cruzados fossem primeiro para Constantinopla e depois para o Egito, mandando então junto com os cruzados uma parte do seu exército e deixaria 55oo cavaleiros em Jerusalém, o papa não concordou, ordenando que primeiro atacassem o Egito. O fato é que foram primeiro para Constantinopla onde se fez coroar Aleixo IV, o qual não conseguiu se manter sendo substituído por Aleixo V. Os cruzados aproveitaram da situação para tomarem de vez Constantinopla coroando Balduino de Flandes, nomeado um patriarca latino. Teoricamente estavam unidas as igrejas do oriente e do ocidente. O papa quando soube da noticia não agradou, mas entendeu ser a providência divina em ação. Os bizantinos não aceitaram aquela surpresa e Balduino na verdade reinou sobre a parte européia do império. Em 1261 Constantinopla voltou ao império bizantino. Como conseqüência os orientais passaram a Ter receio dos ocidentais. A Quinta cruzada foi dirigida por João de Brienne, “rei de Jerusalém”. Os cristãos tinham perdido Jerusalém á muito tempo, porém o titulo de rei era conservado. A proposta era conquistar Jerusalém, esta cruzada atacou primeiro o Egito, sendo a sua única conquista, a fortificação de Damieta em 1220. A sesta cruzada foi dirigida por um imperador excomungado e apesar disto obteve resultado melhor do que as outras. O imperador Frederico II Augusto demorou em sair com a sua cruzada e o papa Gregório IX o excomungou por isso, sendo que qualquer cruzada dirigida por ele seria desobediência ao papa. Frederico (1228) liderou a cruzada e fez um tratado com o sultão do Egito (1229) de que em troca de Jerusalém, Belém, Nazaré e outras cidades até São João do Acre, os cristãos não mais invadiriam o Egito e respeitariam a vida e os bens dos muçulmanos nesse território. Frederico se coroou rei de Jerusalém, sob os protestos de Gregório, mas as massas o tinham como o libertados de Jerusalém. A sétima cruzada foi dirigida por Luis IX da França (São Luis), que dirigiu o ataque ao Egito, sendo a sua única conquista Damieta. Em Mansura foi feito prisioneiro tendo de pagar alto resgate. A oitava cruzada foi também dirigida por São Luis que terminou com a sua morte em Tunis em 1270. Eduardo I da Inglaterra fez uma expedição em 1271-1272. Ultima possessão latina na Palestina foi perdida em 1291. Em resumo afora a primeira e a sexta cruzada, todas as outras foram um fracasso. O fervor popular mesclou com a ganância dos grandes. Poucos anos após as cruzadas o que sobrou desses empreendimentos foram alguns castelos e templos em ruínas e outras grandes conseqüências.


CONSEQUÊNCIAS

Uma das conseqüências foi o surgimento das ordens militares, que eram ordens monásticas com votos tradicionais de pobreza, obediência e castidade. O antigo movimento dos ascetas do Egito tomou várias formas, foi o braço missionário, o cérebro da igreja e por fim tomou a espada para defender os peregrinos. Os cavaleiros de Malta eram monges responsáveis por hospital, que passaram a defender os peregrinos e com a queda de Jerusalém se mudaram para Malta. A ordem dos templários e dos cavaleiros teutônicos seguiu o mesmo padrão. Tinham um líder que era o grão-mestre, que era ministro geral da ordem e chefe do exército. Por esse tipo de atividade começaram a acumular riquezas, sendo suprimidos por vários reis os quais confiscaram suas riquezas, em 1307 foram brutalmente suprimidos na França pelo rei Felipe IV. Outra conseqüência foi à inimizade entre o cristianismo latino e o oriental. Os gregos viam os ocidentais como heréticos. Os cristãos que viviam no meio dos muçulmanos eram respeitados por estes. Quando passaram a dominar, os cristãos que viviam nessas regiões foram perseguidos e massacrados, perdendo o contato com o restante dos cristãos. O poder do papado aumentou muito, se transformando numa autoridade internacional, capaz de julgar os soberanos de diversas nações. As cruzadas despertaram o desejo de saber mais sobre a realidade física de Jesus, poemas e sermões narravam os episódios da paixão com detalhes. O culto ás relíquias aumentou, vindo da Terra Santa pedaços da santa cruz, ossos dos patriarcas, dentes de João Batista, leite da Virgem, etc.
A vida intelectual teve muitas influências, e colaborou para a consistência de velhas heresias, como foi o caso dos albigenses. Acreditavam que o espírito era bom e a matéria má, que Jesus era um mensageiro celeste, porém sem carne humana. Inocêncio III tentou suprimir essa idéia tendo interesse em conquistar seus territórios também, limitou o movimento, mas a idéia se espalhou. O impacto intelectual não se limitou apenas a heresias, mas também quanto à matemática, o desenvolvimento de universidades, a arquitetura, as artes, costumes e gostos de origem muçulmana. As cruzadas tiveram uma relação muito complexa com uma série de mudanças, o poderio estava muito ligado á posse de terras, surge então as atividades mercantis dando lugar a novas fontes de riquezas, a manufatura e o comércio, surgindo à burguesia que a cada vez se torna mais forte e na revolução francesa vence o poder dos nobres. As cruzadas foram um movimento de grandes ideais que dominaram a igreja nos séculos XI, XII e XIII os reveses destes ideais, fruto do amor a aventura, esperança de saque, desejo de expansão territorial, ódio religioso, crendo também que estavam fazendo algo importante para as suas almas e para cristo, foram considerados como falta de fé e fidelidade.


O BRASIL

Se os índios tivessem uma vida espiritual.
Reconheceriam seu criador e sua vassalagem Á sua majestade e da obrigação de obedecer Aos cristãos... Os homens (portugueses) Teriam escravos legítimos capturados em guerras Justas, e também teriam o serviço e a vassalagem Dos índios das missões. A terra estaria povoada de Colonizadores nosso Senhor ganharia muitas almas E sua majestade receberia grandes lucros dessa terra.

Manoel da Nóbrega

No ano de 1500, o português Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa com uma forte esquadra com destino as Índias. Seguindo instruções do Vasco da Gama, no sentido de que evitasse as calmarias da costa africana. Álvares Cabral desviou-se para o ocidente, em 22 de abril seus vigias avistaram a costa brasileira. Depois de explorar a região por alguns dias, a frota continuou o caminho para a Índia, porém não sem antes enviar um navio de regresso a Portugal, com noticias das terras descobertas e de seus habitantes. Segundo o que fora acertado entre Espanha e Portugal, e aprovado pelo papa, aquelas terras ficavam dentro do território que pertencia ao governo de Lisboa. Porém esta estava demasiadamente ocupada com suas empresas para o oriente, e durante um terço do século fez-se pouco para colonizar aquelas costas. Durante esse tempo houve várias viagens de explorações, e se estabeleceram contatos com os nativos da região. A única riqueza que se descobriu ali foi uma madeira, que foi chamada de “pau-brasil” que servia para produzir tintas, e que deu seu nome ao país. O rei Manoel de Portugal concedeu o monopólio dessa madeira a um grupo de comerciantes portugueses. Estes estabeleceram pequenos postos comerciais, com armazéns, em diversos lugares da costa. Ali vivia um escasso número de portugueses que se dedicava a contratar os índios para que estes cortassem e levassem aos armazéns a madeira “pau-brasil”, em troca de facas, machadinhas, agulhas, alfinetes e outras ninharias. Logo, os franceses se interessaram naquele comércio tão produtivo, e começaram a competir com os portugueses. Seu método era um pouco diferente, pois o que faziam era deixar na costa alguns representantes, que viviam entre os índios, aprendendo seu idioma, e servindo como tradutores e como agentes mercantis. Quando chegavam os barcos franceses, aqueles tradutores e seus amigos índios levavam a madeira até a costa, em troca de miudezas e utilidades semelhantes ás que traziam os portugueses. Naqueles primeiros contatos, os europeus se maravilharam da hospitalidade com que os índios o receberam. Além de darem a eles o que comer, ofereciam-lhes suas filhas como concubinas. Segundo as primeiras informações chegadas á Europa, tratava-se de uma nobre raça de selvagens, incrivelmente inocentes, sem religião nem governo. Em tais opiniões alguns historiadores têm visto uma sutil indicação do descontentamento que começava a aparecer na Europa com respeito á igreja e aos governos. Dizer que os índios brasileiros eram perfeitamente felizes sem religião nem governo era dar a entender que talvez o mesmo poderia ocorrer na velha Europa. Entretanto, esses índios, que pareciam tão nobres e pacíficos, eram canibais. Quando tomaram algum cativo de uma tribo inimiga, matavam-no com um golpe na cabeça e comiam em meio a uma série de cerimônias. Eram, além do mais, segundo se dizia, bastante materialistas, pois não entendiam mais do que a vida presente, e conseqüentemente dispostos a vender suas almas e mudar de religião em troca de uns anzóis e armas. Também não gostavam de trabalhar, pois se limitavam a semear a mandioca que necessitavam, passando o resto do tempo em caças, festas e danças. Porém, apesar das opiniões desencontradas sobre os índios, todos concordavam que as terras eram ricas, capazes de produzir, não só o pau-brasil que pouco a pouco ia desaparecendo das costas, mas também da cana de açúcar. E visto que nessa época o açúcar era vendido a altíssimo preço nos mercados europeus, logo surgiram os que começaram a olhar para o Brasil com olhos cobiçosos.


A ESCRAVIDÃO DOS INDIOS

Visto que a partir daí o rei reservou para si o monopólio da madeira e das especiarias que pudesse haver, a principal fonte de riqueza para os colonos era a cana de açúcar. Porém, seu cultivo, e a tarefa de produzir o açúcar, necessitavam de muita mão-de-obra. Era necessário aplainar os montes e limpar os campos antes de ará-los e semeá-los. Depois tinha que cortar e moer a cana. E finalmente era necessário ferver seu caldo, e para isso se necessitava de cortar lenha. Assim, o único modo em que essa indústria poderia tornar-se lucrativa era mediante o trabalho dos índios. Porém estes se negavam a trabalhar nos campos, preferindo a caça e a pesca, e alegando que essa era tarefa para mulheres. Os artefatos que antes serviam para comerciar com os índios não eram mais suficientes para motiva-los ao trabalho nos campos de cana ou nos engenhos. Foi assim que surgiu a escravidão dos índios. No principio, os colonos compravam escravos de seus vizinhos índios, em troca de ferramentas e diversas miudezas. Estes, por sua vez, atacavam os inimigos tradicionais, e os submetiam a escravidão, e se os trouxessem aos portugueses, estes justificavam esse comércio explicando-lhes que estavam salvando as suas vidas como prisioneiros de guerra, pois de outro modo seriam mortos e comidos pelos vencedores. Porém, esse método de conseguir escravos não foi suficiente, em parte, porque os índios amigos, uma vez saciados em sua necessidade de armas, machadinhas, anzóis, etc., não tinham maior interesse em continuar comercializando com seus vizinhos europeus. Começou-se então a incitar as tribos a guerrear umas contra as outras. Na teoria, só era licito escravizar os índios conseguidos em “guerra justa”. Outro modo de satisfazer a demanda de escravos foi traze-los da África.


A COLÔNIA REAL E A EVANGELIZAÇÃO

Em 1549, o rei fez do Brasil uma colônia real para que através disso se estabelecesse à ordem como para apoderar-se de maiores riquezas. Junto com o primeiro governador do Brasil Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuítas sob a direção de Manoel da Nóbrega. Pouco tempo depois, em 1551, Júlio III nomeou como primeiro Bispo de Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha.

