sábado, 22 de novembro de 2008

Discussão Sobre o Conceito da Alma em Santo Agostinho


A alma viva recebeu a sua origem da terra, porque só aos fiéis é meritório refrearem-se no amor a este mundo, para que a alma deles viva para Deus. A alma estava morta quando vivia Senhor, “nas delícias” que eram mortíferas, porque só vóis sois as delícias vitais do coração puro. [1]

Para Agostinho a alma morre afastando-se da fonte da vida, e é arrebatada pelo mundo que passa e com o qual se conforma. [2]

Agostinho cunhou sua doutrina sobre a alma principalmente tendo por fontes o pensamento de Sócrates e Platão, embora alguns pontos doutrinários não se coadunam obviamente com os dogmas do cristianismo. [3]

Não há nenhum texto em Agostinho que clara e inequivocamente corrobora a tese da preexistência, embora a idéia de um certo inatismo freqüentemente seja encontrada. Aparece primeiro em sua obra Solilóquios de 387:

Assim são os bem instruídos nas artes liberais, já que eles, aprendendo, as resolveram e, de certo modo, as escavam, pois sem dúvida estavam soterradas neles pelo esquecimento. [4]

No ano 388, escreve o De Quantitate Animae no qual assegura: “... O que chamamos “aprender”, nada mais é que “lembrar e recordar”.

Mas ele adverte seus leitores adiante, em suas Retractaciones que: “Isto não pode ser entendido como aprovando a doutrina de que a alma viveu antes, em qualquer outro corpo, ou em outro lugar, com ou sem um corpo.

Estas palavras não insinuam necessariamente que Agostinho concorda com essa doutrina da preexistência de seus antepassados; somente poderia ser sua intenção
impedir a interpretação habitual dada por platônicos. Porém, o “hoc improbo” da retratação parece insinuar que Agostinho está rejeitando o que já havia assegurado, e a referência a Platão identifica aquela doutrina. Além disso, logo após a composição destes livros em 389, escreveu em uma carta a Hebridius contendo uma defesa explicita à doutrina:

Aquela descoberta mais nobre de Sócrates pelo qual é acertado que não são afirmadas as coisas que nós aprendemos como novo, mas é recordado à memória.”

Então, parece que em seus anos de juventude de certa forma aceitou, ainda que não totalmente, a doutrina platônica da anamnesis como provável. Praticamente todas as autoridades modernas admitem isto.

É certo que Agostinho em sua fase inicial, muito fascinado pela filosofia platônica, tenha cometido alguns deslizes no que concerne à aceitação de certas doutrinas que em princípio, parecem ajudá-lo no entendimento de sua recém professa religião.

A doutrina platônica, sem dúvida, foi importante para Agostinho cunhar seu conceito de “interioridade”, o problema consiste nas conseqüências dessa aceitação. A solução viável para esse problema estaria no próprio conceito de “iluminação”, pois deixaria de ser algo passado, desvencilhando-se da questão da anamnesis; as verdades de um conhecimento não estariam pautadas mais em vidas passadas, mas num conhecimento dado no presente, via iluminação.

No De Magistro ao propor que Deus revela na interioridade Agostinho indica que a verdade é garantida no agora. Mas o problema com relação ao inatismo consiste que mesmo Deus comunicando essa verdade, Agostinho não consegue ainda explicar a existência de noções na alma.




Referências Bibliográficas



OS PENSADORES. Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda., p. 398, 2005.

AGOSTINHO, Santo. Solilóquios. São Paulo: Editora Paulus, p. 168, 1998.

AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Editora Paulus, p. 464, 1997.



[1] OS PENSADORES. Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda., p. 398, 2005.
[2] OS PENSADORES. Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda., p. 398, 2005.
[3] AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Editora Paulus, p. 464, 1997.
[4] AGOSTINHO, Santo. Solilóquios. São Paulo: Editora Paulus, p. 168, 1998.

Nenhum comentário:

Postar um comentário