EVANGELIZAÇÃO

É por demais conhecido o fato de que toda a empresa marítima portuguesa foi expressa pelos contemporâneos em linguagem religiosa e missionária... Os contemporâneos nos dão a impressão de que para eles o maior acontecimento depois da criação do mundo, excetuando-se a ressurreição e morte de Jesus Cristo, foi à descoberta das índias. Portugal entrou de maneira decisiva nos planos salvíficos de Deus, que depois de diversas tentativas mal sucedidas, lhe confiou a missão de “estabelecer o seu reino neste mundo” (idéias de Vieira): “O reino de Deus por Portugal”. Escreveu o próprio D. João III ao primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza: “a principal causa que me levou a povoar o Brasil foi que a gente do Brasil se convertesse á nossa santa fé católica”. E esse discurso acerca da evangelização era, em primeiro lugar, UNIVERSALISTA. Era um discurso que desconhecia fronteiras. Na época do descobrimento, circulava em Portugal uma lenda famosa acerca do apóstolo São Tomé, o apóstolo das índias, de que os missionários não fizeram senão seguir as pegadas de são Tomé e que, tanto no Brasil como no Paraguai, descobriram-se em rochas ou pedras pegadas do apóstolo e de um ajudante e baseado nisso vê-se nas crenças indígenas algum vestígio da pregação apostólica evidentemente deteriorada pela falsa tradição dos principais. Esta lenda, assim como outras parecidas, funcionavam poderosamente para justificar o discurso universalista, desconhecedor da fronteira do “outro”, considerando o “outro” como marginal e nunca o “outro” como no sentido pleno da palavra. Daí o zelo quase fanático dos missionários em extirpar qualquer vestígio de que era interpretado como idolatria, barbárie, aberração da “verdadeira fé”. Em segundo lugar, o discurso missionário acerca de sua missão era DOUTRINÁRIO. Era preciso doutrinar. São Tomás tinha ensinado que a pregação apostólica tinha atingido todas as nações, mas não todos os homens em particular. Por isso era necessário pregar com força, com pressa e com alta voz. Simão de Vasconcelos, cronista Jesuíta narra a maneira como o padre missionário Navarro doutrinava os indígenas: Começava a despejar a torrente de sua eloqüência, levantando a voz, pregando-lhes os mistérios da fé, andando em roda deles, batendo o pé, espalmando as mãos, fazendo as mesmas pausas, quebras e espantos costumados entre seus pregadores, pêra mais os agradar e persuadir. E, em terceiro lugar, através desse discurso doutrinário, escondia-se um discurso guerreiro. A impressão que os textos deixam é que só se conseguia ver a formação de uma igreja dentro dos quadros da ordem trazida pelos portugueses, purificando-os, talvez, de abusos e corrupções, eliminado a ignorância, a injustiça, a superstição, o fatalismo dos gentios, mas nunca colocando a questão do sistema em si. E como o sistema era estruturalmente agressivo diante de indígenas e africanos, o discurso evangelizador não conseguiu escapar á agressividade, mesmo em condições favoráveis. A terminologia “evangelização” passou a ser justificativo da opressão e escravização de indígenas e africanos. Nem sempre o discurso era aberta e ostensivamente guerreiro, pelo contrário, na primeira carta de Pero Vaz de Caminha, relatando o contato dos portugueses com os indígenas instaura-se uma tradição paradisíaca a respeito do Brasil, do seu clima e de seus habitantes. Mas essa visão traria conseqüências terríveis para os indígenas, ora não correspondendo á imagem colonial que foi construída a seu respeito, imagem de bondade e inocência, de ingenuidade e simplicidade, ora quando, pelos contatos com os “civilizados”, eles eram afligidos por mortais epidemias que até hoje continuam sendo a primeira causa do extermínio dos indígenas no Brasil.
Nesse meio tempo, Tomé de Souza se mostrou um governador hábil que regeu os destinos da colônia durante quatro anos, mantendo a concórdia com os índios vizinhos e assegurando-se que o poder real fosse obedecido em todo lugar. Já o bispo se mostrou ser menos sábio. Logo conseguiu a inimizade dos colonos e não se ocupava em nada com os índios. E os conflitos com o governador não se fizeram esperar, e o bispo decidiu partir para Portugal levando suas queixas ao rei. Porém naufragou ele e suas acompanhantes, e foram mortos e comidos pelos índios. O segundo governador foi ineficiente e foi substituído em 1558 por Mem de Sá. Este era uma pessoa firme e aguerrida, de grande habilidade política e diplomática. Existia ainda tribos que guerreavam umas contra as outras, ao mesmo tempo em que mostrava a força das armas portuguesas. Os índios haviam começado a inquietar-se sob o governo anterior e se encheram de terror. Os que não fugiram para as selvas do interior o governador os obrigou a viver em povoados dos jesuítas. De modo semelhante que no Paraguai e outros lugares, os jesuítas concluíram que o melhor meio de ensinar os índios era fazendo-os viver em aldeias sob a supervisão dos jesuítas. Um deles expressou seu contentamento com o terror que o governador havia semeado entre os índios, dizendo: “todos tremem de medo diante do governador, e esse medo, ainda que não dure pela vida toda, nos basta para ensinar-lhes... Esse medo os ajuda a ouvir a palavra de Deus”.


VILLEGAGNON E OS PROTESTANTES

Durante a primeira metade do século XVI, os franceses se contentaram com visitas á costas do Brasil para comerciar com os índios. Porém nos meados do século começaram a interessar-se em estabelecer uma colônia permanente na região. Com a responsabilidade desse empreendimento surgiu Nicolas Durand de Villegagnon, um hábil soldado que tinha se destacado em várias campanhas européias. Com escravos comprados dos índios vizinhos, os franceses começaram todos os trabalhos próprios da colonização. Além do mais, visto que o projeto consistia em fundar uma colônia em que houvesse liberdade de cultos. Villegagnon escreveu a Calvino pedindo-lhe que enviasse pastores protestantes. Desde o principio Villegagnon teve dificuldades com os colonos, pois não lhes permitia escravizar aos índios amigos, nem aceitar as mulheres que estes lhe ofereciam. Isto deu motivo para uma conspiração, porém Villegagnon inteirou-se dela, matou seu chefe, e pôs os demais na cadeia. Um contingente chegado da França, sob o comando de um sobrinho de Villegagnon, trazia pastores protestantes enviados pelas autoridades genebrinas em resposta a solicitação recebida. Porém isto aumentou as desavenças na pequena colônia. Os católicos acusavam os protestantes de tentar convertê-los, e estes acusavam os católicos de lhes oprimirem. Houve vários incidentes violentos. Finalmente, Villegagnon tomou o partido dos católicos, e fez matar a cinco protestantes, e ordenou que os demais fossem expulsos da colônia. Entre os castigados se encontravam o pastor Jean de Léry, um dos poucos europeus que naquelas costas tentou entender os índios. As crônicas que Léry deixou são umas das principais fontes que os permitem conhecer hoje o modo pela qual os índios viram a invasão de suas terras. Nelas se encontra a história do diálogo que o pastor teve com um ancião índio:

Por que é que vocês, franceses e portugueses, vieram de tão longe buscar madeira para se esquentarem? Não existem madeira em seus paises?
Sim, existe respondeu o pastor, porém não como esta. Além do mais, não a queremos para queimar, mas para tingir as roupas, como fazem vocês com suas cordas de algodão e com suas plumas.
E precisam de muita?
Sim no nosso pais há comerciantes que têm muito mais telas, espelhos e outras coisas do que vocês podem imaginar. Um só deles pode comprar toda a madeira que vem em vários barcos.
Ah! O que você me dá conta é incrível. E esse homem tão rico, nunca morre?
Sim, morre como os demais.
E o que se faz então quando morre com todas essas coisas que tem?
Ficam para seus filhos, ou senão para seus irmãos ou parentes.
Já me dou conta que vocês os franceses são loucos. Cruzam o mar com mil trabalhos e dificuldades... E trabalham com afã para acumular riquezas para seus filhos... Não bastaria a terra que alimenta vocês para alimentá-los a eles também? Nós também temos pais, mães e filhos a quem amamos.
Porém confiamos que depois de nossa morte a terra que nos alimentou os alimentará também. Por isso podemos viver sem grandes preocupações.


OS DOGMAS E AS DÚVIDAS

Esta era é marcada pelo crescente movimento protestantismo, principalmente na região da Alemanha. Começaremos a ver a partir da Guerra dos Trinta Anos uma série de confrontos e lutas pelos ideais cristãos e pelos ideais políticos de vários homens que dominavam a Europa na época. Os Dogmas católicos se misturavam com as duvidas sobre a veracidade do movimento da Reforma Protestante, esse confronto de pensamentos e o confronto de forças politico-religiosas levaram a Europa a sofrer sangrentas batalhas e a devassidão de seu povo, que muitas vezes não tinha culpa de tal sede pelo poder. Tudo isso somado ao aparecimento e o forte crescimento do protestantismo, principalmente luterano originando em primeiro lugar a GUERRA DOS TRINTA ANOS.


A GUERRA DOS TRINTA ANOS

Dentro da história religiosa da Alemanha a partir da renuncia de Carlos V, a dignidade imperial, onde se começa uma luta religiosa que sacudia a Alemanha no século XVI. Fernando I e Maximiliano II sucessores de Carlos V seguiram uma política religiosa relativamente tolerante ao protestantismo. As falhas existentes na política religiosa de Fernando I e Maximiliano II eram:
O calvinismo considerado herege;
O senhorio tinha acesso a liberdade dos cultos;
O senhorio católico permanecia eclesiástico até que seu bispo se fizesse protestante.


PREPARA-SE O TORMENTO

1576- Rodolfo II sucedeu a Maximiliano II no trono imperial.
Rodolfo II possuía uma política religiosa católica, mas era fraco e o protestantismo continua a crescer.
Os primeiros conflitos que levaria a guerra começaram em Donauworth, uma cidade imperial protestante.
1606- Alguns monges fazem procissão em Donauworth e são recebidos a pauladas e um ano após este ocorrido, Maximiliano de Baviera, católico convencido, acreditava que a heresia protestante deveria ser extirpada, entra em Donauworth com um grande exercito e começa a obrigar seus habitantes a serem católicos.
1608- Os protestantes se manifestam e criam a União Evangélica para sua defesa, no ano seguinte os católicos criam a Liga Católica.

A DEFENESTAÇÃO DE PRAGA

Durante o ocorrido na Alemanha protestante, apenas na alta nobreza existiam católicos. Com a tentativa do imperador Rodolfo de acabar com o protestantismo na Hungria, mandando seu irmão Matias, e este tendo fracassado, Boêmia fica em alerta. Matias se rebela com Rodolfo, firma paz com os protestantes da Hungria e obtém o apoio da Maraiva. O imperador Rodolfo para não perder a Boêmia, firma o documento chamado Majestat, dando garantias aos protestantes da Boêmia. Rodolfo mais tarde por vingança a Matias invalida a Majestat, perde e é obrigado a abdicar onde Matias é coroado imperador. Matias muda sua capital de Praga (Boêmia) para Viena (Áustria), aumentando ainda mais as desconfianças dos Boêmios. 1617- Matias nomeia seu sobrinho, Fernando de Estéria rei de Boêmia, cujo qual era católico e tinha como meta destruir o protestantismo. Nesta época com a violação da Majestat os boêmios começaram a rebelar-se contra o imperador e seu sobrinho. Faz-se uma reunião em praga onde se nega dar ouvidos aos protestantes e estes jogam pela janela dois dos principais lideres católicos que não se ferem por caírem sobre lixos. Este fato se conhece como a “Defenestração de Praga” que marca o começo da Guerra dos Trinta anos.


A GUERRA NA BOÊMIA

Nesta época Matias morre e seu sobrinho Fernando II o sucede ao trono imperial com o propósito de acabar com o protestantismo, mas teve dificuldades porque a Boêmia contava com fortes aliados. Fernando II recorre a liga católica e a seu chefe Maximiliano de Baviera, que junta todos os seus recursos e parte para Boêmia. Praga se vê ameaçada e então começa a Guerra sangrenta onde Boêmia perde, Frederico sai fugido e Fernando volta ao trono. 1620- No verão deste ano, Fernando recebe o apoio de um exercito espanhol e demais aliados. Frederico fica sozinho e a União Evangélica se desfaz. Alguns protestantes foram mortos, outros lhes tiraram as posses. Criam-se leis contra o protestantismo, onde o sofrimento pela fé aumentava cada vez mais. 1626- Fica decretado que apenas católicos poderiam morar em Boêmia. Neste caso durante os 30 anos de guerra a população de Boêmia caiu 80%.


A INTERVENÇÃO DINAMARQUESA

As grandes potências protestantes não se agradam com o triunfo católico, não pela religião, mas pela política dinástica, porque a casa de Áustria se torna muito forte. 1625- A Inglaterra, a Holanda e a Dinamarca se unem em uma liga protestante com vários aliados, com o propósito de invadir o império e restaurar Frederico. Fernando II busca ser independente da liga católica e de Maximiliano, já que a vitória de Boêmia a eles pertencia e não ao imperador, devido a isso se junta então com Alberto de Wallenstein. Fernando II junta seus fundos e os Wallenstein e cria um grande exercito para servir a casa de Áustria. Cristiano IV da Dinamarca invade os territórios imperiais e se defronta com dois exércitos, o da Liga e o de Wallenstein. A guerra teve seus altos e baixos quando Cristiano IV vencia a liga, ele tinha que parar e ir de encontro a Wallenstein, neste caso a liga se refazia e por fim Lutter, Cristiano IV e seus aliados foram derrotados. Tilly segue ocupando os territórios protestantes enquanto Wallenstein se prepara para invadir o território de Cristiano IV na Dinamarca. Wallenstein não obtém o apoio da Suécia e fracassa na tentativa. 1629- Fernando II e Cristiano IV fazem as pazes e criam o tratado de Lubeck, onde o rei da Dinamarca saia da contenda e recebia suas terras de volta. No final a única coisa que se conseguiu fora banhar novamente o norte da Alemanha de sangue. Continua a força do Catolicismo.

A INTERVENÇÃO SUECA

1611- Gustavo Adolfo aos seus 17 anos herda o trono da Suécia, um trono pobre e falido, mas pouco a pouco se torna um grande governador. Durante o reinado de Gustavo Adolfo, este estava sempre de olho na guerra de seu país vizinho, a Alemanha, pois este temia por ser luterano convicto. Nesta época Fernando II, zeloso pelo triunfo de Wallenstein e confiante em seu domínio, o despede. 1630- Gustavo Adolfo invade os territórios imperiais e Fernando II se vê obrigado a recorrer a liga católica comandada pelo General Tilly. Gustavo Adolfo possuía uma habilidade militar que foi reconhecida por gerações posteriores, a principio não possuía apoio de outros príncipes protestantes por temerem suas intenções. Os exércitos do rei Sueco eram exemplares, e não tomavam carnificina por onde passavam, e isto fez com que o rei se tornasse um herói legendário. Mais tarde Gustavo Adolfo recebe o apoio de outros príncipes protestantes, como os da França, da Sacônia e de Brandeburgo. Fernando II recorre novamente a Tilly e ao exercito da liga católica, que seguem em guerra no território de Magdeburgo produzindo uma carnificina, fazendo com que todos aclamem pelo rei Sueco. Tilly entra em batalha com Gustavo Adolfo em Leipzig e é derrotado. Neste caso o rei Sueco aproveita e manda seus aliados saxônios invadirem a Boêmia, a guerra segue e o rei Sueco conquista o grande território de Baviera o principal membro da liga católica. Os lideres católicos reconhecem a derrota e tentam fazer um acordo com Gustavo Augusto, que faz inúmeras exigências, das tais:
Tolerância religiosa para católicos e protestantes;
Devolução de posses aos boêmios;
Recuperação de Frederico aos seus territórios;
A expulsão dos jesuítas do império.

Novamente Fernando II recorre a Wallenstein e seu exército, este lhe faz inúmeras exigências, até mesmo o de poderio imperial, feito o acordo Wallenstein segue juntamente com a liga em direção a Praga e expulsa os saxônios que ali estão; e marcha contra Gustavo Augusto com tanta atrocidade que todos aclamam pelo rei sueco. Os dois exércitos se encontram em Lutzen, uma batalha sangrenta e travada. Gustavo Augusto é morto e devido a isso, acontece o enfurecimento de seus exércitos, e com o ímpeto redobrado na guerra, o exército de Wallenstein é destroçado. Um tempo de indecisão toma conta. Wallenstein se retira para Boêmia com o resto de sua tropa, o Chanceler Oxel Oxenstierna, que fora nomeado no lugar de Gustavo Augusto deseja paz e o acordo se fez diante das exigências feitas pelo acordo anterior de Gustavo Augusto. Os suecos acostumados a guerrear se unem com nobres alemães a quem o tratado não favorece, enquanto o Chanceler sueco negocia, então começaram a guerrear e esta se limita a rixas, com a vitória sendo sempre dos suecos e seus aliados protestantes. Neste caso o único recurso que restava ao imperador era o exercito de Wallenstein, e este não mostrava vontade de defender a casa de Áustria. A corte percebeu que para Wallenstein não havia vantagens para guerrear. Wallenstein não deixa Boêmia por interesses próprios e por negociar com os suecos. E toda a negociação deveria acontecer antes que as tropas viessem em auxilio ao imperador para dar certa posição à casa de Áustria. Os rumores das negociações chegam aos ouvidos do império e Wallenstein é assassinado e seu exercito é comandado pelo império e apoiado pelas tropas espanholas. Assim conseguem grandes vitórias importantes, e a aliança feita por Gustavo Augusto vai desaparecendo. Oxenstierna recorre a França, que intervém com mais força, faz as pazes com a Polônia e partem para guerra, mas quando estão quase esmagando o partido do império, a Dinamarca intervém contra a Suécia. Os últimos anos de guerra foram os mais confusos, porque já se havia perdido a causa de origem e cada um pelejava conforme seus próprios interesses. A mistura de interesses era visível, já que a Dinamarca era protestante e apoiava o império católico, e a França cujo primeiro ministro era Cardeal apoiava a Suécia protestante para derrotar a casa de Áustria. O trágico da GUERRA DOS TRINTA ANOS foi à violência e as atrocidades cometidas com vidas. Não ficou sequer um canto da Alemanha que não tenha sido assolado várias vezes.

PAZ DE WESTIFALIA

Todos se cansaram da guerra até mesmo os mais sanguinários, e Fernando II já havia morrido em 1637 e seu filho que o sucedeu, Fernando III, mesmo sendo católico, não era tão intolerante quanto seu pai. Os alemães estavam cansados de estrangeiros em seus territórios, e a França percebe que é o melhor momento para concessões. Finalmente em 1648 após longa negociação, chega-se a paz em Westfalia, pondo fim a GUERRA DOS TRINTA ANOS.
Os principais vencedores são:
A Suécia;
A França;
Que angariam amplos territórios.

A perca realmente da guerra ficou para o imperador, Fernando III, cujo poder ficou grandemente reduzido.
Cada um poderia seguir a sua religião desejada (catolicismo ou protestantismo);
A liberdade religiosa não seria apenas para o senhorio, mas para os súditos também;
Cada edifício religioso ou instituição seria da confissão a quem pertencerem em 1624;
A concessão de uma anistia total (exceto nos territórios hereditários dos da Áustria).

A guerra chega ao fim e a única coisa que se ganhou foi à mostra dos horrores que uma guerra religiosa pode provocar.


HORIZONTES POLITICOS: OS ESTADOS UNIDOS

A Independência das Treze Colônias
Ao terminar o volume anterior, vimos como, por diversas vezes e variados meios, os ingleses haviam estabelecido na costa atlântica da América do Norte uma série de colônias, e como vários acontecimentos haviam paulatinamente criado um certo sentimento de comunidade entre treze delas. O começo do século XVIII foi assinalado por um enfraquecimento religioso e moral nas colônias. Na Nova Inglaterra, esta condição era tão palpável que provocou muita tristeza e lamentação. Aquela convicção arraigada e aquele zelo da primeira geração de puritanos não se manifestaram nos seus descendentes, que não tinham tido a experiência inspiradora da vinda a uma nova terra á procura de liberdade religiosa. Tudo isto teve grande impacto na vida religiosa estadunidense. Boa parte da ideologia que serviu de base para o movimento separatista, e para o estabelecimento da democracia capitalista norte-americana, consistia de uma religiosidade “ilustrada” e antidogmática. O “culto á razão” difundiu-se entre a aristocracia crioula, e junto com ela uma atitude de ceticismo para com tudo o que não fizesse parte de uma “religião natural”, ou melhor, dos casos, de um “cristianismo essencial”. Por conseguinte, as doutrinas dos diversos grupos eclesiásticos deveriam ser abandonadas ou relegadas a segundo plano. A providência era, sobretudo um principio de progresso. Estas idéias tomaram forma institucional em dois movimentos: unitarismo e o universalismo. O primeiro surgiu praticamente junto com a independência norte-americana, e principalmente no seio de igrejas anglicanas e congregacionais que não estavam dispostas a seguir a ortodoxia tradicional. Embora essas igrejas tivessem recebido o nome de “unitárias” ou “unitarianas”, porque rejeitavam a doutrina da Trindade, o fato é que elas diferiam da ortodoxia em muito mais do que isto. Elas eram essencialmente racionalistas, que sublinhavam a liberdade e o intelecto humano frente á ênfase mais tradicional no ministério divino e no pecado. Alguns ministros congregacionalistas e muitos leigos rejeitavam o ensino extremado relativo á pecaminosidade da natureza humana, do modo como era comumente ouvido nos púlpitos da Nova Inglaterra, e também negavam a divindade de Cristo. No inicio do século, o campo religioso ficou dividido entre unitarianos. Cerca de cem igrejas, perto de Boston, tornaram-se unitarianas. O movimento universalista surgiu por esse tempo na Nova Inglaterra e outros lugares. O universalismo, em outras palavras, a doutrina segundo a qual todos hão de se salvar, foi introduzido nos Estados Unidos, pouco antes da independência, por metodistas ingleses que se haviam convencido de que a doutrina da eterna perdição de alguns negava o amor de Deus. Pouco depois da independência, eles organizaram na Nova Inglaterra a sua primeira igreja. Posteriormente, os unitários e os universalistas se uniram. Foi principalmente entre unitários que surgiu o movimento dos “transcedentalistas”, cujo principal expoente foi Ralph Emerson. Nesse movimento se misturavam as idéias do romantismo e do idealismo europeus. Contudo a principal dificuldade que as diversas igrejas das treze colônias tiveram de enfrentar foi a de suas relações com a Grã-Bretanha. O movimento Metodista chegou á América em 1766. Naquele ano Felipe Embury que tinha sido pregador metodista na Irlanda, começou a pregar em Nova York. A partir dessa época, as sociedades dos metodistas multiplicaram-se e se desenvolveram rapidamente. Em 1771, Francisco Asbury foi indicado por Wesley para dirigir o metodismo americano. Sua capacidade de liderança e seu zelo incansável, e a cooperação dos seus colegas de ministério, deram lugar a um crescimento muito rápido, mesmo durante o período de guerra e de lutas políticas. A força maior desse movimento, nesse tempo, estava no sul. A principio o metodismo sofreu reveses parecidos e por causa semelhantes. John Wesley era partidário decidido da coroa e exortou os metodistas norte americanos a obedecerem aos editos reais. Depois da declaração de independência, todos os pregadores metodistas ingleses, exceto Asbury, regressaram á Grã-Bretanha. Por estas razões, os metodistas tornaram-se impopulares entre os patriotas norte-americanos. O metodismo norte-americano recuperou a sua própria forma e independência, e recrutou novos pregadores. Organizou-se a igreja Metodista Americana, com sua hierarquia própria, separada tanto da igreja Episcopal quanto do metodismo britânico. O metodismo norte-americano ficou debaixo da direção de bispos, cuja autoridade era grande. As outras igrejas seguiram diversos rumos. Os congregacionais, apesar do grande prestigio que lhe havia dado o seu apoio revolução, só se estenderam para os territórios colonizados a partir da Nova Inglaterra. Os presbiterianos tiveram algum crescimento, embora não tanto quanto os metodistas e os batistas. As demais denominações dedicaram-se se reorganizar, segundo requeria a nova situação política, e a reparar os danos causados pela guerra. “Denominação”, representa uma das características principais do cristianismo que resultou da experiência norte-americana. Quer dizer, nomes diferentes que os cristãos dão a si próprios. Já indicamos que, para muitas pessoas, as diferentes doutrinas das igrejas eram questão de pouca importância, ou até de valor negativo. Estas idéias, levadas para o âmbito da vida eclesiástica, subentendiam que os distintos grupos ou “igrejas” não pretendiam ser “igreja”, mas somente “denominações” que os cristãos davam a si mesmo. Uma conseqüência pratica deste modo de ver a “igreja” e as “igrejas”, é que os grandes debates que dividiram o cristianismo norte-americano não se limitaram a uma ou outra “igreja”, mas atravessaram as barreiras “denominacionais”. Assim, por exemplo, temas como escravidão, as atitudes diante da teoria da evolução, o fundamentalismo, o liberalismo e as lutas racionais, dividiram várias denominações ao mesmo tempo, e os partidários de determinada posição uniram-se através das supostas barreiras denominacionais. Os iniciadores desse movimento, Thomas Campbell e seu filho Alexander, não queriam fundar uma nova igreja; contudo, desejavam chamar todos os crentes á unidade cristã, mediante a proclamação do evangelho em sua pureza original. As treze colônias que, ulteriormente, vieram a ser os Estados Unidos, haviam sido fundadas por imigrantes, em sua maioria da Inglaterra, mas também da Alemanha e outras regiões da Europa. Contudo, já quase no fim do século XVIII, e durante o século XIX, desencadeou-se uma grande onda migratória da Europa para os Estados Unidos. Isto se deveu, em parte, ás drásticas mudanças que estavam acontecendo na Europa – as guerras napoleônicas, em parte, ás grandes extensões de terra que pareciam estar disponíveis ao ocidente da nova nação. A outra grande imigração, a involuntária, dos escravos procedentes da África, também assumiu novas dimensões. As conseqüências de tudo isto para as igrejas norte-americanas foram notabilíssimas. A igreja do século XIX havia se tornado a mais numerosa de todas as igrejas do país. A principio, quase todos os católicos norte-americanos eram de origem inglesa, aos quais, depois, se juntaram franceses e alemães. Tudo isto deu origem a um catolicismo tipicamente norte-americano, que difere do catolicismo de outros paises, precisamente por sua diversidade cultural e pela forma como essa diversidade e as tradições democráticas do país limitaram o poder tradicional da hierarquia. O crescimento da igreja católica também criou uma reação em vários centros. Já no principio do século XIX, havia pessoas que se opunham á imigração ilimitada de católicos, alegando que a democracia norte-americana, de origem protestante, era incompatível com o catolicismo romano e seu conceito hierárquico de autoridade, mas tarde, a Ku Klux Klan desencadeou o seu fanatismo xenófobo, não apenas contra os negros, mas também contra os católicos judeus, tendo como base à mesma idéia de que os Estados Unidos haviam sido chamados para ser uma nação branca, protestante e democrática, e que estas três características eram inseparáveis. A outra confissão cristã que recebeu grande aumento em seu número de adeptos graças á imigração foi o luteranismo. A principio, quase totalidade dos imigrantes luteranos era de origem alemã. Além dos católicos e luteranos, os novos imigrantes representavam todos os outros matizes da tradição cristã: menonitas, morávios, husitas, ortodoxos gregos e russos, etc... Provavelmente o mais notável desses experimentos foi o dos shakers ou “tremedores”, sob a direção da profetisa Ann Lee Stanley, conhecida dentro do movimento como Mãe Ann Lee. Em seus primórdios, os Shakers tentavam viver segundo as suas aspirações na sua Inglaterra natal. Contudo, posteriormente as pressões sociais foram tais que eles decidiram emigrar para América do Norte. A Mãe Ann Lee dizia ser Segunda Vinda de Cristo, que havia regressado agora em forma feminina, como antes havia vindo em forma masculina. Ulteriormente todos se salvariam e, portanto, a função da comunidade de crentes era ser a vanguarda da salvação final.


O SEGUNDO GRANDE AVIVAMENTO

No fim do século XVIII começou na Nova Inglaterra um Segundo Grande Avivamento, semelhante ao primeiro, do qual tratamos nas últimas páginas do volume anterior. Contrariamente ao que se poderia pensar, este avivamento não se caracterizou por grandes explosões emotivas, mas o que sucedia era que, de modo inusitado, as pessoas começavam a encarar a sua fé com maior seriedade, reformando os seus costumes para se ajustarem melhor ás exigências dessa fé. Como resultado daquela primeira fase do avivamento, fundaram-se dezenas de sociedades com o propósito de difundir a mensagem do evangelho. Dentre elas, as mais importantes foram a Sociedade Bíblica Americana, fundada em 1816, e a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, fundada seis anos antes. Outras sociedades surgidas como resultado daquele avivamento se dedicaram a diversas causas sociais, tais como a abolição da escravatura (a Sociedade Colonizadora, de que trataremos mais adiante) e a guerra contra o álcool (a Sociedade Americana para a Promoção da Temperança, fundada em 1826). As mulheres foram ocupando uma posição cada vez mais destacada nesta última causa. O avivamento havia rompido as barreiras da Nova Inglaterra e das classes mais educadas, começando a abrir caminho entre as pessoas menos instruídas, muitas das quais se dirigiam para os novos territórios do oeste. Talvez o passo mais notável dessa transformação tenha sido o avivamento de Cane Ridge, no estado de Kentucky, organizado na medida em que o foi – pelo pastor presbiteriano da igreja local. Com o fim de despertar a fé dos habitantes da comarca, aquele pastor, anunciou uma grande assembléia de avivamento, ou “reunião de acampamento”. Ao chegar o dia marcado, dezenas de milhares de pessoas se congregaram. Em uma região em que eram poucas as oportunidades para reunir-se e festejar, o anúncio daquele pastor atraiu toda classe de pessoas. Muitos foram por motivos religiosos. Outros foram para jogar e embriagar-se. Possivelmente muitos nem sabiam ao certo por que estavam indo. Além do pastor presbiteriano do lugar, havia outros pregadores batistas e metodistas. Enquanto uns jogavam e outros bebiam, os pastores pregavam. Um inimigo do movimento chegou a dizer que em Cane Ridge se conceberam mais almas do que as que se salvaram. Inesperadamente, começaram a ocorrer inauditas expressões de emoção, pois uns choravam, outros riam, outros tremiam, alguns saiam correndo, e não faltavam pessoas que latiam... Embora a reunião de Cane Ridge tivesse sido organizada por um pastor presbiteriano, essa denominação não via com bons olhos as manifestações de emoção desenfreada que estavam acontecendo. Logo se tomaram medidas disciplinares contra os pastores que participavam de cultos no estilo de Cane Ridge, e a Igreja Presbiteriana, por isso, não teve nos novos territórios o impacto que tiveram os batistas e os metodistas. Outras das razões do crescimento batista e metodista foi que essas duas denominações se demonstraram dispostas a apresentar a sua mensagem da forma mais simples possível, e a utilizar para isso pregadores de escassa preparação. Enquanto as outras denominações careciam de pessoal, porque não havia onde nem como ministrar instrução a candidatos, os metodistas e batistas estavam dispostos a utilizar a quem se sentisse chamado pelo Senhor, pregadores leigos. Quando se abria algum território novo, nunca faltava entre os novos colonos algum batista disposto a tomar sobre si as responsabilidades do ministério da pregação. Assim, por métodos diversos, os batistas e metodistas, conseguiram arraigar-se nos novos territórios e, em meados do século eram as principais denominações protestantes do país. O Avivamento, a que a história da igreja se refere, foi que ele contribuiu para romper as barreiras da origem étnica, entre os novos batistas e metodistas.


PREFÁCIO

A IGREJA Evangélica hoje vive as conseqüências de um passado cheio de altos e baixo. A sua história mostra momentos de extrema dificuldade, quando a igreja esteve a ponto de se apagar, em conseqüência de desvios causados por “lideres” – tanto papas como imperadores – que fizeram com que a imagem desta igreja ficasse marcada pela depravação e pelo pecado. Podemos ver claramente a mão de Deus nesses momentos de fraqueza da igreja, com todo o seu cuidado e sua sustentação. Ao mesmo tempo olhamos a história e notamos momentos brilhantes dessa igreja, que se expandiu em paises, transformou milhares de fiéis, e conseguiu fazer de sua doutrina algo relevante para todos aqueles que a ouviam. Em um desses grandes momentos da igreja, nós notamos a “Reforma Protestante”, que alcançou seu ápice no séc. XVI. Nós podemos afirmar que, se esse movimento não foi o fator mais importante na história da igreja, pelo menos ele se destaca entre os grandes e fundamentais movimentos, pois trouxe novamente a igreja à idéia da “Igreja segundo o coração de Deus”, esta que viveu o cristianismo autêntico nos seus primeiros anos, conforme notamos no livro de Atos dos Apóstolos. Olhamos para a reforma e não podemos deixar de destacar alguns “santos” usados por Deus que deram sua contribuição, muitas vezes com a sua própria vida, como no caso do grande João Huss, e fizeram com que a igreja, até os dias de hoje, tivesse registrado na sua caminhada, um crescimento e uma maturidade deixados por estes homens. Quando falamos dos santos da igreja, não podemos deixar de destacar o grande Martinho Lutero, o grande reformador do séc. XVI. Um homem que influenciou com suas idéias grande parte da Europa, e conseqüentemente, grande parte do mundo. Este trabalho visa relatar, de forma sucinta, um pouco da história da Reforma e de Martinho Lutero, desde sua infância até a expansão do luteranismo pelos diversos lugares. Visa também mostrar aos leitores os sofrimentos e as lutas enfrentadas por todos aqueles que buscaram resgatar a autenticidade do cristianismo, visando com isso fazer com que cada leitor possa Ter consciência de que sua fé é resultado de morte e angústia, e sua caminhada é resultado da seriedade e compromisso desses homens ou santos de Deus no passado. O meu desejo é que este trabalho sirva de modelo para todos aqueles que querem viver o autêntico evangelho, o que implica em cruz, autonegação e serviço ao Senhor.
O Autor.

INTRODUÇÃO

Início da Idade Média. A igreja começa a sofrer um de seus piores e maiores desafios desde sua fundação. Bárbaros assumem o poder. Tiranos, indisciplinados, depravados e analfabetos tomam a liderança da igreja. Homens intitulados Papas, sem qualquer condição, assumem o clero. Imperadores programados assumem a liderança da sociedade. E por fim, a própria sociedade, denominada cristã, mas longe dos princípios cristãos, perde a sua identidade de sociedade intelectual, influenciada pelos ensinos greco-romanos, e passa a viver na total depravação e na total ignorância. Parece que a igreja havia perdido sua influência, parece que o cristianismo tinha sido arrebatado pelo paganismo. Tudo parecia estar no fim. A igreja havia chegado ao mais fundo do poço. Não havia como descer mais, não havia como entender tudo isso... Era a Idade das Trevas! Mas, uma luz surge no fim do túnel, começa a acontecer. A situação começa a tomar novos rumos. Surge um movimento chamado “Renascimento”. A partir daí homens sérios começam a aparecer novamente no cenário da história. O tempo vai passando e a igreja vai conquistando cada vez mais seu espaço. Mas, a luta continua, pois mesmo fortalecida, a igreja continua enfrentando homens maus, egoístas, sem preparo nenhum para a liderança desta instituição. Vem o séc. XVI e um novo escândalo surge no meio da igreja. É a famosa venda das indulgências, daquelas “cadeirinhas no céu” reservadas para aqueles que pagassem seus pecados comprando a salvação e o perdão de Deus através de sua aquisição. Ao mesmo tempo surge um homem, monge Agostinho, que começa a combater esse tipo de mensagem. Este homem é Martinho Lutero. A partir daí, começa um novo período na igreja. O período das reflexões, das confrontações, enfim, da busca pela autenticidade tão pregada e vivida pela igreja do N.T. Vem o luteranismo, e a partir dele, um novo conceito de igreja. Vem a separação dos chamados protestantes de todo o vinculo com a igreja católica. Surge a Reforma Protestante! Surge a igreja nacional. A igreja nasce outra vez, forte, séria, com propósitos novos, com ideais novos. O cristianismo passa a caminhar por um novo caminho!


CAPITULO 01- POR QUE ACONTECEU A REFORMA?

Alguns fatores tornaram inevitável a Reforma. A relutância da igreja católica romana medieval em aceitar as mudanças sugeridas por reformadores sinceros como os místicos, Wycliffe e Huss, os lideres dos concílios reformadores e humanistas; o surgimento das nações-Estados, que se opuseram ao poderio universal do papa e a formação da classe média, que se revoltou contra a remessa de reservas para Roma. Sua fixação ao passado, clássico e pagão, indiferente ás forças dinâmicas que estavam formando uma nova sociedade, da qual o papado fazia parte, adotou uma forma de vida corrupta e imoral embora ilustrada.

A EMERGÊNCIA DE UM NOVO MUNDO EM EXPASÃO

Por volta de 1500, uma nova sociedade com uma dimensão geográfica muito ampla e com transformações nos padrões políticos, econômicos e religiosos, começava a surgir.
Como a Europa se expandiu globalmente, todo o mundo foi afetado por essa situação.

MUDANÇAS GEOGRÁFICAS:

O conhecimento geográfico do homem medieval sofreu mudanças fundamentais entre 1492 e 1600. Em 1517 as descobertas de Colombo e de outros exploradores inauguraram a era de civilização oceânica, em que os mares do mundo tornaram-se as estradas do mundo. Ao tempo em que Lutero traduzia o N. T. para o alemão, em 1522, o navio de Magalhães completava a sua volta ao mundo. Paises católicos romanos, como Portugal, França e Espanha, tornaram-se lideres nas navegações, enquanto as nações protestantes, como Inglaterra e Holanda, logo os alcançariam em exploração e colonização.

MUDANÇAS POLITICAS:

O conceito medieval de um estado universal estava dando lugar ao novo conceito de nação-estado. Estas nações-estados, com poder central e com governos fortes, servidas por uma força militar e civil, eram nacionalistas, opondo-se ao domínio de um governo religioso universal. Alguns daqueles estavam interessados em apoiar a Reforma a fim de poderem controlar mais efetivamente as igrejas nacionais. O novo princípio do balanço do poder tomou o seu lugar de importância nas guerras religiosas do séc. XVI e de princípios do XVII.

MUDANÇAS ECONÔMICAS:

Algumas mudanças econômicas ocorreram um pouco antes da Reforma. Por volta de 1500, o ressurgimento das cidades, a abertura de novos mercados e a descoberta de fontes de matéria-prima nas recentes terras descobertas inauguraram uma era de comércio, em que a classe média mercantil tomou a frente da nobreza feudal na liderança da sociedade. Á classe média capitalista emergente não interessava o envio de suas riquezas á igreja universal sob a liderança do papa em Roma. Pelo menos no norte da Europa, esta reação influenciou a Reforma.

MUDANÇAS SOCIAIS:

A organização social horizontal da sociedade medieval foi substituída por uma sociedade organizada sob traços verticais. Era possível a alguém da classe baixa emergir á alta. Em 1500, a servidão estava desaparecendo e uma nova classe média, inexistente na sociedade medieval, começou a surgir. Em linhas gerais, foi essa classe média fortalecida que garantiu as mudanças introduzidas pela Reforma ao noroeste da Europa.

MUDANÇAS INTELECTUAIS:

As transformações intelectuais provocadas pelo Renascimento criaram um clima intelectual que favoreceu o desenvolvimento do protestantismo. O interesse pela volta ás fontes do passado levou os humanistas cristãos do norte ao estudo da Bíblia nas línguas originais. Deste modo, as diferenças entre a igreja do N.T. e a igreja Católica Romana tornaram-se claras, para prejuízo da organização eclesiástica, medieval e papista. O espírito critico do Renascimento foi usado pelos reformadores para justificar sua critica á hierarquia e aos sacramentos, mediante comparação com as Escrituras.

MUDANÇAS RELIGIOSAS:

A uniformidade religiosa medieval deu lugar, no inicio do séc. XVI, á diversidade religiosa. A autoridade da igreja Romana foi substituída pela autoridade da Bíblia, de leitura livre a qualquer um. O crente, individualmente, seria agora o seu próprio sacerdote e o mentor de sua própria vida religiosa em comunhão com Deus, depois de aceitar Seu Filho como Seu Salvador, somente pela fé. Os padrões estáticos da civilização medieval foram substituídos pelos padrões dinâmicos da sociedade moderna.


O QUE QUER DIZER REFORMA

O nome e o sentido dado á Reforma são condicionados pela visão do historiador. O historiador católico romano entende-se apenas como uma revolta de protestantes contra a igreja Universal. O historiador protestante considera-a como uma reforma que fez a vida religiosa voltar aos padrões do N.T. O historiador secular interpreta-a como um movimento revolucionário. O bem conhecido termo “Reforma Protestante” foi consagrado pelo tempo. Porque a reforma procurava voltar á pureza original do Cristianismo do N.T. é que se continuou a usar o termo para descrever o movimento religioso de 1517. Os reformadores estavam interessados em desenvolver uma teologia que estivesse em completa concordância com o N.T; eles criam que isto seria possível a partir do instante em que a Bíblia se tornasse a autoridade final da igreja. Na maioria dos casos, a reforma restringiu á Europa Ocidental e aos povos teutônicos da classe média. A Reforma é tomada aqui como um movimento de reforma religiosa que resultou na formação de igrejas nacionais entre 1517 e 1545. A contra reforma, pode aqui ser conceituada então como um movimento de reforma religiosa no interior da igreja católica romana entre 1545 e 1563, graças ao qual ela se estabilizou e se fortaleceu depois de duas perdas sofridas para o protestantismo e promoveu um grande movimento missionário católico no séc. XVI que ganhou a América do Sul, América Central, Quebec, Indochina e Filipinas.

A RAZÃO DA REFORMA

1.3.1.- As interpretações da Reforma:

Historiadores protestantes como Schaff, Grimm e Bainton, interpretam a reforma amplamente como um movimento religioso que procurou redescobrir a pureza do cristianismo primitivo como no N.T. Os historiadores católicos romanos interpretam a reforma como uma heresia inspirada por Martinho Lutero, por causa de várias razões, entre as quais à vontade de se casar. Os historiadores seculares dão mais atenção aos fatores secundários em sua interpretação da reforma. A reforma não se explica de forma tão simples, porque as suas múltiplas e complexas. A reforma tem causas derivativas e determinativas. Algumas têm suas raízes nos séculos anteriores á reforma, quando Roma se opôs a qualquer reforma interna e ignorou as novas correntes de oposição externa que lhe trariam tantos problemas. Os lideres da reforma protestantes saíram, em geral, da classe média, enquanto que os da Contra Reforma vieram da aristocracia. Por isto a interpretação da reforma dá á religião o lugar de primazia, mas não ignora os fatores políticos, econômicos, morais e intelectuais, embora secundários.

1.3.2- AS CAUSA DA REFORMA:

A causa teológica da reforma foi o desejo dos reformadores de voltar á fonte clássica da fé cristã, a Bíblia, a fim de refutar o ensino da teologia tomistica segundo a qual a salvação era obtida através dos sacramentos da graça ministrados pela hierarquia. O escandaloso abuso, que era o sistema das indulgências na Alemanha, foi a causa direta da eclosão da reforma neste país. As indulgências estavam diretamente ligadas ao sacramento da penitência. Após arrepender-se e confessar o pecado, o sacerdote garantia a absolvição desde que o pecador pagasse com alguma coisa. Ensinava-se que a culpa e o castigo eterno pelo pecado eram perdoados por Deus, mas havia uma exigência temporal que o pecador deveria cumprir em vida ou no purgatório, através de uma peregrinação a um lugar sagrado, do pagamento de uma importância á igreja ou de alguma obra meritória. Foi o famoso protesto de Lutero nas 95 Teses contra o abuso das indulgências que precipitou a avalanche dos acontecimentos que resultaram na Reforma na Alemanha, que daí se espalhou por todo o norte e oeste da Europa. A reforma não foi um acontecimento isolado, mas esteve intimamente ligada á Renascença e a outros movimentos que forçaram o nascimento da era moderna no séc. XVI. A reforma provocou mudanças vitais que fizeram com que uma Igreja Católica Romana Universal única fosse substituída na Europa Ocidental por igrejas nacionais, igrejas estas que tomaram a Bíblia como autoridade final e entendiam que não era necessário nenhum mediador humano entre o homem e Deus para a obtenção da salvação, já adquirida por Cristo na cruz para todos.


CAPITULO 02- MARTINHO LUTERO: O CAMINHO PARA A REFORMA


“Muitos têm crido que a fé cristã é uma coisa simples e fácil, e até chegado a contá-la entre a virtudes. Isso ocorre porque não a têm experimentado de verdade, nem tem provado a grande força que existe na fé”.
(Martinho Lutero)

Para uns, Lutero é o “bicho-papão” que destruiu a unidade da igreja, a besta selvagem que pisou na vinha do Senhor, um monge renegado que se dedicou a destruir as bases da vida monástica. Para outros, ele é o grande herói que fez voltar, uma vez mais, a pregação do evangelho puro, o campeão da fé bíblica, o reformador de uma igreja corrompida. Hoje são poucos os que duvidam da sinceridade de Lutero e há muitos católicos que afirmam que o protesto do monge Agostinho foi mais do que justificável e que em muitos pontos tinha razão. Paralelamente a isto, são poucos os historiadores protestantes que seguem vendo em Lutero um herói sobre-humano que reformou o cristianismo por si só e cujos pecados e erros foram de menor importância. Era indubitavelmente sincero até a paixão e freqüentemente vulgar nas suas expressões. Sua fé era profunda e nada lhe importava tanto, como ela. Quando se convencia de que Deus queria que tomasse certo caminho, o seguia até as últimas conseqüências e não como alguém que, pondo a mão no arado, olha para traz. Seu uso da linguagem, tanto o latino como o alemão era magistral, ainda que, quando um ponto lhe parecia ser de grande importância, ele o reprisava até o exagero. Uma vez convencido da verdade da sua causa estava disposto a enfrentar os mais poderosos senhores do seu tempo. Porém essa mesma profundidade de convicção, essa paixão, essa tendência ao exagero, o levaram a tomar atitudes que depois ele e seus seguidores tiveram que deplorar. A invenção da imprensa fez com que suas obras fossem difundidas de uma maneira que tinha sido impossível fazê-la poucas décadas antes. Os humanistas que sonhavam com uma reforma segundo a concebida Erasmo, tão pouco estavam dispostos a que o esmagassem sem antes ser escutado, como tinha ocorrido no século anterior com João Huss. As circunstâncias políticas no começo da reforma foram um dos fatores que impediram que Lutero fosse condenado imediatamente e quando por fim as autoridades eclesiásticas e políticas se viram livres para agir, já era demasiado tarde para calar o seu protesto. A tão esperada reforma se produziu, não porque Lutero ou outra pessoa se havia proposto a isso, mas porque ele chegou no momento oportuno e porque nesse momento o reformador, e muitos outros junto dele, estiveram dispostos a cumprir sua responsabilidade histórica.

2.1- A FOMAÇÃO E VIDA DE LUTERO

Lutero nasceu em 1483, em Eisleben, Alemanha, onde seu pai, de origem camponesa, trabalhava nas minas. A infância do pequeno Martinho não foi feliz. Seus pais eram extremamente severos com ele e muitos anos mais tarde ele mesmo contava com amargura alguns dos castigos que lhe tinham impostos. Durante toda sua vida foi presa de períodos de depressão e angústia profunda e há quem pense que isso se deve em boa parte á austeridade excessiva exigida na sua infância. Na escola suas primeira experiências não foram melhores, pois também posteriormente se queixava de como o tinham golpeado por não saber suas lições. Se bem que não se deva exagerar em tudo isso, não resta dúvida que essas situações deixaram marcas permanentes no caráter do jovem Martinho. Em julho de 1505, pouco antes de completar 22 anos de idade, Lutero ingressou num mosteiro Agostinho de Erfurt. Duas semanas antes, quando se achava no meio de uma tormenta elétrica, sentiu sobremaneira o temor da morte e do inferno e prometeu a Santa Ana que se tornaria um monge. Algum tempo depois, ele mesmo diria que os rigores de seu lar o levaram ao mosteiro. Porém a razão principal que levou Lutero a tomar o hábito, como em tantos outros casos, foi o seu interesse pela própria salvação. O tema da salvação e da condenação permeava todo o ambiente da época. A vida presente não parecia ser mais que uma preparação e prova para a vida vindoura. Logo seria tolice dedicar-se a ganhar prestigio e riquezas no presente, mediante a advocacia e discutir do futuro. Lutero entrou no mosteiro como fiel filho da igreja, com o propósito de utilizar os meios de salvação que a igreja lhe oferecia e dos quais o mais seguro lhe parecia ser a vida monástica. A ocasião da celebração de sua primeira missa foi uma experiência surpreendente, pois o temor de Deus se apoderou dele ao pensar que estava oferecendo nada menos que Jesus Cristo. Repentinamente esse temor esmagador de Deus pressionou-o, pois não estava seguro de que tudo o que estava fazendo em beneficio de sua salvação era suficiente. Supunha-se que as boas obras e a confissão fossem a resposta para a necessidade que aquele jovem monge tinha de justificar-se diante de Deus. Porém, Lutero tinha um sentimento muito profundo de sua própria pecaminosidade e cada vez mais tratava de sobrepor-se a ela, mas cada vez mais se apercebia que o pecado era muito mais poderoso do que ele. Lutero se esforçou em ser um monge perfeito. Repentinamente castigava seu corpo, segundo lhe ensinaram os grandes mestres do monarquismo. E sempre se socorria do confessionário com tanta freqüência quanto fosse possível. Uma e outra vez repassavam cada uma de suas ações e pensamentos e, quanto mais os repassava, mais pecado encontrava neles. O pecado era algo muito mais profundo que as meras ações ou pensamentos conscientes. Era todo um estado de vida e Lutero não encontrava maneira alguma de confessa-lo e ser perdoado mediante o sacramento da penitência. Seu conselheiro espiritual lhe recomendou que lesse as obras dos místicos. Os místicos diziam que bastava amar a Deus. Isto pareceu a Lutero como uma palavra de libertação, pois não era necessário levar em conta todos os seus pecados, como até então fizera. Porém não tardou muito para aperceber-se de que amar a Deus era como seus pais e mestres que o haviam surrado até tirar-lhe sangue, como poderia amá-lo? Por último, Lutero chegou até a confessar que não amava a deus, mas sim que o odiava. Para ser salvo era necessário confessar os pecados e Lutero havia descoberto que, por mais que se esforçasse, seu pecado ia muito mais adiante que sua confissão. Nessa encruzilhada, seu confessor, que também era seu supervisor, tomou uma medida surpreendente. Ele ordenou a Lutero, que não esperava tal coisa, que se preparasse para ir dirigir cursos sobre as Escrituras na universidade de Wittenberg. Muitas vezes se tem dito entre os protestantes que Lutero não conhecia a Bíblia e que foi no momento de sua conversão, ou pouco antes, que começou a estudá-la, mas isso não é certo. Como um monge, tinha que recitar as horas canônicas de oração, Lutero sabia o saltério de memória. E, além disso, em 1512 ele obteve seu doutorado em teologia e para tanto teria que Ter estudado as Escrituras. Em meados de 1513 começou a dar aula sobre os salmos. Lutero interpretava os salmos cristológicamente. Neles, era Cristo, quem falava. Este foi o principio de sua grande descoberta. Nas angústias de Jesus Cristo, começou achar consolo para as suas. A grande descoberta veio provavelmente em 1515, quando Lutero começou a dar conferências sobre a epistola de romanos. Foi no primeiro capitulo dessa epistola que encontrou a resposta para suas dificuldades. A grande descoberta foi precedida por uma grande luta e uma amarga angústia, pois Romanos 1:17 começa dizendo que: “no evangelho a justiça de Deus se revela”. E era precisamente a justiça de Deus que Lutero não podia tolerar. A “justiça de Deus” é a que tem quem vive pela fé, não porque seja em si mesmo justo, ou porque cumpra as exigências da justiça divina, mas porque Deus lhe dá esse Dom. Em conseqüência, continua comentando Lutero sobre sua descoberta, “senti que havia nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas. As Escrituras todas tiveram um novo sentido. E a partir de então a frase” a justiça de Deus “não me encheu mais de ódio, mas me tornou indizivelmente doce em virtude de um grande amor”.

2.1.1- ACONTECE A TORMENTA:

Sua grande descoberta embora tivesse lhe trazido uma nova compreensão do Evangelho não o levou a protestar de imediato contra o modo em que a igreja entendia a fé cristã. O que é mais notável é que ele mesmo não tinha percebido que sua grande descoberta se opunha a todo o sistema de penitências e, conseqüentemente, á teologia e ás doutrinas comuns de sua época. Pouco a pouco, Lutero foi convencendo seus colegas na universidade de Wittenberg. Quando por fim decidiu que havia chegado o momento de lançar seu grande repto, compôs 95 teses, que deveriam servir de base para um debate acadêmico. Quando Lutero produziu outras teses, sem crer de modo algum que teria mais impacto que as anteriores, se criou uma revolução tal que toda a Europa se viu envolvida nas suas conseqüências. O que tinha acontecido era que, ao atacar a venda das indulgências, crendo que não se tratava mais do que uma conseqüência natural do que se havia discutido anteriormente, Lutero se havia atrevido, ainda que sem sabê-lo, a opôr-se ao lucro e aos desígnios de vários personagens muito mais poderosos do que ele. Quem se encarregou da venda das indulgências na Alemanha Central foi o dominicano João Tetzel, homem sem escrúpulos que com o fim de promover sua mercadoria, fazia afirmações escandalosas. Por exemplo: Tetzel e seus subalternos proclamavam que a indulgência que vendiam deixava o pecador “mais limpo do que saira do batismo”, ou “mais limpo do que Adão antes de cair”, que “a cruz do vendedor de indulgências tinha tanto poder como a cruz de Cristo” e que, no caso de alguém comprar uma indulgência para um parente já morto, “tão pronto à moeda caísse no cofre, a alma saia do purgatório”. Lutero fixou suas famosas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Essas 95 teses, escritas acaloradamente com o sentido de indignação profunda, eram muito mais devastadoras do que as anteriores, não porque se referissem a tantos pontos importantes de teologia, mas porque punham o dedo sobre a chaga do ressentimento alemão contra os exploradores estrangeiros. E além do mais, ao atacar completamente a venda das indulgências, punha em perigo os projetos dos poderosos. Lutero deu a conhecer suas teses na véspera da festa de Todos os Santos, e seu impacto foi tal que freqüentemente se marca essa data, 31.10.1517, como o começo da reforma protestante. Alberto de Brandeburgo enviou as teses e a carta para Roma, pedindo a Leão X que intervisse. O imperador Maximiliano se encolerizou diante das atitudes e dos ensinos daquele monge impertinente, e também pediu a Leão X que intervisse. A resposta do papa foi pôr a questão debaixo da jurisdição dos Agostinho, cuja próxima reunião capitular, teria lugar em Heidelberg, e Lutero foi convocado. Para lá foi nosso monge, temendo por sua vida, pois se dizia que seria condenado e queimado. Porém para grande surpresa sua, muitos dos monges se mostraram favoráveis a sua doutrina. Durante todo este período, Lutero havia contado com a proteção de Frederico, o Sábio, eleitor da Saxônia e, portanto, senhor de Wittenberg. Frederico protegia Lutero porque lhe pareceu que a justiça exigia um julgamento correto. Ele estava disposto a evitar que se cometesse com Lutero uma injustiça semelhante a que havia acontecido no caso de Huss. Entretanto, a situação se tornava cada vez mais difícil, pois cada vez mais eram mais numerosos os que diziam que Lutero era herege, tornando a posição de Frederico bastante precária. O teólogo conservador João Eck, professor da universidade de Ingolstadt, atacou Carlstadt, outro professor da universidade de Wittenberg, que tinha se convencido das doutrinas de Lutero, e que era muito mais impetuoso e exagerado do que o reformador. Eck propôs a Carlstadt um debate que teria lugar na universidade de Leipzig. O reformador declarou que devido a serem discutidas as suas doutrinas em Leipzig, ele também participaria do debate. Eck obrigou Lutero a declarar que o concilio de Constança se enganara ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Lutero tinha se declarado defensor de um herege condenado por um concilio ecumênico. Mesmo que os argumentos do reformador se mostrassem melhores do que os do seu oponente em vários pontos, foi Eck quem ganhou o debate, pois nele conseguiu demonstrar a que se propusera: que Lutero era um herege, pois defendia as doutrinas dos hussitas. Começou então um novo período de confrontações e perigos. Logo, umas semanas antes do debate de Leipzig, Carlos I da Espanha tinha sido eleito imperador e, a posição de Lutero tinha se fortalecido. Quando por fim o papa resolveu atuar, sua ação resultou demasiadamente tardia e ineficiente. Na bula Exsurge domini, Leão X declarou que um javali selvagem havia penetrado na vinha do Senhor e ordenava que os livros de Martinho Lutero fossem queimados, e dava ao monge rebelde 60 dias para submeter-se á autoridade romana, sob pena de excomunhão e anátema. Quando a bula chegou ás mãos de Lutero, este a queimou, junto com outros livros que continham as doutrinas papistas. O rompimento era definitivo e não havia modo de voltar atrás. Depois de muitas idas e vindas, se resolveu que Lutero compareceria diante da dieta do império, reunida em Worms no ano de 1521. Quando Lutero chegou a Worms, foi levado diante do imperador e vários dos principais personagens do império. Quem estava encarregado de interrogá-lo apresentou um montão de livros e lhe perguntou se os havia escrito. Depois de examiná-los Lutero confirmou que os havia escrito todos e vários outros que não estavam ali. No dia seguinte, em meio ao maior silêncio, uma vez mais se perguntou a Lutero se, se retratava. O monge respondeu dizendo que o que havia escrito não era mais do que a doutrina cristã que tanto ele como seus inimigos sustentavam, e, portanto ninguém deveria pedir-lhe que se retratasse daquilo. Seu interlocutor insistiu: “Retratas-te, ou não?” E Lutero lhe respondeu, em alemão, e desdenhando, portanto o latim dos teólogos: “não posso nem quero retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é justo nem seguro. Deus me ajude. Amém!”. Seus amigos o seqüestraram no caminho de volta a Wittenberg e o levaram para o castelo de Waltburg, onde ficou até 1522. Após sua partida de Worms, a dieta publicou um edito ordenando a todo súdito do imperador a prender Lutero e encaminhá-lo ás autoridades. A leitura de seus escritos também foi proibida.

2.1..2- TEMPO DE SEPARAÇÃO (1522-1530):

Neste difícil período de 1521 a março de 1522, Melanchton não perdeu tempo. Sua pequena obra sobre a teologia dos reformadores de Wittemberg, Loci Communes, saiu em 1521. Este livro, escrito em latim, foi o primeiro tratado teológico da reforma. Lutero, que se sabia ousado e violento quando Melanchton se mostrava pacifico e gentil, aprovou este livro como a expressão teológica plena de suas idéias, tachando-o mesmo de “imortal”. Lutero não perdia tempo durante sua residência forçada no castelo de Waltburg, de maio de 1521 a março de 1522. Completou em menos de um ano sua tradução alemã do N.T. A bíblia toda traduzida do original para o alemão em 1534. Quando publicada, não só foi a primeira bíblia do povo alemão em sua própria língua como a forma padrão da língua germânica. Sem dúvida alguma Lutero foi um herói nacional, tido em alta conta ao mesmo tempo por príncipes, camponeses, humanistas e senhores. Mesmo sob risco de vida, Lutero retornou a Wittenberg, em 1522. Depois de oito dias de sermões candentes, em que salientou a autoridade da Bíblia e a necessidade de uma mudança gradual na igreja, Lutero aniquilou os profetas de Zwickau. O setor radical da reforma, então, sentiu que não poderia contar com a ajuda de Lutero, que em 1535, rompeu abertamente com o movimento Anabatista. Ele perdeu também o apoio de humanistas, como Erasmo, em 1525. Os camponeses também se tornaram hostis a Lutero em 1525 quando este se opôs á Revolta dos camponeses. O Feudalismo trouxera muita pressão aos camponeses, os quais em seus “Doze Artigos”, de 1525 pediram uma reforma dos abusos feudais assim tidos como base na autoridade das Escrituras. Primeiramente, Lutero em sua Admoestação a Paz, de abril de 1525, instou-se com os camponeses que fossem pacientes e pediu aos lordes para reduzirem os encargos sobre os camponeses. Quando Lutero percebeu que este movimento social de caráter revolucionário poderia ameaçar a Reforma, pediu aos príncipes, numa linguagem violenta, em seu panfleto “Contra o bando e salteador” que pusessem fim a desordem. As autoridades massacraram 100 mil camponeses. Outros sentiram a rejeição de Lutero dos votos monásticos, ao se casar com uma freira evadida, Catarina Van Bora, em 1525. Lutero sempre achou Ter agido corretamente, tendo conhecido muitas alegrias em sua vida familiar. Seus seis filhos, e os inúmeros estudantes convidados enchiam tanto sua mesa que, em algumas vezes, a sua “Kátia” tinha dificuldade em arranjar o alimento necessário. Foi também desagradável Lutero não Ter sabido conjugar forças com Zwinglio, que liderava a reforma nos cantões no norte da Suíça. Eles concordaram em 14 das 15 proposições, mas discordaram na questão da presença de Cristo nos elementos. Para Zwinglio, a Ceia era um memorial da morte de Cristo, mas para Lutero havia uma presença física de Cristo na comunhão embora a substância do pão e do vinho não se alterasse. Esta posição ficou conhecida como consubstanciação. Uma dieta realizada em Speier, em 1529, declarou que a fé católica romana era por lei a única fé. Os príncipes luteranos leram um “Protesto”. A partir daí foram chamados de “Protestantes” por seus opositores. Veio daí a honrosa palavra “Protestante”. Em 1530, reuniu-se a Dieta de Augsburg, Melanchton, com a aprovação de Lutero, que elaborava a “Confissão de Augsburg”, apresentou-se á Dieta. Transformada em credo oficial da Igreja Luterana, foi ela o primeiro dos sete credos que fizeram do período entre 1517 e 1648 o grande período de formulação doutrinária do protestantismo. Lutero escreveu a Missa Germânica e a Ordem do Culto em 1526. Lutero também tinha elaborado em 1529 o Catecismo Menor, uma abordagem concisa dos 10 Mandamentos, do Credo dos Apóstolos, da Oração Dominical e de outros assuntos de teologia e liturgia.

CAPITULO 03- A TEOLOGIA DE MARTINHO LUTERO

“Os amigos da cruz afirmam que a cruz é boa e que as obras são más, porque mediante a cruz as obras são derrubadas e o velho Adão, cuja força está nas obras, é crucificado”.

(Martinho Lutero)

Ao chegar o momento da dieta de Worms, a teologia do Reformador havia alcançado sua maturidade. Então a partir daí, o que Lutero fez foi simplesmente elaborar as conseqüências dessa teologia.

3.1- A PALAVRA DE DEUS:

È de todos sabido que Lutero tratou de fazer da palavra de Deus o ponto de partida e a autoridade final de sua teologia. Para ele a palavra de Deus é muito mais que a Bíblia. A palavra de Deus é nada menos que Deus mesmo (Jo. 1:1-3). A Bíblia é então a palavra de Deus, não porque seja infalível, ou porque seja um manual de verdades que os teólogos podem utilizar em seus debates entre si. A Bíblia é a palavra de Deus porque nela chega Jesus Cristo até nós. A autoridade final não está na Bíblia, nem na igreja, mas no evangelho, na mensagem de Jesus Cristo, que é a palavra de Deus encarnada.

3.2- O CONHECIMENTO DE DEUS:

Lutero concorda com boa parte da teologia tradicional ao afirmar que é possível Ter certo conhecimento de Deus por meios puramente racionais ou naturais. Este conhecimento permite ao ser humano saber que Deus existe, e distinguir entre o bem e o mal. A suprema revelação de Deus tem lugar na cruz de Cristo, e, portanto Lutero propõe que em lugar da teologia da glória, se siga o caminho da “teologia da cruz”. O que essa teologia busca é ver a Deus, não onde queremos vê-lo, nem como nós desejamos que ele seja, mas sim onde Deus se revela, e como ele mesmo se revela, isso é, na cruz. Quando conhecemos a Deus na cruz, o conhecimento anterior, isso é tudo o que sabíamos acerca de Deus mediante a razão ou pela lei da consciência, cai por terra.

3.3- A LEI E O EVANGELHO:

Em sua própria revelação, Deus se nos dá a conhecer de dois modos, a saber: a lei e o evangelho. O contraste entre a lei e o evangelho dá a entender que quando deus se revela, essa revelação é, de uma só vez, palavra de condenação e de graça. Quando Deus fala, o contraste entre sua santidade e o nosso pecado nos esmaga, e essa é a lei. Porém, ao mesmo tempo, Deus pronuncia seu perdão para conosco. Esse perdão é o evangelho, e é tão maior exatamente porque a lei é esmagadora. Esta dialética constante entre a lei e o evangelho quer dizer que o cristão é ao mesmo tempo justo e pecador.

3.4- A IGREJA E OS SACRAMENTOS:

Lutero não foi nem o individualista nem o racionalista que muitos desejam. Lutero sempre pensou que a igreja era parte essencial da mensagem cristã. Sua teologia não era a de uma comunhão direta do individuo com Deus, mas sim de uma vida cristã no meio de uma comunidade de fiéis, a qual repentinamente chamou de “igreja mãe”. Dentro dessa igreja, a palavra Deus chega até nós pelos sacramentos. Para que um rito seja um verdadeiro sacramento, tem de Ter sido instituído por Jesus Cristo, e há de ser um sinal físico das promessas evangélicas. Portanto há somente dois sacramentos: o batismo e a ceia. Os demais ritos que recebem esse nome, mesmo que possam ser benéficos, não são sacramentos do evangelho. O batismo é o sinal da morte e ressurreição do cristão com Jesus Cristo. A ceia é o outro sacramento da fé cristã. Para Lutero, a eucaristia sempre continuou junto com a pregação, como o centro do culto cristão. Lutero não estava disposto a dizer que a ceia era um mero símbolo de realidades espirituais. Portanto, segundo ele, na ceia os fiéis participam verdadeira e literalmente do corpo de Cristo. O pão, e o vinho, vinho. Porém agora estão também neles o corpo e o sangue do senhor, e o crente se alimenta deles ao tomar o pão e o vinho. Essa doutrina se chamou mais tarde, como vimos no capitulo anterior deste trabalho, “consubstanciação”.

3.5- OS DOIS REINOS:

Segundo Lutero, Deus tinha estabelecido dois reinos, um sob a lei e outro sob o evangelho. O estado opera debaixo da lei, e seu principal propósito é pôr limites ao pecado humano. Os crentes por outra parte pertencem ao segundo reino, e estão debaixo do evangelho. O que isso quer dizer em termos concretos é que a verdadeira fé não tem de impôr-se mediante autoridade civil, mas mediante a proclamação da Palavra.

CAPITULO 04- LUTERANISMO

O luteranismo fez grandes progressos no norte da Alemanha. Em 1535, foram estabelecidas normas luteranas de ordenação. Era o rompimento eclesiástico com a hierarquia romana. Os últimos anos de Lutero foram tumultuados por causa da bigamia de Filipe de Hesse, um dos seus sustentadores, que se casou com Margaret Von der Saale em 1540, sem a formalização do divórcio co a esposa. Em 1546, o reformador morreu, ficando com Melanchton a liderança do movimento luterano. As chamadas guerras Schmslkádicas ocuparam o período da história germânica de 1546 a 1552. A luta só findou com a Paz de Augsburg, em 1555. O acordo deu ao luteranismo igualdade legal com o catolicismo romano na Alemanha. Lutero cria na ordem, chegando a escrever que, embora o estado não tivesse o direito de mexer com a pessoa no problema da salvação, Deus lhe deu o privilégio de manter a ordem que permitia aos cidadãos viverem em paz. Sem dúvida alguma Lutero foi um gigante da igreja; sua influência ultrapassou os limites do tempo. As igrejas luteranas da Alemanha e dos paises escandinavos nasceram do seu trabalho. Para elas, elaborou ele o Catecismo Maior e Menor; preparou apostilas para ajudar os ministros em seus sermões; desenvolveu um sistema de governo eclesiástico; deu a Bíblia alemã, que em muito contribuiu para padronizar a língua, além de compor belos e grandiosos hinos, como “Castelo Forte”, próprio para o cântico congregacional no vernáculo. Além disso, criou um sistema de educação elementar para que o povo pudesse aprender a ler a Bíblia em alemão. Interessou-se ainda ele pelas escolas secundárias e pela educação universitária. Da paz de Augsburg á publicação do livro da Concórdia, em 1580, a paz das igrejas luteranas foi frustrada por controvérsias doutrinárias internas. Em sua maioria, as questões eram as mesmas sobre as quais Melanchton e Lutero divergiam. Uma das polêmicas tratava do lugar da lei na pregação. Lutero ensinara que a pregação da lei era um meio para revelar ao homem o quanto ele era pecador, mas outras pessoas entendiam que somente o Evangelho deveria ser pregado porque era o Evangelho que trazia a salvação. Um documento conhecido como fórmula da concórdia elaborado em 1577, foi publicado em 1580, tendo sido aceito pela maioria dos luteranos da Alemanha como a expressão de sua teologia. Os teólogos luteranos também aceitaram a incumbência de sistematizar a teologia luterana, de modo a distingui-la da teologia católica romana. Isto aconteceu com a publicação do livro da Concórdia, em 1580. O livro continha os três grandes credos universais da Igreja Primitiva e as várias fórmulas luteranas elaboradas desde 1529. Estes problemas tornaram os luteranos muito cônscios da importância da doutrina e da necessidade de mantê-la correta. Esta ênfase gerou uma ortodoxia fria que ignorava os aspectos subjetivos do cristianismo. O movimento pietista, que enfatizava o estudo bíblico, a oração e a aplicação prática da verdade cristã na vida diária, surgido no séc. XVII foi uma reação a esta forte tendência intelectualizante.

O LUTERANISMO NA ESCANDINÁVIA

Frederico I era favorável á fé luterana e permitiu que Hans Tausen fizesse na Dinamarca o que Lutero fizera na Alemanha. O luteranismo foi introduzido na Noruega durante o reinado de Frederico I e tornou-se a religião oficial durante o reinado de Christian III. Einarsen, religioso que estivera sob a influência do luteranismo na Universidade de Wittenberg durante sua permanência na Alemanha, pregou, ao voltar em 1533, às doutrinas luteranas na Islândia. Em 1554, o luteranismo se tornou a religião oficial da Islândia por decreto real. O luteranismo se tornou a religião do Estado, na Suécia, na Dieta de Westeras, em 1527, e foi aceito gradualmente pelo povo. A reforma passou da Suécia á Finlândia. Já em 1528, a fé luterana era a fé do povo e dos lideres finlandeses. O luteranismo foi também influente em outros paises. As idéias luteranas serviram como o fundamento da reforma de John Knox, na Escócia. Chegaram também á Inglaterra. O luteranismo foi temporariamente vitorioso na Polônia. Foi, pois, na Alemanha e nos paises escandinavos que o luteranismo conseguiu seus trunfos maiores e mais permanentes. A autoridade da Bíblia, que os lideres luteranos traduziram para as línguas de seus paises, e a doutrina da justificação pela fé tornaram-se os lemas destes paises no séc. XVI. Ao se opor ao comércio das indulgências feitas por Tetzel, em 1517, Lutero não esperava fazer a enorme obra que acabou fazendo.

CONCLUSÃO

Lutero recolocou a pregação em seu devido lugar, restabelecendo um meio de instrução espiritual largamente usado na Igreja Primitiva. Ademais, levou sua geração a perceber que a cultura não era apenas uma questão da razão, mas da regeneração pela fé em Cristo. Lutero fez do individualismo da renascença um assunto espiritual ao propor que o individuo pela fé em Jesus Cristo podia manter uma comunhão salvífica com Deus. Para substituir a igreja como a autoridade, ele apresentou a Bíblia como a regra de fé e prática infalível que todo crente-sacerdote poderia usar para se orientar em questões de fé e moral. Lutero não negou a necessidade de uma relação comunitária na igreja; ao contrário, insistiu sempre na importância da comunhão dos membros do Corpo de Cristo. Poderíamos terminar esse trabalho lembrando das palavras de outro “santo de Deus”, João Huss um dos pré-reformadores-, que disse: “Eles tentaram armar ao ganso” (Huss na língua boêmia significa ganso). O ganso, sendo uma ave doméstica, tranqüila, até certo ponto inofensiva, conseguiu causar toda essa situação entre os lideres da igreja. Esses líderes não conseguiram suportar o ganso e acharam por certo acabarem com o mesmo, o matando, tentando dessa forma inibir seus seguidores e apagar da memória desses suas idéias e doutrinas. Fizeram tudo isso porque o ganso apareceu. Imaginem o que vai acontecer quando aves perigosas como os falcões e as águias aparecerem para esses lideres. Com certeza vão causar muito mais problemas do que o ganso causou. Com certeza, esses falcões e essas águias vão quebrar a liderança da igreja e vão transformar a história da mesma. Podemos afirmar com mais absoluta certeza de que Martinho Lutero foi uma dessas “aves perigosas” de quem Huss se referia. O resultado, conforme o próprio Huss, foi de quebra, de transformações, de mudanças na história da, até então, forte Igreja Católica.


AS IGREJAS DISSIDENTES

Fatos relevantes:- A conversão dos godos e dos demais bárbaros ocorreu quando o arianismo estava no apogeu, e por essa influência pela invasão no Império do Ocidente os arianos apareceram em lugares onde nunca antes tivera seguidores. No entanto a fé diferente dos bárbaros foi amoldando aos costumes e á fé dos conquistados. Houve caos em que muitos não aceitaram a autoridade de um ou outro concilio, através dos séculos conseguiram subsistir e por isso ainda atualmente há igrejas que procedem de origem assim. Exemplo de dissidência:- As igrejas que rejeitaram o concílio de Èfeso foram chamadas de nestorianas, as que rejeitaram o de Calcedônia de monofisistas, apesar de elas mesmas não se darem este titulo, foram assim chamadas de forma pejorativa pelos demais cristãos.

O NESTORIANISMO
O cristianismo se estendeu também para o leste, em direção ao império Persa. O fato deste império não Ter se tornado cristão mais tarde é a razão pela qual não se tem conservado dados sobre o curto da fé cristã nele. Entretanto sabe-se que nesta expansão para o leste o cristianismo utilizou não o grego ou latim, mas o siríaco. Esta era a língua usada pelos viajantes e comerciantes que iam da Síria até os lugares mais distantes do Império Persa. Primeiro em Antioquia, depois Edessa, foi produzido todo um corpo de literatura cristã em siríaco, sendo este usado para a propagação da fé dentro dos territórios persas. Edessa, que era uma cidade independente, parece Ter sido o primeiro Estado a se tornar cristã. Já antes de Constantino, o rei de Edessa (Abgar IV) tinha se convertido. Dali a nova fé se estende a Pérsia, onde encontrou numerosos adeptos, principalmente entre os habitantes de língua siríaca em regiões tão remotas como o Turquestão. Essa propagação foi marcada pelo sacrifício e sangue, pois a dinastia dos sassânidas, que naquele tempo governava a Pérsia, perseguiu o cristianismo, principalmente depois que o império Romano se tornou cristão e as autoridades persas começaram a temer que os cristãos na verdade fossem agitadores, ou pelo menos simpatizantes dos romanos. Por este motivo os cristãos persas fizeram todo o possível para mostrar ás autoridades que não faziam parte de uma grande organização que tinha seu centro em Constantinopla. Em 410 eles se constituíram numa igreja autônoma, dando ao bispo de Ctsifon o titulo de patriarca. Do mesmo modo quando o concilio de Èfeso condenou Nestor (Nestório), em 431, muitos dos cristãos persas parecem Ter recebido com certo alivio o fato de que, o seu ponto de vista, a igreja dentro do império romano tinha se tornado herege. Por causa das suas origens a igreja persa sempre teve contatos estreitos com Antioquia. A partir da Pérsia o cristianismo nestoriano se estendeu até a Ásia Central, Índia e Arábia. Depois da invasão árabe os nestorianos não se submeteram ao regime muçulmano, e produziram grande quantidade de literatura polêmica, tentando mostrar a superioridade do cristianismo sobre o Islã. Depois desta história gloriosa é triste verificar que este ramo do cristianismo quase desapareceu. Na China, uma mudança de dinastia destruiu completamente sua missão. Na Índia restam uns poucos nestorianos. Seu núcleo principal está Iraque, Irã e Síria. No principio do século passado, eles foram cruelmente perseguidos e reduzidos o seu número. Muitos deles imigraram para a América do norte onde organizaram algumas igrejas nestorianas.

OS MONOFISITAS DA ARMÊNIA

Apesar de desconhecidas para os cristãos do ocidente a história do cristianismo na Armênia é tremendamente inspiradora. O Reino da Armênia ficava no extremo norte da fronteira entre o império Persa e o império Romano. Sua história dependeu sempre do curso dos acontecimentos nestas duas grandes potências. Geralmente, quando os persas se consideravam suficientemente fortes eles tentavam anexar o reino vizinho. Os romanos, por seu lado, seguiam uma política bem diferente, pois não desejavam conquistar a Armênia, mas defender a sua autonomia para Ter um estado aliado que protegesse suas fronteiras com os persas. Dadas estas circunstâncias os armênios simpatizavam mais com os romanos que com os persas. No século III os persas se apoderaram da Armênia, assassinaram o rei. O herdeiro do trono armênio, Tiridates, ainda criança, fugiu com alguns nobres, e se refugiou entre os romanos. O imperador Valeriano acudiu em socorro dos seus aliados. Alguns anos depois, aproveitando um período de crises que passava o império persa, e com a ajuda de Licínio, Tiridates conseguiu retornar ao trono armênio, onde foi recebido com júbilo por seus compatriotas. Nesse período de refúgio na Síria, Ásia Menor e Constantinopla os refugiados armênios conheceram o cristianismo, e alguns deles se converteram. Quem pregou a fé cristã na Armênia foi Gregório, o Iluminador, parente de Tiridates, que também se converteu e com essa conversão surgiu um movimento de conversão em massa. A mesma coisa se deu com a liderança da igreja que passou de Gregório para os seus descendentes. Naturalmente, no principio esta conversão em massa deixou muito a desejar. Porém, pouco a pouco a fé cristã foi arraigando na massa. No século V o patriarca Sajak pediu ao erudito Mesrop que traduzisse a Bíblia para o armênio. Isto era muito difícil, pois o armênio não era uma língua escrita. Por isso a primeira coisa que Mesrop teve de fazer foi elaborar um método para escrever seu idioma. No ano 450 a nova igreja se viu fortemente ameaçada. O rei da Pérsia quis impor sua religião á Armênia, o masdeizmo. Os lideres da nação Armênia se reuniram em Artachat e resolveram enviar uma mensagem ao rei da Pérsia, assinada pelos bispos do país: “Nada poderá nos separar desta fé Faze o que quiseres”. Quando os armênios enviaram esta mensagem ao rei da Pérsia eles contavam com o apoio do imperador Teodósio II. Pouco depois, no entanto, morreu Teodósio, e seus sucessores mudaram a política em relação á Pérsia e retiraram seu apoio aos armênios. Em 451, o mesmo ano em que se reuniu o concilio de Calcedônia, as tropas persas invadiram a Armênia, onde se viram obrigados a se defenderem por conta própria, entretanto, não puderam resistir o poderio persa, perdendo mais uma vez a sua independência. Em vista destes acontecimentos não é de se estranhar que os armênios se negassem a aceitar o concilio de Calcedônia. Como eles viam as coisas, os romanos, que deveriam tê-los defendido como aliados e irmãos em cristo, os abandonaram no momento decisivo. Em conseqüência, a igreja Armênia rompeu relações com o que existia dentro do império Romano, e se declarou “monofisista”, ao mesmo tempo em que acusava os demais cristãos não só de traidores, mas também de hereges. A Armênia continuou dominada pelos persas. Porém a resistência foi tamanha que pouco depois o rei da Pérsia decidiu conceder ao país liberdade religiosa e certo grau de autonomia. A partir de então, e até as conquistas turcas, a igreja da Armênia gozou de relativa paz. Em princípios do séc. XX a opressão causada pelo domínio turco chegou a ponto de dezenas de milhares de armênios perdendo a vida. Aldeias inteiras desapareceram, e os sobreviventes foram espalhados por todo o mundo. Muitos se dirigiram para o hemisfério ocidental, onde fundaram comunidades nos Estados Unidos e no Brasil. Outros armênios, que viviam na porção da antiga Armênia que tinha ficado sob domínio russo conseguiram continuar algumas tradições em sua terra natal. Destacamos ainda que na Etiópia (ao sul do Egito). A partir do século IV, aparece um grande reino cristão. Lembremos que a Etiópia sempre manteve relações estreitas com o Egito, e por isso quando do concilio de Calcedônia condenou o patriarca de Alexandria, Dióscoro, os etíopes seguiram o exemplo da maior parte dos cristãos egípcios e se negaram a acatar as decisões deste concilio.


OS MONOFISITAS DO EGITO E SIRIA

Nesta parte do estudo das igrejas dissidentes precisamos acrescentar algo sobre as que surgiram neste contexto, ou seja, a igreja copta e a jacobina. O copta era o antigo idioma dos egípcios, que estes tinham falado antes deste país ser conquistado por Roma. Enquanto pessoas cultas, principalmente em Alexandria, falavam grego, e muitos também o latim, os camponeses e demais pessoas pobres, descendentes dos antigos habitantes do pais, falavam o copta. Foi entre este que o monasticismo primitivo encontrou a maioria dos seus adeptos. E foi também entre estes que a oposição ao concilio de Calcedônia ficou cada vez mais forte. Quando os árabes conquistaram o país o cristianismo de fala grega, cuja força estava principalmente nas cidades, continuou aceitando as doutrinas de Calcedônia, e continuou em comunhão com o patriarca de Constantinopla. Estes cristãos receberam o nome de “melquitas”, que quer dizer “do imperador”. Porém a maioria dos cristãos egípcios continuou em sua oposição ás decisões de Calcedônia, e rompeu com Constantinopla. Esses cristãos recebem o nome de “coptas”, e até o dia de hoje constituem a igreja mais numerosa do Egito. Enquanto isto na Síria e circunvizinhanças sucedeu algo parecido. Justiniano tentou extirpar o monofisismo da região, mas encontrou oposição política, principalmente aos que se posicionaram contra o concilio de Calcedônia. Um destes foi Jacobo Baradeo, um evangelista fervoroso de vida austera, que se dedicou a viagens missionárias, nas quais muitas pessoas converteram. Seu trabalho foi tão frutífero que depois de pouco tempo a igreja monofisista da região começou a ser chamada de “igreja jacobina”. Em síntese, as principais igrejas dissidentes que surgiram das controvérsias cristológicas e que perduram até nossos dias são cinco. Em oposição ao concilio de Èfeso surgiu a nestoriana. E contra o de Calcedônia se declararam às igrejas Armênia, etíope. Copta e Jacobina, que os demais cristãos chamam de monofisistas.


A INDEPENDÊNCIA DAS 13 COLÔNIAS

Uma série de colônias foram estabelecidas pelos ingleses na Costa Atlântica da América do Norte. Em 13 delas criou-se um certo sentimento de comunidade. As medidas tomadas pelo governo britânico para governar as colônias de maneira mais direta causaram grandes conflitos e desavenças, pois estavam acostumados a dirigir seus próprios destinos, gozando de uma certa autonomia, omitindo ou cumprindo apenas em parte as leis elaboradas na Inglaterra. A tensão entre as colônias e a metrópole aumentou a três principais causas:

Presença de 17 regimentos britânicos nas colônias
Impostos
Proibição da ocupação da terra dos índios (lei impopular)
Em 1775 começou a guerra da Independência Norte Americana e no dia quatro de Julho de 1776 ela foi proclamada.
Estabeleceu-se a democracia, capitalista Norte Americana tendo dois principais movimentos religiosos: unitarismo e o universalismo que posteriormente se uniram. Igreja Protestante Episcopal organizada pelos anglicanos que permaneceram no país. Igreja Metodista Americana separada do Metodismo Britânico. Batistas, Congregacionais, Presbiterianas.

DENOMINAÇÃO

Esta palavra representa uma das características principais do cristianismo que resultou da experiência Norte Americana. A própria palavra dá a entender que as diversas “igrejas” são na realidade “denominações”, isto é, nomes diferentes que os cristãos dão a si próprios. A igreja verdadeira é invisível, e consiste de todos os crentes; as “igrejas” são organizações voluntárias de membros que se reúnem segundo as suas convicções e desejos. Tomas Campbell e seu filho Alexander iniciaram um movimento que desejava unir todos os cristãos. Alexander se tornou chefe do referido movimento lançando-se a um plano de reforma que levaria a unidade cristã. Com isso produziu uma nova denominação, a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo).


A IMIGRAÇÃO

No final do século XVIII e durante o século XIX, devido ás mudanças drásticas que aconteciam na Europa (guerras napoleônicas, convulsões sociais, tirania de alguns regimes) e também, ás grandes extensões de terras disponíveis, desencadeou-se uma grande onda migratória de lá para os Estados Unidos. A imigração involuntária, dos escravos procedentes da África também aumentou devido á necessidade de mão-de-obra. As muitas ondas de imigração trouxeram várias conseqüências para as igrejas norte-americanas. Por exemplo, a igreja católica que contava com uma pequena fração da população, tornou-se a mais populosa do país, pois a ela se ajuntaram franceses, alemães, grande n de irlandeses, italianos, poloneses e os hispânicos do México e Porto Rico. Tal crescimento criou uma forte reação naqueles que se opunham á imigração ilimitada de católicos alegando que a democracia norte-americana, de origem protestante era incomparável com o catolicismo romano e que seu crescimento era uma ameaça para a nação. Mais tarde a Ku Klux Klan desencadeou seu fanatismo xenófobo, não apenas contra os negros, mas também contra católicos e judeus com base na idéia que os Estados Unidos haviam sido chamados para ser uma nação branca, protestante e democrática, e que estas três características eram inseparáveis. O luteranismo também recebeu grande número de adeptos dentre os novos imigrantes que representavam outros matizes da tradição cristã: menonitas, morávios, husitas, ortodoxos gregos e russos, etc. Todos esses, juntamente com os judeus, fizeram a sua contribuição ao complicadíssimo caleidoscópio religioso dos Estados Unidos. Muitos fundaram comunidades religiosas onde procurando separar-se da corrupção da sociedade chegaram a extremos nessas experiências comunitárias como, por exemplo, a comunidade de Oneida, aonde se chegou a praticar não apenas a comunhão de bens, mas também o que chamava de “matrimônio complexo”, em que todos os adultos diziam estar casados entre si.


O SEGUNDO GRANDE AVIVAMENTO

No final do século XVIII começou na Nova Inglaterra um 2- e grande avivamento que não se concretizou (como o 1-) por grandes explosões emotivas, mas levou as pessoas a encarar sua fé com maior seriedade. A assistência aos cultos aumentou e numerosas pessoas se converteram. Este 2- avivamento teve dois etapas: Em sua primeira etapa ele não foi antiintelectual, mas abriu caminho entre os mais notáveis teólogos da Nova Inglaterra e logo um de seus principais pregadores se tornou o presidente da Universidade de (Jale, Thimothy Dwight, neto de Jonathan Edwardes). Como resultado dessa 1- fase do avivamento, fundaram-se dezenas de sociedades com o propósito de difundir a mensagem do evangelho, dentre elas a Sociedade Bíblica Americana (1816) e a junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras. Quando um dos missionários dessa organização, Adoniran Judson, se tornou batista, os batistas norte-americanos organizaram uma convenção geral com o propósito de apoiar missionários batistas em outras partes do mundo. Surgiu também em 1826 a sociedade Americana para a Proclamação da Temperança que combatia o alcoolismo e onde as mulheres tiveram papel de destaque e na Segunda metade do século sob a direção de Francês Willard, a União Feminina Cristã pró-Temperança tornou-se um instrumento na luta pelos direitos femininos (origem do feminismo). Em sua 2- etapa o avivamento das classes mais educadas, começou a abrir caminho entre pessoas menos instruídas, logo assumindo um tom mais popular, mais emotivo, e menos intelectual até o ponto em que, mais tarde, se tornou antiintelectual.


O AVIVAMENTO DE CANE RIDGE

Ainda na segunda fase do 2- avivamento, um pastor presbiteriano de Cane Ridge no estado de Kentucky anunciou uma grande assembléia de avivamento, ou “reunião de acampamento”. Milhares de pessoas se congregaram e durante uma semana além do pastor presbiteriano, também pastores batistas e metodistas pregaram e ao sair dali estavam convencidos de que aquela era a verdadeira forma de expandir a mensagem do evangelho. Ocorreram expressões desenfreadas de emoção, pois uns choram, outros riam, outros tremiam, alguns saiam correndo, outros latiam, etc. Os presbiterianos não viam com bons lhos essas manifestações disciplinando os pastores que participavam de cultos neste estilo. Batistas e metodistas foram às denominações que mais cresceram. Continuaram a celebrar reuniões de acampamento, embora poucos chegaram aos extremos de Cane Ridge. Levaram este método de trabalho aos novos territórios, apresentavam a mensagem da forma mais simples possível, usavam pregadores leigos, que falavam no idioma do povo, pois os pastores ordenados eram escassos. Os batistas, além disso, utilizavam agricultores que viviam do seu trabalho e serviam de pastores na igreja local.


O DESTINO MANIFESTO E A GUERRA COM O MÉXICO

A frase “destino manifesto” resumia a convicção dos brancos norte americanos de que o seu país tinha um objetivo assinalado pela divina providência de guiar o resto do mundo nos caminhos do progresso e da liberdade. Mas em 1845 quando a frase apareceu, ela se referia á expansão do país na direção do Pacifico. O Oregon em disputa através de negociações estava pendente a posse dos territórios que o México possuía a oeste dos Estados Unidos. (já haviam conseguido o Texas) Para conseguir essa expansão, não havia outro meio senão provocar uma guerra com o México. Nos Estados Unidos as opiniões estavam divididas quanto ao que se devia fazer. Uns poucos (cristãos convictos) declaravam que a guerra era injusta, e que Deus não se agradaria dessas conquistas territoriais. Outros criam que o “destino manisfeto” dos Estados Unidos devia levá-los a anexar todo o território mexicano. Muitos se opunham por temer a inclusão no país de grande número de católicos, índios e mestiços. A guerra foi breve, mas tiveram lugar varias batalhas sangrentas. Embora o exército mexicano continuasse oferecendo resistência no interior do país, a guerra estava perdida, e então se chegou ao tratado de Guadalupe-Hidalgo (1848) através do qual, em troca de quinze milhões de dólares o México cedia aos Estados Unidos um território de mais de três milhões de quilômetros quadrados (os atuais Novo México, Arizona, Califórnia, Utah, Nevada e parte do Colorado). As igrejas norte-americanas, principalmente batistas e metodistas aproveitaram para enviar junto com os colonizadores, pregadores e missionários para a evangelização dos novos territórios.


A QUESTÃO DA ESCRAVATURA E A GUERRA CIVIL

A QUESTÃO DA ESCRAVATURA

Batistas, metodistas e outras denominações adotaram posturas ambíguas na questão da escravatura, isto é; sustentavam posturas abolicionistas declarando que a escravidão era contrária a lei de Deus e ao mesmo tempo amoldavam-se ao fato. Essa ambigüidade acabou por causar divisões entre as várias denominações, dividindo também o país em Estados do Sul e do Norte. As igrejas do norte proclamando que a escravatura era desumana; e as do Sul argumentando que a Bíblia falava dela sem condená-la. Travou-se então um conflito armado em que o Sul foi derrotado e acabou convertida em colônia econômica do norte. O ódio dos sulistas para com os brancos do norte (os “Yankees”) e para com os negros se exacerbou ainda mais. As igrejas brancas do Sul com suas práticas racistas insistiram para que os negros as abandonassem. Muitas igrejas surgiram devido á expulsão dos negros das igrejas brancas.


DA GUERRA CIVIL A MUNDIAL

Os anos que seguiram á guerra civil testemunharam a complicação ainda maior dos problemas econômicos e sociais das décadas anteriores. O sul, convertido em colônia econômica do norte, se entrincheirou em seu racismo e antiintelectualismo. No norte, a imigração produziu um enorme aumento da população urbana, e as estruturas eclesiásticas se mostraram cada vez menos capazes de responder adequadamente ao desafio dessa população ou ao de muitos negros procedentes do sul, que chegavam em busca de melhores condições de vida. No oeste continuou a pressão sobre as terras dos índios e a população de origem espanhola estava sendo objeto de humilhação cada vez maior. O protestantismo respondeu a esse desafio com a fundação de várias organizações que propiciavam vários serviços e programas, não somente religiosos, mas também de lazer e educação, tais como a sociedade de jovens: a Young Men’s Christian Association para rapazes e a Young Women’s Christian Association para moças. Também a escola dominical e adaptação dos “avivamentos” ajudaram a responder ás necessidades das massas. A principal figura dos avivamentos foi Dwight L. Moody que se sentiu chamado a pregar ás grandes massas urbanas, numa pregação simples conclamando as pessoas ao arrependimento e aceitar a salvação oferecida em Cristo Jesus. O exército da salvação fundado na Inglaterra pelo metodista William Booth, por sua obra de auxilio aos pobres, encontrou campo fértil nas cidades norte-americanas. As “igrejas de santidade” deram origem a novas denominações das quais a mais numerosa foi à igreja do nazareno e após um avivamento na Rua Azuza em Los Angeles, surgiram as Assembléias de Deus. Também a dos Adventistas do sétimo dia, fundado pelo batista William Miller que marcou a volta de Jesus para o ano de 1843. O movimento continuou e mais tarde através da Sra. White seus adeptos passaram a demonstrar interesse por medicina, dietética e missões.


NOVAS RELIGIÕES

Um dos fenômenos mais notáveis da vida religiosa norte americana, durante o século XIX, foi o aparecimento de várias religiões, dentre as quais citamos: A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias (os mórmons) fundada por Joseph Smith para quem o mormonismo era culminância do cristianismo. Seus adeptos chegaram a chamá-lo de “Rei do Reino de Deus”. Testemunhas de Jeová: Seu fundador Charles Taze Russele pronunciou-se contra a doutrina trinitariana e que o fim ocorreria em 1914. Seu sucessor Joseph F. Rutherford foi quem em 1931 deu ao movimento o nome Testemunhas de Jeová. A Ciência Cristã (igreja cientifica de cristo) fundada por Mary Baker Eddy que publicou o livro Fé e Ciência onde afirmava haver redescoberto a “ciência” espiritual que Jesus empregava. Fundou em Boston um “Colégio Metafísico” e a “Igreja Mãe” de todos os membros da igreja cientifica de cristo.




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